quarta-feira, 31 de março de 2010

ÉTICA DE MODO GERAL

Quanto à terminologia: falaremos da moral ou da ética. Pois podemos usar aqui as duas palavras mais ou menos como sinônimas, a não ser quando quisermos enfatizar mais o lado da reflexão pessoal consciente, então diremos moral, ou o lado dos costumes concretos, das tradições das formas de agir de um povo ou de uma civilização, e então falaremos da ética, acompanhando nisto, mais do que a tradição de nossos irmãos castelhanos, a alemã (com Kant e Hegel e a interpretação que este último deu de Sócrates e da eticidade grega). A palavra ética fica também reservada, ao nível epistemológico, para a disciplina de reflexão filosófica, enquanto se usa em geral a palavra moral para os questionamentos teológicos. Neste sentido, ninguém estranhe se ouvir dizer, por exemplo, que a ética é o estudo da moral.

No campo da reflexão sobre o agir humano, destacam-se hoje em dia três grandes tradições filosóficas.

A primeira reporta-se geralmente aos escritos de Aristóteles, o grande mestre grego que viveu há uns 2.300 anos, e que situou a sua “ciência das virtudes” entre a Física e a Política. A rigor, as ciências filosóficas da práxis deveriam ser três: a Ética, centrada no agir individual, a Economia, que deveria estar voltada para a práxis doméstica ou familiar, e a Política, idealizando as relações humanas dentro do universo da cidade/estado e das cidades entre si (pois ela já foi escrita no período do Império Alexandrino). O que caracteriza a ética aristotélica e dos seus seguidores, é que ela estuda o agir a partir de uma concepção do homem como sendo: um animal político, que tem linguagem e muitas vezes age logicamente (ou deveria fazê-lo) e que precisa desenvolver-se dentro de uma sociedade concreta, num período de tempo, dentro de formas concretas de governo de uma cidade, se quiser ser feliz. O ideal de Aristóteles então é o do homem virtuoso, significando a virtude uma força, um vigor, uma excelência relacionada aos valores práticos e intelectuais da existência. O mais virtuoso seria o mais capaz de realizar-se como homem, atingindo assim a felicidade (eudaimonía), meta procurada por todos. Esta felicidade supõe um certo equilíbrio de bens, pois o homem, ser complexo, não busca simplesmente um único bem. Precisa de ar para respirar, de comida e de bebida, de saúde para sentir-se bem, de algum dinheiro, de alguns amigos, de algum reconhecimento público e respeito por parte da sociedade ou do estado, e precisa até ter algum tempo para poder dedicar-se às reflexões filosóficas, metafísicas, bem como precisa assistir a algumas representações teatrais, para, participando das tragédias, crescer moralmente. Como estamos vendo, o comportamento ético, estudado pela filosofia da práxis dos aristotélicos, inclui não somente as reflexões especificamente “morais”, mas supõe também uma certa sabedoria ou prudência para o trato com o mundo. Outra característica da ética aristotélica é uma certa noção de natureza humana. Há coisas que nossa reflexão mostra ajudarem à natureza, outras vemos que lhe são nocivas. Parece-me que esta tradição filosófica, hoje mais uma vez em grande voga, influi decisivamente dentro e fora das igrejas, para o debate com os cientistas. Ou seja, o argumento, às vezes demasiado apressado, é sempre: isto ou aquilo vai contra a natureza humana. Mas poderíamos levantar a pergunta: onde está estabelecida de maneira definitiva esta natureza, este modo de ser próprio do homem? Será que toda ela poderia realmente ser deduzida através de silogismos a partir da definição inicial do “animal rationale”, definição, aliás, que Heidegger considera pouco proveitosa?

De qualquer maneira, para a problemática da Aids, esta concepção não serve apenas para refletir sobre a necessidade da saúde corporal e dos comportamentos mais ou menos “naturais”, mas poderia ser muito inspiradora no que tange à sua teoria das virtudes. Pois mesmo a teoria da virtude como um “justo meio” (tantas vezes incompreendida), tem muito a nos ensinar ao enfrentarmos uma ameaça até recentemente desconhecida. Vejamos apenas o exemplo da coragem, (para nem falarmos da virtude da justiça): coragem, para Aristóteles, é um justo meio termo, adequado ao homem, entre a temeridade e a covardia. Ora, se a coragem é uma virtude desejável, então temos de questionar muitos comporta-mentos covardes, comuns em nossa sociedade atual, que busca geralmente apenas o conforto, a facilidade, a segurança, o prazer e a saúde a qualquer preço. Enquanto a tradição histórica de ordens e famílias religiosas, não somente cristãs, favorecia o heroísmo do atendimento aos mais sofredores, mesmo arriscando a saúde e a própria vida, pois não há maior amor do que dar a própria vida pelos seus irmãos, e uma vez que o Senhor dirá um dia: “a mim o fizestes”, nossos costumes atuais secularizados propendem muitas vezes apenas para o hedonismo, e privilegiam demais o medo, coisa que Aristóteles, um pagão, não deixaria de abominar.

A segunda grande tradição ética, de estilo mais anglo-saxônico, é a corrente do utilitarismo. Os seguidores deste modo de pensar são geralmente muito pragmáticos, de certo modo imediatistas (contentando-se com uma moral provisória), são menos especulativos, e raciocinam praticamente assim: o maior valor ético deve consistir em procurar o maior bem possível para o maior número possível de homens (ou, como preferiria dizer Peter Singer, em sua Ética Prática, “de pessoas”). Esta formulação é útil e prática, e pode ser usada muitas vezes. Ela tem a vantagem de não perder tempo em especulações que aca-bam atrapalhando, ou mesmo substituindo, o agir. E não há dúvidas de que no campo da moral ou da ética as palavras jamais conseguem substituir as ações. Lembremos apenas dois exemplos: no Evangelho, a parábola dos dois filhos, quando um diz “não”, mas se arrepende e faz a vontade do pai, e o outro diz “sim” e não faz, talvez até achando que já fez o suficiente ao prometer que o faria. O mesmo acontece, partindo agora para a literatura, com as filhas do Rei Lear, em Shakespeare: duas delas juram amor ao pai, mas, como insinua Kent, suas “words of love” não são seguidas por “works of love”. Entretanto, também se poderia objetar que o utilitarismo move-se um pouco no ar, na medida em que não define o que seria este bem. O que se deve conseguir para o maior número possível de pessoas: mais livros ou mais manteiga? E o próprio Aristóteles, muito antes de nosso tempo, já poderia lembrar-lhes de que o útil é sempre um valor relativo, ele não é bom em si, mas bom para uma outra coisa, e portanto esta outra coisa é que merece realmente todos os nossos esforços. Mas sobre o que seria o bem final para os homens, esta corrente geralmente não pensa muito.

A terceira grande tradição filosófica que atua e vigora até hoje é a da linha kantiana, centrada sobre a noção de dever. Parte das idéias da vontade e do dever, conclui então pela liberdade do homem, cujo conceito não pode ser definido cientificamente, mas que tem de ser postulado sempre, sob pena de o homem se rebaixar a um simples ser da natureza. Kant também reflete, é claro, sobre a felicidade e sobre a virtude, mas sempre em função do conceito de dever. É famosa, na obra de Kant, sua formulação do chamado “imperativo categórico”, nas palavras: “Age de tal modo que a máxima da tua vontade pos-sa valer sempre ao mesmo tempo como princípio de uma legislação universal”. - Kant reconhece que esta é apenas uma fórmula, porém ele, que gostava tanto das ciências e que não tinha a intenção de criar uma nova moral, estava apenas preocupado em fornecer-nos uma forma segura de agir. Sua ética é, pois, formal, - alguns até dirão formalista. Ora, o nosso pensador alemão, com seu imperativo categórico, nos forneceu, na prática, um critério para o agir moral. Se queres agir moralmente, (isto é, para Kant, racionalmente,) - o que aliás tu tens de fazer - age então de uma maneira realmente universalizável. Pois aqui está o segredo da ética kantiana: A universalização das nossas máximas (em si subjetivas) é o critério. A moral kantiana, de certo modo, também pressupõe um conceito de homem, como um ser racional que não é simplesmente racional. Portanto, um ser livre, mas ao mesmo tempo atrapalhado por inclinações sensíveis, que ocasionam que o agir bom se apresente a ele como uma obrigação, como uma certa coação, que a sua parte racional terá de exercer sobre sua parte sensível. O dever obriga, força-nos a fazer o que talvez não quiséssemos ou que pelo menos não nos agradaria, porque o homem não é perfeito, e sim dual. Mas o dever, quando nos força, obriga a fazer aquilo que favorece a liberdade do homem, porque o homem é um ser autônomo, isto é, sua liberdade, no sentido positivo, consiste em poder realizar o que ele vê que é o melhor, o mais racional. Poder realizar significa: causar por vontade própria um efeito no mundo, ao lado das causas naturais que pertencem, como diz Kant, (à maneira newtoniana,) ao mecanismo da natureza. O homem, neste sentido, é legislador e membro de uma sociedade ética: é legislador porque é ele que vê o que deve ser feito, e é membro ou súdito porque obedece aos deveres que a sua própria razão lhe formula. Neste sentido, ele não tem um preço, mas uma dignidade, e é por isso que a segunda fórmula do imperativo categórico diz para agirmos de modo a não tratar jamais a humanidade, em nós ou nos outros, tão-somente como um meio, mas sempre pelo menos também como um fim em si. É o que Tugendhat chamaria uma ética do respeito à pessoa.

Não quero e nem posso, aqui, entrar em mais detalhes sobre essas três correntes éticas, mas gostaria de ressaltar que a terceira, a kantiana, é extremamente moderna. A ética do dever é moderna porque confia no homem, na sua razão e na sua liberdade. É a ética do homem empreendedor, e nisto coincide com o surgimento e a ascensão da sociedade industrial e capitalista. Ela é estranha ao capitalismo consumista, na medida em que não dá grande valor ao gozo dos prazeres, acentuando privilegiadamente os deveres. A felicidade de que Kant fala é a da consciência do dever cumprido. A tranqüilidade da boa consciência. E se ele fala na busca dos bens materiais é porque considera que ser feliz, neste aspecto, é um dever do homem, uma vez que um homem frustrado faz mal a si e aos outros. Temos, pois, até uma obrigação de tudo fazermos para ser felizes, desde que seja tudo o que poderia ser universalizável, dentro do respeito aos demais. Não é a felicidade a qualquer preço.

O ponto comum destas três concepções éticas é que elas se situam numa posição intermediária entre, por um lado, as morais religiosas ou tradicionais, que poderíamos chamar dogmáticas, isto é, que contém explicitamente preceitos revelados, quer por uma divindade transcendente, quer pela força da tradição histórica, e, por outro lado, as atitudes que poderíamos chamar infra-éticas. Atitudes infra-éticas apresentam, por exemplo, aquelas pessoas que não vivem, ao menos conscientemente, ao nível ético da escolha do “bom”, do “bem”, do “agir bem” ou do “bem comum”. São pessoas que buscam simplesmente o prazer, ou o poder, ou o proveito pessoal, ou as vantagens econômico-financeiras, em todas as ocasiões. Também poderíamos chamar de atitude infra-ética, embora não de “amoral” aquele comportamento motivado apenas por sentimentos, supostamente bons. O sentimento moral ou o “moral sense” não constitui uma base filosoficamente respeitada como suficiente. O mesmo vale para os que defendem valores puramente tradicionais enquanto convencionais. Bem próximo destes estão os hoje chamados “contratualistas”, que embora teorizem sobre formas de convivência humana possível sobre a terra, não se baseiam propriamente numa perspectiva moral. As ações supostamente contratuais podem ser também interpretadas perfeitamente como estratégicas. Uma aliança de famílias mafiosas, dividindo o crime e a contravenção entre si, não atinge um nível moral porque não respeita todos os envolvidos, mas tão-somente os diretamente interessados nos negócios: a clientela não é respeitada em sua dignidade pessoal. Estamos supondo portanto que a ética, porquanto moral fundamentada por uma reflexão (seja ela mais espontânea ou mais sistematizada), sempre tem um respaldo argumentativo, procura mostrar-se racional, e sempre busca a universalização, quer dos interesses, quer de uma natureza comum, quer de um agir segundo máximas que possam constituir-se em leis universais. A busca da argumentação fundamentadora é extremamente importante numa situação de pluralismo de valores e de globalização da sociedade. Os interesses do grupo, do clã ou da família ou corporação não podem mais dizer a última palavra, assim como a moral de uma confissão religiosa não pode ser imposta aos que não compartilham desta.

Exposto este panorama, ainda que resumido, das teorias éticas mais contem-porâneas, deveríamos agora ao menos iniciar uma reflexão que ligasse os fundamentos teóricos com alguns dos aspectos do problema hoje vivenciado ao redor da Aids. Os desafios da Aids, que apareceram em nossa fenomenologia de dez pontos, têm de ser especificados na perspectiva mais especializada da Bioética e dos Códigos de Ética. Porém não podemos deixar de tentar ao menos uma primeira ligação entre estes fatos e aquelas formulações de tipo normativo.

Numa perspectiva néo-aristotélica, teríamos que expressar a luta pela vida e pela felicidade, da parte do doente e dos seus familiares e amigos, bem como a necessidade do exercício das virtudes tais como a prudência, a temperança, a coragem, a justiça e outras, pois sem virtude o homem não está em condições de enfrentar os lados mais trágicos da existência, que nossa ideologia dominante procura até esconder. Os valores do discernimento e da amizade também se mostram como urgentes. A tendência aristotélica que privilegia a lógica que o homem tem ou pode ter insistiria em que nossos comportamentos não podem ser totalmente dominados pelas paixões e inclinações. O homem precisa de autodomínio, até para evitar a doença. Por outro lado, o cientista ou o médico deve aprender de Aristóteles que sua ciência é também uma “virtude”, ou seja, por ser um bom cientista ele já é também virtuoso, uma vez que a ciência, mais do que uma entidade mítica adorada pela mídia, é antes “uma propriedade de seu caráter”, faz parte de seu éthos. Aristóteles, tratando do amor e da amizade, ainda enfatizaria que tais relações consistem em querer o bem do outro, valorizando nele o que ele tem de melhor. As éticas de formato aristotélico tendem, por outro lado, a atitudes conservadoras, abominando qualquer comportamento que se desvie de um certo ideal de “natureza humana”, supostamente pré-estabelecido e definitivo. Esta posição, já por ter em suas bases conceitos metafísicos muito antigos, de tipo essencialista, pertencentes a um mundo completamente diferente do mundo científico-tecnológico em que vivemos, precisa esforçar-se muito para conseguir dizer coisas realmente importantes diante de um problema completamente novo, contemporâneo, como o da epidemia da Aids. Em todo caso, não se deve desprezar as origens aristotélicas desta ética, fundada afinal de contas por um pensador cujo conceito-chave era o da “vida”, conceito presente desde as investigações sobre plantas e animais até as sobre a teoria da tragédia.

Os pensadores de extração utilitarista não se preocupam com questões sobre natureza humana, embora respeitem os direitos das pessoas. Buscam a felicidade maior possível, entendida em grande parte como ausência de dor e de sofrimento. Alguns desses pensadores são mais sensíveis a problemas como o do prolongamento desnecessário do sofrimento, na hipótese de que o paciente já não suportasse mais o tipo de existência que está tendo. O que não significa, naturalmente, deixar de lutar enquanto a vida apresenta ainda um sentido forte e humano. Um utilitarista também se lembraria de questionar se algumas formas de relacionamento humano englobadas no título geral do amor são realmente benevolentes, e se não deveriam ser modificadas quando prejudiciais. Por outro lado, o esclarecimento sobre a doença e sobre a forma de contraí-la não deveria preocupar-se demasiado com tabus e um suposto pudor, levando-se em conta um cálculo de valores maiores, e numa perspectiva sempre voltada para os resultados concretos e previsíveis, mais do que para as formalidades das intenções.

Quanto aos éticos do dever, da liberdade e da universalização, sua tendência é sempre de privilegiar a intenção, e não apenas o resultado. De procurar tratar sempre os demais com respeito, como a seres livres e autônomos, que agem livremente e que são capazes de fundamentar suas formas de agir, inclusive pela universalização. Rejeitam, naturalmente, a discriminação por causa de uma doença, pois para eles todos os seres racionais são igualmente dignos. Insistiriam quanto à sinceridade e à transparência das informações, uma vez que o sentido da linguagem é o de revelar e não o de ocultar e, como herdeiros da Aufklärung, defenderiam com o maior empenho o esclarecimento, também a orientação sexual. Valorizariam extremamente os esforços dos pesquisadores, porque esta ética é a outra face da razão pesquisadora e porque o cientista tem de aprimorar os seus talentos. E insistiriam na necessidade de auxiliar os que se encontram em uma situação pior, pois é impossível querer que se proíba uma ajuda possível. Mas teriam grande desconfiança em relação à eutanásia, devido ao respeito à vida, à natureza e à dignidade da pessoa.

A GUERRILHA DO ARAGUAIA

Guerrilha do Araguaia

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A Guerrilha do Araguaia é o título consagrado de um conjunto de operações guerrilheiras ocorridas durante a década de 1970 e promovidas por grupos contrários ao regime militar em vigor no Brasil.
O movimento foi organizado pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB), oriundo de uma cisão no Partido Comunista Brasileiro (PCB), na ilegalidade, entre 1966 e 1974. Por meio de uma guerra popular prolongada, os integrantes do PCdoB pretendiam combater o governo militar e implementar uma revolução de caráter socialista no Brasil, iniciando o movimento pelo campo, à semelhança do que já ocorrera na China (1949).
O palco de operações se deu na área em que os estados de Goiás, Pará e Maranhão faziam fronteira. O nome foi dado à operação por se localizar às margens do rio Araguaia, próximo às cidades de São Geraldo e Marabá no Pará e de Xambioá, no norte de Goiás (região onde atualmente é o norte do Estado de Tocantins, também denominada como Bico do Papagaio).
Estima-se que participaram em torno de setenta a oitenta guerrilheiros sendo que, destes, a maior parte se dirigiu àquela região em torno de 1970. Entre eles, o ex-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), José Genoíno, que foi detido pelo Exército em 1972.
Preparação do Exército
Na época as Forças Armadas iniciaram um estudo para efetuar as operações antiguerrilha. Estas foram envolvidas de um planejamento executado em sigilo e que durou em torno de dois anos. Segundo os militares, era indesejável a eclosão de outros movimentos semelhantes em outras regiões do Brasil, pois isto ocasionaria uma eclosão de violência na região rural, o que poderia vir a gerar uma desestabilização do poder imposto.
Censura
Na época em que Emílio Garrastazu Médici era presidente do Brasil, as operações militares foram executadas de maneira sigilosa e era proibida a divulgação da existência de um movimento guerrilheiro no interior do país. Portanto, devido à censura, nunca foi autorizada a publicação de detalhes sobre a guerrilha e sempre se afirmou que os documentos da operação haviam sido destruídos. No entanto, durante as polêmicas ocasionadas no governo Lula em relação à abertura de arquivos do período militar, foi descoberto que boa parte dos materiais foi preservada (ver seção Documentos que restaram).
Ernesto Geisel, após assumir o comando do governo do Brasil, também não autorizou a divulgação da existência de tal guerrilha, ficando desta forma a população brasileira alheia ao conhecimento dessa movimentação. Por isso, a única menção feita por Geisel a respeito da existência de um movimento guerrilheiro no interior do Brasil se deu em 1975.
Mobilização
Para combater os guerrilheiros do PCdoB, houve a mobilização de cinco mil soldados brasileiros, em três fases distintas que se prolongaram até 25 de dezembro de 1974, data em que o movimento insurgente foi definitivamente extinto. Os soldados brasileiros que participaram das operações iniciais desconheciam a sua missão e foram comandados pelo general Antônio Bandeira.
Teatro de operações, comandantes militares e líderes guerrilheiros
Para preparar o teatro de operações, o comandante mandou construir uma rodovia com cerca de 30 km de extensão. Segundo os militares ela era necessária para que fosse executado o deslocamento de tropas. A área dominada pelos guerrilheiros abrangia em torno de sete mil quilômetros quadrados, indo da cidade de Xambioá até no sul do Pará, nas proximidades de Marabá.
O general Olavo Viana Moog exerceu o comando tático das operações e o general Hugo Abreu também comandou ações para pôr fim ao movimento.
Do lado da guerrilha, os principais comandantes foram Maurício Grabois e João Amazonas, que eram oriundos do PCB e que haviam sido presos na década de 1930 durante a imposição do Estado Novo.
Identidades e atividades preparatórias da guerrilha
Por uma questão de segurança do grupo, os guerrilheiros não tinham identificações. Seus nomes nunca eram revelados, usando desta forma nomes e identificações falsas. Sabe-se porém, que muitos eram estudantes e profissionais liberais que haviam participado de manifestações (passeatas) contra o regime na década de 1960. Sabe-se por relatos dos poucos que sobreviveram que muitos tinham sido torturados e presos anteriormente pelo regime por não concordar com uma ditadura comandando o Brasil.
Um dado importante é que a grande maioria dos guerrilheiros, em torno de 70%, eram oriundos da classe média, que tinham profissões liberais como médicos, dentistas, advogados e engenheiros. Havia também bancários e comerciários.
Sabe-se que menos de 20% eram camponeses, e que estes eram recrutados na região do Araguaia. A quantidade de operários que participavam do movimento guerrilheiro mal chegava aos 10% do total. Em média, a idade predominante era em torno de trinta anos.
Na medida em que iam chegando à região, adquiriam a confiança dos moradores agindo como agricultores, farmacêuticos, curandeiros, pequenos comerciantes, donos de pequenas vendas de beira de estrada, além de outros tipos de ocupações comuns no interior do Brasil.
Nunca conversavam entre si, e nunca moravam próximos uns dos outros. Integravam-se às comunidades onde agiam, participando de todos os eventos, sendo desta maneira absorvidos por estas. Não atuavam e não influiam nas políticas locais, não se envolviam em discussões políticas para evitar o despertar de desconfianças. Suas atividades principais se baseavam no ensino do trabalho comunitário, voluntariado e assistencialismo. Quando podiam, ajudavam os moradores com medicina, odontologia, ajudavam nas escolas, davam aulas, ensinavam a população como organizar e realizar mutirões.
Agindo da forma descrita, aos poucos o grupo foi ganhando respeito e admiração da população local.
O desenvolvimento das operações
O Exército Brasileiro descobriu a localização do núcleo guerrilheiro em 1971 e fez três investidas contra os rebeldes. As operações de guerrilha iniciaram-se efetivamente em 1972, tendo oferecido resistência até março de 1974.
Em janeiro de 1975 as operações foram consideradas oficialmente encerradas com a morte ou detenção da maioria dos guerrilheiros.
Em 1976 ocorreu a chamada Chacina da Lapa quando foram executados os últimos dirigentes históricos do PCB. João Amazonas, na ocasião, se encontrava na Albânia.
A questão do Araguaia (guerrilha)
Em 1971, ocorreu uma manifestação concreta de ação militar no Brasil, onde o Exército Brasileiro enfrentou sua maior prova, na região de Xambioá, norte do antigo estado do Goiás, (hoje Tocantins). Lá formou-se um quadrante de ação operacional, seguido de encasamento de tres divisões clássicas de combate por quadrantes menores, ou seja a formação de 3 batalhões de 21 soldados de 3 pelotões de 7 soldados, totalizando 63 componentes.
O líder de cada grupo de 7 soldados, desconhecia as ordens do comandante do batalhão de 21, que desconhecia a formação e identificação dos demais batalhões, assim a pirâmide de autoridade seguia uma linha de formação utilizada na guerra colonial da Argélia, perdida pelos franceses e pela legião estrangeira.
A formação dos líderes principais era universitária (médicos e engenheiros), sendo desconhecida então pela inteligência do exército. Contudo, os guerrilheiros tentavam conquistar a população com atitudes assistencialistas, posto que o estado era ausente na região.
Após um ano de atuação os grupos lá estacionados, já julgavam possuir condições de articulação da população em curto período com mobilização para defesas, baseadas nas táticas empregadas por Ho Chi Min no Vietnã.
O trabalho da inteligência do exército foi bem executado, mas inicialmente faltaram os efetivos operacionais necessários à repressão.
O chefe da agência do SNI na época Gal. João Batista Figueiredo determinou o imediato fechamento da área e início das operações militares.
Porém, o que encontrou foi guerrilheiros e guerrilheiras que, há mais tempo instalados, conheciam a região. As tropas do governo, por sua vez, recorreram à orientação de "mateiros" nativos da região, que ajudaram na guia das patrulhas. Promoveram também ações assistencialistas para ganhar apoio da população. Durante 14 meses, num jogo de gato e rato na selva, os guerrilheiros conseguiram se furtar à presença dos militares, em meio a choques esporádicos e baixas eventuais.
Porém, em 1973 entra em cena um assessor militar do mais alto gabarito, nessas questões, o Coronel H. da Fonseca do Exército Português, veterano da Guerra do Ultramar Português que veio formar o primeiro batalhão de infantaria de selva, utilizando-se dos métodos de disciplina da legião estrangeira e alguns métodos alemães.
Em 1974 com ataques combinados, Força Aérea, infantaria e pára-quedistas, a primeira grande ofensiva apresentou sucesso do lado do Exército Brasileiro, cujas tropas na ocasião foram lideradas pelo General Hugo Abreu, comandante da Brigada Pára-Quedista e veterano da Força Expedicionária Brasileira.
Todavia sabe-se que a ofensiva valeu-se de aproximadamente 18.000 soldados do Exército e da Aeronáutica, com apoio das Polícias Militares estaduais. A guerrilha cessou.
As baixas
Pelo lado do exército, estima-se que pereceram dezesseis soldados. O balanço oficial à época, indicava sete guerrilheiros mortos. Em 2004, o Ministério da Justiça brasileiro contabilizava sessenta e um desaparecidos.
Segundo testemunhos, a maioria dos guerrilheiros capturados foi torturada antes de ser executada, e os seus corpos ocultados, numa espécie de operação limpeza promovida pelos militares a partir de 1975.
A operação limpeza
Sabe-se que, após 1975, foi realizada na região uma espécie de operação limpeza, que durou até meados de 1978, com a finalidade de eliminar focos de militantes remanescentes na região. Os militares, para evitar a disseminação do movimento e mantê-lo encerrado em limites específicos, se utilizaram das chamadas táticas de combate à guerra revolucionária. Um dos métodos utilizados era o espalhamento de cartazes em diversos pontos das cidades, tais como bancos, aeroportos, terminais rodoviários etc. Os cartazes eram formados com retratos de opositores do regime procurados e com mensagens que incitavam a população a delatá-los. Normalmente, os cartazes possuiam fotografias dos procurados que eram integrantes dos grupos de ação armada.
Médici mandou editar uma série de decretos secretos cuja finalidade era o combate aos guerrilheiros sob a evocação da segurança nacional. Os textos de tais decretos, porém, jamais foram conhecidos.
Osvaldão
Dentre os muitos nomes envolvidos na Guerrilha do Araguaia destaca-se o de Osvaldo Orlando da Costa, militante do PCdoB que chegou à região em 1966 com a missão de organizar a guerrilha rural.
Em um encontro repentino, Osvaldão matou um soldado na mata e participou da execução de um morador.
Em 4 de fevereiro de 1974, enquanto abria uma trilha no mato, Oswaldão deparou-se repentinamente com uma patrulha do Exército, pela qual foi alvejado no peito, no momento exato em que abria os braços para afastar o mato da sua frente. Em seguida, o corpo foi arrastado pela mata e içado de cabeça para baixo por uma corda presa a um helicóptero.
Dizem alguns que, para ter certeza de que "o morto estaria realmente morto", ao chegar a grande altura, teriam soltado e arremessado o corpo de Osvaldão ao solo, sendo em seguida apanhado, amarrado novamente à aeronave e levado para ser exibido aos camponeses como um troféu.
A Ação Judicial
Um processo foi instaurado contra a União, em 1982, por vinte e dois parentes de vítimas, que por meio dele pediram à Justiça que o Exército brasileiro apresentasse documentos para que pudessem obter atestados de óbito.
Em 22 de Julho de 2003, o Diário da Justiça publicou a decisão da juíza Solange Salgado, da 1ª Vara Federal do Distrito Federal, ordenando a quebra de sigilo das informações militares sobre a Guerrilha do Araguaia, dando um prazo de 120 dias à União para que fosse informado onde se encontram sepultados os restos mortais dos familiares dos autores do processo, assim como rigorosa investigação no âmbito das Forças Armadas brasileiras.
Em 27 de Agosto de 2003, a Advocacia-Geral da União apelou da sentença que determinou de abertura dos arquivos, embora reconhecesse o direito dos autores de tentar localizar os restos mortais de seus familiares desaparecidos. Baseado em argumentos puramente processuais, especialmente questionando o curto prazo imposto na sentença para a apresentação de resultados, o recurso da AGU foi severamente criticado por organizações de defesa dos direitos humanos, familiares dos desaparecidos e por integrantes da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos.
Pressionado e sensibilizado, o governo Lula criou em 3 de Outubro de 2003 uma comissão interministerial para localizar restos mortais. Esta comissão solicitou os documentos, sendo informada de que os mesmos não existiam.
Atualmente, o processo se encontra no Superior Tribunal de Justiça, em fase de recurso especial, não tendo sido cumprida até hoje a decisão da juíza de primeiro grau.

REVOLUÇÃO FRANCESA

R E V O LU Ç Ã O F R A N C E S A


CRISE NO ANTIGO REGIME

Vejamos a origem do processo revolucionário, a Revolução Francesa é um dos grandes acontecimentos históricos que marcaram a superação do feudalismo é o marco do inicio da Idade Contemporânea.
Liderado pela burguesia, o movimento contou com a participação de vários grupos sociais: a população miserável das cidades, os pequenos produtores e comerciantes. Os camponeses explorados pela servidão etc.

Ao final do longo processo revolucionário, destruindo a decadente estrutura do Antigo Regime, a burguesia chegou ao poder e acabou com o privilegio de nascimento das nobreza. Mas, em seu lugar, colocou o privilegio social do dinheiro, das conquista de riquezas econômicas.

Para entender o processo revolucionário francês, vamos conhecer a situação social, econômica e política das França, no final do século XVIII.

No final do século XVIII, a França encontrava-se com 25 milhões de habitantes, era o país mais populoso das Europa ocidental.

No Antigo Regime, a sociedade francesa estava dividida juridicamente em três ordens ou estamentos sociais: o clero (o primeiro estado); a nobreza (segundo estado) e o restante da população (terceiro estado). Cada uma dessas ordens dividia-se em diferentes grupos, por vezes rivais.

Primeiro estado
Constituído pelo clero, o primeiro estado contava com aproximadamente 120 mil pessoas. Dividia-se em:
• Alto clero – formado por bispos, abades e cônegos, vindos de famílias das nobreza. A riqueza econômica do alto clero tinha como base a propriedade das terra e o recebimento do dizimo;
• Baixo clero – composto de padres e vigários economicamente pobres que formavam uma plebe eclesiástica.
Segundo estado
Constituído pela nobreza, o segundo estado contava com aproximadamente 2350 mil pessoas. Dividia-se em três grupos principais:
• Nobreza cortesã – vivia no palácio de Versalhes, em torno do rei, recebendo pensões das monarquia;
• Nobreza provincial – vivia no campo a custa dos rendimentos feudais recebidos de suas terras;
• Nobreza de toga – formadas por burgueses que compravam títulos nobiliárquicos e cargos políticos de prestigio.

Terceiro estado
Formado pela grande maioria da sociedade o terceiro estado contava com mais de 24 milhões de pessoas, representando cerca de 90% de toda a população. Reunia diferentes grupos sociais, entre os quais podemos distinguir.
• Grande burguesia – formada por banqueiros, empresários e poderosos comerciantes;
• Pequena burguesia – formada por profissionais liberais (médicos, advogados, professores) e médios comerciantes;


*Sans culote – camada social urbana de aproximadamente 200 mil pessoas, composta por artesãos, aprendizes de ofícios, assalariados e desempregados marginalizados;

*camponeses – eram os trabalhadores livres e semi livres e os servos presos às obrigações feudais.

Num conhecido folheto popular daquela época o abade de Sieyés resumiu a situação do terceiro estado:
O que é o terceiro estado? Tudo.
O que tem sido em nosso sistema político? Nada.
O que ele pretende? Ser alguma coisa.


Crise econômica : agricultura industria, finanças.
A economia francesa era predominantemente agrária ainda mantinha a estrutura embora aproximadamente 80% da população trabalhasse no campo, sua produção era insuficiente para atender toda a sociedade. Secas e inundações agravavam a situação da agricultura desde 1784. Uma sucessão de desastrosas colheitas provocava crise de abastecimento nas cidades. O preço dos alimentos subia assustadoramente, e o povo vivia numa situação de miséria e fome. Os pobres mal conseguiam comprar pão.

A esse quadro de dificuldades somou-se ainda a grave crise da indústria francesa, devido, em grande parte, ao tratado firmado em 1786 com a Inglaterra. Por esse tratado, os ingleses exportariam tecidos para a França, enquanto os franceses exportariam vinhos para a Inglaterra. A industria têxtil francesa, entretanto, não suportou a concorrência dos tecidos Ingleses em seu mercado interno. A crise industrial francesa provocou o desemprego de muitos operários, ampliando o numero de famintos e marginalizados urbanos.

Além de tudo isso, o governo francês atravessava séria crise financeira, que se acumulava desde o reinado de Luis XIV. As despesas do Estado eram muito superiores às receitas do tesouro público. O déficit era crônico e a única maneira de saná-lo seria promover uma reforma tributaria que eliminasse a isenção de impostos concedida ao clero e à nobreza. Essas ordens, entretanto, não estavam dispostas a perder seus tradicionais privilégios.

Situação política: necessidade de mudar.
Os diversos grupos do terceiro estado. Apesar das diferenças sociais, opunham-se aos privilégios concedidos à nobreza e ao clero. Reivindicavam um regime jurídico de igualdade de todos perante a lei, pois apenas o clero e a nobreza possuíam uma série de benefícios políticos e tributários.

Dentre esses grupos, a burguesia, defendendo seus interesses econômicos e sociais, era o que adquiria cada vez mais consciência da necessidade de mudanças. A alta burguesia, sobretudo, acreditava que o desenvolvimento do capitalismo só ocorreria mediante uma reestruturação do Estado.
Isso significa combater o absolutismo monárquico, a excessiva intervenção do estado na economia, a intolerância filosófica e religiosa e os privilégios hereditários da nobreza e do clero. O fundamento filosófico dessas idéias era o Iluminismo.

Os ideais iluministas contagiavam os setores progressistas da sociedade, sendo discutidos nos salões, nos cafés, nas lojas maçônicas etc. Além disso, formaram-se várias associações para divulgar os textos iluministas.



*loja maçônica – refere-se à maçonaria, sociedade parcialmente secreta, cuja principal objetivo era desenvolver o principio da fraternidade e da filantropia.

Processo revolucionário – Fim do Antigo Regime e ascensão da burguesia.

O longo processo revolucionário francês (1789 – 17990 foi complexo e contraditório. Para melhor entende-lo, os historiadores costumam dividi-lo em diferentes fases. Não havendo um consenso entre os historiadores sobre essa divisão, adotaremos aqui a seguinte:
• Revolta aristocrática;
• Assembléia constitucional;
• República e Convenção Nacional;
• Governo do Diretório.

Revolta aristocrática: O tiro saiu pela culatra.

Para solucionar a grave crise econômica da França, o rei Luis XVI viu-se obrigado a criar novos tributos para o terceiro estado, ou a acabar com a isenção tributária do primeiro e segundo estados.

Sentido seus privilégios tradicionais ameaçados, a nobreza e o clero se revoltaram, em 1787, e pressionaram o rei para que convocasse a *Assembléia dos estados gerais.

O objetivo era obrigar o terceiro estado a assumir os tributos. Contavam para isso com o próprio sistema tradicional de votação da Assembléia. A votação era feita por grupo, ou seja, cada ordem social tinha direito a apenas um voto independentemente do número de representantes. Assim, clero e nobreza, unidos, teriam sempre dois votos contra apenas um voto do terceiro estado.

No inicio de maio de 1789, a Assembléia dos estados gerais, convocada por Luis XVI, reuniu-se no palácio de Versalhes, e logo surgiram os conflitos entre as ordens privilegiadas (nobreza e clero) e o terceiro estado.

A nobreza e o clero queriam votar os projetos em separado, valendo o voto por ordem social. O terceiro estado, que tinha mais representantes que a nobreza e o clero juntos, não aceitou o sistema tradicional de votação. Exigiu que a votação fosse realizada pelo voto individual dos deputados, pois, assim, teria condições de vencer e fazer valer suas decisões. Afinal, os deputados representantes do terceiro estado eram majoritários na Assembléia e ainda, passaram a contar com o apoio do baixo clero.

Apoiados pelo rei, os representantes da nobreza e do clero não concordavam com a mudança na regra de votação pretendida pelo terceiro estado. O conflito entre as ordens paralisou os trabalhos.

Assembléia Nacional Constituinte: a revolução na rua.

Em 17 de junho de 1789, os representantes do terceiro estado se revoltaram. Proclamando-se em Assembléia nacional Constituinte, com o objetivo de elaborar uma Constituição para a França.

Tomada da Bastilha
O rei ordenou o fechamento da sala de reuniões, tentando dissolver a Assembléia Nacional. Mas o terceiro estado liderado pela burguesia, transferiu-se para um salão de jogos do palácio, que era utilizado pela nobreza. Nesse local improvisado,
os membros do terceiro estado decidiram permanecer reunidos até redigir uma Constituição para o país. Esse episódio ficou conhecido como o Juramento do Jogo da Péla.

Luís XVI tentou reagir, organizando tropas para lutar contra o terceiro estado, mas a revolta popular já tomava as ruas. Um dos principais slogans lançados pelos revolucionários era: liberdade, igualdade e fraternidade.

No dia 14 de julho de 1789, o povo, em massa, invadiu e tomou a velha prisão da Bastilha, símbolo do poder absoluto do rei, onde eram aprisionados os inimigos políticos da monarquia francesa. Além de libertar os prisioneiros, a multidão esperava apossar-se das armas estocadas na Bastilha e usa-las na defesa das idéias do terceiro estado. De Paris, a revolta popular espalhou-se por toda a França.

Fim do regime feudal e dos privilégios.

Sem força para dominar a agitação política e social, o rei Luis XVI foi obrigado a reconhecer a legitimidade da Assembléia Nacional Constituinte. Por sua vez, a Assembléia procurou tomar medidas de grande alcance popular para conter a fúria revolucionária das massas camponesa e urbana.

Em 4 de agosto de 1789, a Assembléia aboliu o regime feudal, eliminando os direitos senhoriais sobre os camponeses, e acabou com os privilégios tributários do clero e da nobreza.

A partir do século XIX, a declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão alcançou grande influência na Europa. América e em toda parte onde começou a prevalecer o liberalismo democrático. Os princípios básicos desta Declaração foram incorporados às Constituições de muitos países do mundo.

Direitos da pessoa humana (homem)

No dia 26 de agosto de 1789, a Assembléia nacional proclamou a celebre Declaração dos Direitos do homem e do cidadão. Os principais pontos defendidos por esse documento foram:
• O respeito pela dignidade da pessoa humana;
• A liberdade e a igualdade dos cidadãos perante a lei;
• O direito à propriedade individual;
• O direito de resistência à opressão política;
• A liberdade de pensamento e de opinião.

Redução do poder do clero

Em 1790, a Assembléia Constituinte confiscou inúmeras terras da igreja e subordinou o clero à autoridade do Estado. Essa medida foi tomada através de um documento chamado Constituição Civil do Clero.

O papa não aceitou as determinações da assembléia, e os sacerdotes fiéis a ele viram-se entre duas opções sair da França ou ficar para lutar contra a revolução. Muitos, porém, acataram as novas leis francesas.

Os religiosos descontentes e vários membros da nobreza fugiram da França e, no exterior, decidiram organizar um exército para reagir à revolução.



Monarquia Constitucional: O domínio da burguesia

Em 1791, foi concluída a Constituição elaborada pela Assembléia Constituinte. A França tornava-se uma monarquia constitucional, em que o rei perdia os “poderes absolutos” do Antigo Regime, não estando mais acima das Leis. Como soberano constitucional, seu dever era respeitar e fazer cumprir a Constituição. Vejamos alguns dos principais pontos da Constituição francesa de 1791, que exprimiam os ideais da burguesia.
• Sociedade – igualdade jurídica entre todos os indivíduos. Extinguiam-se os privilégios hereditários da nobreza e do clero. Abolia-se totalmente a tortura. Mantinha-se, contudo, a escravidão nas colônias francesas.
• Economia – completa liberdade de produção e de comércio. Garantia-se a não-interferência do Estado na vida econômica. Proibiam-se as greves dos trabalhadores.
• Religião – garantia-se a liberdade de crença religiosa. Instituía-se a separação entre Estado e igreja. Tornava-se obrigatória a nacionalização dos bens do clero.
• Política – os poderes do estado foram divididos em: legislativo, executivo e judiciário. Assegurava-se a representatividade popular por meio de eleições para a escolha dos parlamentares. Dividiram-se os cidadãos em ativos (que tinham um limite mínimo de renda para votar) e passivos (que eram pobres e ficavam fora do processo eleitoral).

Forças contra revolucionarias

O rei Luis XVI, não aceitando a perda de poder, conspirou contra a revolução. Estabeleceu contato com os nobres emigrados e com os monarcas da Áustria e da Prússia. O objetivo dos contra-revolucionários era organizar um exército para invadir a França e restabelecer a velha monarquia absolutista.

Em julho de 1791, Luis XVI tentou fugir da França a fim de juntar-se às forças contra-revolucionárias no exterior. Durante a fuga, entretanto, foi reconhecido e preso em Varennes, sendo reconduzido à capital francesa e mantido sob vigilância, Revolucionários como Marat e Robespierre proclamaram que a fuga do rei comprovava sua traição à revolução.

O exército austro-prussiano invadiu a França, contando com o apoio secreto da família real, que lhe fornecia segredos militares. Para defender o pais, os líderes da Revolução Francesa, como Danton e Marat, faziam apelos para que todos os cidadãos lutassem pela França. Em 20 de setembro de 1792, o exercito invasor foi derrotado pelas tropas francesas na famosa Batalha de Valmy.

República e Convenção Nacional girondinos, jacobinos e planícies

A vitória da França deu nova força aos revolucionários. Em 22 de setembro de 1792, os principais lideres políticos decidiram acabar com a monarquia e proclamar a república.

Proclamada a república, a antiga assembléia foi substituída pela Convenção Nacional, que tinha como principal missão elaborar uma nova Constituição para a França.

Nesse período, as principais forças políticas do país eram as seguintes:
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• Grupos dos girondinos – representava a alta burguesia. Defendia posições políticas moderadas, temendo que as camadas populares assumissem o controle da revolução. Eram favoráveis, por exemplo, à igualdade jurídica dos cidadãos, mas não a uma igualdade econômica.
• Grupo da planície – representava a burguesia financeira. Conforme suas conveniências, mudava de posição constantemente. Era oportunista, apoiando sempre quem estava no poder.
Luís XVI foi levado a julgamento por traição à pátria. Foi condenado por conspiração contra a liberdade da nação e a segurança geral do Estado. Retratando sua posição em favor do Antigo regime, ele chegou a afirmar: jamais consentirei em trair meu clero e minha nobreza. Durante o processo, os girondinos procuraram defender o rei, mas os jacobinos, liderados por Robespierre e Saint-Just, pregaram sua condenação à pena de morte. Ao final, o rei foi guilhotinado em 21 de janeiro de 1793.

A fase do terror
A execução do rei provocou emoção nos contra revolucionários, reorganização das forças estrangeiras e revoltas internas. Para enfrentar a ameaça, os jacobinos criaram uma série de órgãos encarregados da defesa da revolução. Entre esses órgãos, destacam-se:
• Comitê de Salvação Pública – responsável pelo controle do exército e da administração do país;
• Tribunal revolucionário – encarregado de vigiar e punir os traidores da causa revolucionária. Esse tribunal foi responsável pela morte de, aproximadamente, 40 mil pessoas na guilhotina.

Nesse período conhecido como fase do terror, o medo da guilhotina pairava entre os não-jacobinos. Toda e qualquer pessoa suspeita podia ser presa e condenada como inimiga da Revolução.

Instalou-se uma verdadeira ditadura dos jacobinos, sob a liderança de Robespierre. Este, para governar, procurava equilibrar-se entre as diversas tendências com a burguesia e outras mais próximas das aspirações das camadas populares.

Durante seu governo, Robespierre conseguiu conter o ataque das forças estrangeiras.
Aliviadas as tensões decorrentes da ameaça externa, os girondinos e o grupo da planície uniram-se contra o governo de Robespierre. Sem o necessário apoio popular, Robespierre foi preso em 27 de julho de 1794, sendo, logo depois, guilhotinado. Chega ao final o regime do Terror.

Governo do diretório: a Napoleão

Com o fim do governo de Robespierre, a Convenção Nacional passou a ser controlada pelos representantes da alta burguesia. A Convenção decidiu, então, elaborar uma nova Constituição para a França.

Concluída em 1795, essa Constituição estabeleceu a continuidade do regime republicano, que seria, então, controlado pelo Diretório, órgão composto por cinco membros eleitos pelo legislativo.

O diretório teve um período de governo (1795 – 1799) conturbado pelas oposições políticas tanto dos grupos monarquistas – que planejavam retornar ao poder – quanto dos dois grupos populares jacobinos que também conspiravam contra o Diretório. Nesse período, um jovem general, Napoleão Bonaparte, adquiria prestigio

político – militar reprimindo as rebeliões contra o governo e obtendo vitórias em campanhas externas.

O golpe de 18 brumário

No dia 10 de novembro de 1799 (18 brumário, pelo novo calendário instituído pela revolução), Napoleão Bonaparte, contando com o apoio de influentes políticos e certo prestigio popular, dissolveu o Diretório e estabeleceu um novo governo, o Consulado.

O papel de Napoleão foi o de evitar uma possível ascensão ao poder de setores mais identificados com os interesses das camadas populares (jacobinos) ou dos antigos monarquistas. Com isso, Napoleão consolidou as conquistas da burguesia e abriu caminho para o desenvolvimento capitalista francês, encerrando o ciclo revolucionário.

REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

O PROCESSO DE PRODUÇÃO

Nessa evolução, a produção manual que antecede a industrial conheceu duas etapas bem definidas, dentro do processo de desenvolvimento do capitalismo;

O artesanato, foi a forma de produção característica da Baixa Idade Média, durante o renascimento urbano e comercial, sendo representado por uma produção de caráter familiar, na qual o produtor (artesão), possuía os meios de produção (era o proprietário da oficina e das ferramentas) e trabalhava com a família em sua própria casa, realizando todas as etapas da produção, desde o preparo da matéria prima, até o acabamento final; ou seja não havia divisão do trabalho ou especialização. Em algumas situações o artesão tinha junto a si um ajudante, porém não assalariado, pois realizava o mesmo trabalho pagando uma “taxa” pela utilização das ferramentas.

E importante lembrarmos que nesse período a produção artesanal estava sob controle das corporações de oficio, assim como o comércio também encontravam-se sob controle de associações, limitando o desenvolvimento da produção.

A manufatura predominou ao longo da Idade Moderna, resultando da ampliação do mercado consumidor com o desenvolvimento do comércio monetário. Nesse momento, já ocorre um aumento na produtividade do trabalho, devido a divisão social da produção, onde cada trabalhador realizava uma etapa na confecção de um produto. A ampliação do mercado consumidor relaciona-se diretamente ao alargamento do comércio, tanto em direção ao oriente como em direção à América permanecendo o lucro nas mãos dos grandes mercadores. Outra característica desse período foi a interferência do capitalismo no processo produtivo, passando a comprar matéria prima e a determinar o ritmo de produção, uma vez que controlava os principais mercados consumidores.

A partir da máquina, fala-se numa primeira, numa segunda e até numa terceira e quarta Revolução Industrial. Porém, se concebermos a industrialização, como um processo, seria mais coerente falar-se num primeiro momento (energia a vapor no século XVIII), num segundo momento (energia elétrica no século XIX) e num terceiro e quarto momento, representados respectivamente pela energia nuclear e pelo avanço da informática, da robótica e do setor de comunicação ao longo dos séculos XX e XXI, porém aspectos ainda discutíveis.

O PIONERISMO NA INGLATERRA

A Inglaterra industrializou-se cerca de um século antes de outras nações, por possuir uma série de condições históricas favoráveis dentre as quais, destacam-se: a grande quantidade de capital acumulado durante a fase do mercantilismo, o vasto império colonial consumidor e fornecedor de matérias-primas, especialmente o algodão; a mudança na organização fundiária, com a aprovação dos cercamentos (enclousures) responsável por um grande êxodo no campo, e conseqüentemente pela disponibilidade de mão- de- obra abundante e barata nas cidades.


Outro fator determinante, foi a existência de um estado liberal na Inglaterra, que desde 1688 com a revolução Gloriosa. Essa revolução que se seguiu à revolução Puritana (1649), transformou a Monarquia Absolutista inglesa em monarquia parlamentar, libertando a burguesia de um estado centralizado e intervencionista, que dará lugar a um estado liberal Burguês na Inglaterra um século antes da revolução francesa.

PRINCIPAIS AVANÇOS DA MAQUINOFATURA

Em 1733, John Kay inventa a lançadeira volante;
Em 1767 James Hargreaves inventa a “spinning janny”, que permitia a um só artesão fiar 80 fios de uma única vez.
Em 1768 James Watt inventa a máquina a vapor;
Em 1769 Richard Arkwigh inventa a “water frame”.
Em 1779 Samuel Crompton inventaa “mule”, uma combinação de “water frane” com a “spinning jenny” com fios finos e resistentes;
Em 1785 Edmond Cartwright inventa o tear mecânico.

DESDOBRAMENTOS SOCIAS

A Revolução Industrial alterou profundamente as condições de vida do trabalhador braçal, provocando inicialmente um intenso deslocamento da população rural para as cidades, com enormes concentrações urbanas. A produção em larga escala e dividida em etapas irá distanciar cada vez mais o trabalhador do produto final, já que cada grupo de trabalhadores irá dominar apenas uma etapa da produção. Na esfera social, o principal desdobramento da revolução foi o surgimento do proletariado urbano (classe operaria), como classe social definida. Vivendo em condições deploráveis, tendo o cortiço como moradia e submetidos a salários miseráveis com jornadas de trabalho, a operariado nascente era facilmente explorado, devido também á inexistência de leis trabalhistas.

O desenvolvimento das ferrovias irá absolver grande parte da mão-de-obra masculina adulta, provocando em escala crescente a utilização de mulheres e crianças como trabalhadores nas fábricas têxteis e nas minas. O agravamento dos problemas sócio-economicos com o desemprego e a fome, foram acompanhados de outros problemas, como a prostituição e o alcoolismo.

Os trabalhadores reagiram de diversas formas, destacando-se o movimento “ludista” ( o nome vem de NED LUDLAN), caracterizado pela destruição das máquinas por operários, e o movimento “cartista”, organizado pela “Associação dos Operários”, que exigiam melhores condições de trabalho e o fim do voto censitário. Destaca-se ainda a formação de associações denominadas “trade-unions”, que evoluíram lentamente em suas reivindicações, originando os primeiros sindicatos modernos.
O divorcio entre capital e trabalho resultante da revolução industrial, é representado socialmente pela polarização entre burgueses e proletariado. Esse antagonismo define a luta de classe típica do capitalismo, consolidando esse sistema no contexto da crise do antigo regime.

terça-feira, 30 de março de 2010

O SIGNIFICADO DA PALAVRA SAVEIRO

Saveiro é um tipo de embarcação construída exclusivamente em madeira. Nas originais e mais antigas até os pregos eram feitos de madeira. É também um termo genérico que engloba vários tipos de embarcações muito diferentes entre si, todas em madeira, com envergaduras assombrosas, e aerodinâmica naval esmerada, procurando o máximo de aerodinâmica que a madeira pode proporcionar, tanto em Portugal como no Brasil, esse trabalho teve início com a Escola de Sagres, onde o graminho ou a régua de cálculos era muito utilizada.


Saveiro do Brasil


Saveiros na Baía de Paraty
Normalmente a construção de um saveiro é primitiva, medieval; e dispensa o uso de um complicado projeto de engenharia que envolve muitos cálculos matemáticos para chegar nas curvaturas das cavernas (ou galerias), que nunca são repetitivas, obviamente, o que faz dos saveiros objetos unicos de arte artesanais. Embora não existam saveiros iguais, como as digitais, pois são objetos de arte e artesanal e científicos na sua individualidade acadêmica; todos são embarcações marinheiras, cujo objeto é a boa navegação e a aerodinâmica acadêmica naval. A técnica usada no calculo das cavernas também dispensa o uso do sistema métrico decimal, digital ou qualquer emprego de equações algébricas ou integral, aplicadas individualmente em trigonometria esférica, como seno e co-seno já que na maioria das vezes seus construtores não possuem formação técnica em metalurgia avançada e de torneagem mecânica seja manual ou digital, em escola altamente especializada; e sim em madeira e suas diversas procedências, da sua natividade, umidade natural, essa teorizações é que são sua maximização acadêmica especializada e restrita, bem como também a necessária capacidade artística, de poder com arte atingir seu objetivo final, científico da problemática naval(o que os identifica e o que podem ou não ser ou o que é mais sábio afirmar, que raramente o sào analfabetos, de letras, de estudo, funcionais ou o que quer que seja, ou seja na tecnologia científica que os cabe na verdade). As suas ferramentas o são na bases da geometria euclidiana fundamental e muita arte, do conhecimento da nave em si, que vão construir e o objeto que irão enfrentar que é o mar bravio; como se fosse uma mãe cheia de amor e arte, dando à luz a um filho(um estaleiro dando à luz a uma nave). No lugar de cálculos altamente científicos de ponta em tornearia mecânica avançada e de abstrata matemática, de uma engenharia operacional e de rede digital, estes alquimistas de Deus utilizam como seus irmãos de Sagres, de cálculos em réguas de um instrumento denominado "graminho"(ou o que poderíamos dizer, uma régua de cálculos medieval, já ulilizado pelo infante Dom Henrique em suas aulas, na antiga Escola de Sagres, das antigas, com cursor e tudo). O graminho(ou régua de cálculos antiga) consiste em uma tipo de tábua onde estão marcadas todas as relações funcionais geométricas e trigonométricas de comprimentos, curvaturas e proporções de cada peça da embarcação a serem relacionadas entre si, sendo que através do graminho ser possível construir embarcações virtualmente idênticas no desempenho porém diferentes devido ao material sempre diferentes, o que as torna diferenciadas e mais resistentes em si, sem o auxílio de gabaritos(projetos ou cálculos elaborados otimizados esses projetos em túneis aerodinâmicos de estaleiros em salas de risco), porém sem imprescindir das necessárias referências intrínsecas do cavername, pois o que pesa para esses construtores artesanais é a possibilidade naval da madeira, dando-se muito valor ao cipreste, por exemplo pelas propriedades desse na sua capacidade de envergadura naval, o que vai determinar o ponto de referência para a utilização individual na embarcação, quase exclusiva determinado pelo graminho em suas diversas determinações funcionais. Quem conhece o precedimento de cálculo das antigas réguas de cálculo, saberá o que se procura afirmar nessa enciclopédia do graminho, pois as réguas de cálculo antigas eram de base funcional; o engenheiro naval também trabalha com funcões tanto o moderno como o antigo, sendo que sua funcional é o ponto de envergadura da madeira e sua resistência material sob ação naval; o construtor naval antes de tudo é um bom e experiente marinheiro, para construir um saveiro.


MITOS – LENDAS - FOLCLORE BRASILEIRO
O termo folclore foi proposto nos fins do século XIX pelo anglo-saxão W.J.Thomas.Originou-se o vocábulo de "folk" — que significa povo mais "Lore" — ciência.A palavra é usada para designar genericamente usos e costumes típicos de um povo.
O conjunto de lendas, ritos, criações artísticas e artesanais, os hinos, músicas, cantos e canções, as danças de um grupo social, ou de um povo, constituem o folclore desse grupo ou desse povo.
Também podemos empregar o termo folclore para indicar o conjunto de tradições de um povo e as formas de que se utiliza para perpetuar e manter vivas suas tradições.
Do folclore brasileiro podemos citar danças típicas com o bumba-meu-boi, a prenda-minha, a cavalhada, o reizado, a congada, o frevo, o maracatu, etc.
Artesanatos típicos como: renda de bilro, cerâmicas, tapetes de sisal, objetos de vime, entalhes na madeira, objetos de pedra-sabão.
Uma característica bem marcante do folclore brasileiro é o nosso carnaval com seus ranchos e escolas de samba,trio-elétricos.

Boitatá : Representada por uma cobra de fogo que protege as matas e os animais e tem a capacidade de perseguir e matar aqueles que desrespeitam a natureza. Acredita-se que este mito é de origem indígena e que seja um dos primeiros do folclore brasileiro. Foram encontrados relatos do boitatá em cartas do padre jesuíta José de Anchieta, em 1560. Na região nordeste, o boitatá é conhecido como "fogo que corre".

Boto: Acredita-se que a lenda do boto tenha surgido na região amazônica. Ele é representado por um homem jovem, bonito e charmoso que encanta mulheres em bailes e festas. Após a conquista, leva as jovens para a beira de um rio e as engravida. Antes de a madrugada chegar, ele mergulha nas águas do rio para transformar-se em um boto.

Curupira: Assim como o boitatá, o curupira também é um protetor das matas e dos animais silvestres. Representado por um anão de cabelos compridos e com os pés virados para trás. Persegue e mata todos que desrespeitam a natureza. Quando alguém desaparece nas matas, muitos habitantes do interior acreditam que é obra do curupira.

Lobisomem: Este mito aparece em várias regiões do mundo. Diz o mito que um homem foi atacado por um lobo numa noite de lua cheia e não morreu, porém desenvolveu a capacidade de transforma-se em lobo nas noites de lua cheia. Nestas noites, o lobisomem ataca todos aqueles que encontra pela frente. Somente um tiro de bala de prata em seu coração seria capaz de matá-lo.

Iara: Encontramos na mitologia universal um personagem muito parecido com a mãe-d'água : a sereia. Este personagem tem o corpo metade de mulher e metade de peixe. Com seu canto atraente, consegue encantar os homens e levá-los para o fundo das águas.

Corpo-seco:É uma espécie de assombração que fica assustando as pessoas nas estradas. Em vida, era um homem que foi muito malvado e só pensava em fazer coisas ruins, chegando a prejudicar e maltratar a própria mãe. Após sua morte, foi rejeitado pela terra e teve que viver como uma alma penada.

Pisadeira: É uma velha de chinelos que aparece nas madrugadas para pisar na barriga das pessoas, provocando a falta de ar. Dizem que costuma aparecer quando as pessoas vão dormir de estômago muito cheio.
Mula-sem-cabeça: Surgido na região interior, conta que uma mulher teve um romance com um padre. Como castigo, em todas as noites de quinta para sexta-feira é transformada num animal quadrúpede que galopa e salta sem parar, enquanto solta fogo pelas narinas.

Mãe-de-ouro: Representada por uma bola de fogo que indica os locais onde se encontra jazidas de ouro. Também aparece em alguns mitos como sendo uma mulher luminosa que voa pelos ares. Em alguns locais do Brasil, toma a forma de uma mulher bonita que habita cavernas e após atrair homens casados, os faz largar suas famílias.

Saci Pererê: O saci-pererê é representado por um menino negro que tem apenas uma perna. Sempre com seu cachimbo e com um gorro vermelho que lhe dá poderes mágicos. Vive aprontando travessuras e se diverte muito com isso. Adora espantar cavalos, queimar comida e acordar pessoas com gargalhadas.
O que são: Podemos definir os trava línguas como frases folclóricas criadas pelo povo com objetivo lúdico (brincadeira). Apresentam-se como um desafio de pronúncia, ou seja, uma pessoa passa uma frase díficil para um outro indíviduo falar. Estas frases tornam-se difíceis, pois possuem muitas sílabas parecidas (exigem movimentos repetidos da língua) e devem ser faladas rapidamente. Estes trava línguas já fazem parte do folclore brasileiro, porém estão presentes mais nas regiões
A boiúna, de mboi, "cobra" e una, "negra", também conhecida como boiaçu, de mboi e açu, "grande", ou ainda cobra-grande é, segundo Câmara Cascudo, o mais poderoso e complexo dos mitos amazônicos, exercendo ampla influência nas populações às margens do rio Amazonas e seus afluentes.
Faz parte do ciclo dos mitos d'água, de que a cobra é um dos símbolos mais antigos e universais. Senhora dos elementos, a cobra-grande tinha poderes cosmogônicos, explicando a origem de animais, aves, peixes, o dia e a noite. Mágica, irresistível, polimórfica, aterradora, a cobra-grande tem, a princípio, a forma de uma sucuri ou uma jibóia comum. Com o tempo, adquire grande volume, abandona a floresta e vai para o rio. Os sulcos que deixa à sua passagem transformam-se em igarapés. Habita a parte mais funda do rio, os poções, aparecendo vez por outra na superície. É descrita como tendo de 20 metros a 45 metros.
Martius (Viagem pelo Brasil) registrou a força assombrosa do medo que os indígenas tinham do monstro, com as dimensões multiplicadas pelo terror. Chamavam-no de Mãe-d'água e Mãe-do-rio, mas as histórias só mencinavam a voracidade da cobra-grande, arrebatando crianças e adultos que se banhavam. Recusavam-se a matar a cobra, porque então era certa a própria ruína, bem como de toda a tribo.
Esse registro, de 1819, denuncia a existência de um outro mito entrevisto e anotado por Barbosa Rodrigues (Poranduba Amazonense), o da constelação do Serpentário (Ofiúco), que aparece no céu em setembro, o tempo das roças, princípio do tempo de Coaraci, o Sol. Couto de Magalhães ouviu a lenda de como a noite apareceu, numa época em que não havia noite, e a filha de Cobra-grande pediu a noite ao pai como presente de casamento.
Há ocasião em que nenhum pescador se atreve a sair para o rio à noite, pois duas vezes seguidas foi avistada uma Cobra-grande... pelos olhos que alumiavam como tochas. Os pescadores foram perseguidos até a praia, somente escapando porque o corpo muito grande encalhou na areia. Esses pescadores ficaram doentes de pânico e medo da experiência que relatavam com real emoção. (Eduardo Galvão, Santos e Visagens, Brasiliana, São Paulo, 1955).

Lendas da Boiúna
Em Belém, há uma velha crença de que existe uma cobra-grande adormecida embaixo de parte da cidade, cuja cabeça estaria sob o altar-mor da Basílica de Nazaré e o final da cauda debaixo da Igreja de Nossa Senhora do Carmo. Outros já dizem que a tal cobra-grande está com a cabeça debaixo da Igreja da Sé, a Catedral Metropolitana de Belém, e sua cauda debaixo da Basílica de Nazaré: é o percurso da tradicional procissão do Círio de Nazaré, com 3,3 quilômetros de extensão. Os mais antigos dizem que se algum dia a cobra acordar ou mesmo tentar se mexer, a cidade toda poderá desabar. Por isso, em 1970 quando houve um tremor de terra na capital paraense, dizia-se que a tal cobra havia se mexido. Os mais folclóricos iam mais longe: "imagine se ela se acorda e tenta sair de lá!".
Em Roraima, conta-se que Cunhã Poranga ("índia bela") apaixonou-se pelo rio Branco e, por isso, Muiraquitã ficou com ciúme. Para se vingar, Muiraquitã transformou a bela índia na imensa cobra que todos passaram a chamar de Boiúna. Como ela era tinha um bom coração, passou a ter a função de proteger as águas de seu amado rio Branco.
Entre as populações que habitam as margens dos rios Solimões e Negro, no Amazonas, acredita-se que quando uma mulher engravida de uma visagem, a criança fruto desse terrível cruzamento está predestinada a ser uma cobra-grande.
Há quem acredite que a cobra-grande pode nascer de um ovo de mutum.
Segundo uma lenda mais comum no Acre, uma cobra-grande se transforma numa bela morena nas noites de luar do mês de junho, para seduzir os homens durante os arraiais de festas juninas, como se fosse a versão feminina do boto.
O folclorista Walcyr Monteiro conta que em Barcarena (PA) existe o lugar conhecido como "Buraco da Cobra-Grande", atração turística do local.
Misabel Pedrosa diz que a Cobra-grande mora debaixo do cemitério do Pacoval, na ilha de Marajó.
Cobra-grande como navio encantado
Aparece sob diferentes aspectos. Ora como cobra preta, grande, de olhos luminosos como dois faróis, ora como embarcação a vapor ou a vela. Eduardo Galvão cofirma ter a Cobra-grande se tornado navio encantado. O poeta Raul Bopp assim interpretou a cobra-grande:
- Axi, cumpadre
arrepare uma coisa:
lá vem um navio
vem-que-vem-vindo depressa, todo alumiado.
Parece feito de prata...
- Aquilo não é navio, cumpadre
- Mas os mastros e as luises... e o casco dourado?...
Alguns contam que a cobra grande pode algumas vezes parecer um navio para assustar os ribeirinhos. Refletindo o luar, suas enormes escamas parecem lâmpadas de um navio todo iluminado. Mas quando o "navio" chega mais perto é possível ver que na verdade é uma cobra grande querendo dar o bote.
Cobra-Maria
Animal fabuloso do rio Solimões, Amazonas, cobra gigantesca com poderes mágicos. É uma variante local da Cobra-grande, a Mbóia-açu. É uma tapuia encantada em uma cobra: a filha de um pajé deixou-se levar pelo amor de um emigrado, concebendo gêmeos, José e Maria. Quando o velho pajé soube do caso, calou-se e, quando as crianças nasceram, matou a filha e atirou-as n'água, morrendo José. Maria foi protegida por Iara e hoje faz tudo quanto quer. Aparece sempre à noite. Os seus lhos são como os de Anhangá, duas bolas de fogo. não tem ouvido falar numa cobra enorme, que derruba barrancos, afunda canoas, encalha navios e tem feito muitos valentes agonizar de fraqueza? Pois é a Cobra-Maria. (Quintinho Cunha, Pelo Solimões, Paris, sem data).
Cobra-Norato
Conta-se que uma índia engravidou da Boiúna e teve duas crianças: uma menina que se chamou de Maria e um menino chamado de Honorato ou Norato. Para que ninguém soubesse da gravidez, a mãe tentou matar os recém-nascidos jogando-os no rio. Mas eles não morreram e nas águas foram se criando como cobras.
Desde a infância os dois irmãos já demonstravam a grande diferença de comportamento entre eles. Maria era má, fazia de tudo para prejudicar os pescadores e ribeirinhos. Afundava barcos e fazia com que seus tripulantes morressem afogados. Seu irmão, Honorato, era meigo e bondoso. Quando sabia que Maria ir atacar algum barco, tentava salvar a tripulação. Isso só fazia com que ela o odiasse mais ainda. Até que um dia os irmãos travaram uma briga decisiva onde Maria morreu, tendo antes cegado o irmão.
Assim, as águas da Amazônia e seus habitantes ficaram livres da maldade de Maria. E Honorato seguiu seu caminho solitário. Sem ter quem combater, Honorato entendeu que seu fado já havia sido cumprido até demais e resolveu pedir para ser transformado em humano novamente. Para isso, precisava que alguém tivesse a coragem de derramar "leite de peito" (leite de alguma parturiente) em sua enorme boca em uma noite de luar. Depois de jogar o leite a pessoa teria que provocar um sangramento na enorme cabeça de Honorato para que a transformação tivesse fim. Foram muitas as tentativas, mas ninguém conseguia ter tanta coragem. Até que um soldado de Cametá,de nome SARAIVA município do interior do Pará, conseguiu reunir coragem para fazer a simpatia. Foi ele quem deu a Honorato a oportunidade de se ver livre para sempre daquela cruel maldição de viver sozinho como cobra. Em agradecimento, Honorato também virou soldado.
A cobra de Fawcett


A sucuri gigante descrita por Fawcett, de 19 metros
O coronel britânico Percy Harrison Fawcett, explorador que realizou sete expedições na Amazônia de 1906 a 1925, relatou ter visto cobras gigantescas, ou seus indícios. Em um de seus diários, ele anotou, em 1907: "Estávamos calmamente seguindo a corrente preguiçosa, não longe da confluência do Rio Negro, quando quase sob o arco da igara apareceu uma cabeça triangular e vários pés de corpo ondulante. Era uma sucuri gigante. Corri para meu rifle enquanto a criatura fazia seu caminho rumo ao banco de areia e, quase sem esperar para mirar, disparei uma bala de ponta macia calibre .44 em sua espinha, dez pés (3 metros), abaixo da maldita cabeça."
O barco parou para que o coronel pudesse examinar o corpo. A despeito de ter sido mortalmente ferida, "convulsões subiam e desciam pelo corpo como golpes de vento em um lago de montanha." Embora não tivessem equipamentos para medições com ele, Fawcett estimou que a serpente tinha 19 metros de comprimento e 30 cm de diâmetro.
Nos pântanos de Madre de Diós, em Bení, Bolívia, Fawcett disse ter visto rastros de uma cobra que indicavam um comprimento de 24 metros.

domingo, 28 de março de 2010

A CABANAGEM


OS MOVIMENTOS SOCIAIS NO PERIODO REGENCIAL
CABANAGEM: 1835-1840
FARROUPILHA: 1835-1845
SABINADA: 1837-1838
BALAIADA: 1838-1841
A Cabanagem (1835-1840) foi a revolta na qual negros, índios e mestiços se insurgiram contra a elite política e tomaram o poder no Pará (Brasil). Entre as causas da revolta encontram-se a extrema pobreza das populações ribeirinhas e a irrelevância política à qual a província foi relegada após a independência do Brasil.
De cunho popular, contou com a participação de elementos das camadas média e alta da região, entre os quais se destacam os nomes do padre João Batista Gonçalves Campos, do jornalista Vicente Ferreira Lavor Papagaio.
Origem do nome
A denominação "Cabanagem" remete ao tipo de habitação da população ribeirinha, constituída por mestiços, escravos libertos e indígenas.
História
Após a Independência do Brasil, a Província do Grão-Pará mobilizou-se para expulsar as forças reacionárias que pretendiam manter a região como colônia de Portugal. Nessa luta, que se arrastou por vários anos, destacaram-se as figuras do cônego e jornalista João Batista Gonçalves Campos, dos irmãos Vinagre e do fazendeiro Félix Clemente Malcher. Formaram-se diversos mocambos de escravos foragidos e eram freqüentes as rebeliões militares. Terminada a luta pela independência e instalado o governo provincial, os líderes locais foram marginalizados do poder. A elite fazendeira do Grão-Pará, embora com melhores condições, ressentia-se da falta de participação nas decisões do governo central, dominado pelas províncias do Sudeste e do Nordeste.
Em julho de 1831 estourou uma rebelião na guarnição militar de Belém do Pará, tendo Batista Campos sido preso como uma das lideranças implicadas. A indignação do povo cresceu, e em 1833 já se falava em criar uma federação. O presidente da província, Bernardo Lobo de Sousa, desencadeou uma política repressora, na tentativa de conter os inconformados. O clímax foi atingido em 1834, quando Batista Campos publicou uma carta do bispo do Pará, Romualdo de Sousa Coelho, criticando alguns políticos da província. Por não ter sido autorizada pelo governo da Província, o cônego foi perseguido, refugiando-se na fazenda de seu amigo Clemente Malcher. Reunindo-se aos irmãos Vinagre (Manuel, Francisco Pedro e Antônio) e ao seringueiro e jornalista Eduardo Angelim reuniram um contingente de rebeldes na fazenda de Malcher. Antes de serem atacados por tropas governistas, abandonaram a fazenda. Contudo, no dia 3 de novembro, as tropas conseguiram matar Manuel Vinagre e prender Malcher e outros rebeldes. Batista Campos morreu no último dia do ano, ao que tudo indica de uma infecção causada por um corte que sofreu ao fazer a barba.

O movimento
Eduardo Angelim, um dos líderes da revolta.Em 6 de janeiro de 1835, liderados por Antônio Vinagre, os rebeldes (tapuios, cabanos, negros e índios) tomaram de assalto o quartel e o palácio do governo de Belém, nomeando Félix Antonio Clemente Malcher presidente do Grão-Pará. A Cabanagem apenas começava. Os cabanos, em menos de um dia, atacaram e conquistaram a cidade de Belém, assassinando o presidente Lobo de Souza e o Comandante das Armas, e apoderando-se de uma grande quantidade de material bélico. No dia 7, Clemente Malcher foi libertado e escolhido como presidente da província e Francisco Vinagre para Comandante das Armas. O governo cabano não durou por muito tempo, pois o novo presidente, Félix Malcher - tenente-coronel, latifundiário, dono de engenhos de açúcar - era mais identificado com os interesses do grupo dominante derrotado, é deposto em 19 de fevereiro de 1835, com o apoio das classes dominantes e pretendia manter a província unida ao Império do Brasil.
Francisco Vinagre, Eduardo Angelim e os cabanos pretendiam se separar. O rompimento aconteceu quando Malcher mandou prender Angelim. As tropas dos dois lados entraram em conflito, saindo vitoriosas as de Francisco Vinagre. Clemente Malcher, assassinado, teve o seu cadáver arrastado pelas ruas de Belém.
Agora na presidência e no Comando das Armas da Província, Francisco Vinagre não se manteve fiel aos cabanos. Se não fosse a intervenção de seu irmão Antônio, teria entregue o governo ao poder imperial, na pessoa do marechal Manuel Jorge Rodrigues (julho de 1835). Devido à sua fraqueza e ao reforço de uma esquadra comandada pelo almirante inglês Taylor, os cabanos foram derrotados e se retiraram para o interior. Reorganizando suas forças, os cabanos atacaram Belém, em 14 de agosto. Após nove dias de batalha, mesmo com a morte de Antônio Vinagre, os cabanos retomaram a capital.
Eduardo Angelim assumiu a presidência. Durante dez meses, a elite se viu atemorizada pelo controle cabano sobre a província do Grão-Pará. A falta de um projeto com medidas concretas para a consolidação do governo rebelde, provocaram seu enfraquecimento. Diante da vitória das forças de Angelim, o império reagiu e nomeou, em março de 1836, o brigadeiro Francisco José de Sousa Soares de Andréa como novo presidente do Grão-Pará, autorizando a guerra total contra os cabanos. Em fevereiro, quatro navios de guerra se aproximavam de Belém, prontos para atacar uma cidade tomada pela desordem, fome e varíola. No dia 13 de maio de 1836, o brigadeiro d'Andrea estacionou sua esquadra em frente a Belém e bombardeou impiedosamente a cidade. Os cabanos insurgentes escapavam pelos igarapés em pequenas canoas, enquanto Eduardo Angelim e alguns líderes negociavam a fuga.
O brigadeiro d'Andrea, entretanto, julgando que Angelim, mesmo foragido, seria uma ameaça, determinou que seus homens fossem ao seu encalço. Em outubro de 1836, numa tapera da selva, ao lado de sua mulher, Angelim foi capturado, tornado prisioneiro na fortaleza da Barra, até seguir para o Rio de Janeiro. A cabanagem, porém, não acabou com a prisão de Eduardo Angelim. Os cabanos lutaram até 1840 (internados na selva), até serem literalmente exterminados: nações indígenas foram chacinadas: os murá e os mauê praticamente desapareceram.
Calcula-se que de 30 a 40% de uma população estimada de 100 mil habitantes morreu. Em 1833 o Grão-Pará tinha 119.877 habitantes; 32.751 eram índios e 29.977, negros escravos. A maioria mestiça ("cruzamento" de índios, negros e brancos) chegava a 42 mil. A minoria totalizava 15 mil brancos, onde mais da metade eram portugueses.
Em homenagem ao movimento Cabano foi erguido um monumento, projetado pelo famoso arquiteto Oscar Niemeyer, na entrada da cidade de Belém: o Memorial da Cabanagem.

Guerra dos Farrapos
Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha são os nomes pelos quais ficou conhecida a revolução ou guerra regional, de caráter republicano, contra o governo imperial do Brasil, na então província de São Pedro do Rio Grande do Sul, e que resultou na declaração de independência da província como estado republicano, dando origem à República Rio-Grandense. Extendeu-se de 20 de setembro de 1835 a 1 de março de 1845.
A revolução, que originalmente não tinha caráter separatista, influenciou movimentos que ocorreram em outras províncias brasileiras: irradiando influência para a Revolução Liberal que viria a ocorrer em São Paulo em 1842 e para a Revolta denominada Sabinada na Bahia em 1837, ambas de ideologia do Partido Liberal da época, moldado nas Lojas Maçônicas. Inspirou-se na recém-finda guerra de independência do Uruguai, mantendo conexões com a nova república do Rio da Prata, além de províncias independentes argentinas, como Corrientes e Santa Fé. Chegou a expandir-se à costa brasileira, em Laguna, com a proclamação da República Juliana e ao planalto catarinense de Lages. Teve como líderes: Bento Gonçalves, General Neto, Onofre Pires, Lucas de Oliveira, Vicente da Fontoura, Pedro Boticário, Davi Canabarro, Teixeira Nunes, Vicente Ferrer de Almeida, José Mariano de Mattos, além de receber inspiração ideológica de italianos carbonários refugiados, como o cientista Tito Lívio Zambeccari e o jornalista Luigi Rossetti, além de Giuseppe Garibaldi, que embora não pertencesse a carbonária, esteve envolvido em movimentos republicanos na Itália. A questão da abolição da escravatura também esteve envolvida, organizando-se exércitos contando com homens negros que aspiravam à liberdade.
A justificativa original centrava-se no conflito político entre os liberais que propugnavam modelo de estado com maior autonomia às províncias, e o modelo imposto pela constituição de D. Pedro I de caráter unitário. Além disso, havia disseminação de ideais separatistas, tidos por muitos gaúchos como o melhor caminho para a paz e a prosperidade, seguindo o exemplo da Província Cisplatina;
Entretanto o movimento também encontrou forças na posição secundária, tanto econômica como política, que a Província de São Pedro do Rio Grande ocupava nos anos que se sucederam à Independência. Diferentemente de outras províncias, cuja produção de gêneros primários se voltava para o mercado externo, como o açúcar e o café, a do Rio Grande do Sul produzia principalmente para o mercado interno. Seus principais produtos eram o charque e o couro. As charqueadas produziam para a alimentação dos escravos africanos, indo em grande quantidade para abastecer a atividade mineradora nas Minas Gerais, para as plantações de cana-de-açúcar e para a região sudeste, onde se iniciava a cafeicultura[5]. A região, desse modo, encontrava-se muito dependente do mercado brasileiro de charque, que com o câmbio supervalorizado, e benefícios tarifários, podia importar o produto por custo mais baixo[9]. Além disso, instalava-se nas Províncias Unidas do Rio da Prata, uma forte indústria saladeiril, da qual participava Rosas, e que, junto com os saladeros do Uruguai (que deixara de ser brasileiro) competiria pela compra de gado da região, pondo em risco a viabilidade econômica das charqueadas sul-riograndenses.
Consequentemente, o charque rio-grandense tinha preço maior do que o similar oriundo da Argentina e do Uruguai, perdendo assim competitividade no mercado interno. A tributação da concorrência externa era uma exigência dos estancieiros e charqueadores[9]. Essa tributação não era do interesse dos principais compradores brasileiros que eram os que detinham as concessões das lavras de mineração, os produtores de cana-de-açúcar e os cafeicultores, pois veriam reduzida a lucratividade das mesmas, por maior dispêndio na manutenção dos escravos.
Há que considerar, ainda, que o Rio Grande do Sul era região fronteiriça aos domínios hispânicos situados na região platina. Devido às disputas territoriais nessa área, nunca fora uma Capitania Hereditária no período colonial e, sim, parte de seu território, desde o século XVII ocupado por um sistema de concessão de terras a chefes militares. Esses dispunham de capacidade de opor-se militarmente ao fraco exército imperial na região. Ainda mais, na então ainda recente e desastrosa Guerra da Cisplatina, que culminou com a perda da área territorial do Uruguai, anteriormente anexada ao Brasil, as posições dos militares e caudilhos locais foram sobrepujadas por comandos oriundos da corte imperial (como o Marquês de Barbacena). Os contatos frequentes, inclusive negócios do outro lado da fronteira, mostraram aos caudilhos locais as vantagens de uma república, com suas bandeiras de igualdade, liberdade e fraternidade trazidas da Revolução Francesa[5]. Além disso a imposição de presidentes provinciais por parte do Governo imperial ia contra o direcionamento político da Assembléia Legislativa Provincial do Rio Grande do Sul, criando mais um motivo de desagrado da elite regional.
Também é preciso citar o conflito ideológico presente no Rio Grande do Sul, com um de seus primeiros exemplos na Sedição de 1830, que visava substituir a monarquia pela república em Porto Alegre e que teve a participação de diversos imigrantes alemães (Otto Heise, Samuel Kerst e Gaspar Stephanousky), mas foi prontamente sufocada [10]. O conflito ideológico foi exacerbado com a criação da Sociedade Militar[11], no Rio de Janeiro, um clube com simpatia pelo Império, e até mesmo suspeito de simpatizar com a restauração de D. Pedro I. Um dos seus líderes foi o Conde de Rio Pardo, que ao chegar a Porto Alegre em outubro de 1833, fundou ali uma filial. Os estancieiros rio-grandenses não viam com bons olhos a Sociedade Militar e pediam que o governo provincial a colocasse na ilegalidade. Entre os protestos eclodiu uma rebelião popular, liderada pelos majores José Mariano de Matos e João Manuel de Lima e Silva que foi logo abafada e seus líderes punidos.
Os Farrapos
Farrapos ou farroupilhas foram chamados todos os que se revoltaram contra o governo imperial, e que culminou com a Proclamação da República Rio-Grandense. Era termo considerado originalmente pejorativo, já utilizado pelo menos uma década antes da Guerra dos Farrapos para designar os sul-riograndenses vinculados ao Partido Liberal, oposicionistas e radicais ao governo central, destacando-se os chamados jurujubas. O termo, oriundo do parlamento, com o tempo foi adotado pelos próprios revolucionários, de forma semelhante à que ocorreu com os sans-cullotes à época da Revolução Francesa. Seus oponentes imperiais eram por eles chamados de caramurus, termo jocoso em geral aplicado aos membros do Partido Restaurador no Parlamento Imperial.
Em 1831, no Rio de Janeiro, haviam os jornais Jurujuba dos Farroupilhas e Matraca dos Farroupilhas. Em 1832 foi fundado o Partido Farroupilha pelo tenente Luís José dos Reis Alpoim, deportado do Rio para Porto Alegre. O grupo se encontrava na casa do major João Manuel de Lima e Silva, sede também da Sociedade Continentino. Em 24 de outubro de 1833, os farroupilhas promoveram um levante contra a instalação da Sociedade Militar em Porto Alegre.
Inicialmente, reivindicavam a retirada de todos os portugueses que se mantinham nos mais altos cargos do Império e do Exército, mesmo depois da Independência, respaldados pelo Partido Restaurador ou caramuru. Os caramurus almejavam a volta de D. Pedro I ao governo do Brasil.
No entanto, é bom notar que entre os farrapos havia os que acreditavam que só tornando suas províncias independentes poderiam obter uma "sociedade chula", ou seja, administrada por provincianos. Havia, portanto, estancieiros, estancieiros-militares, farroupilhas-libertários, militares-libertários, estancieiros-farroupilhas, abolicionistas e escravos que buscavam a liberdade, e assim por diante, numa combinação e interpenetração ideológica sem fim. Inicialmente nem todos eram republicanos e separatistas, mas os acontecimentos e os novos rumos do movimento conduziram a esse desfecho. A maçonaria sulista teve importante papel nos rumos tomados, tendendo aos ideais republicanos.

A Revolta Farroupilha
Lenço decorado usado pelos Farroupilhas. Acervo do Museu Júlio de CastilhosNo ano de 1835 os ânimos políticos estavam exaltados. O descontentamento de estancieiros, liberais, industriais do charque, e militares locais promoviam reuniões em casas de particulares, destacando-se a figura de Bento Gonçalves.
Naquele ano foi nomeado como presidente da Província Antônio Rodrigues Fernandes Braga, nome que apesar de inicialmente ter agradado aos liberais, aos poucos se mostrou pouco digno de confiança. No dia em que tomou posse, Fernandes Braga fez séria acusação de separatismo contra os estancieiros rio-grandenses, chegando a citar nomes, o que praticamente liquidou as chances de conviver em paz com os seus governados.
Na noite de 18 de setembro de 1835, em uma reunião onde estavam presentes José Mariano de Mattos, (um ferrenho separatista), Gomes Jardim (primo de Bento e futuro presidente da República Rio-Grandense), Vicente da Fontoura (farroupilha, mas anti-separatista), Pedro Boticário (fervoroso farroupilha), Paulino da Fontoura (irmão de Vicente, cuja morte seria imputada a Bento Gonçalves, estopim da crise na República), Antônio de Sousa Neto (imperialista e farroupilha, mas que simpatizava com as idéias republicanas) e Domingos José de Almeida (separatista e grande administrador da República), decidiu-se por unanimidade que dentro de dois dias, no dia 20 de setembro de 1835, tomariam militarmente Porto Alegre e destituiriam o presidente provincial Antônio Rodrigues Fernandes Braga.
Em várias cidades do interior as milícias estavam alertas para deflagrarem a revolta. Bento comandava uma tropa reunida em Pedras Brancas, hoje cidade de Guaíba.
Gomes Jardim e Onofre Pires eram os comandantes farroupilhas aquartelados, com cerca de 200 homens, no morro da Azenha, o atual Cemitério São Miguel e Almas. Mantinham, no dia 19 de setembro de 1835, um piquete nas imediações da ponte da Azenha, com orientação para interceptar quem por ali transitasse, evitando que se alertasse o presidente de suas presenças.
Estavam, portanto, os farroupilhas a uma prudente distância da vila. O piquete avançado, com 30 homens, posto nas imediações da ponte da Azenha, era comandado por Manuel Vieira da Rocha, o Cabo Rocha e aguardava o amanhecer do dia 20 para investir, junto com o restante da tropa, contra os muros da vila.
Porém Fernandes Braga ouvira comentários e insinuações. Desconfiado, mandou uma partida de 9 homens sob o comando de José Gordilho de Barbuda Filho, o 2° Visconde de Camamu, fazer um reconhecimento, mesmo à noite. Descuidados e inexperientes, os guardas se fizeram notar. Alertas e de prontidão, o piquete republicano atacou os imperiais, que fugiram em desabalada correria, resultando 2 mortos e cinco feridos. Um dos feridos, o próprio Visconde, alertou Fernandes Braga da revolta. Eram 11 horas da noite de 19 de setembro de 1835.
Regente Imperial Padre Feijó Braga não dormiu. Logo ao amanhecer estava junto ao arsenal de guerra, hoje Ponta do Gasômetro, Porto Alegre, tentando reunir homens para a resistência. Porém, até o meio da tarde somente 17 homens se apresentaram para defender a cidade. Vendo armas e munição escassas, Braga resolve fugir[5] a bordo da escuna Rio-Grandense, seguido pela canhoneira 19 de Outubro, indo parar em Rio Grande, então maior cidade da Província, não sem antes voltar ao palácio do Governo, pegar alguns documentos e todo o dinheiro dos cofres provinciais.
Os farroupilhas adiaram a investida combinada, devido ao inusitado da noite anterior. Somente ao amanhecer o dia 21 de setembro de 1835[9], chegam às portas da cidade Bento Gonçalves e os demais comandantes, seguidos por suas respectivas tropas. Porto Alegre abandonada, sem resistência, entregou-se aos revolucionários.
Estava praticamente cumprida a missão. Apenas alguns focos de resistência em Rio Pardo e São Gabriel, além de Rio Grande, mantinham os farroupilhas ocupados.
A Câmara Municipal reúne-se extraordinariamente para ocupar o cargo de Presidente. Na ausência dos vices-presidentes imediatos, assume o quarto vice, Dr. Marciano Pereira Ribeiro. Logo expedem uma carta ao Regente Imperial Padre Diogo Antônio Feijó explicando os motivos da revolta e solicitando a nomeação de um novo Presidente.
A animosidade continua
De Rio Grande, Fernandes Braga embarca para o Rio de Janeiro em 23 de outubro, capital do Império do Brasil. Uma vez na Corte, Braga passa a sua versão da história, bastante diferente da carta enviada por Bento Gonçalves, o que faz o Império decidir-se por combater e esmagar a revolta.
O novo indicado José de Araújo Ribeiro, veio acompanhado de um verdadeiro aparato de guerra, com brigues e canhoneiras, armamento e muitos soldados imperiais. Os Farroupilhas gaúchos temiam o mal-entendido, a perseguição, a prisão e a morte exemplar, muito utilizada pelo Império em outras revoltas.
Houve, por isso, alguma demora na Assembléia Provincial a discutir a aceitação ou não do novo indicado, o que ocasionou a assunção de Araújo Ribeiro à Presidência perante a Câmara Municipal de Rio Grande (15 de janeiro de 1836)[5]. Daí em diante temos dois governos “legítimos” e simultâneos na Província, situação que perduraria até o final da guerra, em 1845.
Como Presidente Imperial da Província, Araújo Ribeiro tratou de recompor seu exército, reunir os oficiais gaúchos contrários aos farroupilhas João da Silva Tavares, Francisco Pedro de Abreu (o “Chico Pedro” ou Moringue), o então major Manuel Marques de Sousa, que viria a receber o título de "conde de Porto Alegre", Bento Manuel Ribeiro (que iria trocar de lado na disputa duas vezes), Manuel Luís Osório (o general Osório, hoje patrono da Cavalaria do Brasil), e mesmo contratar mercenários vindos do Uruguai. Administrativamente mandou fechar a Assembleia Provincial, e destituiu Bento Gonçalves do comando da Guarda Nacional, nomeação feita por Marciano José Pereira Ribeiro, desautorizando-o. Inicia aí a resistência em Rio Grande e a perseguição aos revoltosos.
Em abril de 1836, o comandante-das-armas farroupilhas, João Manuel de Lima e Silva (tio de Luís Alves de Lima e Silva, que viria a ser o Duque de Caxias), prende o Major Manuel Marques de Sousa, que é trazido junto com os demais prisioneiros para o navio-prisão Presiganga. Com a ajuda de um guarda corrupto, são soltos os prisioneiros, e sob o comando de Marques de Sousa, os Imperiais retomam a cidade de Porto Alegre das mãos dos farroupilhas[5]. Era a noite de 15 de junho de 1836.
Dias depois, Bento Gonçalves tenta retomar a capital, é rechaçado, e começa um sítio ao redor da cidade que ficou na história como um dos mais longos sítios militares a uma cidade brasileira. Ao todo 1.283 dias, terminando somente em dezembro de 1840.
Sem o controle da capital e do único porto marítimo da província, os revoltosos estabeleceram quartel-general na cidade de Piratini.
A república Riograndense tinha escasso apoio nas áreas colonizadas pela recente imigração alemã. Esses imigrantes haviam se fixado na desativada Real Feitoria do Linho Cânhamo em colônias cedidas pelo Império, no Vale do Rio dos Sinos, e esboçava incipiente indústria manufatureira. Em Porto Alegre, apesar da simpatia de parte das camadas médias, não recebia o apoio popular, que mobilizava outras cidades da Província de São Pedro do Rio Grande. Inicialmente sua base social era originária de liberais, militares, industriais do charque e, especialmente de estancieiros com capacidade de liderar exércitos particulares de "peões", vaqueiros que lhes prestavam serviços ou deles dependiam para subsistência e defesa e cuja obediência e fidelidade era garantida por traços feudais da cultura local; e por escravos, que no meio rural eram incluídos no convívio social dos peões. Como haviam interfaces com o Uruguai, também eram contratados elementos de lá provenientes. Os exímios cavaleiros forjados nas lides campeiras, chamados "gaúchos" formavam corpos de cavalaria de choque aptos a travar uma guerra de guerrilha. Esses exércitos dispunham de alta mobilidade e conhecimento do terreno, mas sem dispor de infantaria nem adequada artilharia, os Farroupilhas tinham fraca capacidade bélica contra as cidades fortificadas do Rio Grande e Porto Alegre, e pouca capacidade de defesa das praças que controlavam.
A proclamação da República
Proclamação da República Piratini, 1915, por Antônio Parreiras.No início de setembro de 1836 Antônio de Sousa Neto desloca-se à região de Bagé, onde o imperial João da Silva Tavares, vindo do Uruguai, faz grande alarde. A Primeira Brigada de Neto, com 400 homens atravessa o arroio Seival e encontra as tropas de Silva Tavares (560 homens) sobre uma coxilha. Era a tarde de 10 de setembro de 1836 quando começa a batalha do Seival. Silva Tavares desce a coxilha em desabalada carga. Neto ordena também a carga de lança e espada, sem tiros. As forças se encontram em sangrento combate. Silva Tavares foge e seus homens são derrotados[5]. Os farrapos ficam quase intactos, enquanto do outro lado há 180 mortos, 63 feridos e 100 prisioneiros.
Donos do campo, os farroupilhas comemoram vibrantemente a vitória. Cresce a idéia separatista de conquistar e manter um país rio-grandense independente, entre as nações do mundo. À noite as questões ideológicas são revistas. Lucas de Oliveira, Joaquim Pedro, Teixeira Nunes cercam Neto. Argumentam que não há outra saída a não ser enveredar pela senda da independência, não há outro desejo popular a não ser o desejo de liberdade, de abolição da escravatura e de democracia sob o sistema republicano. Se tivesse que acontecer, a hora era aquela, a hora da vitória, do júbilo, da afirmação. Neto é simpático à idéia, mas resiste diante de uma provável reprovação de seus pares. Pensa que tal proclamação de uma nova República deveria partir de Bento Gonçalves, o grande comandante de todos os farrapos. Contrapuseram que Bento já se decidira pela República e que hierarquia rígida era coisa do Império. O sistema republicano centra-se no povo, suas vontades e necessidades, e não na elite governativa.
Finalmente, aquiescendo o Coronel Neto, passaram a escrever a Proclamação da República Rio-Grandense que seria lida e efetivada por ele, perante a tropa perfilada, em 11 de setembro de 1836
Azevedo Dutra: Retrato de Antônio de Sousa Netto, século XIX. Acervo do Museu Júlio de CastilhosApós a cerimônia de Proclamação, irrompem todos em gritos de euforia, liberdade, e vivas à República, com tiros para o alto e cantorias. Logo chega à galope o tenente Teixeira Nunes, empunhando pela primeira vez a bandeira tricolor, mandada fazer às pressas em Bagé. Passa então a desfilar por entre seus companheiros com a bandeira verde, vermelha e amarela da República Rio-Grandense, comemorando sua independência.
Foram conclamadas as demais províncias brasileiras a unirem-se como entes federados no sistema republicano, foi criado um hino nacional e bandeira própria do novo estado, até hoje cultivados pelo Estado do Rio Grande do Sul. Também foi estabelecida a capital na pequena cidade de Piratini, donde surgiu uma nova alcunha, República de Piratini.
A partir deste momento, ocorre a falência imediata da Revolta Farroupilha, e o início da Guerra dos Farrapos, propriamente dita. A mudança de posicionamento dos Farrapos foi imediata.
Já não desejavam mais substituir o Presidente da Província de São Pedro do Rio Grande por outro, pois agora haveriam de ter um Presidente da República independente.
Os combatentes não era mais revoltosos farroupilhas, mas soldados do Exército Republicano Rio-Grandense.
O pavilhão que defendiam não era mais a bandeira imperial verde-amarela, mas a quadrada bandeira republicana verde, vermelha e amarela em diagonal (sem o brasão no meio).
Não lutavam mais por reconhecimento e atenção, mas pela defesa da independência e soberania de seu país.
Já não era mais a luta de revoltosos em busca de justiça, mas uma guerra de exército defensor (republicano) contra exército agressor (imperial);
Batalha do Fanfa
Cena de Batalha no Sul do Brasil, por Oscar Pereira da Silva.No dia 12 de setembro, um dia após à Proclamação da República Rio-Grandense, por Antônio de Sousa Neto, a seguir à vitória na Batalha do Seival, houve a solenidade de lavratura e assinatura da Ata de Declaração de Independência, pela qual os abaixo-assinantes declaram não embainhar suas espadas, e derramar todo o seu sangue, antes de retroceder de seus princípios políticos, proclamados na presente declaração. Fez-se várias cópias da Ata e foram enviadas às câmaras municipais e aos principais comandantes do Exército Republicano.
Como resposta imediata, as câmaras de Jaguarão, Alegrete, Cruz Alta, Piratini, entre outras, convocaram sessões extraordinárias onde puderam analisar e corroborar os feitos, fazendo constar em Atas Legislativas suas adesões, proclamando a independência política da Província, por ser a vontade geral da maioria.
Bento Gonçalves não pudera estar presente devido a um fato circunstancial. Ao tomar conhecimento do ato da Proclamação da República Riograndense, Bento Gonçalves levanta seu acampamento na lomba do Tarumã, parte do sítio que impingia a Porto Alegre, segue a várzea do Rio Gravataí, marcha para São Leopoldo e cruza o rio dos Sinos e o rio Caí, passa a deslocar-se, beirando o Rio Jacuí, para junção de forças com Neto[12]. Fatalmente ele precisava atravessar o rio na Ilha de Fanfa, no município de Triunfo por causa da época de cheias. Ciente dos acontecimentos, Bento Manuel agora a serviço do Império, desloca suas tropas com 660 homens embarcados, a partir de Triunfo, de modo a impedir a passagem de Bento Gonçalves.
Bento Gonçalves decide cruzar o rio Jacuí, para unir suas tropas com as de Domingos Crescêncio, e na noite de 1° de outubro levanta acampamento e na manhã seguinte inicia, com dois pontões para 40 homens, o cruzamento para a Ilha do Fanfa[12]. José de Araújo Ribeiro, alertado por Bento Manuel , envia a Marinha, comandada pelo mercenário inglês John Grenfell, com 18 barcos de guerra, escunas e canhoneiras guardando o lado sul da Ilha, só percebida pelos Farrapos depois de estarem na ilha. Fechando o cerco por terra, Bento Manuel ficou senhor da situação. Era 3 de outubro de 1836. Apesar da “ratoeira” em que estavam, os farrapos resistem bravamente, sabedores da proximidade das tropas de Crescêncio de Carvalho, repelem os fuzileiros que desembarcam na ilha pela costa sul e qualquer tentativa de travessia pelo norte. Naquela noite, porém, Bento Manuel levanta a bandeira de “parlamento”. Bento Gonçalves aceita negociar. O acordo foi feito e assinado na tenda de Bento Manuel. Os Farrapos entregariam as armas, capitulariam, e voltariam livres para suas casas. Segundo Bento Manuel a guerra estaria terminada, com a vitória do Império. Ele pacificara a Província, e receberia as glórias da Corte. Porém, Bento Gonçalves não era tão ingênuo. Aceitaria as condições, sairia perdedor dali, mas estariam vivos para recuperar o tempo e o terreno perdido.
Pela manhã do dia 4 de outubro era formalizada a capitulação. Alguns guerreiros, no entanto, preferiam jogar as armas ao rio a entregá-las ao inimigo. No momento em que confraternizavam as tropas (Bento Gonçalves sempre teve a esperança de trazer o primo e amigo para o convívio republicano), chega Araújo Ribeiro, em pessoa, trazido por John Grenfell. Imediatamente ordena a prisão dos Farrapos[12], desprevenidos e desarmados, não aceitando o combinado entre os dois Bentos. Bento Manuel colabora com a captura do maior número possível de Farrapos: Bento Gonçalves, Tito Lívio, Pedro Boticário, José de Almeida Corte Real, José Calvet, Onofre Pires, entre outros[12]. A maior parte dos líderes do movimento foi preso na Presiganga e depois enviada para a Corte e enfim encarcerada na prisão de Santa Cruz e no Forte da Laje, no Rio de Janeiro.
A Guerra sem Bento
Na sessão extraordinária da Câmara de Piratini, na primeira capital da República Rio-Grandense, em 6 de novembro de 1836, procedeu-se formalmente a votação para Presidente da República, conforme os parâmetros da época. A concorrida eleição foi vencida por Bento Gonçalves (mesmo sem estar presente e sem campanha) e primeiro vice-presidente José Gomes de Vasconcelos Jardim. Assume o vice interinamente a presidência com a incumbência de convocar uma Assembléia Constituinte para formar a Constituição da República Rio-grandense.
A luta entre Farroupilhas e Imperiais continuou acirrada. O Império despejava rios de dinheiro para recrutar mais e mais soldados paulistas e baianos, para comprar mais armas, mais munições, com pouquíssimo resultado prático.
Pelo lado imperial, Araújo Ribeiro foi substituído a 5 de janeiro de 1837 pelo Brigadeiro Antero de Brito, acirrando mais a disputa. Brito passou a acumular os cargos de Comandante das Armas e de Presidente da Província de São Pedro do Rio Grande com capital em Porto Alegre . Se Araújo era, acima de tudo, conciliador, Brito perseguiu e prendeu até mesmo civis simpatizantes das idéias farroupilhas, confiscando seus bens ; alguns destes foram punidos com a pena de desterro. Em contrapartida os Farrapos eram senhores do pampa, recebiam maciças adesões de militares descontentes com a nomeação de Brito, e ainda em Janeiro de 1837, ganham o apoio dos habitantes de Lages de Santa Catarina, que seria um importante ponto onde os Farrapos comprariam armas e munições. O principal perseguido por Antero de Brito era o Comandande das Armas Imperiais anterior a ele, nada menos que Bento Manuel Ribeiro. Vaidoso, e prepotente, Bento Manuel não aceitava a auto-nomeação de Brito, e continuava a dar suas próprias ordens às tropas. Brito, então, sai pessoalmente ao seu encalço. Bento foge mudando de direção, como numa brincadeira de gato e rato. Situação que se arrasta até o dia 23 de Março de 1837 quando, num golpe de mestre, Bento Manuel Ribeiro deixa um piquete para trás, sob o comando do major Demétrio Ribeiro que, de surpresa, cai sobre as tropas de Brito e prende o Presidente Imperial da Província. Com isso novamente o traidor é aceito no seio farrapo, passando a combater novamente os imperiais.
Em 8 de abril o general Neto conquista Caçapava do Sul, centro de reabastecimento imperial[5], depois de sete dias de cerco, apreendendo 15 canhões e fazendo prisioneiros a 540 imperiais, comandados pelo coronel João Crisóstomo da Silva. Ainda neste ano, em 2 de julho, acontece o Combate de Ivaí, onde Bento Manuel é capturado, mas após um ataque farroupilha 50 legalistas são mortos, enquanto o marechal Sebastião Barreto Pereira Pinto foge para Caçapava do Sul.
A sustentação econômica da República era propiciada pelo apoio da vizinha República Oriental do Uruguai, que permitia o comércio do charque produzido pelos rio-grandenses para o próprio Brasil. A exportação era feita por terra até o Porto de Montevidéu, ou pelo Rio Uruguai. Em 29 de agosto é assassinado o coronel João Manuel de Lima e Silva, que havia derrotado Bento Manoel Ribeiro imperial, no ano anterior.
Gonçalves assume a presidência
Retrato de Bento Gonçalves, século XIX. Acervo do Museu Júlio de CastilhosEm 15 de março de 1837 Bento Gonçalves tentou escapar da prisão, no Rio de Janeiro, junto de outros companheiros. Porém Pedro Boticário não conseguiu passar por uma janela, por ser muito gordo, em solidariedade Bento Gonçalves desistiu da fuga, na qual escaparam Onofre Pires e o coronel Corte Real. Depois desta tentativa de fuga foi transferido para a Bahia onde chegou em 26 de Agosto de 1837, ficando preso no Forte do Mar. Conseguiu, com auxílio da Maçonaria, evadir-se da prisão baiana em 10 de Setembro de 1837, poucos dias antes do início da Sabinada. Permaneceu algum tempo, clandestino, em Itaparica e Salvador, onde teve contato com membros do movimento. Chegou, via Buenos Aires[9], de volta ao Rio Grande do Sul e em 16 de dezembro de 1837, tomou posse como Presidente da República.
A 29 de Agosto de 1838 lança seu mais importante manifesto aos rio-grandenses onde justifica as irreversíveis decisões tomadas em favor da libertação do seu povo:
“ Toma na extensa escala dos estados soberanos o lugar que lhe compete pela suficiência de seus recursos, civilização e naturais riquezas que lhe asseguram o exercício pleno e inteiro de sua independência, eminente soberania e domínio, sem sujeição ou sacrifício da mais pequena parte desta mesma independência ou soberania a outra nação, governo ou potência estranha qualquer.Faz neste momento o que fizeram tantos outros povos por iguais motivos, em circunstâncias idênticas. ”
E no trecho final, um juramento importante:
“ Bem penetrados da justiça de sua santa causa, confiando primeiro que tudo, no favor do juiz supremo das nações, eles têm jurado por esse mesmo supremo juiz, por sua honra, por tudo que lhes é mais caro, não aceitar do governo do Brasil uma paz ignominiosa que possa desmentir a sua soberania e independência. ”
Estas palavras têm reflexo mais tarde, quando da assinatura do Tratado de Poncho Verde.

Queda da "Tranqueira Invicta"
Em Rio Pardo estava concentrada uma divisão do exército imperial, comandada pelo marechal Sebastião Barreto Pereira Pinto, com os brigadeiros Francisco Xavier da Cunha comandando a infantaria e Bonifácio Calderón a cavalaria, num total de 1200 combatentes. A cidade era junto com Porto Alegre e Rio Grande, uma das mais importantes do estado, contando com quase o dobro de habitantes da capital.
A concentração de tropas imperiais chamou a atenção dos farroupilhas, conscientes das possíveis conseqüências desta tropa quando se movimentasse. Bento Manuel Ribeiro, ao lado de Antônio de Sousa Neto, em 30 de Abril de 1838, comandando 2500 homens, 800 deles de cavalaria, surpreendem a cidade, na batalha do Barro Vermelho, na entrada da cidade, derrotaram os imperiais, conquistando Rio Pardo, a ex-tranqueira invicta, matando 71 homens e fazendo mais de 130 prisioneiros.
Este fato foi importante por vários aspectos. Rio Pardo formava, com Rio Grande e Porto Alegre, a fronteira de domínio imperial, um ponto de apoio para a conquista do interior, tinha fama de inexpugnável, e a vitória farrapa foi incontestável. Além disso Rio Pardo tinha quase o dobro de habitantes de Porto Alegre.[15] A conquista de Rio Pardo foi importante também porque em Rio Pardo se encontrava, na ocasião, a Banda Imperial, sob o comando do maestro mineiro Joaquim José Mendanha, que viria a compor, sob a encomenda de Bento Gonçalves, o Hino Nacional da República Rio-Grandense. Com a letra do republicano Serafim Joaquim de Alencastre, o hino foi executado e cantado pela primeira vez na cerimônia de comemoração do primeiro aniversário da Tomada de Rio Pardo. Hoje a música do hino é a mesma, mas foi composta outra letra, por Francisco Pinto da Fontoura, o Chiquinho da Vovó, para se adequar aos novos tempos.
Cabe ressaltar que a primeira composição do Hino Nacional da República Riograndense destacava a mesma idéia dos discursos de Bento Gonçalves, de não ceder à paz vergonhosa da deposição das armas:
“ Nobre povo rio-grandense. Povo de heróis, povo bravo!
Conquistaste a independência. Nunca mais serás escravo.
Marinha Farroupilha
Garibaldi A Marinha Imperial Brasileira controlava os principais meios de comunicação da Província, a Lagoa dos Patos, entre Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande e a maior parte dos rios navegáveis. O fator estratégico de maior efeito a favor do Império era o bloqueio da barra da Lagoa dos Patos, único acesso ao porto de Rio Grande, por onde desembarcavam continuamente os reforços imperiais. A República, na segunda parte do confronto procurava manter a supremacia conquistada na região geográfica da serra do sudeste do Rio Grande do Sul, de relevo irregular e com apenas um rio que comunicava com a Lagoa dos Patos, o Camaquã.
Foi preciso engendrar uma manobra incomum para conquistar um ponto que pudesse ligar o Rio Grande dos farrapos com o mar. Este ponto era Laguna, em Santa Catarina. O primeiro passo era constituir a Marinha Rio-Grandense. Giuseppe Garibaldi conhecera Bento Gonçalves ainda em sua prisão, no Rio de Janeiro, e obteria dele uma carta de corso para aprisionar embarcações imperiais. Em 1º de setembro de 1838, Garibaldi é nomeado capitão-tenente, comandante da marinha Farroupilha.
Foi criado um estaleiro, junto a uma fábrica de armas e munições em Camaquã, na estância de Ana Gonçalves, irmã de Bento Gonçalves[6]. Lá Garibaldi coordena a construção e o armamento de dois lanchões de guerra. Ao mesmo tempo Luigi Rossetti vai a Montevidéu, buscar a ajuda de Luigi Carniglia e outros profissionais indispensáveis.[6] Após algumas semanas, estava completa a equipagem de mestres e operários. Alguns marinheiros vieram de Montevidéu e outros foram recrutados pelas redondezas.
Os imperiais, informados dos planos farrapos, atacaram o estaleiro de Camaquã, comandados por Francisco Pedro de Abreu, o Chico Pedro, também conhecido por Moringue. Eram mais de uma centena de homens, cercando o galpão com 14 trabalhadores entrincheirados. A comandá-los, Giuseppe Garibaldi. Foram horas de ataque e resistência heróica. Quase ao anoitecer, Moringue precipita-se do esconderijo e leva um tiro no peito. Seus companheiros o recolhem e fogem tão rapidamente quanto chegaram.
O SeivalJá com os lanchões Seival e Farroupilha cortando as águas da Lagoa dos Patos, porém perseguidos pelo temível John Grenfell, Comandante da Marinha Imperial na Província, o plano era levar trazer os barcos pela Lagoa até o Rio Capivari, e dali, por terra, sobre rodados especialmente construídos para isso, até a barra do Tramandaí, onde os barcos tomariam o mar. Assim foi feito, mas não sem dificuldades.
Fugindo e despistando conseguem enveredar pelo estreito do Rio Capivari e passam os barcos a terra, em 5 de julho de 1839.[6] Puxando sobre rodados, os dois lanchões artilhados, com cem juntas de bois, atravessaram ásperos caminhos, pelos campos úmidos - em alguns trechos completamente submersos, pois era inverno, tempo feio com chuvas e ventos, tornando o chão um grande lodaçal. Cada barco tinha dois eixos e, naturalmente, quatro rodas imensas, revestidas de couro cru[16]. Piquetes corriam os campos entulhando atoleiros, enquanto outros, cuidavam da boiada[16].
Levaram seis dias até a Lagoa Tomás José[6], vencendo 90 km[5] e chegando a 11 de julho[16]. No dia 13, seguem da Lagoa Tomás José à Barra do Rio Tramandaí, sob o Oceano Atlântico, e, no dia 15, lançam-se ao mar com sua tripulação mista de 70 homens. O Seival, de doze toneladas, era comandado pelo norte-americano John Griggs, conhecido como “João Grandão”, e o Farroupilha, de dezoito toneladas, comandado por Garibaldi - ambos armados com quatro canhões de doze polegadas, de molde "escuna"[16].Por fim, a 14 de Julho de 1839 os lanchões rumavam à Laguna para atacar a província vizinha. Na costa de Santa Catarina, próximo ao Rio Araranguá, uma tempestade põem a pique o Farroupilha, salvando-se milagrosamente uns poucos farrapos, entre eles o próprio Garibaldi. A marinha teve um papel importante na conquista de Laguna, mas desapareceu com o fim da República Juliana.

A República Juliana
Bandeira da República JulianaCom a chegada da marinha farroupilha a Santa Catarina, unindo-se às tropas do exército, sob o comando geral de David Canabarro, foi possível preparar o ataque à Laguna por terra e pela água. A marinha farroupilha, entrou através da Lagoa de Garopaba do Sul, passando pelo Rio Tubarão e atacou Laguna por trás, surpreendendo os imperiais que esperavam um ataque de Garibaldi pela barra de Laguna e não pela lagoa'. Garibaldi com o Seival, toma Laguna, com ajuda do próprio povo lagunense, a 22 de Julho de 1839. A 29 deste mês proclama-se a República Juliana[9], feito um país independente, ligada à República Rio-Grandense pelos laços do confederalismo.
Após conquistar Laguna as forças farroupilhas continuaram avançando para o norte, perseguindo as tropas imperiais, avançaram cerca de 70 quilômetros até a planície do rio Maciambu. O avanço foi contido devido a um entrincheiramento das forças imperiais protegido pela geografia do Morro dos Cavalos, que dificultava o acesso das tropas farrapas e lhes bloqueava o avanço para o ataque à Desterro, hoje Florianópolis.
Com a tomada de Laguna praticamente metade da província catarinense ficou em mãos republicanas e com a incorporação da vila de Lages, também sob controle rebelde, ao novo estado, o território da República Juliana se estendia do extremo meridional até o planalto catarinense.
Os farroupilhas fizeram incursões mais ao norte, chegando a atacar a barra de Paranaguá, em 31 de outubro de 1839. Uma escuna e um lanchão farroupilhas capturaram a sumaca Dona Elvira, porém foram combatidos pelos canhões da fortaleza e obrigados a retroceder. A escuna recuou rumo ao norte, porém o lanchão, mais pesado, por ali parou e foi capturado por uma lancha com vinte homens comandada pelo alferes Manuel Antônio Dias e a lancha Dona Elvira foi recuperada.
Retrato de Anita Garibaldi (1839).Foi então a organizada a República Juliana, sendo convocadas eleições para constituição do governo. Canabarro ficou à frente do governo da nova república até 7 de agosto de 1839, quando foi convocado o colégio eleitoral. Foram eleitos para presidente o tenente-coronel Joaquim Xavier Neves e para vice o padre Vicente Ferreira dos Santos Cordeiro, como Xavier Neves estava em São José bloqueado pelas pelas forças imperiais, o padre Vicente Cordeiro assumiu a presidência.
Depois um bloqueio naval, que buscava estrangular a república economicamente, o império ataca com força total. Comandados pelo General Andréa, por terra, mais de 3.000 homens e por mar, com uma frota de 13 navios, melhor equipados e experientes, na batalha naval de Laguna, quando teve pela frente o Almirante Imperial Frederico Mariath.
Garibaldi recebe ordem superior de queimar os seus seis navios e de juntar o que resta de suas tripulações ao exército de terra, que prepara a retirada de Laguna[16]. Os imperiais retomam Laguna a 15 de Novembro de 1839, expulsando os farrapos Garibaldi e Canabarro. Garibaldi foge com Ana, que tornar-se-ia conhecida como Anita Garibaldi,uma mulher lagunense casada, cujo esposo alistara-se no exército imperial, abandonando-a, um escândalo para a época. Anita veio a ser sua companheira de todos os momentos, lutando lado-a-lado com Garibaldi seja nos pampas gaúchos, como na Itália, onde é considerada heroína.

Os campos de Lages
Em 9 de março de 1838 os farroupilhas invadiram Lages, anexando a vila à República Rio-Grandense, com o apoio de alguns fazendeiros locais, fato que havia causado grande júbilo entre os revolucionários: era a primeira conquista farrapa fora do Rio Grande do Sul.
Depois das queda de Laguna as tropas farrapas, tomaram o caminho de Lages para retornar ao Rio Grande do Sul. Enquanto isso o governo imperial havia decidido enviar um contingente de tropas ao sul pelo interior com a missão de retomar Lages e depois auxiliar contra o cerco de Porto Alegre pelos farrapos[19]. Em Rio Negro reuniram-se 1500 homens, vindos do Rio de Janeiro, Curitiba, Paranaguá, Antonina e Campo do Tenente, deslocando-se para Santa Cecília, onde acamparam em 25 de outubro de 1839.
Travando pequenos combates com piquetes farroupilhas em novembro, através dos Campos dos Curitibanos e Campos Novos, chegaram a Lages, onde retomaram a vila. Dali uma parte da coluna do brigadeiro Francisco Xavier da Cunha decidiu seguir em direção ao Rio Pelotas, para invadir o Rio Grande do Sul.
Os farrapos, derrotados em Lajes, se reuniram em um entreposto alfandegário, para cobrança de impostos sobre as tropas de gado e mulas que vinham de Viamão e seguiam para Sorocaba, conhecido como Santa Vitória.
O brigadeiro Francisco Xavier da Cunha, foi informado e para lá dirigiu-se, com seus dois mil homens. Foi surpreendido, em 14 de dezembro de 1839, por Teixeira Nunes, que com sua cavalaria, conseguiu dividir a tropa legalista e o fez retroceder. Em um renhido combate as tropas legalistas foram derrotadas. O brigadeiro ferido e protegido por alguns oficiais, tentou escapar e ao cruzar o Rio Pelotas, morreu afogado.
Os farroupilhas retomaram Lajes novamente, mas as tropas legalistas foram reforçadas por uma divisão vinda de Cruz Alta, sob o comando do coronel Antônio de Melo Albuquerque, o "Melo Manso".
Garibaldi e Teixeira Nunes, pressentido um ataque, dividiram suas tropas, uma partiu para o norte, onde perto do Rio Marombas encontrou uma tropa legalista superior em 12 de janeiro de 1840. Os republicanos foram dizimados, dos 500 iniciais, menos de 50 conseguiram retornar a Lajes e depois voltar ao Rio Grande do Sul.
1840: os farrapos perdem território
A queda de Laguna deu início ao declínio Farroupilha. O General Andréa, que havia retomado Laguna, logo é nomeado o novo Presidente Imperial da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul e Comandante do Exército Imperial na Província.
No começo de 1840, os farroupilhas controlavam boa parte do interior, mas não tinham uma saída para o mar[20]. Além disso, enquantos as tropas rio-grandenses se concentravam no cerco de Porto Alegre, Caçapava, a então capital da República, considerada inexpugnável por causa do difícil acesso, é invadida pelos imperiais. Instala-se a capital em Alegrete.

No mesmo ano, no combate de Tabatingaí, João Propício Mena Barreto e suas tropas derrotam 250 farroupilhas, prendendo Onofre Pires, levado para Porto Alegre[12]. Em Julho os Farrapos perdem São Gabriel. Francisco Pedro de Abreu, o Moringue, surpreende Antônio de Sousa Neto quase fazendo-o prisioneiro. Finalmente Bento Gonçalves, em campanha pela conquista de São José do Norte junto com Domingos Crescêncio de Carvalho e 1200 homens, trava duríssima batalha de quase nove horas, tomando a cidade por pouco tempo. A reação vinda de Rio Grande, expulsa os farrapos embriagados.
Estes insucessos, deram pretexto a lideranças de objetivos menos firmes, como Bento Manuel, tido como fiel da balança do confronto, para abandonar os revolucionários em janeiro de 1841.
Alegoria Farroupilha, guache do século XIX. Acervo do Museu Júlio de CastilhosBento Gonçalves, ainda no ano de 1840, em decorrência dos insucessos, acena ao Império com a possibilidade de acordo. Bento pedia ao Dr. Álvares Machado salvo-condutos para que companheiros seus pudessem atravessar impunemente os locais conquistados pelo império a fim de acertar os detalhes com os chefes imperiais de uma rendição coletiva dos Farrapos. Levavam, efetivamente, uma carta com este desígnio. Porém, havia uma outra mensagem oral a ser dada àqueles líderes, que não podia ser escrita. A manobra, porém, foi tão bem pensada e executada que enganaria até mesmo seus companheiros de luta, e motivou uma carta de reprovação escrita por Domingos José de Almeida, então Vice-Presidente e Ministro da Fazenda da República Rio-Grandense.
Em outros combates como em novembro de 1841 Chico Pedro fez 20 prisioneiros e tomou 400 cavalos dos Farroupilhas, perto de São Gabriel; em Rincão Bonito o coronel João Propício Mena Barreto provoca 120 mortes, faz 182 prisioneiros e toma 800 cavalos; em 20 de janeiro de 1842 Chico Pedro, atacado por Bento Gonçalves e 300 homens, derrota-o, provocando 36 mortes, 20 prisioneiros e capturando toda a bagagem, sofrendo somente 3 mortes e 7 feridos.
Uma Assembléia Constituinte havia sido convocada em 10 de fevereiro de 1840, porém manobras de Bento Gonçalves, que não queria perder poderes, levaram a que somente em 1842, fosse promulgada a Constituição da República[12], o que deu um ânimo momentâneo à luta.

Reforços Liberais
O fim rebeliões em outras províncias, como a Sabinada na Bahia e a Revolução Liberal de 1842 em São Paulo, trazem novos reforços às tropas farrapas. Entre eles, vieram da Bahia:
Coronel Manoel Gomes Pereira, que financiou a fuga de Bento Gonçalves. Saiu da Bahia no inicio de janeiro de 1838, estava em Montevidéu em missão de recrutamento quando a Sabinada acabou e dali foi procurar seus amigos riograndenses, sendo bem acolhido e presenteado por Bento Gonçalves com o posto de coronel, servindo no Estado Maior. Veio com uma fortuna arrecadada para comprar barcos de guerra, que jamais navegaram, mas adquiriu uma chácara em Montevidéu, depois de cobrar de Bento o dinheiro que tinha lhe emprestado.
João Rebelo de Matos, Bento José Roiz, José Pinto Ribeiro, João Francisco Régis, militares todos transferidos da Bahia e envolvidos na Sabinada e que se rebelaram na Fortaleza da Barra do Sul, na Ilha de Santa Catarina, entregando a fortaleza aos Farrapos e se juntando ao movimento, em 1839.
Francisco José da Rocha, teria vindo da Bahia acompanhando Bento Gonçalves, era a maior autoridade maçônica na Província; sua promoção a tenente-coronel pelos farroupilhas e foi um dos motivos que levou Bento Manuel a abandonar o lado republicano.

Por outro lado, o fim destas outras rebeliões, também liberaram as tropas do exército brasileiro para concentrarem todos seus esforços contra os farroupilhas.
Intrigas : O duelo entre Bento Gonçalves e Onofre Pires
A República Rio-Grandense não ficou isenta das disputas pelo poder. Começaram a aparecer em sua fileiras pessoas inteligentes e capazes, dispostas a rachar a necessária unidade nacional naquele momento em que a nação gaúcha precisa de todas as suas forças para combater um inimigo reconhecidamente superior em número e riqueza. Em Dezembro de 1842, quando se instalou a Assembleia Constituinte Farroupilha, as divergências se exteriorizaram, contrapondo a “maioria” de Bento Gonçalves e contra a "minoria" de Antônio Vicente da Fontoura[24]. Isto levou o projeto de Constituição publicado em fevereiro de 1843, a ter prejudicada a sistematização das idéias de todos aqueles que ainda estavam na revolução ou a apoiavam.
Em 4 de Agosto de 1843, Bento Gonçalves renunciou à presidência da República Riograndense por conta de uma campanha de intrigas, assumindo seu vice Gomes Jardim. Lançou ao mesmo tempo um manifesto dizendo-se acometido de uma enfermidade pulmonar, que talvez já o estivesse incomodando, e incita os farroupilhas a se unir em torno do novo presidente. Passa em seguida a comandar uma divisão do Exército Rio-Grandense.
Os opositores, entre eles o deputado Antônio Vicente da Fontoura, induzem Onofre Pires a destratar Bento Gonçalves, acusando-o do assassinato de Paulino da Fontoura. Onofre foi por isso desafiado por Bento para um duelo, realizado em 27 de Fevereiro de 1844, sendo ferido no braço direito, apesar de socorrido por Bento, falece dias depois, por complicações advindas daquele ferimento.

Negociações de paz e a batalha de Porongos
Um dos canhões usados pelos Farroupilhas. Permaneceu até 1926 no fundo do riacho Santa Isabel, em Camaquã, quando foi recuperado junto com outros e passou ao acervo do Museu Júlio de CastilhosO sistema de guerrilha e a troca constante de presidentes e comandantes de armas prolongaram a luta até que o Barão de Caxias (futuro Duque) foi nomeado Presidente da Província e Comandante Supremo Imperial em 9 de novembro de 1842[12][20], reorganizando o exército e chamando para seu Estado Maior a Bento Manuel Ribeiro, que tinha se recolhido para o Uruguai. O barão empregava toda sua força de 12.000 homens[20], conhecimento inteligência e experiência para minar a relativa supremacia farrapa no interior, que contava com apenas 3500 homens[20]. Entre as várias ações, iniciou uma campanha de estrangulamento da economia da República, atacando as cidades da fronteira que permitiam o escoamento da produção de charque para Montevidéu e Laguna; comprando cavalos para impedir que os Farrapos tivessem montaria ; reativando o comércio.
Lima e Silva, porém não conseguiu atrair os farrapos para uma batalha campal decisiva. O exército republicano, sabendo de sua inferioridade numérica e de armamentos, evitou o combate direto, tendo a campanha permanecido como uma série de pequenos combates e escaramuças[20], quando perseguidos os farroupilhas se refugiavam no Uruguai.
Em 1844, Fructuoso de Rivera propôs intermediar a paz entre legalistas e republicanos. Manuel Luís Osório foi enviado ao acampamento de Rivera, onde encontrou-se com Antônio Vicente da Fontoura, para avisar que Lima e Silva recusava a proposta de paz , mas que poderia haver tratativas com o governo, porém sem a presença de terceiros[20] . Vicente da Fontoura foi enviado à corte para discutir a paz.

Luís Alves de Lima e Silva recebeu instruções do Império, que temia o avanço de Rosas sobre o território litigante, para propor condições honrosas aos revoltosos, como: a anistia dos oficiais e homens, sua incorporação ao Exército Imperial nos mesmos postos, e a escolha do Presidente da Província pela Assembléia Provincial, taxações sobre o charque importado do Prata.
Entretanto, uma questão permanecia insolúvel, a dos escravos libertos pela República para servir no exército republicano. Para o Império Brasileiro, era inaceitável reconhecer a liberdade de escravos dada por uma sedição, embora anistiasse os líderes da mesma revolta.
Em Novembro de 1844, estavam todos em pleno armistício. Suspensão de armas, condição fundamental para que os governos pudessem negociar a paz. Por isso o relaxamento da guarda no acampamento da curva do arroio Porongos. Canabarro e seus oficiais imediatos foram a uma estância próxima visitar a mulher viúva de um ex-guerreiro farrapo. O coronel Teixeira Nunes e seu corpo de Lanceiros Negros descansavam. Foi então que apareceu Moringue, de surpresa, quebrando o decreto de suspensão de armas. Mesmo assim o corpo de Lanceiros Negros, cerca de 100 homens de mãos livres, pelearam, resistiram e bravamente lutaram até a aniquilação, em uma posição de difícil defesa. Além disso foram presos mais de 300 republicanos entre brancos e negros, inclusive 35 oficiais.
O general Canabarro, recuperado, reuniria ainda todo o restante de seu exército, cerca de 1.000 homens, e atacaria Encruzilhada a 7 de dezembro de 1844, tomando-a e mostrando assim que a sua intenção não era entregar-se.

Paz do Poncho Verde
Por fim, a 1 de Março de 1845, assinou-se a paz: o Tratado de Poncho Verde ou Paz do Poncho Verde[9], após quase dez anos de guerra que teria causado 47829 mortes. Entre suas principais condições estavam a anistia plena aos revoltosos, a libertação dos escravos que combateram no Exército piratinense e a escolha de um novo presidente provincial pelos farroupilhas. O cumprimento parcial ou integral do tratado até hoje suscita discussões. A impossibilidade de uma abolição da escravatura regionalmente restrita, a persistência de animosidade entre lideranças locais e outros fatores administrativos e operacionais podem ter ao menos dificultado, senão impedido o cumprimento integral do mesmo. Tal discussão é remetida para o artigo principal deste assunto.
Dos escravos sobreviventes, alguns acompanharam o exército do general Antônio Neto em seu exílio no Uruguai, outros foram incorporados ao Exército Imperial e muitos foram vendidos novamente como escravos no Rio de Janeiro.
A atuação de Luís Alves de Lima e Silva foi tão nobre e correta para com os oponentes que a Província, novamente unificada, o indicou para senador. O Império, reconhecido, outorgou ao general o título nobiliárquico de Conde de Caxias (1845). Mais tarde, (1850), com a iminência da Guerra contra Rosas seria indicado presidente da Província de São Pedro do Rio Grande.

Sabinada
Período Regencial
A Sabinada foi uma revolta autonomista que ocorreu entre 6 de novembro de 1837 e 16 de março de 1838, na então Província da Bahia, no Brasil.
A tradição de lutas por autonomia política na Bahia remonta à Conjuração Baiana (1798), às lutas pela Independência da Bahia (1822-1823), à Federação do Guanais (1832) e à Revolta dos Malês (1835).
Durante o Período regencial (1831-1840), o conflito se estabeleceu em torno da questão da centralização monárquica e do federalismo republicano, mobilizando principalmente setores das camadas médias urbanas - comerciantes, profissionais liberais e oficiais militares.
Os ânimos na capital baiana se acirraram com a renúncia do Regente Diogo Antônio Feijó (1834) e o projeto da lei de interpretação do Ato Adicional, cuja discussão se arrastou de 1837 a 1840.
A revolta
Sabinada (1837).O movimento aproveitou a reação popular contra o recrutamento militar imposto pelo Governo Imperial, liderado pelo médico e jornalista Francisco Sabino Vieira.
Na madrugada de 6 para 7 de novembro de 1837, Sabino e os que o apoiavam proclamaram a "República Bahiana". Mesmo provisória, decretada até que o jovem Pedro de Alcântara atingisse a maioridade, ela rompia com o Governo Imperial e destituía o Governo Provincial.
O 3° Corpo da Artilharia de Posição, lotado no Forte de São Pedro, levantara-se, dominando aquela fortificação. Durante a madrugada, o Governo Provincial tentou sufocar o levante, despachando trezentos soldados armados para a Praça da Piedade. Entretanto, em vez de atacar os revoltosos, a tropa legalista debandou e também aderiu ao movimento.
Diante destas notícias, o então Presidente da Província, Francisco de Souza Paraíso, e o Comandante das Armas, Pinto Garcez, abandonaram a cidade e se refugiaram num brigue ancorado na baía de Todos os Santos. Isolado, o Chefe de Polícia, Francisco Gonçalves Martins, tomou um saveiro e dirigiu-se para o Recôncavo, em busca da proteção do coronel Alexandre Gomes de Argolo Ferrão, senhor do Engenho Cajaíba e 1° barão de Cajaíba.
O edifício da Câmara Municipal foi ocupada pelos revoltosos, tendo à frente Francisco Sabino Vieira, o político João Carneiro da Silva Rego e os militares José Duarte da Silva e Luiz Antônio Barbosa de Almeida. Na ocasião Francisco Sabino propôs que o nascente Estado republicano tivesse como presidente o advogado Inocêncio da Rocha Galvão, então exilado nos Estados Unidos da América, e como vice-presidente João Carneiro Rego. O próprio Sabino, como secretário de governo, ditou a primeira ata da recém-criada "República Bahiana", que contou com cento e quatro assinaturas. Foram nomeados Ministro da Guerra Daniel Gomes de Freitas, da Marinha Manoel Pedro de Freitas Guimarães.
Após dominar alguns quartéis em Salvador, os rebeldes não lograram obter a adesão dos senhores de terras do Recôncavo, nem encontraram apoio significativo junto à população escrava, permanecendo restritos aos limites urbanos da cidade, bloqueada.
A repressão
Sem maior apoio popular, esse fato facilitou a repressão por parte do governo imperial, que cercou a capital em uma operação combinada terrestre e marítima (março de 1838). Cerca de mil pessoas pereceram nos combates. Os rebeldes que sobreviveram foram capturados e julgados por um tribunal composto pelos donos de latifúndios da província. Três dos líderes foram executados e os outros três deportados, entre eles Francisco Sabino Vieira, que acabou os seus dias na Fazenda Jacobina, na então remota província do Mato Grosso. Outros, como Daniel Gomes de Freitas, Francisco José da Rocha, João Rios Ferreira e Manoel Gomes Pereira, conseguiram evadir-se e depois juntaram-se à Revolução Farroupilha.
Balaiada

A Balaiada foi uma revolta de caráter popular, ocorrida entre 1838 e 1841 no interior da então Província do Maranhão, no Brasil,e que após a tentativa de invasão de São Luís, dispersou-se e estendeu-se para a vizinha província do Piauí. Foi feita por pobres da região, escravos, fugitivos e prisioneiros. O motivo era a disputa pelo controle do poder local. A definitiva pacificação só foi conseguida com a anistia concedida pelo imperador aos revoltosos sobreviventes.

Antecedentes
Durante o Período regencial brasileiro o Maranhão, região exportadora de algodão, passava por uma grave crise econômica, devido à concorrência com o gênero estadunidense. Em paralelo, a atividade pecuária absorvia importante contingente de mão-de-obra livre nessa região. Esses fatores explicam o envolvimento de elementos escravos e de homens livres de baixa renda no movimento.
No campo político ocorria uma disputa no seio da classe dominante pelo poder, que se refletia no Maranhão opondo, por um lado, os liberais (bem-te-vis) e os conservadores (cabanos). À época da Regência de Pedro de Araújo Lima, provocando o chamado regresso conservador, os cabanos maranhenses aproveitaram a oportunidade para alijar do poder os bem-te-vis, tentando, ao mesmo tempo, debilitar ainda mais estes últimos pela contratação dos serviços de vaqueiros, tradicional apoio dos bem-te-vis. À mesma época, no Piauí dominava Manuel de Sousa Martins, conservador, que saiu fortalecido com a Lei dos Prefeitos e estimulou a revolta de seus conterrâneos liberais que almejavam ganhar mais poder político, como ocorrido quando da promulgação do Código de Processo Criminal de 1832 e do Ato Adicional de 1834.
Movimento
O evento que deu início à revolta foi a detenção do irmão do vaqueiro Raimundo Gomes, da fazenda do padre Inácio Mendes (bem-te-vi), por determinação do sub-prefeito da Vila da Manga (atual Nina Rodrigues), José Egito (cabano). Contestando a detenção do irmão, Raimundo Gomes, com o apoio de um contingente da Guarda Nacional, invadiu o edifício da cadeia pública da povoação e libertou-o, em dezembro de 1838. Em seguida, Raimundo Gomes, com o apoio de Cosme Bento, ex-escravo à frente de três mil africanos evadidos, e de Manuel Francisco dos Anjos Ferreira. Para combatê-los foi nomeado Presidente e Comandante das Armas da Província, o coronel Luís Alves de Lima e Silva, que venceu os revoltosos na Vila de Caxias. Por isso foi promovido a General e recebeu o seu primeiro título de nobreza , Barão de Caxias, e inicia aí, a sua fase de O Pacificador.

A repressão


A Balaiada (1838).
Apesar das tentativas de manipulação por parte dos bem-te-vis, o movimento adquiriu feição própria, saindo de controle. Diante da proporção alcançada, envolvendo as camadas populares, as elites locais se aproximaram em busca de estratégias para derrotar os revoltosos. O movimento, após uma tentativa frustrada de invasão da capital da província, São Luís, dispersou-se após repressão sofrida de um destacamento da Guarda Nacional, e alcançou a vizinha província do Piauí.
Diante desse esforço, o governo regencial enviou tropas sob o comando do então Coronel Luís Alves de Lima e Silva, nomeado Presidente da Província. Conjugando a pacificação política com uma bem sucedida ofensiva militar, em uma sucessão de confrontos vitoriosos obtida pela concessão de anistia aos chefes revoltosos que auxiliassem a repressão aos rebelados, obteve a pacificação da Província em 1841. Foi auxiliado no Piauí por Manuel de Sousa Martins, líder conservador, Presidente da Província, e conhecido repressor de movimentos liberais ocorridos em toda a província, destacando-se por sua excepcional ajuda em reprimir a adesão à Balaiada na província.
Os líderes balaios foram mortos em batalha ou capturados. Destes últimos, alguns foram julgados e executados, como Cosme Bento, por enforcamento. Pela sua atuação na Província do Maranhão, Lima e Silva recebeu o título de Barão de Caxias. Pouco após o fim da revolta, também Sousa Martins recebeu um título, o de Visconde da Parnaíba.