Revolução
Francesa
Queda da
Bastilha em 14 de julho de 1789.
Participantes
Sociedade francesa
Localização
França
Data
1789–1799
Resultado
Abolição e substituição da monarquia francesa, com uma república democrática
radical. Radical mudança social para formulários com base em princípios
iluministas de cidadania e de direitos inalienáveis.
Conflitos
armados com outros países europeus
Revolução
Francesa é o nome dado ao conjunto de acontecimentos que, entre 5 de maio de
1789 e 9 de novembro de 1799, alteraram o quadro político e social da França.
Ela começa com a convocação dos Estados Gerais e a Queda da Bastilha e se
encerra com o golpe de estado do 18 de brumário de Napoleão Bonaparte. Em causa
estavam o Antigo Regime (Ancien Régime) e os privilégios do clero e da nobreza.
Foi influenciada pelos ideais do Iluminismo e da Independência Americana
(1776). Está entre as maiores revoluções da história da humanidade.
A
Revolução é considerada como o acontecimento que deu início à Idade
Contemporânea. Aboliu a servidão e os direitos feudais e proclamou os
princípios universais de "Liberdade, Igualdade e Fraternidade"
(Liberté, Egalité, Fraternité), frase de autoria de Jean-Jacques Rousseau. Para
a França, abriu-se em 1789 o longo período de convulsões políticas do século
XIX, fazendo-a passar por várias repúblicas, uma ditadura, uma monarquia
constitucional e dois impérios.
A França
tomada pelo Antigo Regime era um grande edifício construído por cinquenta
gerações, por mais de quinhentos anos. As suas fundações mais antigas e mais
profundas eram obras da Igreja, estabelecidas durante mil e trezentos anos.
A
sociedade francesa do século XVIII mantinha a divisão em três Ordens ou Estados
típica do Antigo Regime – Clero ou Primeiro Estado, Nobreza ou Segundo Estado,
e Povo ou Terceiro Estado – cada qual regendo-se por leis próprias
(privilégios), com um Rei absoluto (ou seja, um Rei que detinha um poder
supremo independente) no topo da hierarquia dos Estados. O Rei fora antes de
tudo o obreiro da unidade nacional através do seu poder independente das
Ordens, significando que era ele quem tinha a última palavra sobre a justiça, a
economia, a diplomacia, a paz e a guerra, e quem se lhe opusesse teria como
destino a prisão da Bastilha. A França sofrera uma evolução assinalável nos
últimos anos: não havia censura, a tortura fora proibida em 1788, e a
representação do Terceiro Estado nos Estados Gerais acabava de ser duplicada
para contrariar a Nobreza e o Clero que não queriam uma reforma dos impostos.
Em 14 de julho de 1789, quando a Bastilha foi tomada pelos revolucionários,
albergava oito prisioneiros.
Com a
exceção da nobreza rural, a riqueza das restantes classes sociais na França
tinha crescido imensamente nas últimas décadas. O crescimento da indústria era
notável. No Norte e no Centro, havia uma metalurgia moderna (Le Cresot data de
1781); em Lyon havia sedas; em Rouen e em Mulhouse havia algodão; na Lorraine
havia o ferro e o sal; havia lanifícios em Castres, Sedan, Abbeville e Elbeuf;
em Marselha havia sabão; em Paris havia mobiliário, tanoaria e as indústrias de
luxo, etc..
Existia
uma Bolsa de Valores, vários bancos, e uma Caixa de Desconto com um capital de
cem milhões que emitia notas. Segundo Jacques Necker, a França detinha, antes
da Revolução, metade do numerário existente na Europa. Nobres e burgueses
misturavam muitos capitais em investimentos. Antes da Revolução, o maior
problema da indústria francesa era a falta de mão de obra.
Desde a
morte do rei Luís XIV, o comércio com o exterior tinha mais do que
quadruplicado. Em 1788, eram 1,061 milhões de livres, um valor que só se
voltará a verificar depois de 1848. Os grandes portos, como Marselha, Bordéus,
Nantes, floresciam como grandes centros cosmopolitas. O comércio interior
seguia uma ascensão paralela.
Sabendo-se
que existia uma burguesia tão enriquecida, muitos historiadores colocaram a
hipótese de haver uma massa enorme de camponeses famintos. Na França, o imposto
rural por excelência era a "taille", um imposto recolhido com base
nos sinais exteriores de riqueza, por colectores escolhidos pelos próprios
camponeses. A servidão dos campos, que ainda se mantinha em quase todos os
países da Europa, persistia apenas em zonas recônditas da França, e sob forma
muito mitigada, no Jura e no Bourbonnais. Em 1779, o Rei tinha apagado os
últimos traços de servidão nos seus domínios, tendo sido imitado por muitos
senhores.
Ao longo
da História, a miséria tem provocado muitos motins, mas em regra não provoca
revoluções. A situação da França, antes da Revolução, era a de um Estado pobre
num país rico.
Causas da
Revolução Francesa
Os
sans-culottes eram artesãos, trabalhadores e até pequenos proprietários que
viviam nos arredores de Paris. Recebiam esse nome porque não usavam os
elegantes calções que a nobreza vestia, mas uma calça de algodão grosseira.As
causas da revolução francesa são remotas e imediatas. Entre as do primeiro
grupo, há de considerar que a França passava por um período de crise
financeira. A participação francesa na Guerra da Independência dos Estados
Unidos da América, a participação (e derrota) na Guerra dos Sete Anos, os
elevados custos da Corte de Luís XVI, tinham deixado as finanças do país em mau
estado.
Os votos
eram atribuídos por ordem (1- clero, 2- nobreza, 3- Terceiro Estado) e não por
cabeça. Havia grandes injustiças entre as antigas ordens e ficava sempre o
Terceiro Estado prejudicado com a aprovação das leis.
Os
chamados Privilegiados estavam isentos de impostos, e apenas uma ordem
sustentava o país, deixando obviamente a balança comercial negativa ante os
elevados custos das sucessivas guerras, altos encargos públicos e os supérfluos
gastos da corte do rei Luís XVI.
O rei
Luís XVI acaba por convidar o Conde Turgot para gerir os destinos do país como
ministro e implementar profundas reformas sociais e econômicas.
Sociais
O
Terceiro-Estado carregando o Primeiro e o Segundo Estados nas costas.A
sociedade francesa da segunda metade do século XVIII possuía dois grupos muito
privilegiados: o Clero ou Primeiro Estado, composto pelo Alto Clero, que
representava 0,5% da população francesa, era identificado com a nobreza e
negava reformas, e pelo Baixo Clero, identificado com o povo, e que as
reclamava; a Nobreza, ou Segundo Estado, composta por uma camada palaciana ou
cortesã, que sobrevivia à custa do Estado, por uma camada provincial, que se
mantinha com as rendas dos feudos, e uma camada chamada Nobreza Togada, em que
alguns juízes e altos funcionários burgueses adquiriram os seus títulos e
cargos, transmissíveis aos herdeiros. Aproximava-se de 1,5% dos habitantes.
Esses
dois grupos (ou Estados) oprimiam e exploravam o Terceiro Estado, constituído
por burgueses, camponeses sem terra e os "sans-culottes", uma camada
heterogênea composta por artesãos, aprendizes e proletários, que tinham este
nome graças às calças simples que usavam, diferentes dos tecidos caros utilizados
pelos nobres. Os impostos e contribuições para o Estado, o clero e a nobreza
incidiam sobre o Terceiro Estado, uma vez que os dois últimos não só tinham
isenção tributária como ainda usufruíam do tesouro real por meio de pensões e
cargos públicos.
A França
ainda tinha grandes características feudais: 80% de sua economia era agrícola.
Quando uma grande escassez de alimentos ocorreu devido a uma onda de frio na
região, a população foi obrigada a mudar-se para as cidades e lá, nas fábricas,
era constantemente explorada e a cada ano tornava-se mais miserável. Vivia à
base de pão preto e em casas de péssimas condições, sem saneamento básico e
vulneráveis a muitas doenças.
A
reavaliação das bases jurídicas do Antigo Regime foi montada à luz do
pensamento Iluminista, representado por Voltaire, Diderot, Montesquieu, John
Locke, Immanuel Kant etc. Eles forneceram pensamentos para criticar as
estruturas políticas e sociais absolutistas e sugeriram a idéia de uma maneira
de conduzir liberal burguesa. A situação social era tão grave e o nível de
insatisfação popular tão grande que o povo foi às ruas com o objetivo de tomar
o poder e arrancar do governo a monarquia comandada pelo rei Luis XVI. O
primeiro alvo dos revolucionários foi a Bastilha. A Queda da Bastilha em 14 de
Julho de 1789 marca o início do processo revolucionário, pois a prisão política
era o símbolo da monarquia francesa.
Econômicas
A causa
mais forte de Revolução foi a econômica, já que as causas sociais, como de
costume, não conseguem ser ouvidas por si sós. Os historiadores sugerem o ano
de 1789 como o início da Revolução Francesa. Mas esta, por uma das
"ironias" da história, começou dois anos antes, com uma reação dos
notáveis franceses - clérigos e nobres - contra o absolutismo, tendo sido inspirada
em idéias iluministas, e se pretendia reformar e para isso buscava limitar seus
privilégios. Luís XVI convocou a nobreza e o clero para contribuírem no
pagamento de impostos, na altamente aristocrática Assembleia dos Notáveis
(1787).
No meio
do caos econômico e do descontentamento geral, Luís XVI da França não conseguiu
promover reformas tributárias, impedido pela nobreza e pelo clero, que não
"queriam dar os anéis para salvar os dedos". Não percebendo que seus
privilégios dependiam do Absolutismo, os notáveis pediram ajuda à burguesia
para lutar contra o poder real - era a Revolta da Aristocracia ou dos Notáveis
(1787-1789). Eles iniciaram a revolta ao exigir a convocação dos Estados Gerais
para votar o projeto de reformas.
Jacques
Necker.Por sugestão do Ministro dos assuntos econômicos à época, Jacques
Necker, o rei Luís XVI convocou a Assembléia dos Estados Gerais, instituição
que não era reunida desde 1614. Os Estados Gerais reuniram-se em maio de 1789
no Palácio de Versalhes, com o objetivo de acalmar uma revolução de que já
falava a burguesia.
As causas
econômicas também eram estruturais. As riquezas eram mal distribuídas; a crise
produtiva manufatureira estava ligada ao sistema corporativo, que fixava
quantidade e condições de produtividade. Isso descontentou a burguesia.
Outro
fator econômico foi a crise agrícola, que ocorreu graças ao aumento
populacional. Entre 1715 e 1789, a população francesa cresceu
consideravelmente, entre 8 e 9 milhões de habitantes. Como a quantidade de
alimentos produzida era insuficiente e as geadas abatiam a produção
alimentícia, o fantasma da fome pairou sobre os franceses.
Política
Em
fevereiro de 1787, o ministro das finanças, Loménie de Brienne, submeteu a uma
Assembleia de Notáveis, escolhidos de entre a nobreza, clero, burguesia e
burocracia, um projeto que incluía o lançamento de um novo imposto sobre a
propriedade da nobreza e do clero. Esta Assembleia não aprovou o novo imposto,
pedindo que o rei Luís XVI convocasse os Estados-Gerais. Em 8 de agosto, o rei
concordou, convocando os Estados Gerais para maio de 1789. Fazendo parte dos
trabalhos preparatórios da reunião dos Estados Gerais, começaram a ser escritos
os tradicionais cahiers de doléances, onde se registraram as queixas das três
ordens. O Parlamento de Paris proclama então que os Estados Gerais se deveriam
reunir de acordo com as regras observadas na sua última reunião, em 1614.
Aproveitando a lembrança, o Clube dos Trinta começa imediatamente a lançar
panfletos defendendo o voto individual inorgânico - "um homem, um
voto" - e a duplicação dos representantes do Terceiro Estado. Várias
reuniões de Assembleias provinciais, como em Grenoble, já o haviam feito.
Jacques Necker, de novo ministro das finanças, manifesta a sua concordância com
a duplicação dos representantes do Terceiro Estado, deixando para as reuniões
dos Estados a decisão quanto ao modo de votação – orgânico (pelas ordens) ou
inorgânico (por cabeça). Serão eleitos 291 deputados para a reunião do Primeiro
Estado (Clero), 270 para a do Segundo Estado (Nobreza), e 578 deputados para a
reunião do Terceiro Estado (burguesia e pequenos proprietários). Entretanto,
multiplicam-se os panfletos, surgindo nobres como o conde d'Antraigues, e
clérigos como o bispo Sieyès, a defender que o Terceiro estado era todo o
Estado. Escrevia o bispo Sieyès, em janeiro de 1779: “O que é o terceiro
estado? Tudo. O que é que tem sido até agora na ordem política? Nada. O que é
que pede? Tornar-se alguma coisa”. A reunião dos Estados Gerais, como previsto,
vai iniciar-se em Versalhes no dia 5 de maio de 1789.
A
Revolução
A
Revolução Francesa pode ser subdividida em quatro períodos: a Assembléia
Constituinte, a Assembléia Legislativa, a Convenção e o Diretório.
A Queda
da Bastilha, símbolo mais radical e abrangente das revoluções burguesas.O
período da Assembleia Constituinte decorre de 9 de julho de 1789 a 30 de
setembro de 1791. As primeiras ações dos revolucionários deram-se quando, em 17
de junho, a reunião do Terceiro Estado se proclamou "Assembléia
Nacional" e, pouco depois, "Assembléia Nacional Constituinte".
Em 12 de julho, começam os motins em Paris, culminando em 14 de julho com a
tomada da prisão da Bastilha, símbolo do poder real e depósito de armas. Sob
proposta de dois aristocratas, o visconde de Noailles e do duque de Aiguillon,
a Assembleia suprime todos os privilégios das comunidades e das pessoas, as
imunidades provinciais e municipais, as banalidades, e os direitos feudais.
Pouco depois, aprovava-se a solene "Declaração dos direitos do Homem e do
Cidadão". O lema dos revolucionários era "Liberdade, Igualdade e
Fraternidade", mas logo em 14 de junho de 1791, se aprovou a Lei de Le
Chapelier que proibia os sindicatos de trabalhadores e as greves, com penas que
podiam ir até à pena de morte. Em 19 de abril de 1791, o Estado nacionaliza e
passa a administrar todos os bens da Igreja Católica, sendo aprovada em julho a
Constituição Civil do Clero, por intermédio da qual os padres católicos passam
a ser funcionários públicos.
O período
da Assembléia Legislativa decorre de 8 de outubro de 1791, quando se dá a
primeira reunião da Assembléia Legislativa, até aos massacres de 2 a 7 de
setembro do ano seguinte. Sucedem-se os motins de Paris provocados pela fome; a
França declara guerra à Áustria; dá-se o ataque ao Palácio das Tulherias; a
família real é presa, e começam as revoltas monárquicas na Bretanha, Vendeia e
Delfinado.
Entra o
período da Convenção Nacional, de 20 de setembro de 1792 até 26 de outubro de
1795. A Convenção vem a ficar dominada pelos jacobinos (partido da pequena e
média burguesia, liderado por Robespierre), criando-se o Comitê de Salvação
Pública e o Comitê de Segurança Geral iniciando-se o reino do Terror. A
monarquia é abolida e muitos nobres abandonam o país, vindo a família de Luís
XVI a ser guilhotinada em 1793.
Vai
seguir-se o período do Diretório até 1799, também conhecido como o período da
"Reação Termidoriana". Um golpe de Estado armado desencadeado pela
alta burguesia financeira marca o fim de qualquer participação popular no
movimento revolucionário. Foi um período autoritário assente no exército (então
restabelecido após vitórias realizadas em campanhas externas). Elaborou-se uma
nova Constituição, com o propósito de manter a alta burguesia (girondinos)
livre de duas grandes ameaças: o jacobinismo e o ancien régime.
O golpe
do 18 de Brumário em 9 de novembro de 1799 põe fim ao Diretório, iniciando-se a
Era Napoleônica sob a forma do Consulado, a que se segue a Ditadura e o
Império.
A
Revolução Francesa semeou uma nova ideologia na Europa, conduziu a guerras,
acabando por ser derrotada pela instalação do Império e, depois da derrota de
Napoleão Bonaparte, pelo retorno a uma Monarquia na qual o rei Luís XVIII vai
outorgar uma Carta Constitucional.
A
Assembleia Constituinte
Sessão
inaugural dos Estados Gerais, em Versalhes (1789).Os deputados dos três estados
eram unânimes em um ponto: desejavam limitar o poder real, à semelhança do que
se passava na vizinha Inglaterra e que igualmente tinha sido assegurado pelos
norte-americanos nas suas constituições. No dia 5 de maio, o rei mandou abrir a
sessão inaugural dos Estados Gerais e, em seu discurso, advertiu que não se
deveria tratar de política, isto é, da limitação do poder real, mas apenas da
reorganização financeira do reino e do sistema tributário.
O clero e
a nobreza tentaram diversas manobras para conter o ímpeto reformista do
Terceiro Estado, cujos representantes comparecem à Assembléia apresentando as
reclamações do povo (materializadas nos "Cahiers de Doléances"). Os
deputados da nobreza e do clero queriam que as eleições fossem por estado
(clero, um voto; nobreza, um voto; povo, um voto), pois assim, já que clero e a
nobreza comungavam os mesmos interesses, garantiriam seus privilégios.
O
terceiro estado queria que a votação fosse individual, por deputado, porque,
contando com votos do baixo clero e da nobreza liberal, conseguiria reformar o
sistema tributário do reino. Ante a impossibilidade de conciliar tais
interesses, Luís XVI tentou dissolver os Estados Gerais, impedindo a entrada
dos deputados na sala das sessões. Os representantes do Terceiro Estado
rebelaram-se e invadiram a sala do jogo da péla (espécie de tênis em quadra
coberta), em 15 de junho de 1789, e transformaram-se na Assembléia Nacional,
jurando só se separar após a votação de uma constituição para a França
(Juramento da Sala do Jogo da Péla). Em 9 de julho de 1789, juntamente com
muitos deputados do baixo clero, os Estados Gerais autoproclamaram-se
Assembleia Nacional Constituinte.
O
Juramento da Péla.Essa decisão levou o rei a tomar medidas mais drásticas,
entre as quais a demissão do ministro Jacques Necker, conhecido por suas
posições reformistas. Em razão disso, a população de Paris se mobilizou e tomou
as ruas da cidade. Os ânimos mais exaltados conclamavam todos a tomar as armas.
O rei
decidiu reagir fechando a Assembléia, mas foi impedido por uma sublevação
popular em Paris, reproduzida a seguir em outras cidades e no campo.
O Conde
de Artois (futuro Carlos X) e outros dirigentes reacionários, defrontados a
tais ameaças, fugiram do país, transformando-se no grupo dos émigrés. A
burguesia parisiense, temendo que a população da cidade aproveitasse a queda do
antigo sistema de governo para recorrer à ação direta, apressou-se a
estabelecer um governo provisório local, a Comuna. Este governo popular, em 13
de julho, organizou a Guarda Nacional, uma milícia burguesa para resistir tanto
a um possível retorno do rei, quanto a uma eventual mais violenta da população
civil, cujo comando coube ao deputado da Assembléia e herói da independência
dos Estados Unidos, Marie Joseph Motier, o Marquês de La Fayette.
A
bandeira dos Bourbons foi substituída por uma tricolor (azul, branca e
vermelha), que passou a ser a bandeira nacional. E, em toda a França, foram
constituídas unidades da milícia e governos provisórios.
A Tomada
da Bastilha, por Jean-Pierre Louis Laurent Houel.Enquanto isso, os
acontecimentos precipitaram-se e a agitação tomou conta das ruas: em 13 de
julho constituíram-se as Milícias de Paris, organizações militares-populares.
No dia 14 de julho, populares armados invadiram o Arsenal dos Inválidos, à
procura de munições e, em seguida, invadiram a Bastilha, uma fortaleza que fora
transformada em prisão política, mas que já não era a terrível prisão de outros
tempos. Dentro da prisão, estavam apenas sete condenados: quatro por roubo,
dois nobres por comportamento imoral, e um por assassinato. A intenção inicial
dos rebeldes ao tomar a Bastilha era se apoderar da pólvora lá armazenada. Caiu
assim um dos símbolos do Absolutismo. A Queda da Bastilha causou profunda
emoção nas províncias e acelerou a queda dos intendentes. Organizaram-se novas
municipalidades e guardas nacionais.
A partir
de então, a revolução estendeu-se ao campo, com maior violência: os camponeses
saquearam as propriedades feudais, invadiram e queimaram os castelos e
cartórios, para destruir os títulos de propriedade das terras (fase do Grande
Medo). Temendo o radicalismo, na noite de 4 de agosto, a Assembléia Nacional
Constituinte aprovou a abolição dos direitos feudais, gradualmente e mediante
amortização, além de as terras da Igreja haverem sido confiscadas. Daí por
diante, a igualdade jurídica seria a regra.
A
Elaboração de uma Constituição
Declaração
dos Direitos do Homem e do Cidadão. A Assembléia Nacional Constituinte aprovou
a legislação, pela qual era abolido o regime feudal e senhorial e suprimido o
dízimo. Outras leis proibiram a venda de cargos públicos e a isenção tributária
das camadas privilegiadas. E, para dar continuidade ao trabalho, decidiu pela
elaboração de uma Constituição. Na introdução, que seria denominada Declaração
dos Direitos do Homem e do Cidadão (Déclaration des Droits de l'Homme et du
Citoyen), os delegados formularam os ideais da Revolução, sintetizados em três
princípios: "Liberdade, Igualdade, Fraternidade " (Liberté, Egalité,
Fraternité). Inspirada na Declaração de Independência dos Estados Unidos e
divulgada em 26 de agosto, a primeira Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão (a que não terá sido estranha a ação do então embaixador dos EUA em
Paris, Thomas Jefferson) foi síntese do pensamento iluminista liberal e
burguês. Nesse documento, em que se pode ver claramente a influência da
Revolução Americana, defendia-se o direito de todos à liberdade, à propriedade,
à igualdade - igualdade jurídica, e não social nem econômica - e de resistência
à opressão. A desigualdade social e de riqueza continuavam existindo.
O
nascimento, a tradição e o sangue já não podiam continuar a ser os únicos
critérios utilizados para distinguir socialmente os homens. Na prática, tais
critérios foram substituídos pelo dinheiro e pela propriedade, que, a partir
daí, passam a garantir a seus detentores prestígio social.
Palácio
das Tulherias.Pressionado pela opinião pública, Luís XVI deixou Versalhes,
estabelecendo-se no Palácio das Tulherias, em Paris (outubro de 1789). Ali, o
monarca era mais acessível às massas parisienses.
Fervilhavam
os clubes: a imprensa tinha papel cada vez maior nos acontecimentos políticos.
Jean-Paul Marat e Hébert escreviam artigos incendiários.
A nobreza
conservadora e o alto clero abandonaram a França, refugiando-se nos países
ainda absolutistas, de onde conspiravam contra a revolução. Numa reação contra
os privilégios do clero e buscando recursos para sanar o déficit público, o
governo desapropriou os bens da Igreja, colocou-os à venda e, com o produto,
emitiu bônus do tesouro, os assignats, que valeram como papel-moeda, logo
depreciado. As propriedades da Igreja passaram majoritariamente às mãos da
burguesia, restando aos camponeses as propriedades menores, que puderam ser
adquiridas mediante facilitações.
O retorno
de Luís XVI a Paris após sua desastrada fuga.Em agosto de 1790, foi votada a
Constituição Civil do Clero, separando Igreja e Estado e transformando os
clérigos em assalariados do governo, a quem deviam obediência. Determinava
também que os bispos e padres de paróquia seriam eleitos por todos os
eleitores, independentemente de filiação religiosa. O papa opôs-se a isso. Os
clérigos deveriam jurar a nova Constituição. Os que o fizeram ficaram
conhecidos como juramentados; os que se recusaram passaram a ser chamados de
refratários e engrossaram o campo da contra-revolução.
Procurando
frear o movimento popular, a Assembleia Nacional Constituinte, pela Lei de Le
Chapelier, proibiu associações e coalizões profissionais (sindicatos), sob pena
de morte.
No
palácio real, conspirava-se abertamente. O rei, a rainha, seus conselheiros, os
embaixadores da Áustria e da Prússia eram os principais nomes de tal
conspiração. A Áustria e a Prússia, países absolutistas, invadiram a França,
que foi derrotada porque oficiais ligados à nobreza permitiram o malogro do
exército francês. Denunciou-se a traição na Assembléia. Em junho de 1791 a família
real tentou fugir para a Áustria. O rei foi descoberto na fronteira, em
Varennes, e obrigado a voltar. A assembléia Nacional, contudo, acabou por
absolver Luís XVI, mantendo a monarquia. Para justificar essa decisão, alegou
que o rei, ao invés de fugir, fora seqüestrado. A Guarda Nacional, comandada
por La Fayette, reprimiu violentamente a multidão que queria a deposição do
rei.
A
Constituição de 1791Ver artigo principal: Constituição francesa de 1791
Proclamação
da Constituição francesa de 1791.Em setembro de 1791, foi promulgada a primeira
Constituição da França que resumia as realizações da Revolução.
Foi
implantada uma monarquia constitucional, isto é, o rei perdeu seus poderes
absolutos e criou-se uma efetiva separação entre os poderes Legislativo, Executivo
e Judiciário. Além disso, foram concedidos direitos civis completos aos
cidadãos.
A
população foi dividida em cidadãos ativos e passivos. Somente os cidadãos
ativos, que pagavam impostos e possuíam dinheiro ou propriedades, participavam
da vida política. Era o voto censitário. Os passivos eram os não-votantes, como
mulheres, trabalhadores desempregados e outros.
Apesar de
ter limitado os poderes do rei, este tinha ainda o direito de designar seus
ministros.
De mais,
a constituição aboliu o feudalismo, nacionalizava os bens eclesiásticos e
reconhecia a igualdade civil e jurídica entre os cidadãos.
Em
síntese, a Constituição de 1791 estabeleceu na França as linhas gerais para o
surgimento de uma sociedade burguesa e capitalista em lugar da anterior, feudal
e aristocrática.
Apesar
disso, este projeto não teve muita sustentação. Alguns setores urbanos queriam
continuar com o processo revolucionário, enquanto nobres fugiam e se refugiavam
no exterior, planejando à distância organizar violentamente uma revanche
armada. Os emigrados tinham apoio de Estados Absolutistas como Áustria e
Prússia, que viam o resultado do movimento revolucionário francês como perigoso
para os seus domínios.
Em agosto
de 1791, após a tentativa frustrada de fuga da família real para a Áustria, os
países que até então apoiavam a França lançaram a Declaração de Pillnitz, que
afirmava (e apoiava) a restauração da monarquia francesa como um projeto de
interesse comum a todos os Estados europeus. A população francesa ficou
enfurecida, pois enxergava esta ação como uma intromissão direta aos assuntos
do país.
A
Assembleia Legislativa (1791-1792)Em 1791, iniciou-se a fase denominada
Monarquia Constitucional. Nas eleições de outubro de 1791, as cadeiras da
Assembléia Legislativa foram ocupadas predominantemente por elementos da
burguesia. A Assembléia Legislativa, que iniciou suas sessões em 1º de outubro,
era formada por 750 membros, sem experiência política.
Embora a
burguesia tivesse de enfrentar, dentro da Assembléia, a oposição da aristocracia,
cujos deputados ocupavam o lado direito de quem entrava no recinto de reuniões,
e também dos democratas, que ocupavam o lado esquerdo, as maiores dificuldades
estavam fora da Assembléia.
À extrema
direita, o rei e a aristocracia se recusavam a aceitar qualquer compromisso. À
extrema esquerda, a pequena e média burguesia sentiam-se lesadas e enganadas.
Os
camponeses, desesperados, porque tinham de pagar pela extinção dos direitos
feudais, retomaram a violência.
O
confisco dos bens da Igreja e a Constituição do Clero, que faziam com que os
religiosos rompessem com o papado, levaram a maior parte do clero para o campo
da Contra-Revolução.
Apesar de
todas as dificuldades, a alta burguesia se mantinha no poder.
A Queda
da MonarquiaOs emigrados buscavam apoio externo para restaurar o Estado
absoluto. As vizinhas potências absolutistas apoiavam esses movimentos, pois
temiam a irradiação das idéias revolucionárias francesas para seus países. Os
emigrados e as monarquias absolutistas formaram uma aliança destinada a
restaurar, na França, os poderes absolutos de Luís XVI. Alegando a necessidade
de se restaurar a dignidade real da França, na Declaração de Pillnitz (1791)
esses países ameaçaram a França de uma intervenção.
Em 1792,
a Assembléia Legislativa aprovou uma declaração de guerra contra a Áustria. É
interessante salientar que a burguesia e a aristocracia queriam a guerra por
motivos diferentes. Enquanto para a burguesia a guerra seria breve e vitoriosa,
para o rei e a aristocracia seria a esperança de retorno ao velho regime.
Palavras de Luís XVI: "Em lugar de uma guerra civil, esta será uma guerra
política" e da rainha Maria Antonieta: "Os imbecis [referia-se a
burguesia]! Não vêem que nos servem". Portanto, o rei e a aristocracia não
vacilaram em trair a França revolucionária.
Diante da
aproximação dos exércitos coligados estrangeiros, formaram-se por toda a França
batalhões de voluntários.
Luís XVI
e Maria Antonieta foram presos, acusados de traição ao país por colaborarem com
os invasores.
A Batalha
de Valmy.Verdun, última defesa de Paris, foi sitiada pelos prussianos. O povo,
chamado a defender a revolução, saiu às ruas e massacrou muitos partidários do
Antigo Regime. Sob o comando de Danton, Robespierre e Marat, foram distribuídas
armas ao povo e foi organizada a Comuna Insurrecional de Paris. As palavras de
Danton ressoaram de forma marcante nos corações dos revolucionários. Disse ele:
"Para vencer os inimigos, necessitamos de audácia, cada vez mais audácia,
e então a França estará salva".
O povo,
entre o pânico e o rancor, responsabiliza os inimigos internos pela situação.
Entre 2 e 6 de setembro de 1792, são massacrados os padres refratários, os
suspeitos de atividades contra-revolucionárias e os presos de delito comum das
prisões de Paris. A matança dura vários dias sem que as autoridades
administrativas ousem intervir. Os chamados “massacres de Setembro”, que chocam
a opinião pública, marcam uma página importante da Revolução.
Em 20 de
setembro aconteceu aquilo que parecia impossível: as tropas revolucionárias,
famintas, mal vestidas, mas alimentadas por seus ideais, derrotaram, ao som da
Marselhesa (o hino da revolução), a coligação antifrancesa na Batalha de Valmy.
A
Convenção (1792-1795)Ver artigo principal: Convenção (Revolução Francesa)
Georges
Jacques Danton.Após o término das deliberações da Assembléia Constituinte em
1791, a burguesia passou a uma posição conservadora, por entender que as
principais mudanças já haviam sido implementadas na sociedade francesa. A
situação do povo mais pobre, porém, pouco tinha mudado. Os camponeses
continuavam sem terra e nas cidades a situação tornava-se cada vez mais
desesperadora.
Em agosto
de 1792, uma intensa mobilização popular destronou o rei, e depois de elaborar
a Carta Magna francesa, a Assembléia Nacional Constituinte dissolveu-se. A
Assembléia Legislativa substituiu a Constituinte. Ameaça de intervenção
externa, crise econômica e inflação. abril de 1792: Declaração de guerra à
Áustria e à Prússia; exércitos inimigos chegam a ameaçar a cidade de Paris; ala
radical proclama a “pátria em perigo” e distribui armas à população
parisiense.Comuna de Paris assume o poder e exige da Assembléia o afastamento
do rei. 10 de agosto de 1792: Parisienses atacam o palácio real, detêm o
soberano e exigem que o Legislativo suspenda-o de suas funções.Esvaziada de seu
poder, a Assembléia convoca a eleição de uma Convenção Nacional. A revolução
entrou numa fase radical. As primeiras medidas tomadas pela Convenção foram a
Proclamação da República e a promulgação de uma nova Constituição (21 de
setembro de 1792). Eleita sem a divisão dos eleitores em passivos e ativos, a
alta burguesia monarquista foi derrotada. A Convenção contava com o predomínio
dos representantes da burguesia.
Maximilien
de Robespierre.Entre os revolucionários de 1789, houve divisão. A grande
burguesia não queria aprofundar a revolução, temendo o radicalismo popular.
Aliada aos setores da nobreza liberal e do baixo clero, formou o Clube dos
Girondinos. O nome "girondino" (do francês girondin) deve-se ao fato
de Brissot, principal líder dessa facção, representar o departamento da Gironda
e de seus principais líderes serem provenientes de lá. Eles ocupavam os bancos
inferiores no salão das sessões. Os jacobinos (do francês jacobin) — assim
chamados porque se reuniam no convento de Saint Jacques — queriam aprofundar a
revolução, aumentando os direitos do povo; eram liderados pela pequena
burguesia e apoiados pelos sans-culottes, as massas populares de Paris.
Ocupavam os assentos superiores no salão das sessões, recebendo o nome de
montanha. Seus principais líderes foram Danton, Marat e Robespierre. Sua facção
mais radical era representada pelos raivosos, liderados por Jacques Hébert, que
queriam o povo no poder. Havia ainda um grupo de deputados sem opiniões muito
firmes, que votavam na proposta que tinha mais chances de vencer. Eram chamados
de planície ou pântano. Havia ainda os cordeliers (camadas mais baixas) e os
feuillants (a burguesia financeira).
Jean Paul
Marat.As modernas designações políticas de direita, centro e esquerda surgem
neste momento: com relação à mesa da presidência identificavam-se à direita os
girondinos, que desejavam consolidar as conquistas burguesas, estancar a
revolução e evitar a radicalização; ao centro, a Planície ou Pântano, grupo de
burgueses sem posição política definida; e à esquerda, a Montanha, composta
pela pequena burguesia jacobina que liderava os sans-culottes, e que defendia o
aprofundamento da revolução.
Dirigida
inicialmente pelos girondinos, a convenção realizava uma política
contraditória: era revolucionária na política externa — ao combater os países
absolutistas — mas conservadora na interna — ao procurar se acomodar com a
nobreza, tentar salvar a vida do rei e combater os revolucionários mais
radicais. Nesse primeiro período, foram descobertos documentos secretos de Luís
XVI, no Palácio das Tulherias, que provaram o seu comprometimento com o rei da
Áustria. O fato acelerou as pressões para que o rei fosse julgado como traidor.
Na Convenção, a Gironda dividiu-se: alguns optaram por um indulto, outros pela
pena de morte. Os jacobinos, reforçados pelas manifestações populares, exigiam
a execução do rei, indicando o fim da supremacia girondina na Revolução.
República
Jacobina
A grande
guilhotina desce sobre a cabeça de Luís XVI, que é exibida ao povo, como se
costumava fazer com todos os executados.Os jacobinos, com apoio dos
sans-culottes e da Comuna de Paris (designação que foi dada ao novo governo
local da cidade), assumiram o poder no momento crítico da Revolução.
A
Convenção reconheceu a existência do Ser Supremo e da imortalidade da alma. A
virtude seria o elemento essencial da República.
Em 21 de
janeiro de 1793, Luís XVI foi executado na guilhotina na praça da Revolução.
Vários países europeus, como a Áustria, Prússia, Holanda, Espanha e Inglaterra,
indignados e temendo que o exemplo francês se refletisse em seus territórios,
formaram a Primeira Coligação contra a França. Encabeçando a Coligação, a
Inglaterra financiava os grandes exércitos continentais para conter a ascensão
burguesa da França, seu potencial concorrente nos negócios europeus.
Louis
Antoine Léon de Saint-Just.No departamento de Vendéia, no oeste da França,
camponeses contra-revolucionários, instigados pela Igreja, pela nobreza e pelos
ingleses, tomaram o poder. Os girondinos tentaram frear a proposta de
mobilização geral do povo francês, temendo a perda do poder e a radicalização
da revolução, que ameaçaria suas propriedades e bens. Em resposta, em 2 de
Junho de 1793, a população de Paris, agitada pelos partidários de Hébert,
cercou o prédio da convenção, pedindo a prisão dos deputados girondinos. Os
membros da Gironda foram expulsos da convenção deixando uma triste herança:
inflação, carestia e avanço da contra-revolução, tudo isso agravado pela guerra
no plano externo. Marat, Hébert, Danton, Saint-Just e Robespierre assumiram o
poder, dando início ao período da Convenção Montanhesa.
A
Contra-Revolução Camponesa da Vendéia e a ameaça externa colocavam a revolução
à beira do abismo. Para combater essa situação, os jacobinos organizaram os
comitês, cujos objetivos eram controlar o governo, combater os
contra-revolucionários e mobilizar a França para uma guerra total em defesa da
revolução.
A Morte
de Marat (1793), tela do pintor francês Jacques-Louis David (Museus Reais de
Belas-Artes, Bruxelas).Devido ao predomínio da atuação popular, esse período
caracterizou-se por ser o mais radical de toda a Revolução. O governo jacobino
dirigia o país por meio do Comitê de Salvação Pública, responsável pela
administração e defesa externa do país, de início comandado por Danton, seu
criador. Abaixo, vinha o Comité de Segurança Geral, que cuidava da segurança
interna, e a seguir o Tribunal Revolucionário, que julgava os opositores da revolução
em julgamentos sumários.
Decretada
a mobilização geral, criou-se uma economia de guerra, com o racionamento das
mercadorias e o combate aos especuladores, que, aproveitando-se da situação,
escondiam os produtos para aumentar os preços.
Os
jornais populares utilizavam-se de linguagem grosseira para caracterizar os
aristocratas e inimigos da revolução. Ao mesmo tempo em que pediam que fossem
punidos, pregavam as virtudes revolucionárias, o patriotismo e a defesa
intransigente da revolução. O mais importante desses jornais era O amigo do
povo (L'Ami du Peuple), dirigido pelo jacobino Marat.
Interior
de um comitê revolucionário durante o terror.Quando, em julho, Marat foi
assassinado pela jovem Charlotte Corday, os ânimos se exaltaram. Considerado
excessivamente moderado, Danton foi substituído por Robespierre e expulso do
partido. O Comitê de Salvação Pública, liderado por Robespierre, assumiu plenos
poderes. Tinha início o Grande Terror, Terror Jacobino ou, simplesmente,
Terror. Milhares de pessoas — a ex-rainha Maria Antonieta, o químico Antoine
Lavoisier (considerado o criador da Química moderna), aristocratas, clérigos,
girondinos, especuladores, inimigos reais ou presumidos da revolução — foram
detidas, julgadas sumariamente e guilhotinadas. Os direitos individuais foram
suspensos e, diariamente, realizavam-se, sob aplausos populares, execuções
públicas e em massa. O líder jacobino Robespierre, sancionando as execuções
sumárias, anunciara que a França não necessitava de juízes, mas de mais
guilhotinas. O resultado foi a condenação à morte de 35 mil a 40 mil pessoas. A
Insurreição camponesa da Vendéia foi esmagada. O exército francês começou a
ganhar terreno nos campos de batalha em 1794 e a coalizão antifrancesa foi
derrotada.
Cansada
do terror, execuções, congelamento de preços e dos excessos revolucionários, a
burguesia queria paz para seus negócios. Essa posição era defendida pelos
jacobinos liderados por Danton. Os sans-culottes — que eram a plebe urbana —
pretendiam radicalizar mais a revolução, posição defendida pelos raivosos. A
falta de habilidade política de Robespierre ficou evidente quando, declarando a
"pátria em perigo", tomou uma série de medidas impopulares para
evitar as radicalizações — os partidários e políticos mais radicais, como a ala
esquerda, dos partidários de Hébert, e da ala direita, que tinha como líder
Danton, foram executados. A facção de centro, liderada por Robespierre e
Saint-Just, triunfou, porém ficou isolada.
Reação
Termidoriana
Os
eventos da noite de 9 Termidor.Muitos girondinos que sobreviveram ao Terror,
aliados aos deputados da planície, articularam um golpe. Em 27 de julho (9
Termidor, de acordo com o calendário revolucionário francês) a Convenção, numa
rápida manobra, derrubou Robespierre e seus partidários. Robespierre apelou
para que as massas populares saíssem em sua defesa. Mas os que podiam
mobilizá-las — como os raivosos — estavam mortos, e os sans-culottes não
atenderam ao chamado. Robespierre e os dirigentes jacobinos foram guilhotinados
sumariamente. A Comuna de Paris e o partido jacobino deixaram de existir. Era o
golpe de 9 Termidor, que marcou a queda da pequena burguesia jacobina e a volta
da grande burguesia girondina ao poder. O movimento popular entrou em franca
decadência.
A
Convenção Termidoriana (1794-1795) foi curta, mas permitiu a reativação do
projeto político burguês com a anulação de várias decisões montanhesas, como a
Lei do Preço Máximo (congelamento da economia) e o encerramento da supremacia
da Junta de Salvação Pública. Foram extintas as prisões arbitrárias e os
julgamentos sumários. Todos os clubes políticos foram dissolvidos e os
jacobinos passaram a ser perseguidos.
Em 1795,
a Convenção elaborou uma nova constituição - a Constituição do Ano III -,
suprimindo o sufrágio universal e resgatando o voto censitário para as eleições
legislativas, marginalizando, assim, grande parcela da população. A carta
reservava o poder à burguesia. No final de 1795, de acordo com a nova
Constituição, a Convenção cedeu lugar ao Diretório, formado por cinco membros
eleitos pelos deputados. Iniciou-se, assim, a República do Diretório.
Diretório
O
Diretório (1794 a 1799) foi uma fase conservadora, marcada pelo retorno da Alta
Burguesia ao poder e pelo aumento do prestígio do Exército apoiado nas vitórias
obtidas nas Campanhas externas.
Uma nova
constituição entregou o Poder Executivo ao Diretório, uma comissão constituída
de cinco diretores eleitos por cinco anos. Esta carta previa o direito de voto
masculino aos alfabetizados. O poder legislativo era exercido por duas câmaras,
o Conselho dos Anciãos e o Conselho dos Quinhentos.
Graco
Babeuf, líder da Conjuração dos Iguais.Era a república dos proprietários que
enfrentavam uma grave crise financeira. Registra-se uma oposição interna ao
governo devido à crise econômica e à anulação das conquistas sociais jacobinas.
Tentativas de golpe à direita (monarquistas ou realistas) e à esquerda
(jacobinos) ocorreram neste período.
As ações
contra o novo governo se sucediam. Em 1795, um golpe realista foi abortado em
Paris. Aproveitando o descontentamento dos sans-culottes, os remanescentes
jacobinos tentaram organizar em 1796 a chamada Conjuração ou Conspiração dos
Iguais, liderada por François Noël Babeuf (mais conhecido como Graco Babeuf).
Os seguidores desse movimento popular, com algumas pinceladas socialistas,
desejavam não apenas igualdades de direitos (igualdade perante a lei), mas
também igualdade nas condições de vida. Babeuf achava que a única maneira de
alcançar a igualdade era com a abolição da propriedade privada. A insurreição
foi denunciada antes mesmo de se iniciar e seus líderes, Graco Babeuf e
Buonarroti, foram condenados à guilhotina. As idéias de Babeuf, entretanto,
serviram de base para a luta da classe operária no século XIX.
Externamente,
entretanto, o exército acumulava vitórias contra as forças absolutistas de
Espanha, Holanda, Prússia e reinos da Itália, que, em 1799, formaram a Segunda
Coligação contra a França revolucionária.
Napoleão
Bonaparte no PoderVer artigo principal: 18 de Brumário
Destacando-se
no assédio de Toulon, em 1793, Napoleão Bonaparte tornou-se general. Em 1796,
Bonaparte esmagou uma insurreição monarquista.O governo não era respeitado
pelas outras camadas sociais. Os burgueses mais lúcidos e influentes perceberam
que com o Diretório não teriam condição de resistir aos inimigos externos e
internos e manter o poder. Eles acreditavam na necessidade de uma ditadura militar,
uma espada salvadora, para manter a ordem, a paz, o poder e os lucros.
A figura
que sobressai no fim do período é a de Napoleão Bonaparte. Ele era o general
francês mais popular e famoso da época. Quando estourou a revolução, era apenas
um simples tenente e, como os oficiais oriundos da nobreza abandonaram o
exército revolucionário ou dele foram demitidos, fez uma carreira rápida. Aos
24 anos já era general de brigada. Após um breve período de entusiasmo pelos
jacobinos, chegando até mesmo a ser amigo dos familiares de Robespierre,
afastou-se deles quando estavam sendo depostos. Lutou na Revolução contra os
países absolutistas que invadiram a França e foi responsável pelo sufocamento
do golpe de 1795.
Enviado
ao Egito para tentar interferir nos negócios do império inglês, o exército de
Napoleão foi cercado pela marinha britânica nesse país, então sobre tutela
inglesa. Napoleão abandonou seus soldados e, com alguns generais fiéis,
retornou à França, onde, com apoio de dois diretores e de toda a grande burguesia,
suprimiu o Diretório e instaurou o Consulado, dando início ao período
napoleônico em 18 de brumário (10 de novembro de 1799).
O
Consulado era representado por três elementos: Napoleão, o abade Sieyès e Roger
Ducos. Na realidade o poder concentrou-se nas mãos de Napoleão, que ajudou a
consolidar as conquistas burguesas da Revolução.
Reações e
comentários no estrangeiroReino UnidoEntre os britânicos que acolheram
(inicialmente) a Revolução Francesa como um acontecimento positivo conta-se
Dugald Stewart. Stewart seguiu os acontecimentos em Paris nesse verão dramático
de 1789. Ele acreditava nos princípios pelos quais a revolução se batia.
Sentiu-se repelido quando leu os comentários de Edmund Burke no seu
"Reflections on the Revolution in France". Burke previu acertadamente
que a Revolução Francesa acabaria na perdição, terror, morte e ditadura. Um
aluno de Stewart, James Mackintosh, escreveu em resposta uma apaixonada defesa
da causa francesa. Nos anos seguintes, Stewart defendeu ainda a Revolução, apesar
de o terror e o caos serem evidentes. Em novembro de 1791, Dugald Stewart
escreve a um amigo: "As pequenas desordens que podem ocorrer num país onde
as coisas em geral correm tão bem são de menor importância".
Já no ano
seguinte ver-se-ia que Burke tinha razão. Edmund Burke faleceu em 1797,
convicto de que a Revolução Francesa acabaria por terminar na ditadura.
Napoleão veio dar-lhe razão. Burke ganhou na sociedade britânica uma reputação
de um homem clarividente e perspicaz.
Em forte
contraste, Dugald Stewart perdeu o respeito dos seus concidadãos e foi
ostracizado em Edimburgo, onde vivia. James Mackintosh pediu desculpas
publicamente por criticar Burke e tornou-se um forte crítico do regime francês
e das revoluções em geral.
Raymond
Aron O sociólogo do século XX Raymond Aron (1905 — 1983) escreve em O ópio dos
intelectuais o seguinte, a propósito da revolução francesa, comparando-a com a
evolução da Inglaterra:
A
passagem do Ancien Régime para a sociedade moderna é consumada na França com
uma ruptura e uma brutalidade únicas. Do outro lado do Canal da Mancha, na
Inglaterra, o regime constitucional foi instaurado progressivamente, as
instituições representativas advêm do parlamento, cujas origens remontam aos
costumes medievais. No século XVIII e XIX, a legitimidade democrática se
substitui à legitimidade monárquica sem a eliminar totalmente, a igualdade dos
cidadãos apagou pouco a pouco a distinção dos "Estados" (Nobreza,
clero e povo). As idéias que a revolução francesa lança em tempestade através
da Europa: soberania do povo, exercício da autoridade conforme a regras,
assembléias eleitas e soberanas, supressão de diferenças de estatutos pessoais,
foram realizadas em Inglaterra, por vezes mais cedo do que em França, sem que o
povo, em sobressalto de Prometeu, sacudisse as suas correntes. A
"democratização" foi ali (em Inglaterra) a obra de partidos rivais.
(...) O
Ancien Régime desmoronou-se (na França) a um só golpe, quase sem defesa. E a
França precisou de um século para encontrar outro regime que fosse aceito pela
grande maioria da nação.
A
Revolução Francesa foi a base para todas as outras Revoluções,com exceção das
Revoluções Cubana e Mexicana. Todo governante preocupa-se quando ocorre
qualquer tipo de manifestação popular, seja programada ou espontânea, pois se
esmeram no exemplo do que aconteceu com Luis XVI e sua esposa Maria Antonieta,
que foram guilhotinados (perderam a cabeça literalmente) em praça pública.
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