terça-feira, 8 de setembro de 2015

SÍRIA E NAVIO NEGREIRO

Vendo e revendo essas imagens me vem a mente a força da poesia-denúncia do grande Castro Alves (1847-1871), que a seu tempo denunciou fortemente a escravidão dos povos africanos no Brasil e continente americano. São mais atuais que nunca os versos de “Navio Negreiro” (veja o poema aqui interpretado pelo saudoso Paulo Autran: ):

"Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! Noites! Tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!"
(...)

Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! Arranca esse pendão dos ares!
Colombo! Fecha a porta dos teus mares!".


Resgato a última frase do texto do jornalista espanhol Juan Cruz, na esperança de que cada um de nós, a seu modo e possibilidade, estenda as mãos aos refugiados do mundo: “Aí jaz, nessa praia, o mundo inteiro”.

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