segunda-feira, 21 de abril de 2014

NÃO MORRA NO SÁBADO

Família faz enterro por conta própria

O cemitério público do Girassol, no conjunto Júlia Seffer, em Ananindeua, foi local de um fato inusitado na tarde de ontem (20). Familiares e amigos de Cristiano da Silva Flausino, jovem de 19 anos morto na madrugada de sexta para sábado, em Águas Lindas, enterraram o corpo do ente querido por conta própria no cemitério público.

De acordo com Kleberson Flausino, tio do falecido, o corpo do jovem foi liberado do Instituto Médico Legal (IML) por volta das 23h30 do sábado. Por volta das 7h de ontem, Kleberson se dirigiu ao Complexo Funerário de Ananindeua, próximo à sede da Prefeitura de Ananindeua, para solicitar o enterro do sobrinho. “Quando cheguei lá eles me disseram que não havia possibilidade do sepultamento de mais de três pessoas no domingo e que já haviam atingido esse número e que só poderiam enterrar meu sobrinho na segunda-feira (21) a parti das 14 horas.”

Kleberson também alega que enquanto estava no Complexo Funerário, conversou por telefone com uma mulher que teria se identificado como Silvia e era coordenadora do Complexo Funerário. “Ela me falou que nem se fosse a mãe dela que fosse enterrada, ela poderia fazer alguma coisa”, afirma.

Insatisfeito com a situação, Kleberson por volta do meio dia de ontem foi até o Cemitério Público do Girassol, no conjunto Júlia Seffer, para tentar junto à administração uma possibilidade do enterro do seu sobrinho, mas foi informado que a administração não poderia fazer nada sem o aval da Prefeitura, por meio do Complexo Funerário. No cemitério, ele viu que havia cinco covas recém-fechadas e não três, como o haviam informado no Complexo Funerário. A família decidiu enterrar o corpo de Cristiano da Silva por conta própria no cemitério, mesmo sem autorização da Prefeitura.

Kleberson alega que a urgência do enterro tem uma justificativa. “O corpo do meu sobrinho já estava desde a noite de sábado em casa, ele estava todo inchado e fedendo. Uma vizinha reclamou do mau cheiro. Além disso tudo, hoje de manhã, por volta das 6h, minha família teve que chamar a Polícia porque as pessoas que mataram meu sobrinho queriam invadir a nossa casa para retirar o corpo dele”, declara. A situação deixou parentes revoltados. Para Clísia Flausino, mãe de Cristiano, “Eu acho isso tudo uma enorme burocracia. Como eu vou deixar meu filho apodrecer dentro de casa?”, questiona.

Os familiares saíram com o corpo por volta das 15h30 do bairro de Águas Lindas em direção ao cemitério público do Girassol. O transporte foi feito por uma funerária particular. A família também solicitou que a Polícia Militar fizesse a guarnição do trajeto, com medo que os desafetos do falecido pudessem querer roubar o corpo no meio do caminho.

Polícia esteve presente para garantir segurança
Três viaturas da PM acompanharam o percurso. O soldado Paranhas era um dos PMs que acompanhavam os familiares durante o trajeto do enterro. Ele confirmou a tentativa de invasão na casa da família, que resultou inclusive em confronto com a Polícia. “Quando a família acionou o CIOP, nós fomos para lá por volta das 6h da manhã deste domingo e 15 homens armados estavam tentando invadir a casa e tirar o corpo do rapaz de lá. Houve troca de tiros com a Polícia e uma de nossas viaturas foi atingida. A família solicitou e nós viemos aqui dar apoio na segurança deles”, afirmou.

Os familiares e amigos de Cristiano chegaram ao cemitério por volta das 16h15. Levando suas próprias ferramentas, eles entraram no cemitério, que estava sem nenhum vigilante, e começaram a cavar em uma cova que já havia sido aberta pela metade. A administração do cemitério também não se encontrava no local. Kleberson afirma que chegou a conversar com a administradora logo que chegou, mas ela foi embora minutos depois.

Por volta das 16h30, um carro da Remoção do Complexo Funerário chegou ao local com Érica Santana, coordenadora do Cemitério Público Girassol. Ela informou à equipe do Diário sobre a rotina dos enterrar. “Os enterros ocorrem diariamente de segunda a sexta, sem um número máximo específico. O funcionamento é de 8h às 17h. Porém nos finais de semana são permitidos apenas três enterros por dia porque os coveiros só trabalham até meio-dia”.

Questionada sobre haver cinco túmulos no domingo, quando o limite é três, a coordenadora justifica: “Quando nós temos uma alta demanda no final de semana, permitimos que mais duas covas sejam abertas. No caso das cinco covas aqui presentes as famílias solicitaram o enterro antes da família do senhor Kleberson, mas o enterro do sobrinho dele foi agendado para segunda-feira (21) a partir das 7h da manhã”, relata.

Por telefone, a equipe do Diário do Pará conversou com a coordenadora do Complexo Funerário, Silvia Brito, ocasião em que declarou que não conversou com Kleberson Flausino, mas confirmou o agendamento do enterro para segunda-feira (21). “Esta é uma situação constrangedora para nós e a família. Nós não nos recusamos a atender a família do senhor Kleberson, cujo enterro ficou marcado para segunda(21). Os sepultamentos ocorrem nos finais de semana até às 12h. Houve um erro da empresa particular contratada pela família que trouxe o corpo para ser enterrado hoje”. Sobre a atitude da família, Silva declarou “Nós vamos fazer um boletim de ocorrência junto à Polícia contra os envolvidos por invasão de patrimônio público”

Por volta das 17h30 o corpo de Cristiano começou a ser enterrado pelos familiares e amigos. Aglomerados ao redor da cova, o momento de descida do caixão pelos próprios familiares foi acompanhado de lamentos e choros.

DESMAIO

Crísia Flausino, mãe de Cristiano, não suportou a emoção e desmaiou no momento do enterro, sendo levada por familiares para o hospital na van da funerária contratada pela família. Ao final do enterro Kleberson Flausino declarou que ainda irá atrás do desfecho da situação. “Amanhã irei novamente ao Complexo Funerário para verificar a situação dos papéis do enterro.”.

Por volta das 18, após a saída dos familiares e amigos de Cristiano, duas viaturas da Guarda Municipal de Ananindeua chegaram no Girassol, onde acompanharam a coordenadora do cemitério até a Central de Flagrantes da Cidade Nova, para registrar boletim de ocorrência por invasão de patrimônio público.

(Diário do Pará)

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