domingo, 22 de abril de 2012

TUDO ISSO NO BRASIL


Bianca completou 18 anos há pouco tempo e mora em um assentamento localizado numa estrada vicinal na Rodovia Transamazônica, zona rural do município de São João do Araguaia. Tem um filho de dois anos. O pai é o padrasto. O filho foi gerado quando Bianca ainda era uma adolescente, mas desde os nove anos ela era abusada sexualmente pelo padrasto Aldenor, com a conivência e - segundo informaram vizinhos - participação da mãe Iracema. À época, para esconder a gravidez, Aldenor e Iracema levaram Bianca para trabalhar e morar na casa de uma mulher, conhecida como Hilda.
Não é um caso isolado. Entre 2010 e 2012, o pequeno município de 1.301,739 km² e com uma população aproximada de 16 mil habitantes, registrou mais de 20 casos confirmados de abusos sexuais em crianças e adolescentes. Um número expressivo, se for levado em consideração que São João do Araguaia, no sudeste paraense, é um município relativamente pacato.
“Mas não temos delegado no município há quatro anos. Todos os casos precisam ser encaminhados para São Domingos do Araguaia, que ainda tem de atender também a Palestina e Brejo Grande”, reclama o conselheiro tutelar Vicente Silva. Os casos chegaram ao conhecimento da Secretaria de Segurança Pública do Estado.
No dia 19, uma representante da Divisão de Atendimento à Criança e ao Adolescente (Data) reuniu com os conselheiros tutelares de São João do Araguaia. “Acionamos Marabá. Enviamos uma equipe ao município. A intenção é que não haja impunidade”, diz o secretário de Segurança Pública Luiz Fernandes.
O afastamento geográfico de algumas localidades é um empecilho. O pouco – ou nenhum - contingente policial é outro. Há casos como o de José Abel dos Santos, conhecido como Índio. Ele é acusado de abusar sexualmente das quatro filhas desde que elas eram crianças. “A primeira vez foi quando eu ia pra escola. Eu tinha dez anos. Ele ameaçou me matar com uma faca”, relatou uma das filhas, que diz ter visto o pai estuprar as irmãs quando a mãe saía de casa para o trabalho. Abel passou a ter ciúme até do próprio irmão das meninas. Não queria vê-lo perto delas.
Com apenas 12 anos, G.S. teria sido estuprada pelo vizinho, conhecido como Pedro, numa localidade conhecida como Vila do Carmo. Foi levada para fazer exames em Marabá por requisição da delegada Nilde Rosa da Silva. A mãe da menina fez a denúncia.
“Não aguento mais”, relatou aos conselheiros a adolescente E.M.C., 16 anos. Abusada sexualmente pelo pai, Antonio Costa, contou que vive sob ameaça. “Quando eu não deixo, apanho muito. Entro em desespero. Meu pai é muito violento”. A adolescente chegou a fazer um apelo aos conselheiros. “Se vocês têm filha e amam ela, por favor me ajude, que não aguento mais”.
Adenildes Lopes chegou em casa e encontrou a filha de 12 anos saindo da casa do vizinho, seminua, com as ‘partes íntimas’ molhadas e ‘se tremendo toda’. Assustada, Adenildes levou a filha para dentro de casa e ouviu o relato da menina. O vizinho, segundo a garota. fez com que ela se deitasse no assoalho, colocou a mão na boca dela para que não gritasse. “Aí começou tudo”, contou a menina. O acusado é compadre da família da vítima. A menina é portadora de necessidades especiais.
Com 13 anos, D.S.C. engravidou do padrasto no assentamento Bacurizinho, zona rural de São João do Araguaia. Edvan, o acusado, chegou a tentar fazer com que a menina abortasse, dando a ela um chá de uma erva chamada ‘pau-do-índio’. A mãe da menina evitou fazer a denúncia, mas os moradores próximos, não.
Moradora da Vila Diamante, no km 40, A.S.P., de oito anos, diz ter sido abusada pelo padrinho, de nome Getúlio. A avó fez a denúncia. “Ele levava a menina para ir dormir com ele”, acusou. O padrasto de N, 13 anos, não gosta sequer que ela brinque com outras pessoas da mesma idade. Lavrador, Francisco Carneiro, 39 anos, chegou até a meter o dedo na vagina da menina em frente aos irmãos dela. Os estupros eram cometidos quando não havia ninguém em casa. “Ele dizia que ia me bater se eu contasse para alguém”, relata a menina. O padrasto repetiu os abusos por pelo menos dez vezes.
“O pior é que a maioria dos casos permanece sem solução”, diz o conselheiro Vicente Silva. “As crianças de São João do Araguaia gritaram, mas não teve quem as ouvisse. Até agora”. (Diário do Pará)

Nenhum comentário: