domingo, 22 de julho de 2012

SERÁ?

Créditos  IARA CAMARATTA ANTON

          Não, é claro que não vamos lembrar! Grandes neurologistas, pesquisadores da memória, comprovam que existem falsas memórias, geralmente inspiradas e desencadeadas por fotos, filmagens e histórias que as pessoas contaram a respeito de nossa vida pregressa. Vamos montando cenas, encadeando supostos fatos e sensações, revivendo emoções ditadas muito mais pela fantasia do que pela realidade.

           As primeiras memórias “organizadas” vão se instalando aos poucos, e não há uma “idade certa” para que isto ocorra. Geralmente, trata-se de flashes, imagens que passam voando, como num piscar de olhos, como se estivessem soltas no ar. Mais adiante, as memórias vão se associando com maior coerência e constância, de modo que passam a compor uma noção de história. Geralmente, trata-se de fatos marcantes, quer pelo prazer, quer pela dor que proporcionaram.
          
           Algumas memórias desfazem-se, por uma série de razões que a própria psiconeurologia explica, concretamente. Outras passam a fazer parte da face oculta da mente, de modo que se mostram inacessíveis à consciência humana – algumas, por serem muito remotas; outras, por serem menos importantes; outras, por terem sofrido recalques, dado o nível de sofrimento a elas associados.


E por falar em bebês..

           Falávamos em bebês. Em nossos bebês e nos bebês que, um dia, fomos nós. Não, é claro que nem nós e nem eles iremos lembrar. Isto, porém, não torna menos importantes os registros que, em nossa mente, foram gravados, a ferro e fogo.

           Primeiro, pela desproteção, que nos fazia extremamente vulneráveis, dependentes de quem representava, para nós, deuses ou demônios, seres detentores de poderes que envolviam muito mais do que prazer e dor: envolviam sensações diretamente ligadas à vida e à morte.

           Claro, todos nós sofremos traumas. Todos nós, sem nenhuma exceção. A cada situação onde sentíamos que não dávamos conta, medos, dos mais variados tamanhos e formas, nos invadiam completamente. Mas isso passa quando há quem se importe e nos socorra, nos assegure e restaure em nós a sensação de bem-estar.

           Estou insistindo na palavra “sensação”, pois esta é dominante enquanto se é um bebê, que sequer dispõe de palavras para descrever e denominar o que se passa. O predomínio das sensações de bem-estar, derivadas do atendimento adequado às necessidades infantis instaura em nós a chamada “confiança básica”, base da crença que o mundo é um lugar bom, que há quem se importe e com quem se pode contar, e que vale a pena viver.

            Estes são os primeiros passos para a aprendizagem do amor e para o desenvolvimento da capacidade de amar e ser amado.

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