Eduardo Galeano, Getúlio Vargas e a Petrobrás
Por coincidência, Eduardo Galeano morre no momento em que estou lendo a sua monumental obra de 853 páginas, "Memória do Fogo", trilogia com os subtítulos Os nascimentos, As caras e as máscaras e o Século do vento.,
Publicado no Brasil em 2013, na página 703 Galeano nos oferece o verbete "Getúlio", um brevíssimo texto que calha muito bem aos tempos atuais de um país que luta contra inimigos internos, luta que tem na Petrobrás uma espécie de ícone. Diz Galeano:
"(1954, Rio de Janeiro)
Getúlio
Quer apagar a memória de sua própria ditadura, velho tempo policial e sinistro, e nestes últimos anos governa o Brasil como ninguém nunca tinha governado.
Coloca-se ao lado dos salários, não dos lucros. Imediatamente os empresários se declaram em guerra.
Para que o Brasil não seja um coador, tampa a hemorragia de riquezas. Imediatamente os capitais estrangeiros se lançam à sabotagem.
Recupera o petróleo e a energia, que são a soberania nacional, tanto ou mais que o hino e a bandeira. Imediatamente os monopólios, ofendidos, respondem com uma ofensiva feroz.
Defende o preço do café sem atirar na fogueira, como era costume, a metade da colheita. Imediatamente os Estados Unidos reduzem suas compras pela metade.
No Brasil, jornalistas e políticos de todas as cores e comarcas somam suas vozes ao coro do escândalo.
Getúlio Vargas governou em pé. Quando o obrigaram a se curvar, escolhe a dignidade da morte. Ergue o revólver, aponta o próprio coração e dispara".
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