segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

""E SE ACABOU O "MILAGRE"

E se acabou o “milagre”...
Vale a pena observar com atenção o Pará de hoje e compará-lo com o Pará que tínhamos há menos de dois meses. Mas o que terá mudado, em tão pouco tempo? No Estado, de verdade, praticamente nada mudou – e acho pouco provável que venha a mudar nestes próximos quatro anos. Cético, não me animo a esperar nada além do que mais do mesmo. Aliás, desconfio até de que deveremos ter menos do mesmo, o que será trágico para o futuro deste Estado – mesmo torcendo para estar errado.
Se não houve mudanças no Estado, o que foi que mudou, afinal? Mudou, e muito, a postura de algumas pessoas, de instituições e de governo. Das pessoas, ou de algumas delas, pelo menos, podemos dizer que, antes tão falantes, agora estão silenciosas, quase mudas. Algumas diziam que iam fazer e acontecer, num discurso pasteurizado que se manteve até o dia das eleições. Fechadas as urnas, recolheram-se ao silêncio dos cemitérios.
As instituições, conquanto impessoais, refletem a postura de certos agentes públicos. Antes trepidantes, num ritmo tal de trabalho que a elas poderia ser atribuída a intenção de reconstruir o mundo, de repente se recolheram, se retraíram e voltaram à mesmice de sempre, mal dando sinal de vida. Elas – pessoas e instituições – nem sequer se dão a conhecer (ou mesmo reconhecer) perante a população paraense, que por um breve período chegou a acreditar que, sim, havia poder público disposto a agir pelo seu bem-estar. Ledo engano...
E do governo, como síntese de pessoas e instituições, passadas as eleições, temos o quê, exatamente? Temos uma paralisia completa da administração pública do Estado, como que a desmentir, pelo silêncio, a estridência das promessas de campanha e os acenos em direção a um mundo novo construído pelo marketing político e eleitoral. Uma miragem, enfim, cujo encanto se acabaria, como se acabou, à contagem de votos da última urna.
Foi isso, exatamente, o que aconteceu. Bastou acabar a eleição para serem paralisados todos os programas e todas as obras do governo. Cadê o programa Asfalto na Cidade, que pavimentou muito mais a campanha pela reeleição do governador atual do que as ruas e avenidas da capital e das nossas cidades do interior? Em Belém, sacudida nas vésperas da eleição por máquinas pesadas espalhadas por todos os bairros – tudo desapareceu como que num passe de mágica. Asfalto, homens e máquinas parecem ter virado fumaça, em Belém e no interior do Estado.
E o que dizer do Cheque-Moradia, que se disseminou como febre nos dias que antecederam as eleições, e que de repente parou, sumiu, sem deixar rastros nem mesmo no noticiário, só iludindo pobres famílias que necessitavam de melhorias habitacionais? Das promessas, feitas à exaustão pelo governador Simão Jatene durante a temporada de caça aos votos, o que restou foi a frustração, a tristeza e o sentimento de desamparo. Sob este aspecto, o que se fez foi uma crueldade com a população mais pobre do Pará, enganada impiedosamente pelo Governo do Estado.
A lista que engrossou e continua engrossando o rosário de desilusões é extensa, muito extensa. Para não me tornar cansativo, vou citar apenas mais dois exemplos, um na capital e o outro no interior. Um, o da ponte sobre o rio Moju-Cidade, parcialmente derrubada em março após o choque de uma balsa com um dos seus pilares de sustentação. Antes das eleições, equipes trabalhavam freneticamente no local e o governo tratava de anunciar que estava na última etapa da obra de reconstrução. Dizia-se que já em dezembro seria retomada a normalidade do tráfego de veículos restabelecendo a interligação da Região Metropolitana com o sul e o sudeste do Pará. Pois dezembro chegou e, ao invés da obra pronta como presente de Natal, o que houve foi a paralisação dos trabalhos. Como segundo exemplo, temos na capital o prolongamento da avenida João Paulo II, obra igualmente paralisada.
Sabemos todos que a realização de eleições a cada dois anos tem um custo elevado, embora o aspecto financeiro possa ser relativizado pela compreensão de que manter e aprimorar a democracia não tem preço. No Pará, todavia, podemos avançar no raciocínio e hoje dizer que, melhor do que eleição de dois em dois anos, seria eleição de dois em dois meses. Só assim a população poderia contemplar trabalho de verdade e ser reconhecida como beneficiária das ações de governo.
O que, sabidamente, não acontece com este, cujos embustes fizeram do estelionato eleitoral sua marca registrada.

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