segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Meninos, meninas: eu vi!!

O monstro de concreto desmoronando a menos de 50 metros de mim (texto extraído do blog da Ana Maria)

Apesar de o blog não ser direcionado para experiências pessoais, não posso deixar de fazer o relato do momento crucial em que vi um monstro de concreto de 34 andares caindo, desmoronando como ocorre nos filmes, mas era real e estava a menos de 50 metros de meus olhos. Foi impressionante. Inacreditável. Não consigo esquecer.

Eu estava no 8o. andar do prédio ao lado do Real Class, em meu gabinete, quando escutei um trovão e logo em seguida senti a terra tremer. Rapidamente me passou pela mente que se tratava de um terremoto mas, antes de compreender realmente qualquer coisa, ouvi um barulho estrondoso, de uma coisa inacreditavelmente volumosa e pesada vindo abaixo.

Instintivamente virei para a janela, na direção do som. Foi aí que me deparei com um volume fenomenal de concreto desmoronando, caindo, caindo, numa queda que me pareceu, contraditoriamente, ao mesmo tempo, rápida e lenta.

Fiquei paralisada por alguns segundos porque meus olhos nao conseguiam se desviar daquela cena surpreendente, que jamais acreditei ser possível assistir: um gigante cinza caindo sobre si mesmo como se fosse de areia, de uma areia pesada, que fazia muito barulho. E estava a menos de 50 metros de meus olhos. Eu não acreditava, não queria acreditar no que via, queria pensar que estava delirando. Mas não estava. Lamentavelmente, não era um pesadelo, mas um sinistro terrível e real.

Quando finalmente pensei em fazer alguma coisa, acreditei que meu prédio iria cair logo em seguida.Vamos todos morrer, pensei, e sai do gabinete gritando pelos nomes dos meus filhos, ordenando que saíssem de seus quartos, que descessem pela escada para tentar salvar suas vidas. A secretária, que antes almoçava na cozinha e também viu a cena estarrecedora, veio em minha direção transtornada, perguntando o que fazer. Desce, tenta fugir, gritei para ela. Ela obedeceu. Meu filho mais novo finalmente me escutou e surgiu de roupas íntimas. Ao ouvir meu comando: foge!, nem perguntou do que deveria fugir. Saiu para a escada chorando e suplicando, vem, mãe!. Mas eu não podia sair porque o outro filho ainda estava no quarto. Vai, estou esperando teu irmão. Fui até o outro e gritei, te apressa, filho. Vamos logo, sai de qualquer jeito. Mas ele estava calmo: vestiu-se, calçou-se, pegou um calçado para mim porque me viu descalça e, finalmente, me seguiu. Para mim, pareceram horas até que começamos a descer as escadas.

Todos os vizinhos desciam também, apavorados. Ofereci ajuda a uma senhora com uma criança no colo, mas ela não quis se afastar do filhinho. Compreendi e dei razão. Eu também não queria me afastar dos meus. Na verdade, queria colocá-los de volta ao ventre, como se, dessa forma, me fosse possível protegê-los de qualquer mal.

Finalmente, a rua. E a sensação de que nos salvamos. Mas a cena do edifício de 34 andares caído diante dos meus olhos ainda não era de todo compreendida. Como até agora não compreendemos nada. São muitas as dúvidas. E muita tristeza também.

Hoje voltei lá para pegar alguns pertences. A cena de destruição real é impactante. Mas bem pior é que, diante de meus olhos, a imagem que ainda persiste é a dos trabalhadores de uniforme azul, trabalhando no andar que fica à altura do meu. Estão lá, reparando, concretando, construindo uma coisa que logo, logo, vai cair. Para mim, parece que ainda estão lá. Mas não estão e, alguns deles, nunca mais poderão estar porque ficaram permanentemente debaixo de 34 pisos de toneladas de concreto

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