Auguste
Comte
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Auguste Comte
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Nome
completo
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Isidore
Auguste Marie François Xavier Comte
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Nascimento
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Morte
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5 de
setembro de 1857 (59 anos)
Paris, França |
Influências
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Influências[Expandir]
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Influenciados
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Influenciados[Expandir]
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Escola/tradição
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Ideias
notáveis
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Isidore Auguste Marie François
Xavier Comte (Montpellier, 19 de janeiro de 1798 — Paris, 5 de setembro de 1857) foi um filósofo francês, fundador da Sociologia e do Positivismo.
Em 1814, aos dezesseis anos de idade, com interesse pelas ciências
naturais, conjugado às questões históricas e sociais, ingressou na Escola
Politécnica de Paris. No
período de 1817-1824 foi secretário do conde Henri
de Saint-Simon, expoente do socialismo
utópico. São dessa época algumas fórmulas fundamentais: "Tudo é
relativo, eis o único princípio absoluto" (1819) e "Todas as
concepções humanas passam por três estágios sucessivos - teológico, metafísico
e positivo -, com uma velocidade proporcional à velocidade dos fenômenos
correspondentes" (1822) - "lei dos três estados".
Em 1824, rompeu com Saint-Simon ao discordar das ideias deste sobre as
relações entre a ciência e a reorganização da sociedade. Comte estava convicto
que o mestre priorizava auxílio à elite industrial e científica do período com
sacrifício da reforma teórica do conhecimento.
Em 1826, sofreu um colapso nervoso enquanto trabalhava na criação de uma
filosofia positiva, supostamente desencadeado por "problemas
conjugais". Recuperado, iniciou a redação de Curso de filosofia
positiva (renomeado para Sistema de filosofia positiva em 1848),
trabalho que lhe tomou doze anos.
Em 1842, perdeu o emprego de examinador de admissão à Escola Politécnica
por criticar a corporação universitária francesa. Começou a ser ajudado por
admiradores, como o pensador inglês John Stuart Mill
(1806-1873). No mesmo ano separou-se de Caroline Massin, após 17 anos de
casamento. Em 1845 apaixonou-se por Clotilde de Vaux, que morreria
no ano seguinte por tuberculose.
Entre 1851 e 1854, redigiu o Sistema de política positiva, no
qual expôs algumas das principais consequências de sua concepção de mundo
não-teológica e não-metafisica, propondo uma interpretação pura e plenamente humana
para a sociedade e sugerindo soluções para os problemas sociais; no volume
final da obra apresentou as instituições principais de sua Religião
da Humanidade.
Em 1856, publicou o primeiro volume de Síntese Subjetiva,
projetada para abarcar quatro volumes, cada um a tratar de questões específicas
das sociedades humanas: lógica, indústria, pedagogia, psicologia. Não pôde
concluir a obra ao falecer, possivelmente de câncer, em 5 de setembro de 1857, em Paris. Sua última casa, na rua
Monsieur-le-Prince, n. 10, foi posteriormente adquirida por positivistas e
transformada no Museu Casa de Auguste Comte. Encontra-se
sepultado no Cemitério do Père-Lachaise em Paris na França.
A filosofia positiva
A filosofia positiva de Comte nega que a explicação dos fenômenos
naturais, assim como sociais, provenha de um só princípio. A visão positiva dos
fatos abandona a consideração das causas dos fenômenos (Deus ou natureza) e pesquisa suas leis,
vistas como relações abstratas e constantes entre fenômenos observáveis.
Adotando os critérios histórico e sistemático, outras ciências abstratas
antes da Sociologia, segundo Comte,
atingiram a positividade: a Matemática, a Astronomia, a Física, a Química e a Biologia. Assim como nessas
ciências, em sua nova ciência inicialmente chamada de física social e
posteriormente Sociologia, Comte usaria a observação, a experimentação, da
comparação e a classificação como métodos - resumidas na filiação histórica - para a
compreensão (isto é, para conhecimento) da realidade social. Comte afirmou que
os fenômenos sociais podem e devem ser percebidos como os outros fenômenos da
natureza, ou seja, como obedecendo a leis gerais; entretanto, sempre insistiu e
argumentou que isso não equivale a reduzir os fenômenos sociais a outros
fenômenos naturais (isso seria cometer o erro teórico e epistemológico do materialismo): a fundação
da Sociologia implica que os fenômenos sociais são um tipo específico de
realidade teórica e que devem ser explicados em termos sociais.
Em 1852 Comte instituiu uma
sétima ciência, a Moral, cujo âmbito de
pesquisa é a constituição psicológica do indivíduo e suas interações sociais.
Pode-se dizer que o conhecimento positivo busca "ver para prever, a
fim de prover" - ou seja: conhecer a realidade para saber o que acontecerá
a partir de nossas ações, para que o ser humano possa melhorar sua realidade.
Dessa forma, a previsão científica caracteriza o pensamento positivo.
O espírito positivo, segundo Comte, tem a ciência como investigação
do real. No social e no político,
o espírito positivo passaria o poder espiritual para o controle dos
"filósofos positivos", cujo poder é, nos termos comtianos,
exclusivamente baseado nas opiniões e no aconselhamento, constituindo a sociedade civil e
afastando-se a ação política prática desse poder espiritual - o que afasta o
risco de tecnocracia (chamada, nos
termos comtianos, de "pedantocracia").
O método positivo, em termos gerais, caracteriza-se pela observação. Entretanto,
deve-se perceber que cada ciência, ou melhor, cada tipo de fenômeno tem suas
particularidades, de modo que o método específico de observação para cada
fenômeno será diferente. Além disso, a observação conjuga-se com a imaginação: ambas fazem
parte da compreensão da realidade e são igualmente importantes, mas a relação
entre ambas muda quando se passa da teologia para a positividade. Assim, para
Comte, não é possível fazer ciência (ou arte, ou ações práticas, ou até mesmo
amar!) sem a imaginação, isto é, sem uma ativa participação da subjetividade individual e
por assim dizer coletiva: o importante é que essa subjetividade seja a todo
instante confrontada com a realidade, isto é, com a objetividade.
Dessa forma, para Comte há um método geral para a ciência (observação
subordinando a imaginação), mas não um método único para todas as ciências;
além disso, a compreensão da realidade lida sempre com uma relação contínua
entre o abstrato e o concreto, entre o objetivo
e o subjetivo. As conclusões epistemológicas a que Comte chega, segundo ele, só
são possíveis com o estudo da Humanidade como um todo, o que implica a fundação
da Sociologia, que, para ele, é necessariamente histórica.
Além da realidade, outros princípios caracterizam o Positivismo: o relativismo, o espírito de
conjunto (hoje em dia também chamado de "holismo") e a
preocupação com o bem público (coletivo e individual). Na verdade, na obra
"Apelo aos conservadores", Comte apresenta sete definições para o
termo "positivo": real, útil, certo, preciso,
relativo, orgânico e simpático.
"A gênese do Positivismo ocorreu no século XIX, num momento de
transformações sociais e econômicas, políticas e ideológicas, tecnológicas e
científicas profundas decorrentes da consolidação do capitalismo, enquanto modo
de produção, através da propagação das atividades industriais na Europa e
outras regiões do mundo. Portanto, o “século de Comte” e sua amada França
mergulharam de corpo e alma, numa “deusa” chamada razão, colocando sua fé numa
“Nova Religião”, caracterizada pela junção entre a ciência e a tecnologia,
tidas como a panacéia da humanidade, no contexto da expansão, pelo Globo, do
Capitalismo Industrial." (VALENTIM 2010)
A lei dos três estados
O alicerce fundamental da obra comtiana é, indiscutivelmente, a
"Lei dos Três Estados", tendo como precursores nessa idéia seminal os
pensadores Condorcet e, antes dele, Turgot.
Segundo o marquês de Condorcet, a humanidade avança de uma época bárbara
e mística para outra civilizada e esclarecida, em melhoramentos contínuos e, em
princípio, infindáveis - sendo essa marcha o que explicaria a marcha da
história.
A partir da percepção do progresso humano, Comte formulou a Lei dos
Três Estados. Observando a evolução das concepções intelectuais da humanidade, Comte percebeu
que essa evolução passa por três estados teóricos diferentes: o estado
'teológico' ou 'fictício', o estado 'metafísico' ou 'abstrato' e o estado
'científico' ou 'positivo', em que:
- No
primeiro, os fatos observados são explicados pelo sobrenatural, por
entidades cuja vontade arbitrária comanda a realidade. Assim, busca-se o
absoluto e as causas primeiras e finais ("de onde vim? Para onde
vou?"). A fase teológica tem várias subfases: o fetichismo, o politeísmo, o monoteísmo.
- No
segundo, já se passa a pesquisar diretamente a realidade, mas ainda há a
presença do sobrenatural, de modo que a metafísica é uma transição entre a
teologia e a positividade. O que a caracteriza são as abstrações
personificadas, de caráter ainda absoluto: "a Natureza", "o
éter", "o Povo", "o Capital".
- No terceiro,
ocorre o apogeu do que os dois anteriores prepararam progressivamente.
Neste, os fatos são explicados segundo leis gerais abstratas, de ordem
inteiramente positiva, em que se deixa de lado o absoluto (que é
inacessível) e busca-se o relativo. A par disso, atividade pacífica e
industrial torna-se preponderante, com as diversas nações colaborando
entre si.
É importante notar que cada um desses estágios representa fases
necessárias da evolução humana, em que a forma de compreender a realidade
conjuga-se com a estrutura social de cada sociedade e contribuindo para o
desenvolvimento do ser humano e de cada sociedade.
Dessa forma, cada uma dessas fases tem suas abstrações, suas observações
e sua imaginação; o que muda é a forma como cada um desses elementos conjuga-se
com os demais. Da mesma forma, como cada um dos estágios é uma forma
totalizante de compreender o ser humano e a realidade, cada uma delas consiste
em uma forma de filosofar, isto é, todas elas engendram filosofias.
Como é possível perceber, há uma profunda discussão ao mesmo tempo
sociológica, filosófica e epistemológica subjacente à lei dos três estados -
discussão que não é possível resumir no curto espaço deste artigo.
A Religião da Humanidade
Capela
Positivista em Porto Alegre
Os anseios de reforma intelectual e social de Comte desenvolveram-se por
meio de sua Religião
da Humanidade. Para Comte, "religião" e
"teologia" não são termos sinônimos: a religião refere-se ao estado
de unidade humana (psicológica, espiritual e social), enquanto a teologia
refere-se à crença em entidades sobrenaturais. Considerando o caráter histórico
e a necessidade de unidade do ser humano, a Religião da Humanidade incorpora
nela a teologia e a metafísica - respeitando, reconhecendo e celebrando o papel
histórico desempenhado por esses estágios provisórios, absorvendo o que eles
têm de positivo (isto é, de real e de útil).
A Religião da Humanidade encontrou em Pierre Laffitte seu
principal dirigente na França após a morte de Comte, especialmente na III República francesa.
No Brasil, o Positivismo religioso encontrou grande aceitação no século XIX;
embora com menor intensidade no século XX, o Positivismo religioso brasileiro
teve grande importância: por exemplo, durante a campanha "O
petróleo é nosso!", cujo vice-Presidente era o positivista Alfredo de Moraes Filho, e durante o processo
de impeachment do ex-Presidente
Fernando Collor de Mello, em que o
Centro Positivista do Paraná também solicitou, assim como a Ordem dos Advogados do Brasil e Associação Brasileira de Imprensa, o afastamento do
Presidente da República.
A Igreja Positivista do Brasil, fundada por Miguel Lemos e Teixeira Mendes em 1881, em cujos quadros estiveram Benjamin Constant Botelho de Magalhães, o
Marechal Rondon e o diplomata Paulo Carneiro, continua
ativa no Rio de Janeiro.
Tréveris, 5 de maio de 1818 — Londres, 14 de março de 1883) foi um intelectual e revolucionário alemão, fundador da doutrina comunista moderna,
que atuou como economista, filósofo, historiador, teórico político e jornalista.
O pensamento de Marx influencia várias áreas, tais como Filosofia, Geografia, História, Direito, Sociologia, Literatura, Pedagogia, Ciência
Política, Antropologia,
Biologia, Psicologia, Economia, Teologia, Comunicação, Administração,
Design, Arquitetura, entre outras.
Em uma pesquisa realizada pela Radio 4, da BBC, em 2005, foi eleito o maior filósofo de todos os
tempos.[
Biografia
Juventude
Karl Marx
adolescente.
Marx foi o segundo de nove filhos, de uma família de origem judaica de classe média da cidade de Tréveris, na época no Reino da Prússia. Sua mãe,
Henriette Pressburg (1788–1863), era judia holandesa e seu pai, Herschel Marx (1777–1838),
um advogado e conselheiro de Justiça.
Herschel descende de uma família de rabinos, mas se converteu
ao cristianismo luterano em função das restrições
impostas à presença de membros de etnia
judaica no serviço público, quando Marx ainda tinha seis anos. Seus irmãos eram
Sophie (1816-1886), Hermann (1819-1842), Henriette (1820-1845), Louise
(1821-1893), Emilie (1824-1888 - adotada por seus pais), Caroline (1824-1847) e
Eduard (1826-1837).
Em 1830, Marx iniciou seus
estudos no Liceu Friedrich Wilhelm, em Tréveris, ano em que
eclodiram revoluções
em diversos países europeus. Ingressou mais
tarde na Universidade
de Bonn para estudar Direito,
transferindo-se no ano seguinte para a Universidade
de Berlim, onde o filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel, cuja obra exerceu grande
influência sobre Marx, foi professor e reitor. Em Berlim, Marx ingressou no Clube dos
Doutores, que era liderado por Bruno Bauer. Ali perdeu
interesse pelo Direito e se voltou para a Filosofia, tendo
participado ativamente do movimento dos Jovens Hegelianos. Seu pai
faleceu neste mesmo ano. Em 1841,
obteve o título de doutor em Filosofia
com uma tese sobre as "Diferenças da filosofia da natureza em Demócrito e Epicuro". Impedido
de seguir uma carreira acadêmica, tornou-se, em 1842, redator-chefe da Gazeta Renana (Rheinische
Zeitung), um jornal da província de Colônia;
conheceu Friedrich
Engels neste mesmo ano, durante visita deste a redação do jornal.
Envolvimento político
Em 1843, a Gazeta Renana foi fechada
após publicar uma série de ataques ao governo prussiano. Tendo
perdido o seu emprego de redator-chefe, Marx mudou-se para Paris. Lá assumiu a direção da publicação Anais
Franco-Alemães e foi apresentado a diversas sociedades secretas de socialistas. Antes ainda da
sua mudança para Paris, Marx casou-se, no dia 19 de junho de 1843, com Jenny
von Westphalen, a filha de um barão da Prússia com a qual mantinha
noivado desde o início dos seus estudos universitários. (Noivado que foi
mantido em sigilo durante anos, pois as famílias Marx e Westphalen não
concordavam com a união.)
Esposa de
Marx, Jenny von Westphalen.
Do casamento de Marx com Jenny von Westphalen, nasceram sete filhos, mas
devido às más condições de vida que foram forçados a viver em Londres, apenas
três sobreviveram à idade adulta. As crianças eram: Jenny Caroline (1844-1883),
Jenny Laura (1845-1911),
Edgar (1847-1855), Henry Edward Guy ("Guido"; 1849-1850), Jenny
Eveline Frances ("Franziska"; 1851-52), Jenny Julia Eleanor
(1855-1898) e mais um que morreu antes de ser nomeado (Julho, 1857). Ao que
consta, Franziska, Edgar e Guido morreram na infância, provavelmente pelas
péssimas condições materiais a que a família estava submetida.[8] Marx também teve
um filho nascido de sua relação amorosa com a militante socialista e empregada
da família Marx, Helena
Demuth. Solicitado por Marx, Engels assumiu a paternidade da
criança, Frederick Delemuth, e pagando uma pensão, entregou-o a uma família de
um bairro proletário de Londres
No tratamento pessoal — Leandro Konder ressalta —
Marx foi produto de seu tempo: "Antes de poder contestar a sociedade
capitalista Marx pertencia a ela, estava espiritualmente mais enraizado no solo
da sua cultura do que admitiria", e que diante dos padrões da Inglaterra
vitoriana mostrou: "traços típicos das limitações de seu
tempo". Como moças aristocráticas, suas filhas tinham aulas de piano, canto e desenho, mesmo que não
tivessem desenvoltura para tais atividades artísticas.
Também em 1843, Marx conheceu a Liga
dos Justos (que mais tarde tornar-se-ia Liga
dos Comunistas). Em 1844, Friedrich Engels visitou
Marx em Paris por alguns dias. A
amizade e o trabalho conjunto entre ambos, que se iniciou nesse período, só
seria interrompido com a morte de Marx. Na mesma época, Marx também se
encontrou com Proudhon, com quem teve
discussões polêmicas e muitas divergências. E conheceu rapidamente Bakunin, então refugiado do
czarismo russo e militante socialista. No seu período
em Paris, Marx intensificou os seus estudos sobre economia
política, os socialistas
utópicos franceses e a história
da França, produzindo reflexões que resultaram nos Manuscritos de
Paris, mais conhecidos como Manuscritos Econômico-Filosóficos. De acordo
com Engels,
foi nesse período que Marx aderiu às ideias socialistas.
De Paris, Marx ajudou a editar
uma publicação de pequena circulação chamada Vorwärts!, que
contestava o regime político alemão da época. Por conta disto, Marx foi expulso
da França em 1845 a pedido do governo prussiano. Migrou
então para Bruxelas, para onde Engels também viajou. Entre
outros escritos, a dupla redigiu na Bélgica o Manifesto
comunista. Em 1848, Marx
foi expulso de Bruxelas pelo governo
belga. Junto com Engels,
mudou-se para Colônia,
onde fundam o jornal Nova
Gazeta Renana.[3] Após ataques às
autoridades locais publicados no jornal, Marx foi expulso de Colônia
em 1849. Até 1848, Marx viveu confortavelmente com a renda
oriunda de seus trabalhos, seu salário e presentes de amigos e aliados, além da
herança legada por seu pai. Entretanto, em 1849 Marx e sua família enfrentaram grave
crise financeira; após superarem dificuldades conseguiram chegar a Paris, mas o governo francês proibiu-os de
fixar residência em seu território. Graças, então, a uma campanha de
arrecadação de donativos promovida por Ferdinand
Lassalle na Alemanha,
Marx e família conseguem migrar para Londres, onde fixaram
residência definitiva.
Morte
Encontrando-se deprimido por conta da morte de sua esposa, ocorrida em
Dezembro de 1881, Marx desenvolveu, em
consequência dos problemas de saúde que suportou ao longo de toda a vida, bronquite e pleurisia, que causaram o
seu falecimento em 1883. Foi enterrado na
condição de apátrida,
no Cemitério
de Highgate, em Londres.
Muitos dos amigos mais próximos de Marx prestaram homenagem ao seu
funeral, incluíndo Wilhelm
Liebknecht e Friedrich
Engels. O último declamou as seguintes palavras:
Marx por
volta de um ano antes de sua morte, em 1882.
“
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Marx
era, antes de tudo, um revolucionário. Sua verdadeira missão na vida era
contribuir, de um modo ou de outro, para a derrubada da sociedade capitalista
e das instituições estatais por esta suscitadas, contribuir para a libertação
do proletariado moderno, que ele foi o primeiro a tornar consciente de sua
posição e de suas necessidades, consciente das condições de sua emancipação.
A luta era seu elemento. E ele lutou com uma tenacidade e um sucesso com quem
poucos puderam rivalizar. (…) Como consequência, Marx foi o homem mais odiado
e mais caluniado de seu tempo. Governos, tanto absolutistas como
republicanos, deportaram-no de seus territórios. Burgueses, quer
conservadores ou ultrademocráticos, porfiavam entre si ao lançar difamações
contra ele. Tudo isso ele punha de lado, como se fossem teias de aranha, não
tomando conhecimento, só respondendo quando necessidade extrema o compelia a
tal. E morreu amado, reverenciado e pranteado por milhões de colegas
trabalhadores revolucionários - das minas da Sibéria até a Califórnia, de
todas as partes da Europa e da América - e atrevo-me a dizer que, embora,
muito embora, possa ter tido muitos adversários, não teve nenhum inimigo
pessoal.
|
”
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Em 1954, o Partido Comunista Britânico construiu uma lápide com o busto
de Marx sobre sua tumba, até então de decoração muito simples. Na lápide
encontram-se inscritos o parágrafo final do Manifesto
Comunista ("Proletários de todos os países, uni-vos!") e
um trecho extraído das Teses
sobre Feuerbach: "Os filósofos apenas interpretaram o mundo de
várias maneiras, enquanto que o objetivo é mudá-lo."
Pensamento
Durante a vida de Marx, suas ideias receberam pouca atenção de outros
estudiosos. Talvez o maior interesse tenha se verificado na Rússia, onde, em 1872, foi publicada a primeira tradução do
Tomo I d'O Capital. Na Alemanha, a teoria de Marx
foi ignorada durante bastante tempo, até que em 1879 um alemão estudioso da Economia
Política, Adolph
Wagner, comentou o trabalho de Marx ao longo de uma obra intitulada Allgemeine
oder theoretische Volkswirthschaftslehre. A partir de então, os escritos de
Marx começaram a atrair cada vez mais atenção.
Nos primeiros anos após a morte de Marx, sua teoria obteve crescente
influência intelectual e política sobre os movimentos operários (ao final do século XIX, o principal locus de debate da
teoria era o Partido Social-Democrata alemão) e, em menor
proporção, sobre os círculos acadêmicos ligados às ciências
humanas – notadamente na Universidade
de Viena e na Universidade
de Roma, primeiras instituições acadêmicas a oferecerem cursos
voltados para o estudo de Marx.
Marx foi herdeiro da filosofia alemã, considerado ao lado de Kant e Hegel um de seus grandes representantes. Foi
um dos maiores (para muitos, o maior) pensadores de todos os tempos, tendo uma
produção teórica com a extensão e densidade de um Aristóteles, de quem era um
admirador. Marx criticou ferozmente o sistema filosófico idealista de Hegel.
Enquanto que, para Hegel, da realidade se faz filosofia, para Marx a
filosofia precisa incidir sobre a realidade. Para transformar
o mundo é necessário vincular o pensamento à prática revolucionária, união
conceitualizada como práxis:
união entre teoria e prática.
A teoria marxista é, substancialmente, uma crítica radical das sociedades capitalistas.
Mas é uma crítica que não se limita a teoria em si. Marx, aliás, se posiciona
contra qualquer separação drástica entre teoria e prática, entre pensamento e
realidade, porque essas dimensões são abstrações mentais (categorias
analíticas) que, no plano concreto, real, integram uma mesma totalidade
complexa.
O marxismo constitui-se como a concepção
materialista da História, longe de qualquer tipo de determinismo, mas
compreendendo a predominância da materialidade sobre a ideia, sendo esta
possível somente com o desenvolvimento daquela, e a compreensão das coisas em
seu movimento, em sua inter-determinação, que é a dialética. Portanto, não é
possível entender os conceitos marxianos como forças
produtivas, capital,
entre outros, sem levar em conta o processo histórico, pois não são conceitos
abstratos e sim uma abstração do real, tendo como pressuposto que o real é
movimento.
Karl Marx compreende o trabalho
como atividade fundante da humanidade. E o trabalho, sendo a centralidade da
atividade humana, se desenvolve socialmente, sendo o homem um ser social. Sendo
os homens seres sociais, a História, isto é, suas relações
de produção e suas relações
sociais fundam todo processo de formação da humanidade. Esta
compreensão e concepção do homem é radicalmente revolucionária em todos os
sentidos, pois é a partir dela que Marx irá identificar a alienação do trabalho como
a alienação fundante das demais. E com esta base filosófica é que Marx
compreende todas as demais ciências, tendo sua compreensão do real influenciado
cada dia mais a ciência por sua consistência.
Influências
Algumas das principais leituras e estudos feitos por Marx são:
- A filosofia
alemã de Kant,
Hegel e dos
neo-hegelianos (como Feuerbach
e outros);
- O socialismo
utópico (representado por Saint-Simon,
Robert Owen, Louis Blanc e Proudhon);
- E a economia política clássica britânica (representada por Adam Smith, David Ricardo e
outros).
Ele estudou profundamente todas essas concepções ao mesmo tempo em que
as questionou e desenvolveu novos temas, de modo a produzir uma profunda
reorientação no debate intelectual europeu.
Influência da Filosofia Idealista
Hegel foi professor da Universidade
de Jena, a mesma instituição onde Marx cursou o doutorado. E, em Berlim, Marx teve contato prolongado com
as ideias dos Jovens
Hegelianos (também referidos como Hegelianos
de esquerda). Os dois principais aspectos do sistema de Hegel que
influenciaram Marx foram sua filosofia
da história e sua concepção dialética.
Para Hegel, nada no mundo é
estático, tudo está em constante processo (vir-a-ser); tudo é histórico,
portanto. O sujeito desse mundo em movimento é o Espírito do Mundo (ou Superalma;
ou Consciência Absoluta), que representa a consciência humana geral,
comum a todos indivíduos e manifesta na ideia de Deus. A historicidade é concebida enquanto história do progresso da consciência
da liberdade. As formas concretas de organização social correspondem a
imperativos ditados pela consciência humana, ou seja, a realidade é determinada
pelas ideias dos homens, que concebem novas ideias de como deve ser a vida
social em função do conflito entre as ideias de liberdade e as ideias
de coerção ligadas a condição natural ("selvagem") do homem. O
homem se liberta progressivamente de sua condição de existência natural através
de um processo de "espiritualização" – reflexão filosófica (ao nível
do pensamento, portanto) que conduz o homem a perceber quem é o real sujeito da
história.
Marx considerou-se um hegeliano
de esquerda durante certo tempo, mas rompeu com o grupo e efetuou
uma revisão bastante crítica dos conceitos de Hegel após tomar contato com as concepções de Feuerbach. Manteve o
entendimento da história enquanto progressão dialética (ou seja, o mundo está
em processo graças ao choque permanente entre os opostos; não é estático), mas
eliminou o Espírito do Mundo enquanto sujeito ou essência, porque passou
a compreender que a origem da realidade social não reside nas ideias, na
consciência que os homens têm dela, mas sim na ação concreta (material,
portanto) dos homens, portanto no trabalho humano. A existência material
precede qualquer pensamento; inexiste possibilidade de pensamento sem
existência concreta. Marx inverte, então, a dialética hegeliana, porque coloca
a materialidade – e não as ideias – na gênese do movimento histórico que
constitui o mundo. Elabora, assim, a dialética materialista (conceito
não desenvolvido por Marx, que também costuma ser referida por materialismo
dialético).
“
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A
mistificação por que passa a dialética nas mãos de Hegel não o impede de ser
o primeiro a apresentar suas formas gerais de movimento, de maneira ampla e
consciente. Em Hegel, a dialética está de cabeça para baixo. É necessária
pô-la de cabeça para cima, a fim de descobrir a substância racional dentro do
invólucro místico.
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”
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“
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Ludwig
Feuerbach foi um filósofo
materialista que atraiu muita atenção de intelectuais de sua época.
Publicou, em 1841, uma obra (Das Wesen des Christentums – A essência do cristianismo) que teve
influência importante sobre Marx, Engels e os Jovens Hegelianos. Nela,
Feuerbach criticou duramente Hegel, e
afirmou que a religião
consiste numa projeção dos desejos humanos e numa forma de alienação. É de Feuerbach a
concepção de que em Hegel a lógica dialética está "de
cabeça para baixo", porque apresenta o homem como um atributo do
pensamento ao invés do pensamento como um atributo do homem. Sem dúvida, o
contato de Marx com as ideias feuerbachianas foi determinante para a formulação
de sua crítica radical da religião e das "concepções invertidas" de
Hegel.
Influência do socialismo utópico
Por socialismo
utópico costumava-se designar, à época de Marx, um conjunto de doutrinas diversas (e até
antagônicas entre si) que tinham em comum, entretanto, duas características
básicas: todas entendiam que a base determinante do comportamento humano
residia na esfera moral/ideológica e que o
desenvolvimento das civilizações
ocidentais estava a permitir uma nova era onde iria imperar a
harmonia social. Marx criticou sagazmente as ideias dos socialistas utópicos
(principalmente dos franceses, com os quais mais polemizou), acusando-os de
muito romantismo ingênuo e pouca
(ou nenhuma) dedicação ao estudo rigoroso da conjuntura social, pois os
socialistas utópicos muito diziam sobre como deveria ser a sociedade harmônica
ideal, mas nada indicavam sobre como seria possível alcançá-la plenamente. Por
outro lado, pode-se dizer que, de certa forma, Marx adotou – explícita ou
implicitamente – algumas noções contidas nas ideias de alguns dos socialistas
utópicos (como, por exemplo, a noção de que o aumento da capacidade de produção
decorrente da revolução
industrial permite condições materiais mais confortáveis à vida
humana, ou ainda a noção de que as crenças ideológicas do sujeito lhe
determinam o comportamento).
Influência da economia política clássica
Marx em
1867.
Marx empreendeu um minucioso estudo de grande parte da teoria econômica ocidental, desde escritos
da Grécia
antiga até obras que lhe eram contemporâneas. As contribuições que
julgou mais fecundas foram as elaboradas por dois economistas
políticos britânicos, Adam Smith e David Ricardo (tendo
predileção especial por Ricardo, a quem referia como "o maior dos
economistas clássicos"). Na obra deste último, Marx encontrou conceitos –
então bastante utilizados no debate britânico – que, após fecunda revisão e
re-elaboração, adotou em definitivo (tais como os de valor, divisão social do trabalho, acumulação
primitiva e mais-valia,
por exemplo). A avaliação do grau de influência da obra de Ricardo sobre Marx é
bastante desigual. Estudiosos pertencentes à tradição neo-ricardiana tendem a
considerar que existem poucas diferenças cruciais entre o pensamento econômico
de um e outro; já estudiosos ligados à tradição marxista tendem a
delimitar diferenças fundamentais entre eles.
Metodologia
Marx nunca escreveu um livro dedicado especificamente à metodologia das
ciências sociais para expor, mas deixou, dispersas por numerosas obras
escritas, um conjunto de reflexões metodológicas, nas quais desenvolve o seu
próprio método por meio da crítica ao idealismo especulativo hegeliano e à
economia política clássica.
Segundo Marx, Hegel e seus seguidores criaram uma dialética mistificada,
que buscava explicar especulativamente a história mundial como
auto-desenvolvimento da Ideia absoluta.
Já os economistas clássicos naturalizavam e desistoricizavam o modo de
produção capitalista, concebendo a dominação de classe burguesa como
uma ordem natural das relações econômicas, a partir de um conceito abstrato de
indivíduo, homo
economicus. Por isso, os economistas clássicos recorriam a
"robsonadas", isto é, narrativas de trocas de produtos entre
caçadores e pescadores primitivos, para ilustrar as suas teorias econômicas.
Marx atribuía essa mistificação ao fetichismo
da mercadoria, e não a uma intenção consciente.
Em oposição aos filósofos idealistas e aos economistas clássicos, Marx
propunha a investigação do desenvolvimento histórico das formas de produção e
reprodução social, partindo do concreto para o abstrato e do abstrato para o
concreto
Crítica da religião
Para Marx a crítica da religião é o pressuposto de
toda crítica social, pois crê que as concepções religiosas tendem a
desresponsabilizar os homens pelas consequências de seus atos. Marx tornou-se
reconhecido como crítico sagaz da religião devido a sentença que profere em um
escrito intitulado Crítica da filosofia do direito de Hegel:
“A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem
coração, assim como é o espírito de uma situação carente de espírito. É o ópio
do povo.” Em verdade, Marx
se ocupou muito pouco em criticar sistematicamente a atividade religiosa. Nesse
quesito ele basicamente seguiu as opiniões de Ludwig Feuerbach, para quem
a religião não expressa a vontade de nenhum Deus ou outro ser metafísico: é criada
pela fabulação dos homens.
Revolução
Apesar de alguns leitores de Marx adjetivarem-no de “teórico da revolução”, inexiste em
suas obras qualquer definição
conceitual explícita e específica do termo revolução. O que Marx
oferece são descrições e projeções históricas inspiradas nos
estudos que fez acerca das revoluções francesa,
inglesa
e norte-americana. Um exemplo de prognóstico histórico desse tipo
encontra-se em Contribuição para a crítica da
Economia Política:
“
|
Numa
certa etapa do seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais da
sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes ou, o
que é apenas uma expressão jurídica delas, com as relações de propriedade no
seio das quais se tinham até aí movido. De formas de desenvolvimento das
forças produtivas, estas relações transformam-se em grilhões das mesmas.
Ocorre então uma época de revolução social.
|
”
|
Em geral, Marx considerava que toda revolução é necessariamente
violenta, ainda que isso dependa, em maior ou menor grau, da constrição ou
abertura do Estado. A necessidade de
violência se justifica porque o Estado tenderia sempre a empregar a coerção
para salvaguardar a manutenção da ordem sobre a qual repousa seu poder político, logo, a
insurreição não tem outra possibilidade de se realizar senão atuando também
violentamente. Diferente do apregoado pelos pensadores contratualistas, para Marx
o poder político do Estado não emana de algum consenso geral, é antes o poder
particular de uma classe particular que se afirma em detrimento das demais.
Importante notar que Marx não entende revolução enquanto algo como
reconstruir a sociedade a partir de um
zero absoluto. Na Crítica ao Programa de Gotha, por exemplo, indica
claramente que a instauração de um novo regime só é possível mediada pelas
instituições do regime anterior. O novo é sempre gestado tendo o velho por
ponto de partida. A revolução
proletária, que instauraria um novo regime sem classes, só obteria
sucesso pleno após a conclusão de um período de transição que Marx denominou socialismo.
Crítica ao Anarquismo
Criticou o anarquismo
por sua visão tida como ingênua do fim do Estado onde se objetiva acabar com o
Estado "por decreto", ao invés de acabar com as condições sociais que
fazem do Estado uma necessidade e realidade. Na obra Miséria
da Filosofia elabora suas críticas ao pensamento do anarquista Proudhon. Ainda, criticou o
blanquismo com sua visão
elitista de partido, por ter uma tendência autoritária e superada.
Posicionou-se a favor do liberalismo,
não como solução para o proletariado, mas como premissa para maturação das
forças produtivas (produtividade do trabalho) das condições positivas e
negativas da emancipação proletária, como a da homogeneização da condição
proletária internacional gerado pela "globalização" do
capital. Sua visão política era profundamente marcada pelas condições que o desenvolvimento
econômico ofereceria para a emancipação
proletária, tanto em
sentido negativo (desemprego),
como em sentido positivo (em que o próprio capital centralizaria a economia,
exemplo: multinacionais).
A práxis
Na lógica da concepção materialista da História não é a realidade que
move a si mesma, mas comove os atores, trata-se sempre de um "drama
histórico" (termo que Marx usa em O 18 Brumário de Luís Bonaparte) e não de um "determinismo histórico"
que cairia num materialismo mecânico (positivismo), oposto ao materialismo
dialético de Marx. O materialismo dialético, histórico, poderia
também ser definido como uma "dialética realidade-idealidade
evolutiva". Ou seja, as relações entre a realidade e as ideias se fundem
na práxis, e a práxis é o grande fundamento do pensamento de Marx. Pois sendo a
história uma produção
humana, e sendo as ideias produto das circunstâncias em que tais ideais brotaram,
fazer história racionalmente é a grande meta. E o próprio fazer da história que
criará suas condições objetivas e subjetivas adjacentes, já que a objetividade
histórica é produto da humanidade (dos homens associados, luta política, etc).
E assim, Marx finaliza as Teses
sobre Feuerbach, não se trata de interpretar diferentemente o mundo,
mas de transformá-lo. Pois a própria interpretação está condicionada ao mundo
posto, só a ação revolucionária produz a transcendência do mundo vigente.
A mais-valia
O conceito de Mais-valia foi empregado por Karl Marx para
explicar a obtenção dos lucros no
sistema capitalista. Para Marx o trabalho gera a riqueza, portanto, a
mais-valia seria o valor
extra da mercadoria, a diferença entre o que o empregado produz e o que ele
recebe. Os operários em determinada produção produzem bens (ex: 100 carros num mês), se dividirmos o
valor dos carros pelo trabalho realizado dos operários teremos o valor
do trabalho de cada operário. Entretanto os carros são vendidos por
um preço maior, esta diferença é o lucro do proprietário da fábrica, a esta
diferença Marx chama de valor excedente ou maior, ou mais-valia.
O Capital
Capa da
primeira edição (1867) de Das Kapital
A grande obra de Marx é O Capital, na qual trata de fazer uma
extensa análise da sociedade capitalista. É predominantemente um livro de Economia
Política, mas não só. Nesta obra monumental, Marx discorre desde a
economia, até a sociedade,
cultura, política e filosofia. É uma obra
analítica, sintética, crítica, descritiva, científica, filosófica,
etc. Uma obra de difícil leitura, ainda que suas categorias não tenha a ambiguidade especulativa
própria da obra de Hegel, no entanto, uma linguagem pouco atraente e nem um
pouco fácil. Dentro da estrutura do pensamento de Marx, só uma obra como O
Capital é o principal conhecimento, tanto para a humanidade em geral,
quanto para o proletariado em particular, já que através de uma análise radical
da realidade que está submetido, só assim poderá se desviar da ideologia
dominante ("a ideologia dominante" é sempre da "classe
dominante"), como poderá obter uma base concreta para sua luta política.
Sobre o caráter da abordagem econômica das formações societárias humanas,
afirmou Alphonse De Waelhens: "O marxismo é um esforço para ler, por trás
da pseudo-imediaticidade do mundo econômico reificado as relações inter-humanas
que o edificaram e se dissumularam por trás de sua obra." Cabe lembrar que
O Capital é uma obra incompleta, tendo sido publicado apenas o primeiro
volume com Marx vivo. Os demais volumes foram organizados por Engels e publicados
posteriormente.
Outras obras
Na obra A
Ideologia Alemã, Marx apresenta cuidadosamente os pressupostos de
seu novo pensamento. No Manifesto
Comunista apresenta sua tese política básica. Na Questão
Judaica apresenta sua crítica religiosa, que diz que não se deve
apresentar questões humanas como teológicas, mas as teológicas como questões
humanas. E que afirmar ou negar a existência de Deus, são ambas teologia. O ponto de vista
deve ser sempre o de ver as religiões como reflexões humanas fantasiosas de si
mesmo, mas que representa a condição humana real a que está submetido. Na Crítica ao Programa de Gotha, Marx faz a mais extensa e
sistemática apresentação do que seria uma sociedade socialista, ainda que
sempre tente desviar desse tipo de "futurologia", por não ser
rigorosamente científica. Em A
Guerra Civil na França, Marx supera todas as suas tendências jacobinas de
antes e defende claramente que só com o fim do Estado o proletariado oferece a
si mesmo as condições de manter o próprio poder recém conquistado, e o fim do
Estado é literalmente o "povo em armas", ou seja, o fim do
"monopólio da violência" que o Estado representa. Em O 18 Brumário de Luís Bonaparte, já está uma profunda análise
sobre o terror da "burocracia"; a questão
do campesinato como aliado da classe operária na revolução iminente, o papel
dos partidos políticos na vida social e uma caracterização profunda da essência
do bonapartismo são outros aspectos marcantes desta obra.
Colaboração de Engels
Engels
exerceu significativa influência sobre as reflexões intelectuais de Marx,
principalmente no início da associação entre ambos, período em que Engels
dirigiu a atenção de Marx para a Economia
Política e a história
econômica da Europa. Após a morte deste, Engels
tornou-se não só o organizador dos muitos manuscritos incompletos e/ou inéditos
legados, mas também o primeiro intérprete e sistematizador das ideias de Marx.
Engels igualmente se ocupou, desde bem antes do falecimento de seu amigo, de
redigir exposições em termos populares das ideias de Marx visando facilitar sua
difusão.
Críticas
A crítica ao pensamento de Marx iniciou-se desde a publicação de suas
primeiras obras e prossegue - principalmente entre seus seguidores e
intelectuais preocupados em conhecer, desenvolver e discutir a atualidade de
suas ideias.
Em A
Miséria do historicismo (1936), Karl Popper discorda de
Marx quanto à história ser regida por leis que, se compreendidas, podem servir
para se antecipar o futuro. Segundo Popper, a história não pode obedecer a leis
e a ideia de "lei histórica" é uma contradição em si mesma. Já em A sociedade aberta e seus inimigos (1945), Popper afirma que o historicismo conduz
necessariamente a uma sociedade "tribal" e "fechada", com
total desprezo pelas liberdades individuais.
Todavia há dúvidas se Marx teria realmente baseado sua teoria em um
"historicismo", nos termos colocados por Popper. Argumenta-se que
Marx, seguindo uma tradição inaugurada por Maquiavel e Hobbes, busca nos interesses e
necessidades concretas dos indivíduos, ao longo da História, a causa
fundamental das ações humanas - em oposição às ideias políticas e morais
abstratas. Ele não parece supor que esta busca de realização de interesses
tenha consequências predeterminadas. Tal interpretação, provavelmente
influenciada pelo evolucionismo
darwinista, na exegese póstuma do
pensamento marxiano, é creditada ao "papa" da Social-Democracia alemã, Karl Kautsky, no final do século XIX. A interpretação
kautskista seria contestada, de várias formas, por Bernstein, Rosa Luxemburgo, Lenin, Trotsky, Gramsci, entre outros.
Monumento
a Marx e Engels, em Berlim.
Popper considera Marx como "não-científico" também porque sua
teoria não é passível de contestação. Uma teoria científica tem que ser
falseável - caso contrário, é incluída no campo das crenças ou ideologias. Resta saber, é
claro, se afirmações sobre fatos históricos, necessariamente únicos, podem ser,
nos termos de Popper, falsificáveis. (A crítica de Popper não tem esse sentido,
ela faz referência ao fato de Marx afirmar que as críticas ao Comunismo são feitas por burgueses com interesses
contrários, ou seja, qualquer crítica ao Comunismo tem uma explicação: é feita
por um burguês. Dessa forma a teoria não é falseável, ninguém pode dizer que é
falsa porque quem diz o faz por interesse burguês).
Ludwig
von Mises, em Ação Humana – um tratado de Economia
(1949), demonstrou a impossibilidade de
se organizar uma economia nos moldes socialistas, pela ausência do sistema de
preços, que funciona como sinalizador aos empreendedores acerca das
necessidades dos consumidores.
Mises também refinou argumentos formulados por Eugen
von Böhm-Bawerk na obra Marxism Unmasked: From Delusion to
Destruction.
Raymond Aron, em O
ópio dos intelectuais de (1955) criticou de forma agressiva os
intelectuais seguidores de Marx e condenou a teoria da revolução e o determinismo histórico.
Eric
Voegelin talvez seja um dos críticos mais severos de Karl Marx. No
seu livro Reflexões Autobiográficas relata que, induzido pela onda de
interesse sobre a Revolução
Russa de 1917, estudou O Capital de Marx e foi marxista entre
agosto e dezembro de 1919. Porém, durante seu
curso universitário, ao estudar disciplinas de teoria econômica e história da
teoria econômica aprendera o que estava errado em Marx.
Voegelin afirma que Marx comete uma grave distorção ao escrever sobre
Hegel. Como prova de sua afirmação cita os editores dos Frühschiften
(Escritos de Juventude) de Karl Marx (Kröner, 1953), especialmente Siegfried
Landshut, que dizem o seguinte sobre o estudo feito por Marx da Filosofia do Direito de Hegel:
"Ao equivocar-se deliberadamente sobre Hegel, se nos é dado falar
desta maneira, Marx transforma todos os conceitos que Hegel concebeu como
predicados da ideia em anunciados sobre fatos".
Para Voegelin, ao equivocar-se deliberadamente sobre Hegel, Marx
pretendia sustentar uma ideologia que lhe permitisse apoiar a violência contra
seres humanos afetando indignação moral e, por isso, Voegelin considera Karl
Marx um mistificador deliberado. Afirma que o charlatanismo de Marx
reside também na terminante recusa de dialogar com o argumento etiológico de Aristóteles. Argumenta que,
embora tenha recebido uma excelente formação filosófica, Marx sabia que o
problema da etiologia na existência humana era central para uma filosofia do
homem e que, se quisesse destruir a humanidade do homem fazendo dele um
"homem socialista", Marx precisava repelir a todo custo o argumento
etiológico.
Segundo Voegelin, Marx e Engels enunciam um disparate ao iniciarem o Manifesto
Comunista com a afirmação categórica de que toda a história
social até o presente foi a história da luta de classes. Eles
sabiam, desde o colégio, que outras lutas existiram na história, como as Guerras Médicas, as
conquistas de Alexandre,
a Guerra
do Peloponeso, as Guerras Púnicas e a
expansão do Império
Romano, as quais decididamente nada tiveram de luta de classes.
Voegelin diz que Marx levanta questões que são impossíveis de serem
resolvidas pelo "homem socialista". Também alega que Marx conduz a
uma realidade alternativa, a qual não tem necessariamente nenhum vínculo com a
realidade objetiva do sujeito. Segundo Voegelin, quando a realidade entra em
conflito com Marx, ele descarta a realidade.
Finalmente, uma questão de ordem prática, iniciada décadas atrás, foi
suscitada pelo stalinismo,
notadamente os expurgos, os gulags e o genocídio na antiga União
Soviética, que tiveram grande repercussão sobre o pensamento
marxista europeu e os partidos comunistas ocidentais. Discutia-se até que ponto
Marx poderia ser responsabilizado pelas diferentes "leituras" de sua
obra (e respectivos efeitos colaterais) ou se tais práticas seriam resultantes
de uma visão deturpada das ideias marxianas. Com o final da guerra fria, o debate
tornou-se menos polarizado. Todavia a discussão acerca do futuro do capitalismo - ou da Humanidade - prossegue.
ÉMILE DURKHEIM
Émile Durkheim (Épinal, 15 de abril de 1858 — Paris, 15 de novembro de 1917) é considerado um dos pais da Sociologia moderna, tendo
sido o fundador da escola francesa, posterior a Marx, que combinava a
pesquisa empírica com a teoria
sociológica. É amplamente reconhecido como um dos melhores teóricos do conceito
da coesão
social.
Partindo da afirmação de que "os fatos sociais devem ser tratados
como coisas", forneceu uma definição do normal e do patológico aplicada a cada sociedade, em que o normal
seria aquilo que é ao mesmo tempo obrigatório para o indivíduo e superior a
ele, o que significa que a sociedade e a consciência coletiva são entidades morais, antes mesmo de terem uma existência
tangível. Essa preponderância da sociedade sobre o indivíduo deve permitir a
realização deste, desde que consiga integrar-se a essa estrutura.
Para que reine certo consenso nessa sociedade, deve-se favorecer o
aparecimento de uma solidariedade
entre seus membros. Uma vez que a solidariedade varia segundo o grau de
modernidade da sociedade, a norma moral tende a tornar-se norma jurídica, pois é preciso
definir, numa sociedade moderna, regras de cooperação e troca de serviços entre
os que participam do trabalho
coletivo (preponderância progressiva da solidariedade orgânica).
A sociologia fortaleceu-se graças a Durkheim e seus seguidores. Suas
principais obras são: Da divisão do trabalho social (1893); Regras do método sociológico (1895); O suicídio (1897); As formas elementares de vida
religiosa (1912). Fundou também a
revista L'Année Sociologique, que afirmou a preeminência durkheimiana no
mundo inteiro.
Biografia
Émile Durkheim nasceu em Épinal, na Lorraine no dia 15 de abril de 1858. Descendente de uma família judia.
Iniciou seus estudos filosóficos na Escola Normal Superior de Paris, indo
depois para Alemanha. Ainda menino decidiu não seguir o caminho dos familiares
levando, pelo contrário, uma vida bastante secular. Em sua obra, por exemplo,
explicava os fenômenos religiosos a partir de fatores sociais e não divinos.
Tal fato não o afastou, no entanto, da comunidade judaica. Muitos de seus
colaboradores, entre eles seu sobrinho Marcel Mauss formaram um grupo que ficou
conhecido como escola sociológica francesa. Entrou na École
Normale Supérieure em 1879
juntamente com Jean Jaurès
e Henri Bergson. Durante
estes estudos teve contatos com as obras de August Comte e Herbert Spencer que o
influenciaram significativamente na tentativa de buscar a cientificidade no estudo
das humanidades. Suas
principais obras são: Da divisão do trabalho social, As regras do método
sociológico, O suicídio, Formas elementares da vida religiosa, Educação e
sociologia, Sociologia e filosofia.
Morreu em Paris em 15 de novembro de 1917 e encontra-se sepultado no Cemitério
do Montparnasse na capital francesa.
Pensamento
Durkheim formou-se em Filosofia, porém sua obra inteira é dedicada à
Sociologia. Seu principal trabalho é na reflexão e no reconhecimento da
existência de uma "Consciência Coletiva". Ele parte do princípio que
o homem seria apenas um animal selvagem que só se tornou Humano porque se
tornou sociável, ou seja, foi capaz de aprender hábitos e costumes característicos
de seu grupo social para poder conviver no meio deste.
A este processo de aprendizagem, Durkheim chamou de
"Socialização", a consciência coletiva seria então formada durante a
nossa socialização e seria composta por tudo aquilo que habita nossas mentes e
que serve para nos orientar como devemos ser, sentir e nos comportar. E esse
"tudo" ele chamou de "Fatos Sociais", e disse que esses
eram os verdadeiros objetos de estudo da Sociologia.
Nem tudo que uma pessoa faz é um fato social, para ser um
fato social tem de atender a três características: generalidade, exterioridade
e coercitividade. Isto é, o que as pessoas sentem, pensam ou fazem independente
de suas vontades individuais, é um comportamento estabelecido pela sociedade.
Não é algo que seja imposto especificamente a alguém, é algo que já estava lá
antes e que continua depois e que não dá margem a escolhas.
O mérito de Durkheim aumenta ainda mais quando publica seu livro
"As regras do método sociológico", onde define uma metodologia de estudo, que
embora sendo em boa parte extraída das ciências
naturais, dá seriedade à nova ciência. Era necessário revelar as leis que regem o comportamento social, ou
seja, o que comanda os fatos sociais.
Em seus estudos, os quais serviram de pontos expiatórios para os inícios
de debates contra Gabriel
Tarde (o que perdurou praticamente até o fim de sua carreira), ele
concluiu que os fatos sociais atingem toda a sociedade, o que só é possível se
admitirmos que a sociedade é um todo integrado. Se tudo na sociedade está
interligado, qualquer alteração afeta toda a sociedade, o que quer dizer que se
algo não vai bem em algum setor da sociedade, toda ela sentirá o efeito.
Partindo deste raciocínio ele desenvolve dois dos seus principais conceitos: Instituição
social e Anomia.
A instituição social é um mecanismo de proteção da sociedade, é o
conjunto de regras e procedimentos padronizados socialmente, reconhecidos,
aceitos e sancionados pela sociedade, cuja importância estratégica é manter a organização do grupo e
satisfazer as necessidades dos indivíduos que dele participam. As instituições
são, portanto, conservadoras
por essência, quer seja família,
escola, governo, polícia ou qualquer outra,
elas agem fazendo força contra as mudanças, pela manutenção da ordem.
Durkheim deixa bem claro em sua obra o quanto acredita que essas
instituições são valorosas e parte em sua defesa, o que o deixou com uma certa
reputação de conservador, que durante muitos anos causou antipatia a sua obra.
Mas Durkheim não pode ser meramente tachado de conservador, sua defesa das
instituições se baseia num ponto fundamental, o ser humano necessita se sentir
seguro, protegido e respaldado. Uma sociedade sem regras claras (num conceito
do próprio Durkheim, "em estado de anomia"), sem valores, sem limites
leva o ser humano ao desespero. Preocupado com esse desespero, Durkheim se
dedicou ao estudo da criminalidade,
do suicídio e da religião. O homem que
inovou construindo uma nova ciência inovava novamente se preocupando com
fatores psicológicos, antes da existência da Psicologia. Seus estudos
foram fundamentais para o desenvolvimento da obra de outro grande homem: Freud.
Basta uma rápida observação do contexto histórico do século XIX, para se
perceber que as instituições sociais se encontravam enfraquecidas, havia muito
questionamento, valores tradicionais eram rompidos e novos surgiam, muita gente
vivendo em condições miseráveis, desempregados, doentes e marginalizados. Ora,
numa sociedade integrada essa gente não podia ser ignorada, porque de uma forma
ou de outra, toda a sociedade sofreria as consequências. Aos problemas que
observou, classificou como patologia social, e chamou aquela sociedade doente
de "Anomana". A anomia era a grande inimiga da sociedade, algo que
devia ser vencido, e a sociologia era o meio para isso. O papel do sociólogo
seria, portanto, estudar, entender e ajudar a sociedade.
Na tentativa de "curar" a sociedade da anomia, Durkheim
escreve "Da divisão do trabalho social", onde discorre sobre a
necessidade de se estabelecer uma solidariedade orgânica entre os membros
desta. A solução estaria em seguir o exemplo de um organismo biológico, onde cada órgão
tem uma função e depende dos outros para sobreviver. Se cada membro exercer uma
função específica na divisão do trabalho da sociedade, ele estará vinculado a
ela através de um sistema de direitos
e deveres, e também sentirá a
necessidade de se manter coeso e solidário aos outros. O importante para
Durkheim é que o indivíduo realmente se sinta parte de um todo, que realmente
precise da sociedade de forma orgânica, interiorizada e não meramente mecânica.
Principais obras
- Da divisão do trabalho social, 1893;
- Regras do método sociológico, 1895;
- O suicídio, 1897;
- As formas elementares de vida religiosa, 1912;
Max
Weber
Para outros significados de
Max Weber, veja Max
Weber (artista).
Karl Emil Maximilian Weber
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Max Weber em 1894
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Nascimento
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Morte
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14 de
junho de 1920 (56
anos)
Munique, |
Nacionalidade
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Alemã
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Cônjuge
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Ocupação
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Principais trabalhos
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Maximilian Karl Emil Weber (Erfurt, 21 de Abril de 1864 — Munique, 14 de Junho de 1920) foi um intelectual alemão, jurista, economista
e considerado um dos fundadores da Sociologia. Seu irmão foi o
também famoso sociólogo e economista Alfred Weber. A esposa de
Max Weber, Marianne
Weber, biógrafa do marido, foi uma das alunas pioneiras na
universidade alemã e integrava grupos feministas de seu tempo.
É considerado um dos fundadores do estudo moderno da sociologia, mas sua
influência também pode ser sentida na economia, na filosofia, no direito, na
ciência política e na administração. Começou sua carreira acadêmica na
Universidade Humboldt, em Berlim e, posteriormente, trabalhou na Universidade
de Freiburg, na Universidade de Heidelberg, na Universidade
de Viena e na Universidade
de Munique. Personagem influente na política alemã da época, foi
consultor dos negociadores alemães no Tratado
de Versalhes (1919) e da
Comissão encarregada de redigir a Constituição
de Weimar.
Grande parte de seu trabalho como pensador e estudioso foi reservado
para o chamado processo de racionalização e desencantamento que provém da sociedade
moderna e capitalista. Mas seus estudos também deram contribuição importante
para a economia. Sua obra mais famosa é o ensaio A ética protestante e o espírito do capitalismo,
com o qual começou suas reflexões sobre a sociologia da religião. Weber
argumentou que a religião era uma das razões não-exclusivas do porque as
culturas do Ocidente e do Oriente se desenvolveram de formas diversas, e
salientou a importância de algumas características específicas do
protestantismo ascético, que levou ao nascimento do capitalismo, a burocracia e
do estado racional e legal nos países ocidentais. Em outro trabalho importante,
A
política como vocação, Weber definiu o Estado como "uma
entidade que reivindica o monopólio do uso legítimo da força física", uma
definição que se tornou central no estudo da moderna ciência política no
Ocidente. Em suas contribuições mais conhecidas são muitas vezes referidas como
a “Tese de Weber".
Seu pai, Sr. Max Weber, público e político liberal; a mãe, Helene
Fallenstein, uma calvinista moderada. Max foi o primeiro de sete filhos,
incluindo seu irmão Alfred
Weber, quatro anos mais jovem, também sociólogo, mas, sobretudo, um
economista, que também desenvolveu uma importante sociologia da cultura. A
família estimulou intelectualmente os jovens Weber desde a tenra idade.
Em 1882 Max Weber matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade
de Heidelberg, onde seu pai havia estudado, frequentando também cursos de
economia política, história e teologia. Em 1884 voltou para casa paterna e se
transferiu para a Universidade de Berlim, onde obteve em 1889 o doutorado em
Direito e em 1891 a tese de habilitação, ambos com escritos da história do
direito e da economia.
Depois de completar estudos jurídicos, econômicos e históricos em várias
universidades, se distingue precocemente em algumas pesquisas econômico-sociais
com a Verein für Sozialpolitik, a associação fundada em 1873 pelos economistas
associados à Escola Histórica Alemã em que Weber já tinha aderido em 1888. Em
1893 casou-se com Marianne Schnitger, mais tarde uma feminista e estudiosa, bem
como curadora póstuma das obras de seu marido.
Foi nomeado professor de Economia nas universidades de Freiburg em 1894
e de Heidelberg em 1896. Entre 1897, ano em que seu pai morreu, e 1901 sofreu
de uma aguda depressão, de modo que do final de 1898 ao final de 1902 não
poderia realizar atividades regulares de ensino ou científicas.
Curado, no Outono de 1903 renunciou ao cargo de professor e aceitou uma
posição como diretor-associado do recém-nascido Archiv für und
Sozialwissenschaft Sozialpolitik (Arquivos de Ciências Sociais e Política
Social), com Edgar Jaffé e Werner Sombart como
colegas: nesta revista publicaram em duas partes, em 1904 e 1905, o artigo-chave
A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Naquele mesmo ano,
visitou os Estados Unidos. Graças a uma enorme renda privada derivada de uma
herança em 1907, ainda conseguiu se dedicar livremente e em tempo integral aos
seus estudos, passando da economia ao direito, da filosofia à história
comparativa e à sociologia, sem ser forçado a retornar à docência. Sua pesquisa
científica abordou questões teórico-metodológicas cruciais e tratou complexos
estudos histórico-sociológicos sobre a origem da civilização ocidental e seu
lugar na história universal.
Durante a Primeira
Guerra Mundial, serviu como diretor de hospitais militares de
Heidelberg e ao término do conflito, voltou ao ensino da disciplina de
economia, primeiro em Viena e em 1919 em Munique, onde dirigiu o primeiro
instituto universitário de sociologia na Alemanha. Em 1918 ele estava entre os
delegados da Alemanha em Versalhes para a assinatura do tratado de paz e foi
conselheiro para os redatores da Constituição da República de Weimar.
Encontra-se sepultado em Bergfriedhof de Heidelberg em Baden-Württemberg
na Alemanha.
|
Escritos e obras
A ética
protestante e o espírito do capitalismo, 1. ed., 1904
Dentre as influências que a obra de Weber manifesta, podemos enxergar
também seu diálogo com filósofos como Immanuel Kant e Friedrich
Nietzsche e com alguns dos principais sociólogos de seu tempo, como Ferdinand
Tönnies, Georg
Simmel e Werner
Sombart, entre outros.
Dentre as principais obras do autor - organizadas postumamente pela sua
esposa Marianne Weber - constam os seguintes títulos:
- 1889: A
história das companhias comerciais na idade média
- 1891: O
direito agrário romano e sua significação para o direito público e privado
- 1895: O
Estado Nacional e a Política Econômica
- 1904: A
objetividade do conhecimento na ciência política e na ciência social
- 1904: A ética protestante e o espírito
do capitalismo
- 1905: A
situação da democracia burguesa na Rússia
- 1905: A
transição da Rússia a um regime pseudoconstitucional
- 1906:
As seitas protestantes e o espírito do capitalismo
- 1913:
Sobre algumas categorias da sociologia compreensiva
- 1917/1920:
Ensaios Reunidos de Sociologia da Religião
- 1917:
Parlamento e Governo na Alemanha reordenada
- 1917: A
ciência como vocação
- 1918: O
sentido da neutralidade axiológica nas ciências políticas e sociais
- 1918:
Conferência sobre o Socialismo
- 1919: A política como vocação
- 1919:
História Geral da Economia
- 1910/1921:
Economia e Sociedade
Dentre seus escritos mais conhecidos destacam-se A ética protestante
e o espírito do capitalismo (1904), a obra póstuma Economia e Sociedade
(1920), A ciência como vocação (1917) e A política como vocação (1919)[2].
Primeiros trabalhos
Os primeiros textos acadêmicos de Weber estão ligados a trabalhos
desenvolvidos em sua formação na estrutura universitária alemã. O primeiro
trabalho propriamente dito foi sua tese de doutoramento intitulada A
história das companhias comerciais da idade média. Esta tendência para
combinar análise jurídica com análise histórica continua com seu próximo
trabalho (tese de habilitação), chamado A história agrária romana. Aqui
ele analisa a estrutura da propriedade agrária de Roma em sua fase tardia e
suas repercussões na legislação pública e privada. Ainda que seja um escrito
bastante técnico, ele procura contextualizar sua pesquisa no âmbito histórico,
o que já demonstra a preocupação social de suas investigações.
Durante seu período como professor universitário, Weber dedicou-se ao
ensino da economia política e de questões agrárias, uma de suas especialidades.
Como professor de economia, ele debateu os valores e limite das principais
correntes de pensamento de seu tempo: a Escola Histórica de Economia, a Escola
Marginalista (predominante na Austria) e a Escola Marxista. Neste período Weber também
publicou um texto introdutório chamado "A bolsa", para divulgar e
promover o entendimento do funcionamento econômico do capital financeiro.
A aproximação com os temas sociais está ligada à pesquisa empírica de
Weber na região do Leste do rio Elba. Analisando processo migratório de
poloneses na fronteira da Alemanha, Weber destacou as tendências da introdução
do capitalismo no campo e deu especial atenção às consequências políticas
daquele processo. Aplicando diversos questionários e levantando inúmeros dados
ele concluiu que o acelerado processo de modernização econômica da Alemanha estava
minando a estrutura de poder da classe dirigente: a aristocria agrária
(denominada de classe Junker).
Tal visão foi especialmente apresentada em uma Aula Inaugural pronunciada em
1895 e denominada O Estado Nacional e a Política Econômica. Neste
período Weber notabilizou-se como um dos grandes especialistas de questões e
problemas agrários, refletindo sobre as consequências com os reflexos do
capitalismo na esfera rural.
Profundamente envolvido com a vida acadêmica, a produção de Weber sofre
uma interrupção a partir de 1897. É somente depois desta fase que a produção
sociológica de Weber começa a delinear-se.
A objetividade do conhecimento
Em 1903, junto com Werner Sombart e Edgar Jaffé, Weber funda o Arquivo
para a Ciência Social e a Ciência Política. No texto que escreveu para a
revista, intitulado A objetividade do conhecimento na ciência política e
social (de 1904) ele apresentou sua posição na discussão sobre os métodos
das ciências econômicas, polêmica que sacudia o mundo universitário da época.
A tradição alemã de filosofia social tinha suas origens em Immanuel Kant. Mas, a
tentativa de fundamentar as ciências históricas com o pensamento kantiano só
teve início com o trabalho de Wilhelm Dilthey, em 1883. A
reivindicação fundamental do seu trabalho foi mostrar o estatuto ontológico
diferenciado das ciências históricas e sociais diante das ciências da natureza.
Na Alemanha este esforço continuou com os trabalhos de Wilhelm
Windelband e Heinrich Rickert. No campo da economia, esta
tendência também era representada por Gustav von Schmoller.
Rivalizando com esta escola, os seguidores da visão austríaca de
pensamento econômico entendiam que a função das ciências humanas era formular
leis que explicassem os fenômenos sociais. Esta posição, chamada de
"positivismo" era defendida por Carl Menger.
Max Weber não se enquadrava diretamente em nenhuma destas posições. Com
a escola neo-kantiana, ele concorda com o fato de que as ciências humanas lidam
com o fenômeno do valor. Só analisamos aqueles elementos da realidade que tem
algum sentido para nós, a partir de nossas referências de valor. Tal posição
fora retirada por Weber de Heinrich Rickert. Mas, nem por isso ele rejeitava o
valor da imputação causal nas ciências humanas, pois eram um instrumento
indispensável para a explicação dos mecanismos de entendimento da vida social.
Em síntese, Weber propunha a unificação das ciências humanas integrando a
"verstehen" (compreensão) e a "erklären"
(explicação) em uma visão unitária de ciência.
O principal problema desta posição, contudo, é que elas colocavam em
questão o valor objetivo da ciência. Weber reconheceu que toda pesquisa tem um
ponto de partida subjetivo (ligado a referência de valor do pesquisador), mas
entendeu que este dado não destruía a objetividade da ciência. O valor
cognitivo da ciência social reside na sua capacidade de controlar a pesquisa
mediante métodos sistemáticos e padronizados de trabalho. O ponto de partida da
investigação até pode ser subjetivo, mas seu ponto de chegada deverá se
rigorosamente objetivo.
Alicerçado na noção kantiana de "''a priori''", Weber também desenvolveu
a noção de "tipo ideal" . Tal conceito mostra
que as categorias da ciência social são uma construção subjetiva do
pesquisador, feita a partir de seus interesses. Como tais, eles selecionam na
realidade, sempre complexa e caótica, certos elementos que serão aglutinados
como um tipo idealmente perfeito. Conceitos não emanam diretamente da realidade
(visão hegeliana), nem são formados apenas por abstração de elementos comuns e
genéricos (visão aristotélica), pois eles implicam acentuar determinados
elementos para que eles possam ser compreendidos. Trata-se de reunir o caos
inesgotável da realidade em conceito compreensíveis.
Ainda que Weber não tenha defendido uma visão rigorosamente dualista da
ciência, o escrito "A objetividade do conhecimento na ciência política e
na ciência social" constitui ainda hoje o principal texto para quem
defende uma visão não naturalista de ciência, ou seja, que defende a tese de
que as ciências humanas são essencialmente diferenciadas das demais ciências de
corte empírico-natural[4].
A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo
A ética protestante e o 'espírito' do capitalismo é considerada a grande obra
de Max Weber e é o seu texto mais lido e conhecido. A primeira parte desta obra
foi publicada em 1904 e a segunda veio a público em 1905, depois da viagem do
autor e de sua esposa aos Estados Unidos.
A temática das relações entre religião e capitalismo foi uma questão
central do pensamento social alemão. Do ponto de vista da análise do
capitalismo, o estudo de Weber foi precedido pela obra de Georg Simmel - A
filosofia do dinheiro (1900) -, sem esquecer do escrito de Karl Marx,
intitulado O Capital (1867). Dois anos antes da publicação do livro de
Weber, seu colega Werner Sombart também publicou um livro sobre esse problema,
intitulado O capitalismo moderno (1902) . Neste criativo e rico espírito
acadêmico, Weber procurou mostrar que o protestantismo de caráter ascético dos
séculos XVI e XVII tinha um influxo direto com o conceito de vocação
profissional, base motivacional do moderno sistema econômico capitalista.
Vejamos como a tese do livro é apresentada.
No capítulo introdutório, Weber mostra a preferência educacional dos
católicos por uma formação humanista, enquanto os protestantes preferiam
formação técnica. Ao mesmo tempo, mostrou as diferenças profissionais entre
ambos os segmentos. Weber rejeita a explicação (superficial e aparente) de que
a espiritualidade católica, fundada no ascetismo, predisporia o indivíduo para
o estranhamento do mundo e, desta forma, para a indiferença para com os bens
deste mundo; enquanto os protestantes seriam materialistas. Alega que os
puritanos se caracterizavam pelo oposto da alegria para com o mundo. Ao
contrário, ele sugere que há um íntimo parentesco entre estranhamento do mundo,
ascese e participação na vida aquisitiva.
O capítulo posterior trata do objeto da pesquisa, ou seja, é neste
momento que ele desenvolve o tipo ideal de "espírito do capitalismo",
entendido como uma individualidade histórica. Tomando como exemplo máximas colhidas
de escritos de Benjamin
Franklin, tais como "tempo é dinheiro" ou "dinheiro
gera mais dinheiro" ou ainda "o bom pagador é dono da bolsa
alheia", Weber mostra que o espírito do capitalismo não é caracterizado
pela busca desenfreada do prazer e pela busca do dinheiro por si mesmo. O
espírito do capitalismo deve ser entendido como uma ética de vida, uma
orientação na qual o indivíduo vê a dedicação ao trabalho e a busca metódica da
riqueza como um dever moral. Weber acentua claramente que o 'espírito' do
capitalismo não deve ser confundido com a 'forma' do capitalismo. Por forma,
Weber entende o capitalismo enquanto sistema econômico, cujo centro é
representado pela empresa capitalista, reunião de meios de produção, trabalho
organizado e gestão racional. Ele esclarece que as variáveis tratadas no seu
livro tem a ver com a moral protestante e a dimensão atitudinal (habitus) que
serve de base ao sistema. O espírito do capitalismo só pôde triunfar ao vencer
as formas tradicionalistas de comportamento econômico.
Passo seguinte, ele dedicou-se a analisar a contribuição do luteranismo.
Na tradução de Martinho
Lutero, ao contrário da concepção católica, "vocação"
deixa de ter o sentido de um chamado para a vida religiosa ou sacerdotal e
passa a ter o sentido do chamado de Deus para o exercício da profissão no mundo
do trabalho. Com Lutero o ascetismo praticado pelos monges fora do mundo é
transferido das celas dos mosteiros para o mundo secular, nasce daí o ascetismo intramundano.
Todavia, o próprio Max Weber reconheceu que o luteranismo ainda possui uma
visão tradicionalista da vida econômica: apesar da ênfase no trabalho, a vida
aquisitiva ainda não possui um valor em si mesma e o indivíduo está acomodado
no seu círculo social.
Após, Weber destaca que o ponto de partida da ética econômica subjacente
ao capitalismo está no protestantismo pós-luterano, nas chamadas igrejas e
seitas do protestantismo ascético, tanto na sua versão calvinista (derivada de João Calvino) quanto
anabatista. Do calvinismo
emana a célebre tese da predestinação,
dogma que afirma que apenas Deus escolhe - independente dos méritos do
indivíduo - quem será salvo e quem será condenado. Diante da angústia religiosa
sofrida pelo indivíduo, o trabalho e o sucesso na vida econômica surgem como
compromissos do crente e como indícios (embora não meio) de certeza da
salvação. Apesar desta rígida tese estar atenuada no pietismo e no metodismo, que são mais
sentimentais, nas igrejas de origem calvinista a riqueza recebe uma sanção
positiva da esfera religiosa. O mesmo processo pode ser verificado no âmbito
das seitas que surgem do movimento anabatista (rebatizados) - como os batistas, menonitas e quakers, por exemplo - que,
organizados em forma de seita,
estimulam uma vida ordenada, disciplina e regida por rígidas normas éticas.
Analisando todo o processo em seu conjunto, Weber verifica que dos
dogmas e, em especial, dos impulsos morais do protestantismo, derivados após a
reforma de Lutero, surge uma forma de vida de caráter metódico, disciplinado e
racional. Da base moral do protestantismo surge não só a valorização religiosa
do trabalho e da riqueza, mas também uma forma de vida que submete toda a
existência do indivíduo a uma lógica férrea e coerente: uma personalidade
sistemática e ordenada. Sem estes impulsos morais não seria possível
compreender a ideia de vocação profissional, concepção que subjaz as figuras
modernas do operário e do empresário. A moral específica dos círculos protestantes
possuem uma relação de afinidade eletiva com o comportamento
(espírito) que subjaz ao sistema econômico moderno e, ainda que este não derive
apenas deste fator,trata-se de um impulso vital para o entendimento do mundo
moderno contemporâneo.
No final da Ética Protestante, Weber destaca que, apesar de
secularizada, ou seja, desprovida de fundamentos religiosos, a vida aquisitiva
da economia moderna generalizou-se para todo conjunto da vida social: os
puritanos queriam tornar-se monges, hoje todos temos que segui-los. Esta
avaliação também ganha contornos críticos, pois Weber constata que a lógica da
produção, do trabalho e da riqueza envolve o mundo moderno como uma "jaula de ferro" e se pergunta
qual o destino dos tempos modernos: o ressurgimento de velhas ideias ou
profecias ou uma realidade petrificada, até que a última tonelada de carvão
fóssil seja queimada? Em tons que lembram Nietzsche, ele dirá ainda sobre os
homens dos tempos atuais: especialistas sem espírito, gozadores sem coração!
Esta visão crítica do capitalismo encorajou certos pensadores marxistas
(como Georg
Lukács, Karl Löwith,
Michael Löwy a ressaltarem
algumas afinidades do seu pensamento com a visão marxista, corrente que, sem
menosprezar as sensíveis diferenças entre as duas formas de pensamento, foi
sendo denominada de webero-marxismo.No entanto, diferente da visão
marxista, que privilegia apenas os fatores econômicos, Weber, coerente com uma
visão multicausal dos fenômenos sociais, destaca seus fatores culturais e, mais
tarde, enfatizará também a importância dos fatores materiais no surgimento das
instituições modernas.
A ética econômica das religiões mundiais
Após a década de 1910, os estudos de Weber na área da sociologia
religiosa foram ampliados e ele passou a aprofundar seu conhecimento das
religiões de caráter universal. Ao contrário de Durkheim, que partiu das
religiões primitivas (totemismo),
Weber dedica-se à análise do confucionismo e do taoísmo, do hinduísmo e do
budismo, do islamismo e da religião judaica, ou seja, dos grandes sistemas
religiosos da humanidade. Conforme ele esclarece no Prólogo (Vorbemerkung)
escrito para introduzir, em termos globais, seus "Ensaios Reunidos de
Sociologia da Religião", seu objetivo primordial consiste em entender
os fenômenos centrais do racionalismo ocidental, como a ciência, a técnica, a
universidade, a contabilidade, o direito, a gestão racional das empresas, a
música, o Estado Burocrático e, em especial, o capitalismo moderno. Conforme explicou
sua esposa Marinne Weber, a descoberta da especificidade do racionalismo
moderno foi a grande inovação sociológica de Weber e ele procurou desvendar
suas origens e características, destacando o papel da religião neste processo.
Introdução O estudo
de Weber dedicado às religiões universais possui um escrito preliminar de
caráter metodológico, no qual ele explica que, diferente do que fez na pesquisa
sobre o protestantismo (em que contemplou apenas um lado da relação causal
entre ideias e interesses), nestes estudos ele mostraria a vinculação existente
entre fatores materiais e fatores ideais nos processos sociais. Por isso, ao
analisar os grandes sistemas religiosos e suas diferentes teodicéias, ele levaria em conta também os interesses e o
papel de suas principais camadas portadoras, sejam elas populares (camadas
urbanas, rurais, etc.), sejam elites políticas (burocracias), religiosas
(sacerdotes) ou mesmo guerreiros.
A religião da China O primeiro grande sistema analisado por Weber é a milenar civilização
chinesa. Ele revisa os pressupostos econômicos e político do mundo chinês, o
papel do imperador e das províncias e, em especial, a função dos mandarins (burocratas), o que introduz um caráter ritualista
e tradicional no confucionismo,
voltado para a culto dos antepassados familiares e do imperador: o universo é
entendido como uma ordem eterna - Tao - que
não pode ser contestada e ao qual o indivíduo se adapta. Na China
desenvolveu-se uma tendência mística chamada taoísmo, cujo fundador é Lao-Tsé, mas que foi
tragada pela poderosa força da magia, razão pela qual a religião chinesa ficou
imersa em um jardim mágico. Desta forma, ele não desenvolveu um potencial de
racionalização prática das condutas.
Consideraçâo Intermediária Após analisar a religião chinesa, Weber passa ao exame das religiões de
salvação, nas quais existe uma relação de tensão com o mundo: daí a necessidade
de um texto intermediário que explique as diferenças entre o misticicismo
(predominante do mundo oriental) e o ascetismo (predominante no mundo
ocidental. Neste texto ele também examina as tensões entre a ordem religiosa
(regida por normas) e as ordens sociais do mundo moderno que são regidas por
uma racionalidade formal e que, portanto, possuem sua legalidade própria. As
esferas analisadas por Weber são a economia, a política, a arte, o erotismo e a
ciência.
A religião da Índia O sistema de castas
vigente na Índia demonstra que também se trata de uma religião - chamada de hinduísmo - com fortes
elementos tradicionais. As castas criam uma ordem hierárquica, no topo da qual
estão os sacerdotes brahmanes,
seguidos pelos guerreiros, depois os comerciantes e agricultores e, por fim, os
demais trabalhadores. O intercâmbio entre os grupos sociais não é permitido e a
única forma de evoluir na escala social é a roda das encarnações. O caráter
sagrado das castas indianas foi rompido pela pregação de Buda. O Budismo conservou a ideia
de reencarnação,
mas ela se torna completamente individual e voltada para a dissolução do eu.
Tal crença difundiu-se por todo Oriente e constitui a grande matriz dos sistemas
religiosos orientais, que possuem um componenente acentuadamente místico.
O Judaísmo Antigo O grande processo de desencantamento religioso do mundo, ou seja, a
eliminação da magia como meio de salvação, tem aqui o seu ponto de partida. O
judaísmo é uma religião pária, ou
seja, há um vínculo exclusivo entre o povo eleito e seu Deus Javé, isolando a religião
judaica do contexto social mais amplo. A elaboração de uma lei sacerdotal,
sistematizada pelos levitas
e a pregação dos profetas,
exigindo o cumprimento das normas, abriu caminho para uma religião de caráter
prático e ético, expurgando o papel das crenças mágicas no sistema religioso. O
judaísmo foi a fonte do racionalismo prático da dominação do mundo que permeia
o mundo ocidental e suas diferentes instituições sociais.
Economia e Sociedade
Em 1913, Weber publicou um escrito intitulado "Sobre algumas
categorias da sociologia compreensiva", primeiro esboço de seu método
sociológico. Ele continuou a trabalhar sua visão de sociologia durante os
próximos anos em escrito encomendado para uma ampla coleção de textos
econômicos e que, por esta razão, recebeu o nome de "Economia e Sociedade". Weber trabalhou
neste volume até o final de sua vida, mas ele só foi publicado postumamente por
sua esposa, Marianne Weber. A versão mais conhecida deste volume póstumo e a
quarta edição, organizada por Johannes Winckelmann, em 1956.
No primeiro capítulo desta obra, aparece como conceito fundante da
teoria sociológica de Weber a categoria ação, considerado por ele o
objeto da sociologia. A ação é um comportamento humano ao qual os indivíduos
vinculam um significado subjetivo e a ação é social quando está relacionada com
outro indivíduo. A análise da teoria weberiana como ciência tem como ponto de
partida a distinção entre quatro tipos de ação social:
- A ação racional com relação a
um objetivo é determinada por expectativas no comportamento tanto de
objetos do mundo exterior como de outros homens e utiliza essas
expectativas como condições ou meios para alcance de fins próprios
racionalmente avaliados e perseguidos. É uma ação concreta que tem um fim
especifico, por exemplo: o engenheiro que constrói uma ponte.
- A ação
racional com relação a um valor
é aquela definida pela crença consciente no valor - interpretável como ético, estético, religioso ou qualquer
outra forma - absoluto de uma determinada conduta. O ator age
racionalmente aceitando todos os riscos, não para obter um resultado
exterior, mas para permanecer fiel a sua honra, qual seja, à
sua crença consciente no valor, por exemplo, um capitão que afunda com o
seu navio.
- A ação afetiva é aquela
ditada pelo estado de consciência ou humor do sujeito, é
definida por uma reação emocional do ator em
determinadas circunstâncias e não em relação a um objetivo ou a um sistema
de valor, por exemplo, a mãe quando bate em seu filho por se comportar
mal.
- A ação
tradicional é aquela ditada pelos hábitos, costumes, crenças
transformadas numa segunda natureza, para agir conforme a tradição o ator
não precisa conceber um objeto, ou um valor nem ser impelido por uma emoção,
obedece a reflexos adquiridos pela prática.
Na ótica weberiana, a sociologia é essencialmente hermenêutica, ou seja, ela
está em busca do significado e dos motivos últimos que os próprios indivíduos
atribuem as suas ações: é neste sentido que a sociologia é sempre
"compreensiva" (verstehen). O principal objetivo de Weber é
compreender o sentido que cada pessoa dá a sua conduta e perceber assim a sua
estrutura inteligível e não a análise das instituições sociais como propunha
Durkheim. A análise weberiana propõe que se deve compreender, interpretar e
explicar respectivamente, o significado, a organização e o sentido, bem como
evidenciar regularidade das condutas. Cabe a sociologia entender como acontecem
e se estabilizam as relações sociais, os grupos organizados e as estruturas
coletivas da vida social.
Com este pensamento, não possuía a ideia de negar a existência ou a
importância dos fenômenos sociais globais, dando importância à necessidade de
entender as intenções e motivações dos indivíduos que vivenciam essas situações
sociais. Ou seja, a sua ideia é que a sociedade como totalidade social é o
resultado das formas de relação entre seus sujeitos constituintes. Tomando como
ponto de partida da compreensão da vida social o papel do sujeito, a teoria de
Max Weber é denominada individualismo metodológico.
1. Sociologia Econômica Durante a maior parte de sua vida acadêmica, Max Weber foi docente de
disciplinas da área econômica. Aliás, seu último livro, um conjunto de notas de
aula publicados por seus alunos, chama-se justamente História Geral da
Economia. Desta forma, não é surpresa que Weber elabore uma sofisticada
abordagem sociológica da vida econômica. Por esta razão, há até teóricos que defendem que,
em última instância, toda obra de Weber não passa de uma teoria econômica, qual
seja, uma visão sócio-histórica da vida aquisitiva.
Na sua primeira fase, seguindo a tradição marxista, Weber tendia a ver o
capitalismo como um fenômeno específicamente moderno. Já em sua " Ética
Protestante" (de 1904), apesar de colocar em relevo os fatores culturais
da gênese da conduta capitalista, era esta visão que predominava. Mas, nas
décadas seguintes, ele romperá com estas noções. Em primeiro lugar, ele insere
o capitalismo (na sua fase "moderna") em um amplo processo de
racionalização da cultura e da sociedade. Ou seja, enquanto fênômeno social, o
capitalismo é uma das expressões da vida racionalizada da modernidade Ocidental
e é similar, em sua forma racional, ao campo da política, do direito, da
ciência, etc. Outra mudança importante é que Weber rompe com a definição
marxista de que o capitalismo é um fenômeno exclusivo da era moderna: daí a
expressão capitalismo "moderno". Para Weber, o capitalismo é um
fenômeno que atravessa a história, pois a busca do lucro já pode ser localizada
nas sociedades primitivas e antigas, nas grandes civilizações e mesmo nas
sociedade não-ocidentais. O núcleo estruturante da atividade capitalista é a ''empresa'', pois a separação da esfera individual da esfera
impessoal da produção permite a racionalização da organização do trabalho e
mesmo das atividades de gestão destas organizãções.
Com base nestas premissas, Weber construiu diferentes tipos ideais de
capitalismo, como a capitalismo aventureiro, o capitalismo de Estado, o
capitalismo mercantil, capitalismo comercial, etc.
As principais análises de Weber sobre o campo econômico podem ser encontradas
no segundo capítulo de Economia e Sociedade, tópico em que ele discute a ordem
social econômica. Ali ele destaca que o processo de racionalização da atividade
econômica também envolve a passagem de uma racionalidade material - na qual a
vida econômica está submetida a valores de ordem ética ou política - para uma
racionalidade formal, ou seja, na qual a lógica impessoal das atividades
econômicase e lucrativas se torna predominante.
Por estas razões, Max Weber é considerado, atualmente, um dos precursores
da sociologia
econômica, conjunto de autores que se recusa a entender a vida
econômica como relacionada apenas com o mercado, concebido de forma abstrata, separado
de suas condições históricas, culturais e sociais.
2. Sociologia Política Max Weber desenvolveu um importante trabalho de sociologia
política através da sua teoria dos tipos de dominação[8]. Dominação é a possibilidade de um determinado grupo se
submeter a um determinado mandato. Isso pode acontecer por motivos diversos,
como costumes e tradição. Weber define três tipos de dominação que se
distinguem pelo caráter da dominação (pessoal ou impessoal) e, principalmente,
pela diferença nos fundamentos da legitimidade. São elas: legal, tradicional e
carismática.
- Dominação
legal: a obediência está fundamentada na vigência e aceitação da
validade intrínseca das normas e seu quadro administrativo é mais bem
representado pela burocracia. A ideia principal da dominação legal é que
deve existir um estatuto que pode ou criar ou modificar normas, desde que
esse processo seja legal e de forma previamente estabelecido. Nessa forma
de dominação, o dominado obedece à regra, e não à pessoa em si,
independente do pessoal, ele obedece ao dominante que possui tal autoridade
devido a uma regra que lhe deu legitimidade para ocupar este posto, ou
seja, ele só pode exercer a dominação dentro dos limites
pré-estabelecidos. Assim o poder é totalmente impessoal, onde se obedece à
regra estatuída e não à administração pessoal. Como exemplo do uso da
dominação legal podemos citar o Estado Moderno, o município, uma empresa
capitalista privada e qualquer outra organização em que haja uma
hierarquia organizada e regulamentada. A forma mais pura de dominação
legal é a burocracia.
- Dominação
tradicional: Se dá pela crença na
santidade de quem dá a ordem e de suas ordenações, sua ordem mais pura se
dá pela autoridade patriarcal onde o senhor ordena e os súditos obedecem e
na forma administrativa isso se dá pela forma dos servidores. O
ordenamento é fixado pela tradição e sua violação seria um afronto à
legitimidade da autoridade. Os servidores são totalmente dependentes do
senhor e ganham seus cargos seja por privilégios ou concessões feitas pelo
senhor, não há um estatuto e o senhor pode agir com livre arbítrio.
- Dominação
carismática: nesta forma de
dominação os dominados obedecem a um senhor em virtude do seu carisma ou seja, das
qualidades execpcionais que lhe conferem especial poder de mando. A
palavra carisma é de inspiração religiosa e, no contexto cristão, lembra
os dons conferidos pelo Espírito Santo aos cristãos. A palavra foi
reinterpretada em sentido sociológico como dons e carismas do próprio
indivíduo e, foi nesta forma que Weber a adotou. Weber considerou o
carisma uma força revolucionária na história, pois ele tinha o poder de
romper as formas normais de exercício do poder. Por outro lado, a
confiança dos dominados no carisma do líder é volúvel e esta forma de
dominação tende para a via tradicional ou legal.
A tipologia weberiana das formas de poder político diferente claramente
da tradição clássica, orientada pela discussão da teoria das formas de governo, oriunda
do mundo antigo (Platão e Aristóteles). Filiado à tradição realista de
pensamento, Weber também rejeita os pressupostos normativos e éticos da teoria
do poder e procura descrevê-lo em suas formas efetivas de exercício. Ao
demonstrar que o exercício do poder envolve a necessidade de legitimação da
ordem política e, ao mesmo tempo, sua institucionalização por meio de um quadro
administrativo, Weber apresentou os fundamentos básicos da sociologia política
da era contemporânea.
Além de uma rigorosa e sistemática sociologia política - alicerçada em
seus tipos de dominação - Max Weber foi um dos mais argutos analistas da
política alemã, que analisou durante o Segundo Império Alemão e durante os anos
iniciais da República
de Weimar. Crítico da política de Bismarck, líder que, ao
monopolizar o poder, deixou a nação sem qualquer nível de sofisticação
política, Weber sempre apontou a necessidade de reconstrução da liderança
política. No escrito O Estado Nacional e a Política Econômica, de 1895,
já mostrava como as diferentes classes sociais não se mostravam aptar a dirigir
a nação, seja pela sua decadência social (caso dos Junkers), seja pela sua
imaturidade política (caso da burguesia e do proletariado).
3. Sociologia da estratificação social Estratificação
social é a área da sociologia que se ocupa da pesquisa sobre a
posição dos indivíduos na sociedade e explicitação dos mecanismos que geram as
distinções sociais entre os indivíduos. Ao contrário de Marx, que explicava
estas diferenças apenas com base em fatores econômicos, Weber mostrou que as
hierarquias e distinções sociais obedecem à lógicas diferentes na esfera
econômica, social e política. Sob o aspecto econômico as classes sociais são
diferenciadas conforme as chances de oportunidades de vida, escalonando os
indivíduos em grupos positiva ou negativamente privilegiados. Do ponto de vista
social, indivíduos e agrupamentos sociais são valorizados conforme atributos de
valor, dando origens a diversos tipos de grupos de status. Diferente também é a lógica do
poder, em que os indivíduos agregam-se em diferentes partidos
políticos. A análise weberiana demonstra que existem diferentes
mecanismos sociais de distribuição dos bens sociais, como a riqueza (classe), a
honra ou prestígio social (grupos de status) e o poder (partidos) e que cada um
deles cria diferentes tipos de ordenamento, hierarquização e diferenciação
social.
4. Sociologia do Direito Jurista de formação, a análise da esfera jurídica não ficou de fora das
preocupações de Max Weber[11]. Ele dedicou um
amplo capítulo de Economia e Sociedade a este tema. O pano de fundo de toda sua
reflexão sobre a esfera das normas jurídicas é a tese da racionalização da vida
social, da qual o próprio direito é uma das expressões. Ao compreender
historicamente a evolução do direito, Weber destaca o crescente processo de
racionalização que lhe é inerente.
A racionalização do direito pode ser compreendida a partir de duas
variáveis: seu caráter material ou formal ou seu caráter racional e irracional.
São racionais todas as formas de legislação que seguem padrões fixos, ao
contrário do caráter aleatório dos métodos irracionais. Por outro lado, o
conteúdo do direito pode ser determinado por valores concretos, especialmente
de caráter ético, ou obedecer a critérios de ordem interna, ligados a sistemática
e ao processo jurídico em si mesmo, ou seja, a sua forma.
A apreciação weberiana do setor jurídico da vida social não se dedica
apenas a entender esta esfera de forma isolada. O direito possui uma ligação
direta tanto com a ordem política quanto com a ordem econômica. A evolução do
direito formal é um aspecto essencial do progressivo processo de burocratização
do Estado, bem como a estabilidade das normas jurídicas foi fundamental para a
consolidação de uma economia de mercado, pois esta requer uma ordem de
obrigações previsível. Direito, economia e política são ordens sociais de vida
que estão conectados e entrelaçados de forma direta[12].
Como teórico da evolução sócio-histórica do direito, Weber é um dos
precursores do chamado direito positivista, pois ele concebia o direito formal
como a forma mais avançada historicamente do sistema jurídico. Desta forma, Max
Weber está na raiz de importantes teóricos como o próprio Hans Kelsen, por exemplo,
condiderado o maior teórico do positivismo
jurídico.
Neutralidade axiológica
Nos anos finais de sua carreira, uma nova discussão dividiu os membros
da intelectualidade alemã no campo das ciências humanas: o papel dos valores na
atividade científica. Para os partidários mais antigos da Escola Alemã de
Economia, a ciência social deveria ser uma atividade orientada para a defesa de
pontos de vista fundamentados em normas, capazes de orientar a política estatal
e governamental. Para os membros mais jovens da escola econômica alemã, ao
contrário, a ciência não poderia ser a base para a escolha de valores que, em
última instância, são escolha dos próprios indivíduos.
Max Weber era partidário desta segunda posição e a defendeu no escrito
intitulado O sentido da neutralidade axiológica nas ciências políticas e
sociais. Embora a atividade científica esteja intrinsecamente ligada ao
mundo dos valores - pois toda pesquisa nasce das escolhas pessoais do
pesquisador - a autoridade da ciência não pode ser invocada para impor valores
aos indivíduos. Na visão weberiana, a modernidade está atravessada por um
conflito valorativo irredutível - a guerra dos deuses e o politeísmo de valores -. Seguindo a orientação
neo-kantiana, Weber isola do Sein do Sollen - ou seja, diferencia
a dimensão do ser da dimensão do dever ser - e entende que teoria
e prática são domínios separados. Na pesquisa social, o cientista deve isolar
seus pontos de vista subjetivos - seus juízos de valor - e orientar-se pela
exposição dos fatos, qual seja, deve expor juízos de fato. A ciência social
deve estar livre de juízos de valores (Wertfreiheit).
Separar pensamento e ação, contudo, não implica sacrificar o caráter
crítico da atividade científica. Ao cientista social cabe mostrar a íntima
vinculação de meios e fins, mostrando como os fins determinam a escolha dos
meios e, no sentido inverso, certos meios assentam-se em juízos valorativos.
Sem aderir a uma posição positivista (que sobredetermina a dimensão da teoria)
ou a uma posição marxista (que sobredetermina a dimensão da prática), a ciência
social na ótica weberiana respeita a autonomia da dimensão do saber e do fazer
sem perder o caráter crítico do conhecimento científico-social.
A ciência como vocação
As análises de Weber também contemplam o papel do conhecimento
científico no mundo moderno. Na famosa conferência A ciência como vocação[4], pronunciada em 7 de
novembro de 1917, em Munique, o pensador entendeu que a ciência era um dos
fatores fundamentais do processo de desencantamento do mundo.
Ele comparou a situação da universidade alemã com a realidade dos
Estados Unidos e advertiu seus ouvintes de que no futuro haveria um processo de
americanização da vida universitária, que seria cada vez mais parecida com
empresas estatais: professores assalariados e separação entre o produtor e os
meios de produção. De qualquer forma, a vida do cientista e suas suas chances
de promoção profissional ainda são bastante determinadas pelo papel do acaso e
da contingência. Ao mesmo tempo, os acadêmicos acabam sendo pressionados para
conciliar a difícil vocação para a pesquisa e para o ensino, o que abre espaço
para demagogos e diletantes.
Do ponto de vista pessoal, ele ressaltou que a vocação científica exige
dedicação: quem não se especializa em alguma área jamais pode almejar sucesso.
Contudo, mais do que dedicação, a vocação para a ciência também exige paixão
(dedicação à causa) e, além disso, inspiração para fazer uma obra relevante.
Somente quem vive voltado para a ciência pode ser chamado uma personalidade.
Do ponto de vista sociológico, Weber mostrou que a ciência faz parte de
um processo histórico geral de racionalização e intelectualização da vida.
Através da visão científica, a realidade é expurgada de seus elementos mágicos
e o sentido último da realidade é retirado do mundo, ficando a cargo das
religiões ou da própria consciência do indivíduo. Muitos autores apontam neste
escrito os ecos da tese da morte de
Deus, apresentada pelo filósofo Friedrich
Nietzsche. Para Weber, a modernidade achava-se dilacerada por um
conflito de valores - na linguagem de Weber, pela guerra dos deuses - e a
escolha do sentido último da vida era uma responsabilidade pessoal que não
poderia ser credita à ciência. Ao saber científico cabe a explicação dos
mecanismos de funcionamento do mundo, e não a determinação do ser verdadeiro,
da verdadeira arte, da verdadeira natureza, do verdadeiro Deus ou mesmo da
verdadeira felicidade.
Mas, apesar de retirar o sentido último do mundo, Weber destacou que a
ciência contribui com a vida do indivíduo, ao oferecer-lhe meios de domínio
prático da realidade, a capacidade de avaliar meios e fins e, acima de tudo,
clareza: ou seja, meios para pensar de forma lógica, sistemática e clara.
O destino de nosso tempo é marcado pela intelectualização e pelo
desencantamento do mundo. Diante desta realidade, cabe ao indivíduo escolher se
quer permanecer imerso na esfera religiosa (o que exige o sacrifício do
intelecto) ou se prefere arcar com as consequências de uma visão científica do
mundo, na qual não existe qualquer sentido último para a vida, o mundo e o
indivíduo. No mundo desencantando, o indivído deve dedicar-se às tarefas do dia
e assumir suas responsabilidades diante da vida: esta é a única forma de dar
sentido à própria existência.
Seguidores
Dentre os principais teóricos influenciados pelo pensamento weberiano,
podemos citar:
- Max Scheler
- Karl Jaspers
- Leopold von Wiese
- Karl Mannheim
- Alfred
Schütz
- Ervin Goffman
- Norbert Elias
- Ernest Gellner
- David Landes
- Anthony Giddens
Nos Estados Unidos, algumas obras de Weber foram traduzidas já na década
de 30, pelo eminente sociólogo Talcott Parsons. Este
pensador também incorporou algumas idéias weberianas em sua "teoria
voluntarista da ação" (desenvolvida em 1937). Nas décadas posteriores,
contudo, a leitura parsoniana de Weber foi sendo fortemente criticada, com
destaque para a coletânea de textos existentes em From Max Weber (1946),
organizada por Charles
Wright Mills e Hans Gerth. Na França, o pensamento weberiano foi
difundido por Raymond
Aron e Julien Freund e, mais recentemente, uma estudiosa destacada é
Catherine Colliot-Thélene.Na Alemanha, Jürgen Habermas concede a
Weber um papel fundamental em sua "Teoria da ação comunicativa",
descrevendo a sociologia weberiana da racionalização. Outro comentador
especializado e com muitas obras dedicadas ao tema é Wolfgang Schluchter.
No Brasil, além de autores clássicos como Sérgio
Buarque de Holanda e Raymundo Faoro, o
pensamento weberiano é descrito por estudiosos como Gabriel Cohn, Maurício
Tragtenberg, José
Guilherme Merquior e, atualmente, Antônio
Flávio Pierucci e Jessé Souza.
Cronologia
- 21 de Abril de 1864 - Max Weber nasce
em Erfurt. Os pais são o jurista e mais tarde deputado do parlamento
imperial (Reichstag) pelo partido nacional-liberal, Max Weber e Helene
(nascida na família Fallenstein)
- 1882 - 1886 - estudos de
Direito, Economia Nacional, Filosofia e História
- 1889 - doutoramento em
Direito
- 1892 - habilitação em
direito canónico romano e direito comercial (em Berlim)
- 1893 - obteve uma
posição temporária na Universidade de Berlim. Casamento com Marianne
Schnitger (1870
- 1954), que será mais
tarde activista pelos direitos da mulher e socióloga
- 1894 - assume a
posição de professor de Economia
na Universidade de Freiburg
- 1897 - professor de
Economia Nacional na Universidade de Heidelberg
- 1898 - em virtude de
uma crise familiar, Weber sofre um colapso nervoso e abandona o trabalho
académico, sendo internado periodicamente até 1903
- 1904 - regressa à
actividade profissional. Actividade redactorial no jornal "Archiv für
Sozialwissenschaft und Sozialpolitik", que se tornou o jornal líder
da ciência social alemã. Weber fez neste ano uma viagem aos Estados Unidos, onde
deu aulas
- 1907 - recebe uma
herança que o liberta de quaisquer preocupações financeiras
- 1909 - é cofundador da
sociedade Alemã de Sociologia
- 1914 - 1918 - Primeira guerra mundial, em 1914, Weber acolhe
entusiasticamente o início da Guerra (um nacionalismo militarista muito
comum na altura, partilhado entre outros por Thomas Mann).
Inscreveu-se como voluntário no exército (Reichswehr). Em 1915 mudou de ideias,
tornando-se um pacifista
- 1917 - nos Colóquios
de Lauenstein apela à continuação da guerra, ao mesmo tempo defendendo o
retorno ao parlamentarismo
- 1918 - cofundador do
partido democrático alemão (Deutsch-Demokratische Partei; o DDP)
- 1919 - convocado como
conselheiro para a delegação alemã na conferência do Tratado
de Versalhes. Foi também nomeado professor de economia nacional
na Universidade de Munique
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