sábado, 20 de outubro de 2012

QUANDO A FICÇÃO E REALIDADE SE MISTURAM

 “Da minha maneira maluca, eu te amei. Eu gostava de ser sua esposa perfeita, de ter uma família” - Carmem Lúcia, ou Carminha para os íntimos

Carminha (Adriana Esteves) era tão boa em enganar os outros que acreditou na própria mentira. Ela não amava Tufão (Murilo Benício). Nem a filha, nem a sogra, nem a cunhada... Ela amava enganar aquela família. Isso a fazia se sentir superior. Esse era seu vício. Foi por isso que ela nunca fugiu com Max (Marcello Novaes). Foi por isso que decidiu terminar seus dias no lixão.
 
A redenção de Carminha pode ter decepcionado seus fãs, mas foi crível. Ela veio sendo preparada desde que a megera foi desmascarada pela família Tufão. Antes de ir embora, em um raro momento de sinceridade, ela deu uma pista: “Você vai ver, eu sou uma vítima”.
 
Em seguida, o autor apresentou um lote de desgraças do passado misterioso da loira parar amolecer o coração dos telespectadores: viu a mãe ser assassinada, foi violentada pelo pai, abandonada no lixão... E dá-lhe cara de sofrimento, momentos de arrependimento, sinais de que não deixaria Tufão morrer.
Salvar a vida do ex-marido e de Nina (Débora Falabella) no último capítulo não apaga todas as maldades cometidas por ela contra a ex-enteada, a filha, todos os moradores da mansão e agregados. Mas isso já estava certo na cabeça do autor quando Carneiro decidiu que ela seria a assassina de Max.
Carminha se arrependeu, perdoou Nina, que perdoou Carminha, mas manteve sua essência. Apenas aprendeu a controlar seu lado negro, como boa parte dos seres humanos. Os internautas que foram responsáveis por fazer de Carminha uma rainha, detestaram a reconciliação da dupla. Isso também era previsível. A missão deles é fazer barulho.
 
No resto, foi aquela coisa de despedida de novela: gravidez, solteiros se acertando, casamento, bandidos sendo presos... O autor aproveitou para alfinetar a sociedade que não permite cenas homossexuais, mas aceita tranquilamente um homem ter três mulheres em cena.
 
Já o segredo de Adauto (Juliano Cazarré) era mesmo aquele que fora divulgado pela imprensa: ele chupava chupeta! Para fechar com chave de ouro, ele se livrou o objeto, voltou a jogar, foi responsável pela vitória do Divino F.C. e sua ascensão à Série A do futebol brasileiro.
 
Por ter que gravar tudo em sigilo, o capítulo teve furos, claro. Adauto estudou até os 15 anos e não aprendeu a ler? A faca que Janaína cortou Max estava limpa, mas o delegado jurou que fez exame com o sangue encontrado lá. Como pode o capanga de Santiago (Juca de Oliveira) estar fugindo da polícia com um dos bandidos mais procurados do país com R$ 20 milhões do sequestro de um ídolo do esporte nacional sem nenhuma arma?
 
E o tal shopping do Divino não saiu do papel? Nunca mais se falou do empreendimento, assim como não se sabe que fim levou Santiago após passar um tempo no hospital depois de levar um tiro no pé!
Antes uma produção imperfeita e que nos mobilize do que uma trama perfeitinha que não nos toca. Emoção e suspense não faltaram durante 179 capítulos. Prova disso foi o País ter parado para assistir ao episódio derradeiro da turma do Divino. Até a presidente Dilma Rousseff cancelou seus compromissos para acompanhar a despedida de Tufão & Cia. Assim também foi na década de 70 quando  o Brasil cantava "80 milhões em ação! pra frente Brasil, salve a seleção ...." estava acontecendo a guerrilha no Araguaia e o resto do país anestesiado pelo futebol.
 
Na Escola Paulo Mendes no Icui, quebrei as regras do dia da avaliação em plena sala de aula lotada, pois é assim que ficam as salas em dia de avaliação, por telefone recebia mensagens do resumo a cada intervalo da novela, e lia em voz alta, a cada pronunciamento era uma alegria das mulheradas, enquanto lá fora no portão o professor de ARTE estava sendo assaltado e sua moto levada covardemente por três larapios, e a polícia assistia a novela, nada de condenavel se a mandatária maxima assistia por que não a polícia ?
  
“Avenida Brasil” foi responsável por transformar uma típica sexta-feira em final de Copa do Mundo. Algo que há muito tempo não se via por aqui. Muita gente comparou a morte de Max a de Odete Roitman (Beatriz Segall) em “Vale Tudo”, em 1989. Mas não podemos esquecer que o assassino em série de “A Próxima Vítima”, em 1995, também mobilizou muita gente.
 
O fato é que João Emanuel Carneiro foi responsável por trazer de volta o antigo costume brasileiro de ver novela. Muita gente se reuniu para assistir aos momentos mais épicos do folhetim. Pelas redes sociais, era fácil encontrar quem vivesse de comentar a novela, criar realidades paralelas. Nos últimos sete dias, o assunto não foi outro que não a trama do horário nobre.
 
Por conta da imprensa, a única surpresa do dia foi o congelamento da bandeira do time do Divino. Por sinal, muito justa em meio a tantas feras no elenco. Ainda assim, não estamos totalmente livres de “Avenida Brasil”. A repercussão em torno do “grand finale” deve seguir durante todo o sábado (20) até terminar a reprise do último capítulo.
 
Ai, sim, será fim, fim, fim e Salve Jorge! ou Salve-se quem puder.

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