A reação do deputado estadual José Megale
(PSDB) à divulgação de informações sobre o seu suposto envolvimento nas
fraudes da Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa) só deixa três
alternativas: ou ele é muito burro, ou é muito arrogante, ou, ainda, as duas
coisas.
Megale pareceu surpreso com essa divulgação
justamente no momento em que tentava alçar voo à Presidência da Alepa, sacudida
pelo maior escândalo de sua história, em decorrência de fraudes que podem ter
lesado o erário em mais de R$ 200 milhões.
Ora, qualquer pessoa minimamente prudente, e que
fosse suspeita de envolvimento nesse escândalo, teria pensado duas vezes antes
de se candidatar à Presidência da Alepa.
No entanto, Megale foi em frente, sem nem mesmo
pestanejar.
Ao que parece, por confiar no torniquete imposto à
imprensa paraense pelo governador Simão Jatene, através do derrame de milhões e
milhões em verbas de propaganda.
Quer dizer: o silêncio cúmplice da imprensa
proporcionaria ao ilustre deputado o necessário “salvo-conduto” para que
alcançasse tal posto, sem ter de explicar ao distinto público como foi possível
que alcançasse tal posto, apesar das graves acusações que
enfrenta.
É ou não é a cara da arrogância tucana no estado do
Pará?
Ao que parece, a Vossa Excelência, assim como outros
de seus colegas tucanos, não consegue entender que os tempos
mudaram.
Nem mesmo todo o dinheiro do mundo derramado na
imprensa tradicional consegue mais impedir o fluxo da informação.
Blogs e redes
sociais estão entre os fenômenos mais importantes para a Democracia, em todos os
tempos.
Daí a impossibilidade de chegar a bom termo a
“missão” a que se propuseram Megale e os tucanos paraenses: varrer essas
denúncias para debaixo do tapete.
Ao renunciar, na manhã de ontem, à candidatura à
Presidência da Alepa, o ilustre deputado afirmou que o fazia em nome da
decência, e não do “jogo político rasteiro”.
E, assim, errou
novamente.
Não há nada de “rasteiro” na divulgação dessas
informações.
Pelo contrário: o acesso a elas é um direito inalienável dos
cidadãos.
Elas não têm a ver com as preferências pessoais de
Megale, com a família dele, com nada, rigorosamente nada, que diga respeito à
vida privada do ilustre deputado.
Dizem respeito é à utilização, supostamente
criminosa, de recursos públicos.
Por isso, colocam de pronto um imperativo moral, do
maior interesse para a coletividade.
Pouco importa se Megale é inocente ou culpado, pois
isso só quem vai dizer é a Justiça – se o caso chegar à
Justiça.
Mas quem carrega no costado acusações como essas, não
pode ser candidato à Presidência de um Poder.
E, especialmente, do mesmíssimo Poder no qual tais
crimes teriam sido cometidos.
Esse imperativo moral também coloca questões
complicadíssimas ao nobre deputado e aos tucanos
paraenses.
Quando estavam na oposição, os tucanos berravam até
mesmo contra um copo de uísque que a ex-governadora Ana Júlia Carepa tomava em
um bar, fora do horário de expediente, como se isso fizesse dela - ou de
qualquer mulher - uma vagabunda.
No entanto, parecem ter achado “perfeitamente
natural” a candidatura de Megale à Presidência da
Alepa.
Assim como parecem ter considerado “perfeitamente
natural” a nomeação de um delegado acusado de tortura, para o comando da polícia
metropolitana; e a nomeação de Antonio Cláudio Fernandes Farias para o comando
da área de Análise Criminal da Segup, apesar de ele responder a processo por
peculato - no qual, aliás, acabou condenado, no mês passado, a cinco anos de
reclusão.
No mínimo, essa contradição tucana demonstra uma
séria incapacidade de separar o público do
privado.
Daí, o “jogo rasteiro” – aí, sim – em se tratando
dos adversários.
E daí, também, a grave tendência a minimizar os
fatos realmente importantes, ou seja, que dizem respeito à coletividade, em se
tratando daqueles que lhes são subservientes.
Outra questão complicada é a aparente inércia do
cidadão e homem público José Megale, diante da demora do Ministério Público
Estadual em analisar as acusações que pesam contra
ele.
Megale diz que esteve no MP e colocou “à disposição”
o seu sigilo bancário, quando as denúncias pipocaram pela vez na imprensa, em
maio deste ano.
De lá pra cá, no entanto, essas informações
simplesmente evaporaram do noticiário.
E o distinto público desconhece se o ilustre
deputado tentou, ao menos, apressar o passo de cágado do
MP.
Vejam bem: não se está a falar do seu Zé da Silva,
lá do Tucunduba, sem acesso ao Procurador Geral de Justiça (PGJ), Antonio
Barleta.
Deputado, líder do Governo na Alepa, Megale até
poderia ter marcado uma reunião com o PGJ, para perguntar: “E aí, Barleta, esse
negócio anda ou não anda?”.
Cidadão que afirma ter sido injustamente acusado,
poderia ter chamado a imprensa, para denunciar: “me acusaram de uma coisa que eu
não fiz e quero a chance de provar que sou inocente. Mas a denúncia tá parada lá
no MP!”.
Poderia ter encaminhado ofícios e mais ofícios ao
MP. Poderia ter tuitado ou postado alguma coisa no Facebook, cobrando agilidade
nas investigações.
No entanto, assim como a imprensa, Megale preferiu o
silêncio.
Nada mais compreensível: algumas das acusações que
enfrenta são, de fato, difíceis de explicar.
É possível, sim, que Megale não soubesse que os
cheques que assinava beneficiavam empresas da família de Daura
Hage.
E que tenha homologado, sem saber, licitações
fraudulentas.
Afinal, ele era apenas vice-presidente da Alepa e
poderia muito bem não ter o “domínio do fato”.
No entanto, o mesmo não se pode dizer em relação às
irregularidades que envolvem a empresa MAC
Martins.
Megale sabia – e admite isso – que a empresa
pertencia a um funcionário de seu gabinete.
E mesmo assim, segundo as investigações do promotor
de Justiça Arnaldo Azevedo, que encaminhou o caso ao PGJ, foi o próprio Megale a
solicitar os serviços prestados à Alepa pela MAC
Martins.
Sempre com dispensa de
licitação.
E sempre com valores próximos de R$ 8 mil, o que
pode indicar fracionamento de despesa, para escapar ao processo
licitatório.
Megale afirma que não sabia que era proibido,
ilegal, contratar serviços, para a Alepa, de uma empresa pertencente a um
funcionário de seu gabinete parlamentar– portanto, funcionário da mesmíssima
Alepa.
E aí o osso fica duro de roer; o açaí, dificílimo de
amassar.
Ora, novamente não estamos a falar do Zé da Silva,
lá do Tucunduba, mas, de um LE-GIS-LA-DOR.
Como, então, o nobre deputado poderia não saber que
isso era irregular?
Será que o cidadão, o deputado, o LE-GIS-LA-DOR José
Megale não leu nem mesmo a Constituição, ao menos no que tange à MORALIDADE e à
IMPESSOALIDADE da administração pública?
Qual, afinal, o tamanho da “elasticidade moral” do
cidadão, da liderança política José Megale, que nem sequer estranhou uma
transação assim?
Ontem, ao renunciar à candidatura à Presidência da
Alepa, Megale criticou a divulgação das
denúncias contra ele.
Praguejou, especialmente, contra o jornal Diário do
Pará, que publicou reportagem, no domingo, sobre o mistério que cercava as
investigações do Caso Megale, pelo MP (tema de reportagem exclusiva da
Perereca, quatro dias
antes).
O deputado teria dito, na Alepa, que não permitirá
que um “grupo empresarial” venha a “pautar” as eleições para o comando da
Casa.
E que não considera “ético” que um jornal “advogue”
em favor de um partido em tal eleição.
Porque isso, a seu ver, “contaminaria” o processo
eleitoral, “ferindo” a autonomia da Alepa.
No entanto, na noite de ontem, o governador Simão
Jatene, o chefe do Poder Executivo, comandou pessoalmente a reunião de deputados
que escolheu o novo candidato da base aliada à Presidência da Alepa, em
substituição a Megale (será Márcio Miranda, do DEM) e definiu estratégias para
interferir até mesmo na data da eleição.
Não, caro leitor, não foi um preposto de Jatene quem
comandou a reunião, o que já seria grave: foi o próprio
governador.
E hoje os jornais noticiam, como se fosse
“perfeitamente natural”, essa interferência descarada, desavergonhada,
inconstitucional, antiética do chefe do Poder Executivo nas eleições para o
comando da Assembleia Legislativa do Estado do
Pará.
Ou seja: o que antes se fazia na sombra e na
escuridão, por irregular e imoral, Jatene faz às escâncaras, também sob o
silêncio cúmplice da imprensa e de todas as
instituições.
E, certamente, nem Megale nem os tucanos dirão
coisíssima alguma sobre essa contaminação do processo eleitoral, que pisoteia a
autonomia do Legislativo paraense.
Mas, pensando bem, nem precisa que digam coisa
alguma.
Em certas ocasiões, os silêncios são pra lá de
eloquentes.
sábado, 8 de dezembro de 2012
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