sexta-feira, 15 de agosto de 2014

ADSÃO DO PARÁ A INDEPENDÊNCIA

15 de agosto no Pará, o feriado e o blefe do mercenário inglês

O feriado de hoje no Pará tem origem numa mentira. Na verdade, em agosto de 1823, o Pará não aderiu à Independência, mas foi anexado ao Brasil, forçado a reconhecer o poder do Imperador Pedro I graças ao blefe de John Pascoe Grenfell, o mercenário inglês que foi despachado do Rio de Janeiro levando cartas do Imperador às províncias que não tinham reconhecido o Grito do Ipiranga, em 7 de setembro do ano anterior.


Grenfell, o autor do blefe


Naquele momento histórico o Grão-Pará, hoje Amazônia, não pertencia do Brasil, era um Estado colonial que obedecia diretamente à coroa portuguesa que, na América, dominava os dois territórios. Governo e elites portuguesas e descendentes, de Belém, de início não aceitaram a Independência do Brasil.


Grenfell recebeu um bom dinheiro para “convencer” as províncias renitentes, e a sua missão deveria terminar na Bahia, que também não reconhecia o Grito do Ipiranga. Porém, o inglês resolver subir a costa e chegar ao Maranhão. Em seguida investiu contra o Pará, fundeando seu navio nas proximidades do hoje município de Salinas.


Procurou convencer o governo e o povo de Belém de que, na Baía do Sol, encontrava-se uma esquadra imperial pronta para atacar a capital provincial, caso as autoridades rejeitassem a anexação pelo recém-independente Estado brasileiro. Durante vários dias houve negociações e também a dúvida se, na realidade, haveria uma esquadra pronta para atacar as embarcações do Pará que passassem por Salinas.


Belém 191 anos depois. Palco da "adesão" do Pará ao Brasil,

poderia ser capital de outro país? (Foto: MDutra)


A argumentação inicial de Grenfell era que a economia do Grão-Pará ficaria estrangulada, sem ter por onde passar com as suas embarcações. Um dos poucos que não assinaram a carta de adesão foi o governador das armas, que pretendia, antes, mandar uma missão a Salinas verificar se era verdade a presença de tal esquadra. De fato, não havia esquadra nenhuma, e a elite de Belém resolveu aceitar as condições de Grenfell.


A mentira

Segundo relata Domingos Antonio Raiol, o Barão de Guajará, no volume 1 de sua obra “Motins Políticos”, “No dia 10 de agosto fundeou na Barra de Belém o brigue de guerra Maranhão, comandado pelo capitão-tenente John Pascoe Grenfell. Este, em cumprimento das instruções que recebera [do Imperador] pôs data nos ofícios e declarou à Junta Provisória que nas águas do Pará estava ancorada uma esquadra sob o comando do almirante Lord Cockrane, de quem recebera ordem para vir anunciar que ele fora encarregado pelo Imperador do Brasil de apoiar o partido que se tivesse formado em favor da Independência, e ao mesmo tempo pediu permissão para fundear no ancoradouro da cidade”.


O blefe de Grenfell deu o resultado que ele esperava. O Pará virou Brasil. No entanto, quando os portugueses perceberam a mentira, o mercenário inglês chegou a ser quase assassinado por um marinheiro, na escuridão da noite. Diz Raiol: “Quando descobriu-se que era imaginária a existência da esquadra anunciada, tornou-se tamanho o ódio contra Grenfell, que não se duvidou tentar contra a sua vida”.


Os mesmos que atentaram contra a vida do mercenário, sem sucesso, foram os mesmos que arrastaram pelas ruas de Belém um grupo de patriotas marajoaras, de Muaná. Em maio daquele ano, grupos dominantes do município do Marajó declararam-se brasileiros e aderiram à Independência. Pagaram caro, sendo presos e expostos em via pública em Belém, antes de serem mandados para a prisão em Lisboa.


Em entrevista à assessoria de comunicação da UFPA, o historiador João Lúcio Mazzini afirma que os episódios da anexação do Pará pelo Brasil, comumente chamados de “adesão”, “foi uma revolução que não mudou absolutamente nada. Deixamos de pertencer ao império português e passamos a pertencer ao império brasileiro, mas para as pessoas comuns - negros, índios e pobres, não houve mudança”. “Foi realmente um golpe. Era uma esquadra formada por 100 homens sob o comando de Grenfell, que tinha apenas 23 anos. A população de Belém era de pelo menos 15 mil pessoas. Não havia possibilidade de confronto”.


Revoltas

A manutenção do poder com a "adesão" resultaria, três meses depois, na Revolta do Brigue Palhaço, quando 256 pessoas foram confinadas no porão do navio São José Diligente e morreram asfixiadas, sufocadas ou fuziladas. "A repressão contra os movimentos populares, naquele momento, também culminou na Revolta da Cabanagem, em 1835", explica Mazzini. "Se não fosse por esta união entre o Pará e o Brasil, nossa situação hoje poderia ser diferente. Poderíamos ter evoluído para um Reino Unido a Portugal ou ao Brasil ou mesmo para um país independente".

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