terça-feira, 23 de dezembro de 2014

JADER NO ESCÂNDALO DA PETROBRÁS ? LÚCIO FLÁVIO PINTO NA INTEGRA

Jader no escândalo da Petrobrás?

O Liberal de hoje anuncia na sua manchete de primeira página:
“Jader é vinculado a lobistas do caso de propina na Petrobrás”.
Acrescenta no subtítulo: “Nome de Barbalho foi citado em matéria da revista ‘Época’ sobre o homem-bomba Paulo Roberto Costa”. E o texto complementar informa: “Em sua edição nº 827, a revista, em reportagem de capa, afirma que Jorge Luz, lobista muito ligado a um genro do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa, ‘construiu boas relações com chefes do PMDB e do PT. No PMDB, é próximo do senador Jader Barbalho’. CPI Mista pedirá para ter acesso às delações de Costa”. A capa do caderno Poder é ocupada pela matéria, sob o título “Revista liga Jader a lobista”.
Só em uma nota na coluna Repórter 70 o jornal dos Maiorana faz referência à data da edição, que é da primeira semana de abril. Nas demais matérias cita apenas o número da edição, 827. O objetivo é claro: sugerir ao leitor que a denúncia é mais recente. Seria da leva de sujeira que o ex-diretor da estatal desencadeou desde que aceitou a delação premiada para dizer tudo o que sabe (se é mesmo que vai dizer). Sem o esclarecimento sobre a data da matéria fica mais fácil relacioná-la às últimas revelações escabrosas sobre corrupção com dinheiro desviado da Petrobrás.
É este o trecho da reportagem de Época no qual o nome do senador Jader Barbalho é citado:
“Jorge Luz é um dos mais antigos lobistas da Petrobras. No governo Lula, construiu boas relações com chefes do PMDB e do PT. No PMDB, é próximo do senador Jader Barbalho e do empresário Álvaro Jucá, irmão do senador Romero Jucá, dono de uma empresa que tem contratos na Petrobras. Também tinha boas relações com o presidente do Senado, Renan Calheiros. No PT, é ligado ao deputado Cândido Vaccarez¬za, um dos expoentes da ala conhecida como “PMDB do PT”, que inclui os deputados André Vargas, José Mentor e Vander Loubet – um grupo que ainda tem influência na Petrobras, por meio de indicações políticas na BR Distribuidora, subsidiária da empresa. O que todos esses políticos têm em comum? O medo de uma CPI da Petrobras. Por isso atuam energicamente para derrubá-la”.
De abril para cá, passados cinco meses, apareceram Romero Jucá, Renan Calheiros e Cândido Vazzareza, junto com outros personagens ilustres, como o ministro Edison Lobão e até o governador Eduardo Campos, que morreu recentemente, quando era candidato à presidência da república, teriam sido citados pelo “homem-bomba” como beneficiários do desvio ilícito de dinheiro das contas da Petrobrás. Jader, não. Ao menos até agora.
É de se supor que ou Paulo Roberto Costa o esteja protegendo, ou realmente o esquema que ele comandava não repassou dinheiro para Jader; ou as investigações do Ministério Público e da Polícia Federal ainda não chegaram ao político paraense.
Jader é realmente ligado a Jorge Luz, como diversos políticos no Estado, incluindo Simão Jatene, conforme denunciou o senador, automaticamente admitindo que conhece o personagem e sabe das suas evoluções pelos bastidores do poder público. Luz, lobista de envergadura nacional e muito eficiente na sua atividade, circulou em Belém por gabinetes próximos ao poder tratando de negócios variados, sempre ligados a obras públicas ou atos governamentais. Não é impossível que tenha favorecido o líder do PMDB local, como a outros parlamentares e até chefes do poder executivo. O principal dos quais pode ter sido Carlos Santos, quando ocupou o governo do Estado por nove meses, depois que Jader renunciou para disputar a eleição de senador.
Suspeitas há, mas provas dessa ligação, não. Muito menos, até esse momento das revelações a respeito do que foi investigado sobre a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, e a construção da refinaria Abreu e Lima (o que devia ser homenagem está virando ofensa à memória do grande general), em Pernambuco.
O estardalhaço, as afirmações e a omissão na abordagem de O Liberal mostram a que ponto o aproveitamento político e eleitoral dos fatos chegou e aonde ainda poderá baixar. Faz parte da temporada, embora a imprensa devesse se esforçar mais para ser objetiva e competente (algo já fora de propósito entre nós).
Ainda que com tais distorções, a sociedade quer que a apuração desse escândalo seja aprofundada ao máximo possível, ao fundo do poço, se possível. A tradição nesses casos é haver muito barulho e muito menos realizações. Mas há um caminho através do qual poderá emergir a verdade: os movimentos de entra-e-sai de dinheiro de dentro do país para o exterior e em sentido contrário.
Um caso envolvendo a Petrobrás ficou famoso quase duas décadas atrás quando a diretoria da empresa ajuizou ação de indenização contra o jornalista Paulo Francis em Nova York. O pedido foi recebido e posto para andar, com a celeridade do ritmo do direito anglo-saxônico. Tão certeiro que o valor atribuído à ação teria sido uma das causas do enfarte fulminante que matou Francis.
Agora, basta que um órgão competente faça o mesmo. Só que no sentido inverso: agora os dirigentes da Petrobrás (e quem mais estiver envolvido na espantosa falcatrua com dinheiro público) é que devem ser levados às barras dos tribunais internacionais, seja nos Estados Unidos como na Europa, por onde giraram centenas de milhões de dólares arrancados dos cofres da estatal. É o que se espera que aconteça para que o cenário não se reduza ao que estamos vendo: podridão ao fundo e predadores se lançando sobre a carniça, como, mais uma vez, faz O Liberal.

Nenhum comentário: