O governo do Estado do Pará lançou o programa estadual “UM BILHÃO DE ÁRVORES PARA A AMAZÔNIA”, com a presença do presidente Lula e tudo mais, e sob o “insofismável” argumento de estimular o reflorestamento e minimizar a emissão de gás carbônico na atmosfera do planeta. Fiquei até emocionado ao ver no encarte do Hangar os ilustre intelectuais Nélia Piñon, Vitor Ramil, Ariano Suassuna, Maria Colasanti, Affonso Sant’ana, Gabriel o Pensador, Serginho Groisman, Rubem Alves, Fernando Morais e Arnaldo Antunes – participantes da XII Feira do Livro - darem as suas contribuições plantando, cada um, uma semente de árvores nativas da Amazônia, em extinção.
Com a adesão de tantas ilustres pessoas não há como deixar de reconhecer a validade dessa iniciativa. Mas como me é de hábito, algumas dúvidas se ergueram ante esse mar de credulidade e boas intenções, inquietando-me como ser pensante.
Primeiro, porque não há comprovação científica de que a emissão de gás carbônico (CO2) na atmosfera é a responsável pela mudança do clima do planeta, posto que o vapor d´água é o gás do efeito estufa que mais contribui para o aquecimento global. Um dos piores gases é o metano, que é cerca de 20 vezes mais potente que o dióxido de carbono. Depois, O excesso de dióxido de carbono que atualmente é lançado para a atmosfera resulta da queima de combustíveis fósseis principalmente pelo setor industrial e de transporte. Além disso, reservatórios naturais de carbono e os sumidouros (ecossistemas com a capacidade de absorver CO2) também estão sendo afetados por ações antrópicas. Devido o solo possuir um estoque 2 a 3 vezes maior que a atmosfera, mudanças no suo do solo podem ser importante fonte de carbono para a atmosfera (WOODWEL,1989,DAVIDSON e TRUMBORE, 1995).
“Não seria melhor requerer aos organismos internacionais que desenvolvessem programas para o controle da emissão de dióxido de carbono na atmosfera, proveniente da queima de combustíveis fósseis, do que gastar vultosa soma pecuniária plantando um bilhão de árvores?”
Depois, um estudo da organização sem fins lucrativos Imazon mostra que o desmatamento aumentou pelo menos dez vezes em área protegidas – terras indígenas e áreas de reservas estaduais e federais – no Estado do Pará no último ano em relação ao anterior. No período entre agosto de 2006 e julho de 2007, 24% do desmatamento ocorreu nessas áreas protegidas – 411 quilômetros quadrados, de um total de 1.726 quilômetros quadrados em todo Estado.
“Não seria melhor exercer um papel fiscalizador, por meio dos órgãos governamentais, com o fito de evitar que as áreas (protegidas ou não) sejam desmatadas ilegalmente, além de cobrar do governo federal que faça a sua parte no controle e fiscalização da área sob sua circunscrição, e ainda exigir judicialmente que as pessoas ou entidades que desobedecem as leis ambientais recuperem as áreas devastadas, em vez de gastar, do contribuinte, vultosa soma pecuniária para repor aquilo que esses criminosos destroem impunemente?”
Mais uma vez, de forma atabalhoada, se atua nos efeitos sem se preocupar com as causas do fenômeno. Tais iniciativas, pela sua superficialidade, acabam por não produzir o efeito desejado. Além do que, como ainda se está na fase de plantio das sementes, podemos inferir que até que elas cheguem à idade adulta, será – considerando o ritmo do desmatamento - necessário plantar outro bilhão de árvores, ou, quiçá, um trilhão ou até mesmo replantar toda a Amazônia.
Considerando o mérito e as motivações da bem-aventurada iniciativa, resta ainda avaliar as condições para a sua efetivação, pois dizer que se pretende realizar algo é fácil, mas, na seara pública, é preciso demonstrar racionalmente a viabilidade do projeto, para que os seus recipiendários não paguem o ônus de ações desastrosas e desprovidas de sentido coletivo. Qualquer um pode dizer que vai plantar um “bilhão” de árvores, mas, por imposição racional, deve-se examinar se essa intenção é razoável e exequível.
1 – Primeiro, por que foi estabelecido o quantitativo de UM BILHÃO de árvores? Será que alguém fez um estudo que aferisse a necessidade de plantar essa quantidade ou será que foi uma decisão aleatória (por ser “um bilhão” um número “redondo” e bonito)? Ou será que tudo não passou da artimanha de um "habilidoso" assessor que concebeu um programa com objeto insondável pela impossibilidade material de se conferir in-loco se as "promessas" serão realizadas ou não? Certamente ninguém em sã consciência contará uma a uma as sementes plantadas, logo o governo jamais terá o seu projeto contestado por impossibilidade absoluta de verificação. Depois, o que garante que não seria melhor plantar um “trilhão” de árvores pra salvar, de uma vez por todas, a humanidade do devastador efeito estufa? Seja como for, toda essa precisão numérica é de fazer inveja à comunidade acadêmica local, em especial aos matemáticos de plantão.
2 – Segundo, será que houve licitação pública para a compra de “um bilhão” de sementes de árvores nativas da Amazônia? E quem as produzirá, armazenará, transportará, plantará, regará, fiscalizará o crescimento, etc? Ou serão lançadas de um monomotor na área escolhida para o plantio e ficarão ao relento, aos cuidados da “mãe natureza”?
3 – Terceiro, qual o valor pecuniário empregado nesse programa: foi feita previsão orçamentária? Terá financiamento privado (de quanto?) ou será feita uma convocação geral do povo paraense para que cada cidadão plante, pelo menos, uma árvore com recursos próprios nos quintais de suas casas (E os que moram em apartamento, plantarão onde?)? Será que nós, mais uma vez, pagaremos sozinhos o preço de mais uma utopia de nossas autoridades?
4 – Quarto, onde serão plantadas essas árvores? O solo já foi preparado? Será que na Granja do Icuí caberá um bilhão de árvores? E como se chegará ao local de plantio: será via rodoviária, fluvial, lacustre, aérea, ferroviária ou será de pés mesmo (pra economizar, é claro)?
5 – Quinto, em quanto tempo o programa será concluído, isto é, em quanto tempo todas as árvores serão plantadas? Será tudo no atual governo ou ficará para os próximos alguns milhões de árvores? Se o governo começar agora, bastará plantar aproximadamente 37 milhões de sementes por mês para que em dezembro de 2010 o programa seja concluído com absoluto êxito. Coisa simples, basta deixar a educação, Segurança pública, saúde, etc. de lado e convocar toda a sociedade para esse grande mutirão em prol do planeta e, consequentemente, a humanidade agradecerá aos paraenses por esse nobre gesto.
Para melhor efetivar esse "prioritário" programa (tirá-lo do papel), pode-se convocar, por exemplo, todos os nossos concidadãos que estão na fila do SUS e nos hospitais da rede estadual e municipal, que lhes será uma grande terapia – pelo menos para as suas paciências -, já que plantando se esquecerão das agruras do dia a dia e do tratamento que recebem do sistema de saúde público. Pode-se também convocar todos os bandidos (em nível de ladrões de galinhas) que estejam prestes a assaltar os incautos cidadãos paraenses, que, pela dureza da vida rural (de plantador), não lhes restará disposição para se dedicarem à criminalidade, o que afetará de morte o índice de violência no Estado. Pode-se ainda convocar todos os alunos das escolas públicas municipais, estaduais e federais, que, certamente, não sentirão qualquer diferença das “aulas” que recebem nesses estabelecimentos do plantio de árvores – e ainda se sentirão orgulhosos por estarem contribuindo para a salvação do planeta, como verdadeiros “He Mans”. Depois, não tendo serviços à prestar para a “sociedade”, uma vez que os “endinheirados” não utilizam os serviços públicos, poderá o governo determinar aos servidores e militares estaduais que atuem nesse programa, quer para plantar outras árvores, quer para fiscalizar a sua execução. Por fim, bastará chamar a CNN para “cobrir” a incomum mobilização social paraense que poderá render ao Estado – conferido pelos organismos internacionais – o título de “CIDADE ESTUFA”, e à nossa ilustre governadora o prêmio nobel especial de “defensora da vida na terra”.
Mas, o que verdadeiramente me preocupa é o revés desse imbróglio ecológico, que me remete a uma história de Walt Disney que li na minha adolescência. O Pateta trabalhava como motorista de táxi e o Ranulfo (personagem espertalhão) lhe perguntou quanto cobraria para levá-lo à rodoviária. Pateta lhe informou o valor da corrida, e Ranulfo lhe perguntou: “ e a minha bagagem, quanto custa?”. Pateta respondeu ingenuamente: “nada, ela vai no banco de trás”. Então, arrematou Ranulfo: “Neste caso, leve a minha bagagem que eu vou de ônibus”. Talvez seja isso: O governo prometeu plantar um bilhão de árvores, mas não disse COMO, QUANDO, ONDE, POR QUE, PRA QUE, COM QUAIS RECURSOS, ETC., logo, enquanto discurso, este programa é irrefutável e estará sempre por se realizar, posto que num governo de "faz de conta" a intenção é sempre mais importante que a realidade.
Os créditos são WALBER WOLGRAND MENEZES MARQUES, Major R/R da Polícia Militar do Pará.
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