quinta-feira, 13 de junho de 2013

Prostitutas fazem relatos sobre o amor


“Dos muitos que me tocaram, poucos tiveram meu amor”. Entre devaneios e lembranças quase palpáveis, Aline*, de 38 anos, reconstrói parte importante da vida profissional e amorosa. Nascida em Cametá, ela veio para a capital aos 14 anos, junto com a família, todos em busca de uma vida mais digna. O destino a levou ao ofício da prostituição. “Passei por bordéis, trabalhei nas ruas e hoje já tenho clientes certos. Alguns são meus amigos e por outros fui apaixonada. Às vezes, é difícil dividir as coisas”, diz, pensativa, fazendo uma breve análise dos mais de 20 anos de carreira.

Depois de sete anos solteira – condição totalmente relacionada à sua ocupação, dificilmente aceita por possíveis pretendentes – neste ano Aline passa o Dia dos Namorados acompanhada. Porém, a saída para “desencalhar” foi a omissão de sua real profissão. “Estou com um novo namorado há sete meses. Não tive coragem de dizer para ele que trabalho como prostituta. Ele pensa que somente faço bicos de faxineira. Não queria mentir, mas, poxa, duvido que ele aceite o que eu faço e já estou cansada de ficar sozinha”, confessa.

A seara do amor é difícil para todos. Porém, para aqueles que são trabalhadores sexuais, as relações amorosas são ainda mais delicadas e complexas. O que para muitos é restrito somente ao parceiro escolhido – como conversas íntimas, carinho e sexo – para prostitutas são ferramentas de trabalho. “Você precisa muitas vezes ser amorosa com quem nem te interessa. É trabalho, não dá para escolher com quem ficar, a não ser quando você está ‘de cima’ na situação e não precisa de grana”, relata Aline. Se isso é incômodo? “Chega uma hora que você se acostuma e percebe que essas coisas podem ser mecânicas mesmo. Aí você percebe que não é um bicho de sete cabeças”, responde, sem titubear.

Mas engana-se quem acredita que prostitutas não amam. Pelo contrário. O contato direto com as questões do corpo e da alma, ao mesmo tempo que as deixa mais frias, paradoxalmente, também as deixa mais sensíveis. Pelo menos é isso que considera Ana*. Aos 22 anos, ela segura o curso que faz de Administração com o dinheiro que recebe como prostituta. Apesar do pouco tempo de ofício, apenas um pouco mais de um ano, ela já percebe que o trabalho a fez compreender melhor o universo da paixão. “Você conversa com os caras, escuta o que eles pensam sobre amor, sobre suas relações. Isso de alguma forma te ensina, te faz entender melhor o homem. É como uma escola mesmo!”, compara a jovem.

Em meio a delicadas e intensas relações

E nessa “escola” da paixão, Ana também contabiliza desilusões amorosas – tanto por parte dela, como por parte dos clientes. Os longos cabelos negros e olhos profundos da belenense já lhe renderam uns tantos homens aos seus pés. “Cresci ouvindo que sou bonita e foi isso que me levou a trabalhar com o que trabalho hoje. Depois que virei garota de programa já tive diversos homens apaixonados por mim, ganhei muitos presentes. Mas como no começo também não entendia muito bem da profissão, me dei mal algumas vezes. Às vezes, a gente tem noites únicas, maravilhosas com um homem e isso impressiona. Só que aí você nunca mais volta a vê-lo”, pondera. Ana, atualmente, também namora com um rapaz que não sabe sua verdadeira profissão.

O MITO DO BEIJO

Muitos dizem que a relação com a prostituta não inclui o beijo, principal símbolo do amor e da paixão. E para desmistificar mais uma equívoco sobre o universo das trabalhadoras do sexo, basta ouvir alguns relatos. Todas as entrevistadas disseram recordar de poucas vezes que a exigência lhes tenha sido feita. “Normalmente quem não pede beijo é a exceção. A maioria dos clientes gosta mesmo de manter uma relação comum, com direito a tudo”, considera Aline. “Na verdade, às vezes, a gente ainda ganha mais do que as mulheres oficiais dos caras que nos procuram. Muitas vezes eu já fui em jantares em lugares públicos com homens, coisa bem de namorado mesmo”, conta Ana.

Janaína* apesar de ser casada há 15 anos, garante que ela e o companheiro são eternos namorados. Os dois se conheceram em uma festa, na época em que a paraibana estava desistindo da profissão de prostituta. “Eu já estava cansada daquela vida, querendo constituir família”, conta hoje, aos 57 anos. Quando veio morar em Belém, ela já era uma trabalhadora sexual e tinha no currículo muitas experiências profissionais, que só aumentaram na capital paraense.

Mesmo depois de aposentada, Janaína não esquece o que aprendeu com os anos de experiência. Em 30 anos de trabalho, ela viveu diversos amores entre quartos de motéis e encontros furtivos em bares. “Amei muitos homens durante minha vida. Tive tanto namorados que conheci trabalhando, como também me apaixonei por pessoas que nunca me tocaram como prostituta. Namorar um pouquinho, estar apaixonado, são bênçãos, é gostoso demais. Agradeço a Deus por ter sido feliz em tantas histórias de amor”.

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