segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

NEM SEMPRE O MAIS FORTE É O MAIS SÁDIO

Culto doentio aos músculos

Viciados em exercícios físicos não percebem que estão doentes e muitos acabam tomando anabolizantes

A doença que faz a pessoa se achar mais magra ou fraca do que é -enquanto seus músculos incham- vem sendo subdiagnosticada, conforme especialistas.

Essa falsa percepção, característica do transtorno da vigorexia, leva o doente a abusar de exercícios físicos e, às vezes, de anabolizantes.

Diferentemente do paciente anoréxico, o vigoréxico raramente procura ajuda, segundo a psiquiatra Ana Gabriela Hounie, da Associação Brasileira de Psiquiatria.

"Quando um chega ao psiquiatra é porque foi encaminhado por um cardiologista ou urologista, procurado para solucionar problemas causados por uso de esteroides."

Incomodado com a falta de diagnóstico e a proliferação de vigoréxicos ao seu redor, o educador físico e instrutor Marcus Zimpeck, 29, criou um teste para avaliar o risco de o aluno desenvolver o problema.

"Metade dos homens que vejo em academias fica exibindo os músculos e gastando dinheiro com suplementos. Muitos vão para o caminho dos anabolizantes", diz. Segundo o instrutor, detalhes como a frequência dos treinos e a autoavaliação no espelho podem ajudar a pessoa a checar se há risco.

A psiquiatra Hounie diz que o teste não é diagnóstico, mas pode detectar comportamentos suspeitos e levar a pessoa a um especialista. "O que dirá se a pessoa tem vigorexia é se a percepção do próprio corpo não corresponde à realidade."

Zimpeck aplicou o questionário em dez homens. Um deles, conta, teve a máxima pontuação. "Aconselhei a procurar um especialista."

Mas o instrutor diz que a maioria brinca com o tema. "O pessoal não leva a sério enquanto não surge algum problema no organismo."

Academias são complacentes com o problema, na visão de Vladimir Modolo, professor de educação física e pesquisador do Centro de Estudos em Psicobiologia e Exercícios da Unifesp.

"Academias têm a tendência de contratar professores sarados para atrair mais público". Segundo Modolo, muitos instrutores ignoram os danos causados à saúde pela vigorexia. "Acabam propiciando um ambiente no qual os praticantes são estimulados a cultuar o corpo sem controle."

"Eu Sempre quis ser o mais forte"

Faz 15 anos que o representante comercial A.T.F., 33, frequenta academias. Nos últimos cinco passou a consumir anabolizantes e aderiu a treinos mais pesados: mais horas, mais cargas. "Eu sempre quis ser o cara mais forte da academia."

Ele diz que nunca está contente quando se olha no espelho. "Às vezes, me acho gordo e quero ficar mais forte, às vezes me acho magro e quero ficar mais definido."

Medindo 1,80 m e hoje com 91 kg, o vendedor já chegou a pesar 20 quilos a mais. "Quando a gente entra nessa de disputar com os outros, comparar tamanho do bíceps, percebe que o corpo já deu o que tinha que dar. Aí, entram os hormônios."

Nos últimos três anos, ele conta que tomou seis "ciclos", como são chamados os períodos de oito semanas de injeções de anabolizantes. A.T.F. usa duas ampolas de testosterona sintética por semana durante os "ciclos".

"Bom é quando eu levanto mais peso do que todo mundo." No "leg press", aparelho usado para fortalecer músculos da coxa, ele diz que já usou carga de 700 kg. "O pessoal até parava para assistir". Afastado dos treinos pesados desde o fim do ano passado, por conta de lesões não relacionadas aos exercícios, ele espera voltar a tomar hormônios depois do carnaval.

O vendedor diz que nunca teve problemas com efeitos colaterais. "Se tivesse medo dos efeitos, não tomaria."

Isso sem contar com a diminuição do pénis e a perda da potência sexual, E agora machão, fortão, cuecão de couro o que tem a dizer?

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