sábado, 25 de maio de 2013

Barata, Rômulo, Jader. O eles tem em comum?


A Revolução de 1964 enquadra-se dentro da situação política mundial pós Segunda Guerra, auge da Guerra Fria, quando EUA e URSS atuavam no sentido de ampliar suas áreas de influência em todos os quadrantes do mundo. A estratégia era apoiar grupos políticos rivais dentro de uma nação e através da possível vitórias destes, submeter os governantes, alçados ao poder, ao atendimento de seus interesses.

O Golpe Militar de 64 se insere nesse processo. Os Estados Unidos apoiaram a Revolução contra João Goulart (Jango) que supostamente era um simpatizante soviético. Indícios e provas sobre o apoio dos EUA não faltam. Hoje, sabemos que o embaixador americano, Lincoln Gordon e o adido militar, coronel Vernon Walters, atuaram ativamente nas decisões que antecederam o 31 de março.

Diversos documentos comprovam que Gordon sabia da existência de uma operação para dar apoio à revolução, caso houvesse uma resistência. A operação tinha o nome de Brother Sam.

Como parte desse acordo podemos relatar os vários encontros realizados sigilosamente entre militares e diplomatas brasileiros e americanos com o intuito de tratar de segurança e de cooperação industrial e militar e os vários contratos de compra de material bélico assinados pelo Brasil no exterior.

Não podemos, ainda, esquecer, a contribuição substancial da Igreja, com a campanha anticomunista do padre Patrick Peyton, que ao lançar a Cruzada do Rosário em Família promoveu uma intensa mobilização dos católicos, vizando atingir o governo constituído. As pregações do padre Peyton influenciaram na ação de senhoras da classe média, que de rosário nas mãos, conturbaram um comício de Leonel Brizola em Belo Horizonte e o Comício da Central do Brasil promovido pelo governo, Jango, no Rio.

Multidões de pessoas saiam em manifestações chamadas Marcha da Família com Deus pela liberdade que acabaram por conquistar as camadas médias da sociedade e engrossaram as manifestações de repúdio, ao governo vigente.

Em 01 de abril de 1964 o Brasil acordou sob novo regime. Um golpe, liderado por militares e os setores conservadores da sociedade brasileira, depuseram o presidente João Goulart (Jango) e deram início a um regime ditatorial que sufocou o país por 21 anos.

Sufoco relativo se compararmos aos dias atuais e aos anteriores à Revolução. Os governos populistas, apesar das promessas e feitos, não eram isentos de vícios: nepotismos, privilégios, falcatruas, empobrecimento das camadas populares e arrocho sobre as camadas médias, aumento da dívida externa e da inflação, etc.

Era ruim, ficou pior após o golpe e hoje está péssimo: Conchavos políticos, corrupção, desemprego, saques, assaltos a bancos, falta de segurança interna, disfarçado abandono dos hospitais e escolas públicas, dívida externa astronômica; endividamento público correspondente a 60% do PIB; falsos índices de inflação; arrocho fiscal e salarial; cumplicidade cínica e espoliativa com organismos financeiros internacionais e vai por aí a fora.

1964 – REVOLUÇÃO OU GOLPE ?
A QUEDA DE JOÃO GOULART

Vetado pelos ministros militares, odiado pelos conservadores, que o queriam ver longe do governo, com seu poder dilacerado pela emenda parlamentarista e sem pulso suficiente para conter os radicais da esquerda, o presidente João Belchior Marques Goulart foi vítima de múltipla conspiração, desde sua posse, ocorrida em 7 de setembro de 1961.

No princípio, eram movimentos ocultos, contidos em certa parte, pela atuação moderada do Gabinete formado pelo primeiro-ministro Tancredo de Almeida Neves. Mas, com a volta do presidencialismo, recolocando todos os poderes de governo nas mãos do presidente da República, e com o recrudescimento da ação das esquerdas, a conspiração se tornou aberta, num confronto entre as forças conservadoras e aquelas ditas revolucionárias, que disputavam o mesmo espaço. Escreve Francisco de Assis Silva, em seu livro “História do Brasil”:

“Todo mundo conspira: direita e esquerda; civis e militares; moderados e radicais; operários e camponeses. Os governadores Ademar de Barros (SP), Magalhães Pinto (MG) e Carlos Lacerda (GB) conspiravam com a ala militar antijanguista . O golpe estava em andamento. A direita congregava-se em organizações como o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes) e o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad), financiados pelos Estados Unidos, e outras tantas que se uniram para impedir as reformas sociais.”

Verdade é que o presidente João Goulart em nada contribuía para baixar a temperatura efervescente nos meios políticos e na caserna: ignorava o Congresso e a ala conservadora, procurando impor suas reformas baseado no lastro da popularidade de que dispunha, e na expressiva votação que obtivera nas eleições, ocasião em que quebrou a unidade partidária.

Com efeito, Jango fez-se vice Presidente pelas esquerdas, junto com Jânio, que representava a ala mais reacionária da política brasileira. Era dobradinha “Jan-Jan” (Jânio e Jango), que custou a carreira política de Teixeira Lott (candidato a Presidente, com o Jango) e de Milton Campos (candidato a vice-presidente com Jânio). Lott e Campos, na ocasião, foram derrotados por acordos espúrios entre grupos políticos.

Embora dispersa em vários comandos civis e militares, principalmente no Rio de Janeiro, em São Paulo e Minas Gerais, a oposição ao governo reconhecia a ascendência das lideranças do Rio, onde se achava o general Artur da Costa e Silva, e para onde, mais tarde, foi removido o general Humberto de Alencar Castelo Branco, que deixou o comando do 4º Exercito, em Recife, para assumir o comando do Estado Maior do Exército (EMEx), onde eram maior o poder de articulação.

Correndo por fora da raia, como um franco atirador, estava o general Olímpio Mourão Filho, com opiniões próprias, infenso a qualquer orientação vinda de fora de seu comando, ele mesmo capaz de desequilibrar o plano integrado da demais forças que participavam da conspiração anti-Jango. E foi Mourão que, na madrugada de 31 de março de 1964, por sua própria conta e risco e sem conhecimento dos demais, saiu de Juiz de Fora com um punhado de jovens soldados inexperientes para a derrubada do governo, antecipando em pelo menos 20 dias o movimento que deveria eclodir a partir do Rio de Janeiro.

Revolução ou Golpe ? Essa discussão até hoje está em aberto, embora a opinião da maioria se incline para a segunda hipótese. Para os militares que participaram do movimento, foi uma revolução objetivando exterminar o comunismo que atentava contra as liberdades democráticas; para a ala esquerda, não pairavam dúvidas de se tratava de um golpe bem articulado para impedir a realização das reformas.

Já para Mourão Filho, teria sido uma revolução legítima, partindo de Minas Gerais, a qual chegou vitoriosa ao Rio de Janeiro, mas lá encontrou o general Costa e Silva já instalado no gabinete do ministro da Guerra, e o general Castelo Branco virtualmente empossado presidente da República. Era o que ele próprio chamou de “golpe de 1º de abril”.

È importante nos determos nos acontecimentos que levaram ao movimento vitorioso de 1964, que rapidamente afastou as lideranças civis ou colocou- as a seu serviço, dando início a uma série de governos militares que se sucederam no poder até o ano de 1985.

Como era estranho esse general Mourão.

Olímpio Mourão Filho (1900-1972) nasceu em Diamantina (MG), a mesma cidade de Juscelino Kubitschek. È a única identidade entre os dois. Ao contrário de JK, Mourão Filho tinha índole belicosa e um temperamento irrefreável, transcorrendo toda sua vida ao meio de conspirações, desenvolvidas abertamente, seguindo sua própria avaliação e em prejuízo de qualquer opinião que não a sua própria.

Se tivermos de compará-lo a alguma figura histórica, poderíamos melhor aproxima-lo de Tiradentes, outro mineiro notável que assumiu como seus os ideais da Conjuração Mineira e saiu pelas cidades de seu Estado de Rio de Janeiro pregando a queda do Império, descuidando-se do sigilo, elemento essencial para a vitória de qualquer movimento contestatório.

Em 1937, como capitão do Exército, Mourão identificou-se com a Ação Integralista Brasileira e teve seu nome envolvido no Plano Cohen. Em verdade, tal plano de pretensa ação comunista para a tomada do poder foi redigido por ele próprio, mas apenas para treinamento dos integralistas no combate ao comunismo. Por ardil do presidente Getúlio Vargas, auxiliado pelos generais Góis Monteiro e Caiado de Castro, a peça foi tomada como verdadeira e serviu de pretexto para o fechamento do Congresso Nacional e a instituição de um novo regime, o do Estado Novo. O maior prejudicado, além da nação brasileira, foi o próprio Mourão, que por quase 30 anos teve sua carreira militar bloqueada, enquanto seus companheiros de turma subiam rapidamente.

Em 1956, Juscelino finalmente promoveu-o a general-de-brigada (duas estrelas), ficando estacionado nessa posição durante 5 anos. E, como general-de-brigada, em 1961,voltou-se contra os ministros militares que se opunham à posse de João Goulart, seguindo para a casa do marechal Teixeira Lott, onde se encontravam outros militares favoráveis à posse de Jango, dentro dos termos da Constituição. Lott já havia emitido um manifesto, publicados pelos jornais matutinos, e vinha como uma outra declaração, quando Mourão, irritado, contestou: João Goulart foi finalmente empossado e, pouco depois, Mourão Filho passou a conspirar contra o novo Presidente, primeiro em Santa Maria (RS), depois em São Paulo e finalmente em Juiz de Fora, causando mal-estar e até inimizades dentro nas hostes antijanguistas. Vitorioso o movimento de 1964, voltou-se também contra este, considerando que a revolução foi traída com a permanência dos militares no poder. Já não tinha, porém, qualquer comando, pois, ainda em 1964 caiu na compulsória, reformando-se como general de divisão.

Enquanto outros de sua turma se aposentaram com o título de marechal, Mourão foi para a reserva como general-de-divisão (três estrelas), quase ignorado nas referências sobre o movimento militar que resultou na instituição da Quarta República. Uma ou outra enciclopédia abre uma entrada com seu nome e, assim mesmo, para uma citação de duas ou três linhas, sem se deter em sua biografia ou na importância que ele teve para o sucesso do movimento.

Em Santa Maria, o “Plano Junção”

Promovido a general-de-brigada (duas estrelas) em 7 de setembro de 1956, já no mês seguinte Mourão assumi o comando da Infantaria Divisionária em Belo Horizonte, onde não fica mais que uns poucos meses. Seu temperamento guerreiro incomodava muito e Juscelino nomeia-o para cargos burocráticos, primeiro na Assistência Social do Exército e, depois, na direção dos Serviços de Radiodifusão (hoje DENTEL), subordinado ao Departamento de Correios e Telégrafos.

Pouco tempo depois, já desconfiava não só do presidente João Goulart como também do governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, achando que ambos pretendiam aplicar um golpe de estado com subseqüente comunicação do governo.E, assim, não tarda em reiniciar a atividade conspiratória, traçando o “Plano Junção”, pelo qual pretendia levantar o Exército, assim que pressentisse qualquer atitude de Jango para o fechamento no regime. Uma tarefa nada fácil, já que o comandante do 3º Exército era o general Jair Dantas Ribeiro, francamente janguista.

O Primeiro nome indicado para a chefia do Gabinete foi o do jurista Santiago Dantas, prontamente rejeitado pelo Congresso que o considerava muito à esquerda. Jango, então, concordou em indicar para Primeiro-Ministro o presidente do Congresso, Auro Soares de Moura Andrade (conservador) mas, em seguida, usando das atribuições que lhe eram conferidas, recusou o ministério indicado pelo Congresso, por achá-lo conservador demais para as reformas que tinha em mente.

Finalmente, executivo e legislativo se fixaram no nome de Brochado da Rocha, mais à esquerda que Santiago Dantas.É claro que a ninguém interessava essa nomeação, que se constituiu em novo casuísmo, enquanto, paralelamente, se procurava detonar o parlamentarismo, com a realização de um plebiscito.

O gabinete de Brochado, empossado em 9 de julho de 1982, foi substituído pelo o de Hermes Lima em 17 de setembro e este último se dissolveu em 23 de janeiro de 1963 quando, de conformidade com plebiscito realizado em 6 de janeiro, o Brasil voltou a adotar o Presidencialismo, concentrando nas mãos de Jango ambos os poderes, de chefe de Estado e de chefe de Governo.

É o próprio Mourão quem conta:

“Levantei-me com um gesto espalhafatoso, o gorro na cabeça e com os dois braços fazendo gestos para os oficiais, gritei bem alto: ‘Levantem-se, vamos nos retirar daqui’. Não admito insultos contra o chefe das Forças Armadas, presidente João Goulart”.

O truque deu certo. Havia transmissão ao vivo pelo rádio e toda a imprensa paulista estava dando cobertura à sociedade. Ademar mandou um mensageiro procura-lo na sala onde havia se alojado, garantindo que faria um discurso desmanchando tudo, e pedindo-lhe que, após, voltasse à cerimônia. E assim aconteceu.

No Palácio do Planalto, a repercussão não podia ter sido melhor. O general Mourão Filho passou a ser considerado um elemento pró governo e em tal grau que, no mês seguinte, recebia como bônus a transferência para uma função da mais alta confiança, qual seja, o comando da 4ª Região Militar e da 4ª Divisão de Infantaria, em Juiz de Fora, desalojando dessa posição o general Carlos Luís Guedes, elemento muito chegado ao governador de Minas, Magalhães Pinto.

A posição dos governadores

Neste ponto, será útil mapear o posicionamento dos principais governadores envolvidos no processo conspiratório, de um lado e de outro.

Miguel Arraes, em Pernambuco fazia o movimento das esquerdas, dando amplo apoio às Ligas Camponesas de Francisco Julião, um movimento extremista que objetivava a reforma agrária à força, criando situações de fato, com a invasão de propriedades produtivas, sobretudo engenhos, e criando situações de conflito armado, sob as vistas grossas, quando não, sob a proteção do Governador.

Em Minas Gerais, Magalhães Pinto, mineiramente, dava uma no cravo e outra na ferradura. Conspirava contra o presidente da República, mas sem alarde, dando mesmo a entender que estava ao lado do governo central.

Nesse propósito, chegou até a financiar, com dinheiro público, a realização, em Belo Horizonte, do 1º Congresso Nacional de Trabalhadores do Campo, arcando com as despesas de instalação, transporte e alojamento. Como não podia deixar de ser, a maior representação (cerca de 200 camponeses) foi a de Francisco Julião, que pedia a desapropriação sumária de todo latifúndio acima de 500 hectares. Diante de uma multidão calculada em 5 mil pessoas, foi transmitida uma gravação com a voz de Fidel Castro, dando apoio cubano à reforma agrária brasileira.

Na Guanabara, reinava absoluto Carlos Lacerda, com mandato diferenciado dos demais, já que o Estado foi criado em 1961 e sua presença no governo deveria se estender até 1965.

Magalhães e Lacerda conspiravam contra o governo, mas evitavam comunicar-se.Ambos eram candidatos virtuais à presidência da República e cada um deles, isoladamente, procurava fortalecer sua posição, enfraquecendo o adversário. Magalhães, recatado, levava a melhor; Lacerda, destemperado, expunha-se demais, mas, em compensação, fazia uso da máquina para esmagar movimentos pró-Jango, com medidas nem sempre em plena conformidade com a lei.

Ademar de Barros, em São Paulo, era um meio termo entre os dois. Falava e agia com franqueza, mas medindo suas reações e, no interesse da causa, não teve dúvidas em aliar-se ao seu maior inimigo, Júlio Mesquita Filho, diretor do jornal O Estado de São Paulo.

No Rio Grande do Sul, Ildo Meneghetti era uma incógnita, mas, estourando o movimento, em 31 de março, mudou a sede do governo para o interior, anunciando sua adesão aos militares anti-Jango.

Leonel Brizola, cunhado de João Goulart e um dos representantes mais importantes da esquerda, encerraram seu mandato como governador do Rio Grande do Sul, mas elegera-se deputado federal e mantinha sua ascendência política sobre seu Estado e sobre uma boa parte do país. Era também um demolidor e, na esquerda, servia de contraponto à agressividade de Lacerda na Guanabara. Sem ser comunista, Brizola adotava a técnica de organização de células revolucionárias, que chamou de “grupos de onze”. Esse era o número de componentes de cada célula e, no momento oportuno, pretendia ativar todas elas para detonar o regime.

A ação das esquerdas

Se as forças anti-Janguistas se articulavam para a derrubada do Governo, do outro lado, as forças pró-Jango se preparavam para uma mudança radical do regime, dando a João Goulart poderes absolutos para realizar as reformas que tinha em mente. Enquanto as primeiras, firmadas em líderes políticos e empresários, mantendo o controle de comandos vitais nas Forças Armadas, tinha uma noção exata de seu poder, os janguista se iludiam em sua força aparente, seduzidos pela idéia do sucesso e divorciados da realidade.

Se as associações de trabalhadores eram mais experientes e práticas, a UNE-União Nacional dos estudantes- apresentava-se idealista e intelectualizada, estendendo sua ação junto às escolas e fazendo um trabalho de proselitismo que utilizava sobretudo o teatro, com a cooperação do CPC-Centro Popular de Cultura, onde se abrigavam os mais conhecidos artistas jovens de nosso país. Contavam-se, entre eles, Oduvaldo Viana Filho (Vianinha), Gianfrancesco Guarniere, Cacá Diegues, Leon Hirzmann. Vera Gertel (mais tarde repórter de TV) e outros. E mais cantores e compositores, como Edu Lobo, Carlos Lira e Sérgio Ricardo O Sociólogo Luís Werneck Vianna, reconhece o excesso de idealismo juvenil que lhes vedava os olhos à realidade que, sobretudo no Rio de Janeiro, lhes era adversa, com a polícia do governador Carlos Lacerda e o peso das forças bem articuladas da direita:

“Nós tínhamos, particularmente os jovens, que haviam sido mobilizados pela polícia de esquerda daquela época, uma confiança muito grande nas lideranças. E as lideranças diziam que, ‘se a direita levantasse a cabeça, essa cabeça seria cortada’. Isso é textual. Foi uma frase que o Prestes [Luís Carlos Prestes, secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro] lançou na ABI [Associação Brasileira de Imprensa] quinze dias ou um mês antes do golpe. Nós fomos para a UNE com um espírito de resistência (...) Fomos para a UNE como para mais uma jornada, onde as coisas aconteceriam e, no dia seguinte, tudo voltaria ao normal, como tantas outras crises que havíamos assistido no período.”

Oduvaldo Viana Filho foi uma das vítimas dessa imprudência. Preso pela polícia de Lacerda, “desapareceu” por alguns dias nas dependências do DOPS carioca, sendo ineficaz o “habeas-corpus”, porque não era localizado em lugar algum. Foi preciso a interferência do general Nelson de Mello que, mesmo sem concordar com o posicionamento da UNI agiu no sentido de localizar e libertar Vianinha.

Heron Domingues, o célebre Repórter Esso, reproduziu na TV os acontecimentos: “Mocinho falador, você está preso – foi o que disseram a Oduvaldo Viana Filho, o Vianimha, preso na avenida Rio Branco, esquina de Araújo Porto Alegre”. E, em entrevista à Última Hora, diz Vianinha: “Cuspiram-me no rosto e rasgaram minha roupa”. E, mais tarde conta: “A ordem era total intimidação e a mais completa humilhação. Cheguei à conclusão de que, com aquela polícia, até mesmo um homem santo como D. Helder [D. Helder Câmara, Arcebispo do Rio] ou um retardado como o almirante Pena Boto [um dos conspiradores contra a posse de Juscelino em 1956] poderiam ser transformados em revolucionários.”

De um lado e de outro, os espíritos se armavam para uma luta sem fronteiras. Não havia uma voz pacificadora, capaz de serenar os ânimos e reencaminhar o país para o entendimento. Todos queriam o bem-estar da nação, cada um à sua maneira, usando a força como argumento.

A articulação da direita

Se as esquerdas contavam com apoio ostensivo de Cuba, da União Soviética e da China, inclusive coma presença de agentes subversivos no Brasil, a direita, por sua vez, tinha uma cobertura de retaguarda dos Estados Unidos, através da “Operação Brother Sam”, que garantia a interferência americana até o ponto em que fosse necessária para impedir a implantação de um regime comunista no Brasil

Os EUA já tinham Cuba bem próximo de si, o que era um problema mais do que suficiente, não lhes interessando, de maneira alguma o surgimento de outro núcleo justamente no cone sul, o que facilitaria a propagação revolucionária pelos países vizinhos. Não custa lembrar que o Brasil faz divisa com todos os países da América do Sul, com exceção de Equador e Chile.

Na conspiração anti-jango, o setor militar estava fortemente guarnecido. O general Costa e Silva entregou o comando do 4º Exército (Recife) ao general Castelo Branco e veio para o Rio de Janeiro. O próprio Castelo Branco, temos depois, foi transferido também para o Rio de Janeiro, assumindo o comando do Estado Maior do Exército (EMEx). Na Marinha, havia o almirante Sílvio Heck, na Aeronáutica, o prestígio do brigadeiro Eduardo Gomes. Ao lado deles, o Ex-presidente, marechal Eurico Gaspar Dutra.

No setor civil, a presença, em peso, da União Democrática Nacional, mais o apoio de populistas e integralistas, representados sobretudo pelo PSP de Ademar de Barros e, no Rio de Janeiro, o coração do movimento era governador Carlos Lacerda, com todo poder de fogo, tanto na imprensa como no governo do Estado de Guanabara.
Os acontecimentos se precipitam
O mês de março de1964 marcou a radicalização das posições de um lado e de outro, numa escalada impressionante que fazia prever uma substituição do embate de idéias pelo confronto armado direto.
No dia 13, o presidente João Goulart promoveu o Comício da Reformas, em frente à estação da Estrada de Ferro Central do Brasil, mas em área militar, onde manifestações públicas não são permitidas. Os mais modestos estimaram a presença de 150 mil pessoas, havendo quem garantisse haver na concentração mais de 250 mil pessoas.
Na ocasião, assinou um ato determinando a desapropriação de todas as terras às margens de rodovias e açudes, mediante prévia e efetiva indenização. Ou era um ato demagógico, ou então contava com o rompimento institucional, por um golpe de estado, com o que o os pagamentos seriam feitos em papéis de dívida pública, pagáveis em 15 ou 20 anos,tal como acontecera com as desapropriações em Cuba.
E havia momentos de alucinação, como aquele em que um punhado de senhoras católicas se ajoelharam diante de um estúdio de TV em São Paulo, com seus terços entre as mãos para impedir a entrada de Miguel Arrais, que deveria participar de um debate.
Houve também movimentos mais organizados, como as Marchas da Família, com Deus e pela Liberdade, em São Paulo, Santos e, tardiamente, no Rio de Janeiro. Em São Paulo, num dia da semana, que era feriado, os organizadores conseguiram colocar nas ruas 250 mil pessoas, às três horas da tarde. Fábricas fecharam suas portas e colocaram operários em caminhões e ônibus para levá-los à passeata.
No dia 27 de março, marinheiros liderados por um agente duplo, que ficou sendo conhecido como “cabo” Anselmo, e com a evidente cumplicidade do Almirante Aragão, recusaram-se a reassumir seus postos de trabalho. Presos em um quartel do Exército, foram inexplicavelmente liberados, horas depois, e saíram em ruidosa passeada pela cidade do Rio de Janeiro.
Voltando a Minas Gerais
Deixemos de lado, por um momento, os cabos e soldados rebelados e voltemos a Minas Gerais, onde Mourão Filho encontrava dificuldades em articular seu plano de ação revolucionária a que deu o nome de “Operação Popeye”, talvez em lembrança ao cachimbo que sempre levava consigo.
Em Juiz de Fora, nem tudo saiu como esperava, pois seus comandados imediatos, em que pese o respeito à sua autoridade, recusavam-se a participar de qualquer movimento conspiratório,assegurando que só pegariam em armas se houvesse, em efetivo, um golpe do presidente da República contra as instituições. Antes disso, não.
Nessa situação, Mourão passou a catequizar a jovem oficialidade, contando com seu comando para, no momento oportuno, tirar os soldados dos quartéis para marchar sobre o Rio de Janeiro. Nesse propósito, todavia, era contestado veementemente pelo general Luís Carlos Guedes, comandante da Divisão de Infantaria sediada em Belo Horizonte, e pelo governador Magalhães Pinto, que não acreditavam em uma revolução desse porte feita com “meninos recrutas” comandados por jovens oficiais.
Mas, no momento exato, conseguiu o apoio do Marechal Odílio Denys, que se deslocou par Juiz de Fora, a fim de dar-lhe apoio de retaguarda. O motivo é simples: Na ação revolucionária, Mourão, general de Divisão (3 estrelas), não seria acatado pelos generais de Exército (4 estrelas). Sendo Denys um marechal, o comando geral ficaria em suas mãos, enquanto Mourão, supostamente sob suas ordens, colocaria as tropas a caminho do Rio de Janeiro.
Mas o Manifesto preparado por Magalhães Pinto, chefe civil da revolução, era uma mistura de água com açúcar. O governador deixava a porta aberta para um recuo e, nessas circunstâncias, toda responsabilidade caia sobre o comando militar!
O general Mourão lamentou o tempo perdido e estabeleceu novo cronograma, prevendo a saída das tropas em 31 de março às 5 horas da madrugada, com ou sem manifesto, com ou sem o Governador. Não havia mais tempo ou condições para recuar.
Tropas na rua!
Juiz de Fora, 31 de março, 5 horas da manhã. O general Olímpio Mourão Filho desencadeia a “Operação Popeye” promovendo o levante das tropas da 4º Região0 Militar e da 4º Divisão de Infantaria, apoiado pelo entusiasmo da jovem oficialidade e dos “meninos recrutas”, submetidos que foram a um mês de rigoroso e mortal treinamento. É o momento de provar se aqueles “meninos”, com seu entusiasmo, teriam condições de usar a audácia para superar as limitações da inexperiência. À frente das tropas seguia o general Murici.
A notícia estourou no Rio de Janeiro e em São Paulo como uma bomba. Ninguém no alto comando queria acreditar. Mas, ao ser confirmada sua veracidade, o general Castelo Branco teria dito: “Agora, ou damos apoio ao Mourão, ou ele estará perdido!”.
Do Rio de Janeiro partem, também, tropas do Regimento Sampaio (1ª Regimento de Infantaria), comandadas pelo coronel Raimundo Ferreira de Sousa, supostamente para dar combate aos rebeldes. O coronel Raimundo, entretanto, após um contato telefônico com Juiz de Fora, falando diretamente com o marechal Odílio Denis, adere ao movimento. Juntando seus soldados aos de São Paulo e de Minas, passa a integrar as forças rebeldes que entram vitoriosamente na cidade do Rio de Janeiro.
O presidente João Goulart viaja para Brasília, daí para Porto Alegre e, por fim, se exila no Uruguai. O Congresso Nacional, declara vago o cargo e empossa como presidente da República, dentro da linha de sucessão, o presidente da Câmara, Ranieri Mazzilli. Um Presidente de fantasia, já que todas as decisões políticas estavam sendo tomadas pelo novo comando militar, no Rio de Janeiro.
Com efeito, ao chegar ao Rio de Janeiro, comandando as tropas revolucionárias, o general Mourão encontra um esquema previamente montado que torna inútil a sua presença ali. Costa e Silva se fizera ministro da Guerra; Castelo Branco era o nome indicado para assumir a presidência da República, cumpridas as formalidades; o general Ururai assumira o comando do 1º Exército; o general Taurino, a 1ª Região Militar. Os comandantes do movimento no Rio de Janeiro tomavam posse de seus cargos antes mesmo que o Congresso declarasse a vacância do cargo de Presidente, e Mazzilli tivesse tempo de nomear seu ministério. Isso vai melhor contado no próximo capítulo.
Foi dentro desse espírito que os conspiradores anti-jango, desde o princípio, aproximaram-se dos Estados Unidos, procurando obter destes a garantia de apoio na luta contra o “perigo interno”.
Conclusão

Foi concluído que nada aconteceu por acaso. O movimento militar de 1964 foi epílogo de problemas políticos mal resolvidos desde a Proclamação da República em 1889, como relembra Helio Fernandes, em artigo publicado na Tribuna da Imprensa – RJ em 9 de junho de 2004: “1935 provocou o 10 de novembro de 1937, o 11 de maio de 1938, o Manifesto [dos mineiros de 1943, a derrubada da ditadura em 1945, o Manifesto dos coronéis de 1953, o suicídio de Vargas em 1954, o golpe contra Juscelino em 11 de novembro de 1955, a renúncia de Jânio em 1961, a posse “controlada” de Jango no mesmo ano de 1961, a ditadura escancarada de 1964.
“Sempre com os militares no centro de tudo, perdendo numa oportunidade, ganhando na outra, coordenado e orquestrado.”
“A partir da renúncia de Jânio e da posse de Jango, o País ficou num clima permanente de golpe. Só não percebeu quem não quis.”
“Civis e militares, TODOS, SEM EXCEÇÃO, eram golpistas. Os civis não acreditavam que os militares ficassem com o Poder, mas foram superados.”
O Governo militar era planejado desde 1954 foi adiado devido o suicido de Getulio vargas.
“Em 1964 houve outro golpe militar, nenhuma surpresa. Na mesma linha do 15 de novembro do 1889, O PRIMEIRO GOLPE MILITAR DA HISTÓRIA DO BRASIL.!”

BELLE ÉPOQUE
INTRODUÇÃO
BELLE ÉPOQUE Por Lucino Campos
Não tenho procuração, apenas uma profunda admiração por Maria de Nazaré Sarges (Naná), desconheço mulher mais apaixonada pela Belém do século XIX, e defensora ardorosa dos feitos de Antonio José de Lemos. Naná, educadora convicta e admirada por seus alunos, devido seu fino trato e paciência com quem estar começando a trilhar o maravilhoso mundo da história da humanidade.
Costuma-se definir Belle Époque como um período de pouco mais de trinta anos que, iniciando-se por volta de 1880, prolonga-se até a Guerra de 1914.
Mas essa não é, logicamente, uma delimitação matemática: na verdade, Belle Époque é um estado de espírito, que se manifesta em dado momento na vida de determinado país.
No Brasil, a Belle Époque situa-se entre 1889, data da proclamação da República, e 1922, ano da realização da Semana da Arte Moderna em São Paulo, sendo precedida por um curto prelúdio – a década de 1880 – e prorrogada por uma fase de progressivo esvaziamento, que perdurou até 1925.
Seria impossível entender a Belle Époque brasileira fora de suas vinculações com a França. Neste ano de 2009, bem acertada a homenagem: O ANO DA FRANÇA NO BRASIL, e o acordo de negócios na esfera da Segurança Nacional em que o governo brasileiro estar comprando armas e veículos aéreos bem como submarinos para defesa da soberania nacional e seus interesses econômicos, garantindo assim a paz interna.
Na segunda metade do Século 19, cinco grandes exposições internacionais realizadas em Paris indicaram, aos pintores e escultores do mundo inteiro, a tendência estética mais em voga.
A primeira dessas exposições, a de 1855, foi o decisivo confronto entre os adeptos do neoclássico Dominique Ingres e do romântico Eugène Delacroix, com a vitória final destes últimos – e, portanto, do Romantismo.
Gustave Courbet, cujas obras tinham sido recusadas, ergueu, a pouca distância do recinto da mostra, seu próprio «Pavilhão do Realismo».
Doze anos depois, o recusado de 1855 tornava-se o herói do dia: a Exposição de 1867 representou a vitória de Courbet e do Realismo, além de mostrar à Europa os pre-rafaelitas ingleses. Desta vez, o júri cortara Manet que, inconformado, também expôs em um pavilhão improvisado.
ARTISTAS BRASILEIROS PREMIADOS NA FRANÇA
A Exposição de 1878 marcou o início da consagração do Impressionismo. A de 1889, representou o triunfo dos simbolistas e, finalmente, a de 1900 assinalou a consagração do Art Nouveau, expressão usada para os rumos que tomou a arte ocidental a parti do século XIX. Engloba grande variedade de estilos e formas, cuja modernidade reside na tendência comum de repudio a precedente e conversões. Embora cumulativamente a arte moderna tenha sido revolucionária, refletiu uma reorientação total contemporânea do pensamento e dos valores humanos. Quando falamos em Arte Nouveau, vem a lembrança da Arte Rococó, seus detalhes ainda hoje encantam muitas pessoas.
Nas três exposições acima citadas estiveram presentes pintores do Brasil. Na de 1878, Augusto Rodrigues Duares. Na de 1889, Henrique Bernardelli, medalha de bronze, e Manuel Teixeira da Rocha, grande medalha de ouro. Na de 1900, Pedro Américo, Pedro Weingartner e Eliseu Visconti, este último contemplado com medalha de prata.
Essas medalhas, nem sempre correspondiam aos méritos do artista. Concebidas como gigantescos mostruários da indústria e do comércio franceses, visando a angariar novos mercados em países distantes, tais exposições costumavam conceder quase tantos prêmios quantos eram os expositores.
Participando dessas exposições, simplesmente visitando-as, ou folheando seus catálogos, artistas de outras terras entraram em contato com a última moda artística, que os mais talentosos logo adotaram. Desse modo, decerto, foi que o Realismo, Impressionismo, Simbolismo, Pontilhismo e Art Nouveau – movimentos estéticos do período chamado Belle Époque atravessaram o Atlântico e chegaram às Américas e ao Brasil.
Paris era um grande centro, não só cultural, mas também de diversão. Dança no Moulin Rouge (1890), de Henri de Toulouse-Lautrec, Museu de Arte de Filadélfia.A Belle Époque (bela época em francês) foi um período na história da Europa que começou no final do século XIX (1871) e durou até a eclosão da Primeira Guerra Mundial em 1914. A expressão também designa o clima intelectual e artístico do período em questão. Foi uma época marcada por profundas transformações culturais que se traduziram em novos modos de pensar e viver o cotidiano.
A Belle Époque foi considerada uma era de ouro da beleza, inovação e paz entre os países europeus. Novas invenções tornavam a vida mais fácil em todos os níveis sociais, e a cena cultural estava em efervescência: cabarés, o cancan, e o cinema haviam nascido, e a arte tomava novas formas com o Impressionismo e a Art Nouveau.
Arte e a arquitetura inspiradas no estilo dessa era, em outras nações, são chamadas algumas vezes de estilo "Belle Époque".
SOCIEDADE E PROGRESSO MATERIAL
Inovações tecnológicas como o telefone, o telégrafo sem fio, o cinema, a bicicleta, o automóvel, o avião, inspiravam novas percepções da realidade. Com seus cafés-concertos, balés, operetas, livrarias, teatros, boulevards e alta costura, Paris, a Cidade Luz, era considerada o centro produtor e exportador da cultura mundial. A cultura boêmia imortalizada nas páginas do romance de Henri Murger, Scènes de la vie de bohème (1848), era um referencial de vida para os intelectuais brasileiros, leitores ávidos de Baudelaire, Rimbaud, Verlaine, Zola, Anatole France e Balzac. Ir a Paris ao menos uma vez por ano era quase uma obrigação entre as elites, pois garantia o vínculo com a atualidade do mundo.
ARTE E LITERATURA
O estilo chamado art nouveau ("arte nova" em português) foi típico da Belle Époque. Esta corrente artística surgiu nos finais do séc. XIX, em reacção ao emprego abusivo na arte de motivos clássicos ou tradicionais. Em vez de se basear nos sólidos modernos da arte clássica, a art nouveau valorizava os ornamentos, as cores vivas e as curvas sinuosas baseadas nas formas elegantes das plantas dos animais e das mulheres. É uma arte essencialmente decorativa sendo as principais obras desse estilo fachadas de edifícios, objetos de decoração (móveis, portões, vasos), jóias, vitrais e azulejos. Um dos pintores mais conhecido da Arte Nova é Alfonse Mucha.
MOVIMENTOS SOCIAIS
Enquanto a arte e a inovação floresciam, essa época também viu o crescimento do proletariado e ascensão de movimentos organizados contrários à ordem capitalista vigente, como o movimento anarquista e o socialista, duramente reprimidos pelas autoridades. Com a difusão dessas doutrinas, houve uma polarização cada vez maior entre defensores e detratores do capitalismo, o que gerou enfrentamentos muitas vezes violentos.


I N T R O D U Ç Ã O
Durante a Independência, o Grão Pará se mobilizou para expulsar as forças reacionárias que pretendiam reintegrar o Brasil a Portugal. Nessa luta, que se arrastou por vários anos, destacam-se às figuras do cônego e jornalista João Batista Gonçalves Campos, dos irmãos Vinagre e do fazendeiro Félix Antonio Clemente Malcher. Formaram-se diversos mocambos de escravos foragidos e eram freqüentes as rebeliões militares. Terminada a luta pela Independência e instalado o governo provincial, os lideres locais foram marginalizados do poder.

Em julho de 1831, estourou uma rebelião na guarnição militar de Belém do Pará, tendo Batista Campos sido preso como uma das lideranças implicadas. A indignação do povo cresceu e em 1833 já se falava em criar uma federação. O governador da Província, Bernardo Lobo de Souza, desencadeou uma política repressora, na tentativa de conter os inconformados. O clímax foi atingido em 1834, quando Batista Campos publicou uma carta do bispo do Pará, Romualdo de Souza Coelho, criticando alguns políticos da província. Por não ter sido autorizado pelo governo da província, o cônego foi perseguido, refugiando-se na fazenda de seu amigo Clemente Malcher. Reunindo-se aos irmãos Vinagre (Manuel, Francisco Pedro e Antônio) e ao seringueiro e jornalista Eduardo Angelim reuniram um contingente de rebeldes na fazenda de Malcher. Antes de serem atacados por tropas governistas, abandonaram a fazenda. Contudo, no dia 3 de novembro, as tropas conseguiram matar Manuel Vinagre e prender Malcher e outros rebeldes.
Na década de 1830, a província do Grão Pará, que compreendia os estados do Pará e do Amazonas, tinha um pouco mais de 80 mil habitantes (sem incluir a população indígena não aldeada). De cada cem pessoas, quarenta eram escravos indígenas, negros, mestiços ou tapuios, isto é, indígenas que moravam nas vilas.
Belém, nessa época, não passava de uma pequena cidade com 24 mil habitantes, apesar de importante centro comercial por onde era exportado cravo, salsa, fumo, cacau e algodão.
A independência do Brasil despertou grande expectativa no povo da região. Os indígenas e tapuios esperavam ter seus direitos reconhecidos e não serem mais obrigados a trabalhar como escravos nas roças e manufaturas dos aldeamentos; os escravos negros queriam a abolição da escravatura; profissionais liberais nacionalistas e parte do clero lutavam por uma independência mais efetiva que afastasse os portugueses e ingleses do controle político e econômico. O resto da população, constituída de mestiço e homem livre, entusiasmada com as idéias libertarias, participou do movimento, imprimindo-lhe um conteúdo mais amplo e mais radical.
A grande rebelião popular, que aconteceu em 1833, teve origem num movimento de contestação, ocorrido dez anos antes e que havia sido sufocado com muita violência, conhecido como “rebelião do navio palhaço.
O descontentamento que dominava não só Belém, mas igualmente o interior do Pará, aumentou com a nomeação do novo presidente da província, lobo de Souza, o cônego João Batista Campos, importante líder das revoltas ocorridas em 1823 e duramente reprimida, tornou-se novamente porta-voz dos descontentes, principalmente da igreja e dos profissionais liberais.
A Guarda Municipal, pró-brasileira, era conscientizada por um de seus membros, Eduardo Angelim, que denunciava sobretudo os agentes infiltrados em toda parte.
A partir de 1834, as manifestações de rua se multiplicaram e o governo reagiu prendendo as lideranças. Batista Campos, Angelim e outros lideres refugiaram-se na fazenda de Félix Clemente Malcher, onde já se encontravam os irmãos Vinagre. Ali foi planejada a resistência armada.
Segundo Caio Prado Junior. Inicia-se a Cabanagem, a mais importante revolta popular da Regência. Esse nome indicava a origem social de seus integrantes, os cabanos, moradores de casas de palha. Foi o mais notável movimento popular do Brasil, o único que as camadas pobres da população conseguiram ocupar o poder de toda uma província com certa estabilidade.
As forças militares foram extramente violentas, incendiando fazendas de Malcher e prendendo-o juntamente com outros lideres. Revoltado, o povo de Belém acompanhava os acontecimentos. O destacamento militar de Abaeté se rebelou em
protesto contra a perseguição feita a Eduardo Angelim. Após a morte de Batista Campos, o grupo se rearticulou em quatro frentes e atacou Belém. Com a adesão de guarnições da cidade, a vitória foi total. O presidente da província, Lobo de Souza, e o comandante das tropas portuguesas foram mortos, e os revoltosos, soltos. Malcher foi aclamado presidente da província.
Iniciava-se o primeiro governo cabano. Sem muitas lideranças, o povo escolheu Clemente Malcher, por ser um homem respeitado por todos. Porém, ele continuava com “cabeça” de fazendeiro e começou a tomar atitudes que os cabanos consideravam traição. Os desentendimentos levaram à primeira importante ruptura das lideranças: de um lado, Malcher e as elites dominantes, e, de outro, os Vinagre e Angelim, juntamente com os cabanos e boa parte da tropa. Malcher foi preso, mas, a caminho da cadeia onde ficaria por algum tempo, foi morto por um popular.
ALTOS E BAIXOS DE UMA REVOLUÇÃO
Breves, fica localizada as margens do rio Pará, é atualmente o mais importante porto na ilha de Marajó. Em 1842 era apenas um amontoado de casebres, moradias típicas da população pobre da província, cujos habitantes engrossaram as fileiras dos revoltosos da Cabanagem.
Com a morte de Clemente malcher firmaram-se as lideranças mais combatidas, como os irmãos Antonio e Francisco Vinagre e Eduardo Angelim. A 20 de fevereiro de 1835 foi aclamada presidente da província Francisco Vinagre, que tentou organizar a revolução. Procurou colocar ordem na capital, ao reestruturar a guarda municipal e prometer eleições.
A Cabanagem, espalhada por quase todos os rios amazônicos com a participação de muitos indígenas, principalmente com os Mawé e os Mura. Em toda parte o povo invadiu armazéns, expulsou os portugueses e tomou as suas armas. Um dos grandes lideres cabanos da região do baixo Madeira foi o cacique Mawé Leão Crispim.
Infelizmente Francisco vinagre não conseguiu levar adiante os anseios dos cabanos. Traindo seus comandados, concordou em negociar com o governo central, que havia mandado a Belém um esquadra com cerca de seiscentos homens, e aceitou o novo presidente da província, Manuel Jorge Rodrigues.
Iniciava-se a terceira etapa da revolução. Antonio Vinagre e Angelim refugiaram-se no interior. Reorganizaram suas forças, tropas de tapuios, índios, caboclos e negros, e voltaram a atacar Belém á frente de 3 mil homens, após nove dias de lutas, Belém voltou a ficar sob o controle dos cabanos. Com o desaparecimento de Francisco vinagre, morto em combate, assumiu o governo provincial Eduardo Angelim, com apenas 21 anos de idade.
Uma das reinvidicações dos cabanos era a libertação dos escravos. Por ser casado com uma fazendeira. Angelim não teve a coragem de dar esse passo. Muitos
resolveram então faze-lo à sua maneira, o que provocou mortes e saques. Por três dias comemoraram esta etapa de luta com danças e discursos pelas ruas.
Livres dos opressores e dos legalistas, isto é, dos que apoiaram o imperador, os cabanos tiveram de enfrentar um novo inimigo: a fome. Durante este tempo de guerra as plantações. Foram abandonadas e a carne que vinha da ilha do Marajó foi bloqueada pelos navios da Marinha. A fome em Belém era tanta que, segundo um escritor da época, o povo só tinha para comer ervas agrestes dos quintais abandonados, raízes e couro seco, reduzido a uma espécie de cola dura e indigesta.
A VIOLENTA REPRESSÃO
Sem muita estrutura e organização, os problemas do novo governo aumentaram. A falta de comida estimulava as intrigas e as divergências. Em abril de 1836, chegava a Belém um novo governador, acompanhado de um grande número de soldados, mercenários estrangeiros e criminosos soltos das prisões do Sul e do Nordeste.
Sem condições de enfrentar este novo ataque, Angelim e os cabanos fugiram para o interior, onde a resistência continuou.
A repressão desencadeada pelo governador foi terrível. De uma população de 80 mil pessoas que viviam em toda a província, foram mortos quase 30 mil, isto é, cerca de 40% da população. Qualquer denuncia bastava para alguém ser considerado cabano e, em seguida, morto. Os mais atingidos foram os indígenas e os tapuios. Na região de Tapajós, onde, em 1820, havia 30 mil indígenas, quarenta anos depois só restavam 3 mil.
Em 1839, o governo do rio de janeiro, diante da insistência dos cabanos em continuar a luta, resolveu anistiar os lideres revolucionários, exceto os que cometeram homicídio e os dois chefes, Antonio vinagre e Eduardo Angelim, que foram deportados.
Ainda hoje, 160 anos depois, o povo se lembra dessa luta e chega a dizer: “a cabanagem não acabou: veja o povo na rua”. A Cabanagem continua sendo a maior revolta popular do Brasil.
O CABOCLO
Foi na Amazônia que o Brasil indígena reagiu por mais tempo contra a invasão européia. Ainda hoje, apesar das leis de Pombal, muitas nações falam o nheengatu, a língua usada para o comércio e para a comunicação.
Dessa resistência cultural e da miscigenação de vários povos com o invasor originou-se o caboclo, palavra de origem Tupi que significa “mestiço”. E esse mestiço, sobretudo depois da Cabanagem, apresentou-se como um povo que havia renegado suas raízes indígenas e perdido sua própria identidade.
Desde o tempo em que esses povos foram usados pelos portugueses para fazer a coleta do cacau, do cravo, da canela, da salsa e de diverso óleos, todos os produtos da Amazônia muito apreciados na Europa, eles foram perdendo o contato com suas aldeias
De origem para entrar no mundo “civilizado”. Também nas aldeias dirigidas por missionários ou por funcionários, as pessoas esqueciam seus parentes e amigos das aldeias de origem para se tornarem cristãs, aceitando o novo mundo criado pelos invasores portugueses.
A historia da chamada “aculturação” dos Apaiaká é uma triste repetição do que ocorreu com outros grupos indígenas. No inicio da colonização, os Apiaká eram um povo guerreiro e muito temido que vivia na bacia do tapajós. Em menos de duzentos anos, a sociedade nacional quase exterminou esse povo. Hoje vivem nas cidades da região do Tapajós e na área indígena do rio dos peixes, perdendo a língua e parte de seus costumes.
Ao mesmo tempo, os caboclos conservavam muita coisa de sua cultura de origem. Viviam em pequenos posses, que eram propriedades não legalizadas, onde cultivavam alimentos para o consumo próprio e para a troca com outros produtos. Isto durou até surgir a exploração da borracha, iniciada na segunda metade do século XIX.
A chegada dos nordestinos na região, em 1870, que fugiam da seca provocou outra invasão na Amazônia. Muitos povos indígenas foram mortos ou tiveram de se submeter a esses novos “patrões”, que faziam dele o que queriam. Era uma nova escravidão que surgia.
As lideranças da Cabanagem idealizaram o indígena e fixaram-no empunhando o arco e a flecha em sua bandeira. Contudo, qual foi sua participação nesta luta que durou aproximadamente 8 anos. Numa relação de presos, levados para o navio-prisão “Defensora”, em 1837,pode-se ter uma amostra dessa participação. Dos 299 presos, 91 eram Tapuios (indígenas não aldeados) e treze eram indígenas; os mestiços com sangue indígena (cafusos e mamelucos) eram 63. esses dados demonstram que 73% dos revolucionários presos eram índios ou descendentes de índios. Os outros segmentos eram bem menos expressivos; 36 mulatos, dez negros e dezesseis brancos.
Quanto aos indígenas aldeados, destacaram-se dois grupos: os Mura e os Mawé. Os Mura, que viviam no médio Amazonas, sempre foram discriminados e perseguidos pelo poder colonial, que os acusava de viver de pirataria nos rios. Eles participaram ativamente ao lado dos cabanos e foram responsáveis pela morte de Ambrósio Ayres, o Bararoá, um dos lideres mais violentos das forças oficiais.
Pagaram um preço alto por esta ousadia. De 50 mil que eram em 1826, quinze anos depois estavam reduzidos a 6 mil. Hoje são em torno de 1400 pessoas.
Os Mawé foram os que lideraram a revolução em Parintins e em Tupinambarana. Sob o comando do cacique Manoel Marques atacaram Luzéa, matando os trinta soldados do destacamento militar e os moradores portugueses do lugarejo, transformando a vila em reduto cabano.
Em Tupinambarana e Andirá os revoltosos foram liderados pelo cacique Crispim leão. Incendiaram esta última vila, obrigando os moradores em Óbidos. No combate, o cacique foi morto a bala. Em 1840, quando 980 cabanos se renderam em Luzéa, todos portavam apenas arcos e flechas.
Convém destacar que o povo Karipuna que vive na região do Oiapoque, ao norte do Amapá, é remanescente cabano, vindo do baixo Amazonas, de Bragança e Abaetetuba. Provavelmente eram tapuios que para lá fugiram, pois falavam o nheengatu, a língua geral tupi. Hoje são cerca de setecentas pessoas que falam o creol, língua que agrega elementos do francês, de língua indígenas e africanas.
O GENOCIDIO OCULTADO
Os martírios aplicados aos cabanos chegaram a chocar o frio bacharel Souza Franco e o prevenido historiógrafo Raiol: “Ninguém imagina os martírios de que foram vitimas os infelizes que caíram em poder das chamadas expedições! Falam somente da selvageria dos cabanos, e esquecem a brutalidade dos apregoados legais! Destes referem atos cruéis que não depõem menos contra a natureza humana”.
O quadro de tortura que se instalou na Amazônia foi sem precedentes pela ferocidade e pela extensão: “os rebeldes, verdadeiros ou supostos, eram procurados por toda parte e perseguidos como animais ferozes metidos em troncos e amarados, sofriam suplícios bárbaros que muitas vezes lhes ocasionavam a morte. Houve até quem considerasse como padrão de glória trazer rosários de orelhas secas de cabanos! Conhecemos um celebre comandante dessas expedições, que desvanecia-se em descrever com ostentação os seus feitos de atrocidades e equiparando os rebeldes a cobras venenosas, dizia que não deviam em caso algum ser perdoados! Muitos dos entroncados nas viagens por canoas lançou ele nos rios, e outros muitos mandou espingardear nos calabouços a pretexto de quererem arrombar as prisões! Nos dias de pior humor fazia dependurar, em cordas presas ao teto da casa de sua moradia, os que lhe inspirava maior antipatia, e comprazia-se em arremessa-los com violência de encontro às paredes, de mãos e pés atados, sem nenhum meio de poderem eles evitar os terríveis choques que lhes fraturavam os ossos”.
(...) o numero de mortos nos martírios e torturas tornou-se incalculável: “consta aproximadamente a mortandade dos rebeldes que pereceram nos navios de guerra, nas prisões, nos hospitais e nos conflitos; mas é inteiramente desconhecida a que teve lugar em maior escala pelo centro da província, nas correrias das expedições e longe das vistas do governo.
Uma das mais importantes revoltas da Regência no Brasil. Ocorreu no Pará entre
1835 e 1840. De caráter fortemente popular, envolve sobretudo os moradores pobres das cidades e dos vilarejos ribeirinhos, os cabanos, índios, negros e mestiços. A rebelião irrompe em Belém, em 7 de janeiro de 1835, com o assassinato das duas principais autoridades provinciais, o presidente e o comandante de armas. Os chefes cabanos formam um “governo revolucionário”, liderado pelo fazendeiro Clemente malcher, e enunciam a autonomia da província diante da Regência, até a maioridade de dom Pedro II.
Divergências internas, porém, provocam conflitos entre os próprios cabanos. Malcher é substituído por um líder popular, Francisco Vinagre. Em julho, tropas imperiais do Rio de janeiro, com o apoio de mercenários ingleses comandados por John Taylor, entram em Belém e expulsam os insurgentes.
Governo popular - em violenta reação, os cabanos retomam a capital em agosto e formam novo governo, de caráter ainda mais radical e popular, liderado por Eduardo Angelim. Proclamam a independência do Pará e a republica e expropriam armazém e depósitos de alimentos para distribuí-los entre a população pobre. A parti de maio de 1836, a repressão oficial ganha força, e o governo rebelde é destituído. Liderados por Antônio Vinagre, irmão de Francisco, que consegue escapar da repressão, os cabanos dispersam-se e refugiam-se no interior da província.
Mobilizando as populações ribeirinhas do rio Amazonas e do baixo Tocantins, os cabanos mantem a rebelião até 1840. Nos seus últimos três anos estima-se que cerca de 30 mil cabanos foram mortos a maioria homens.
Causas da revolta. Como todos os levantes do período regencial, a Cabanagem é uma insurreição provincial contra o governo central do Império, enfraquecido pela crise da Regência. Mas apresenta algumas características particulares. O Pará havia sido uma das províncias brasileiras mais envolvidas na luta pela independência, entre 1821 e 1823, o que fortaleceu em suas elites o espírito autonomista. Além disso, durante a colonização, o estado teve relações comerciais mais constantes com Lisboa do que com o Rio de janeiro. Com a independência do país e a separação da antiga metrópole, fica difícil a situação econômica da província. Os grandes proprietários e comerciantes, muitos deles portugueses, queixam-se do excesso de impostos, da falta de incentivo às exportações e do alto preço dos escravos, apoiando inicialmente a sublevação dos cabanos. A população pobre, no entanto, é atingida duramente pelo agravante das dificuldades econômicas. São suas necessidades e aspirações que sustentam a luta quando as elites retiram seu apoio, no momento em que lideranças populares assumem o controle do movimento.
C O N C L U S Ã O
A cabanagem foi uma grande revolta popular que explodiu na província do Pará, em 1835. Dela participou uma multidão de pessoas muito pobres, submetidas à exploração dos poderosos da região. Eram negros, Índios e mestiços que trabalhavam na exploração de produtos de florestas e moravam em cabanas à beira dos rios. Por isso, eram chamados de cabanos e a rebelião ficou conhecida como cabanagem.
Os cabanos queriam sair da situação de miséria em que viviam. Para isso, tinham que lutar contra os responsáveis pela exploração social e pelas injustiças.
A principio, os cabanos foram apoiados por fazendeiros do Pará descontentes com a política do governo imperial e com a falta de autonomia da província. Os fazendeiros queriam mandar livremente no Pará e exportar sem barreiras os produtos da região (cacau, madeira, ervas aromáticas, peles etc..).
Não demorou muito para que os fazendeiros se afastassem da cabanagem, pois ficaram com medo das idéias que existiam no movimento. Os cabanos queriam acabar com a escravidão, distribuir terras para o povo e matar os exploradores.
Um dos chefes da cabanagem foi o padre Batista Campos que, no sertão paraense, costumava benzer os pedaços de pau utilizados como armas pelos pobres. A cabanagem teve muitos outros lideres populares, conhecidos por apelidos curiosos como o João do mato, domingos onça, mãe da chuva, gigante do fumo.
Em janeiro de 1836, tropas de cabanos conquistaram a cidade de Belém (Capital da província) e mataram várias autoridades do governo, entre elas o presidente da província.
Os cabanos tomaram o poder, mas tiveram grandes dificuldades em governar. Por que faltava-lhe organização., havia muita briga entre os lideres do movimento e a rebelião foi traída várias vezes. Tudo isso facilitou a repressão violenta comandada pelas tropas enviadas pelo governo do império. A liquidação completa dos cabanos só ocorreu em 1840, depois de muito sangue derramado. Calcula-se que foram mortos mais de 30 mil cabanos. Os que sobreviveram às perseguições foram presos e escravizados.
O BARATISMO
Magalhães Cardoso Barata, que entrou para a História como o maior líder político do Pará e cuja lembrança pendura viva passada mais de 46 anos da sua morte, em 29 de maio de 1959.Visceralmente autoritário, um traço da sua personalidade certamente potencializado pela própria formação castrense, mas também com um forte sentimento de justiça social, ele foi incensado pelo correligionários, odiado pelos adversários e venerados pelas massas humildes. Após pontuar a política paraense por quase 30 anos, para o bem ou para o mal, Barata assumiu os contornos de um mito, na esteira do seu pioneirismo administrativo, traduzidos na interiorização do executivo, através do governo itinerante, e pelas audiências públicas, com as quais abriu as portas do poder ao povo.
O populismo de Barata obviamente levou o mito no qual ele se transformou. E certamente neutralizou, com a força do apelo popular que ganhou seu nome, as resistências da elites, a que a ele se opunham. Em uma das suas leituras sobre o fenômeno que representou Barata, o jornalista e historiografo Carlos Roque, já falecido, recordou que Barata ao exercer o poder de forma autocrática, desapropriava terras, para destina-las a passeios, e congregava os preços de medicamentos e alugueis, posturas inéditas para uma época em que a questão social era tratada como caso de polícia. Isto é, ele se valia dos poderes discricionários que dispunha, ou se atribuía, tanto par intimidar seus adversários, como para beneficiar os excluídos de então.com um perfil próprio de caudilho, implacável com os adversários e com um rígido senso de autoridade e disciplina, Barata comandou com mãos de ferro o Partido Social Democrático(PSD) e exerceu com pompas e circunstâncias o poder. O respeito que inspirava nos seus correligionários e a força de seu carisma junto as massas inspirava o chamado baratismo.
Embora seu inspirador fosse pessoalmente probo sendo sempre citado como paradigma de honestidade pessoal; o baratismo sempre esteve associado ao jogo de bicho e ao contrabando, que mantinha pródigos proprinodutos nos quais se abastecia o PSD, legenda que politicamente se confundia com Barata no Pará. Este presumivelmente, contestava a corrupção, na perspectiva muito freqüente entre os políticos de então de que os fins justificam os meios. Barata, resumindo era leniente em relação a corrupção, desde que não se deixasse contaminar por ela, embora dela se valendo como um recurso para manter-se no poder.
Uma peculiaridade, diga-se, própria de seus lideres de sua época, que não se valiam da corrupção em beneficio próprio, como se tornou hábito nos tempos atuais. Ao morrer Barata deixou um espólio político que a rigor não teve herdeiros, diante da falta de carisma das lideranças que imaginavam no PSD, legenda que abrigava os baratistas. Ao extinguir o pluripartidarismo e instituir por decreto o bipartidarismo, o golpe militar de 1º de abril de 1964 fez desaparecer o lendário PSD, depois de promover uma baixa entre os principais quadro do partido, cujo direitos políticos foram cassados, a começar pelo Governador Aurélio do Carmo, pelo vice-governador, Newtom Miranda, e pelo Prefeito de Belém, Luiz Gaolás Moura Carvalho.
A eles sucedeu como vitima do arbítrio Hélio Gueiros, que também teve seus direitos políticos cassados, ao retomar a atividade política com a redemocratização veio ser governador,em 1986, pelo Partido do Movimento a atividade polormar politicos itrio ewtom Miranda, e pelo Prefeito de Belo, cujo direitos politicos Democrático Brasileiro (PMDB) sucedâneo do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), e depois prefeito de Belém ,ai já pelo Partido da Frente Liberal (PFL) ,para o qual migrou após um avidoso rompimento com o Ex-Governador e hoje Deputado Federal Jader Barbalho , com o qual posteriormente se reconciliou ,abrigando-se novamente no PMDB .Com a redemocratização ,até por força da polarização entre PMDB e o Partido Democrático Social (PDS), sucedâneo da aliança renovadora nacional ,a arena ,como base da sustentação parlamentar do regime militar , o PSD ressurgiu absolutamente descaracterizado .Ficou reduzido ,desde então a uma legenda de aluguel de políticos menores .No Pará ,por exemplo ,durante algum tempo ele servil de abrigo ao atual prefeito de Belém Duciomar Costa (PTB) ,quando este ainda pavimentava sua ascensão política valendo-se da filantropia como recurso para a captação de votos.
A força do baratismo foi tanta e tamanha que mesmo diluída ela está na Gênese de dois dos maiores símbolos do poder no Pará Antagônicos entre si. Um desses símbolos é “O LIBERAL” jornal de maior tiragem do Pará e da Amazônia e que hoje integra as organizações Rômulo Maiorana, cuja emissora de televisão, a TV LIBERAL, e afiliada a Rede Globo.
Outro símbolo de poder é o Ex - Governador Jader Barbalho, cuja formação política foi permeada pela ascendência de cardeais do Baratismo e que mantém incólume seu prestigio junto a parcela mais humilde do eleitorado ,a despeito dos percalços políticos enfrentados no plano nacional e com a justiça diante das denuncias de corrupção .
O Liberal foi fundado por Barata para defender-se dos ataques da Folha do Norte o jornal do jornalista Paulo Maranhão e que em época teve proporcionalmente uma das maiores tiragens do Brasil ,segundo revelação feita pelo jornalista Cláudio Abramo já falecido e que foi um dos ícones do moderno jornalismo brasileiro .Um jornal partidário e ditorialmente inexpressivo , em 1966 “O LIBERAL” foi comprado pelo empresário e jornalista Rômulo Maiorana ,já morto e do qual é viúva dona Lucideia Batista Maiorana ,sobrinha de barata e hoje presidente das Organizações Rômulo Maiorana (ORM),das quais é presidente executiva Rômulo Maiorana Júnior.
Jader Barbalho também tem suas raízes políticas no baratismo. Seu pai o jornalista Laércio Barbalho, já falecido e que teve os direitos políticos cassados pelo Golpe Militar de 1º de abril de 1964, foi baratista. O ex-governador e hoje deputado federal, por conta disso teve sua formação política permeada pela presença de três cardeais do baratismo .
Jovem ainda, ele conviveu de perto com o ex-governador Aurélio do Carmo, o ex-vice-governador Newton Miranda, este também já falecido e Hélio Gueiros todos três naquela altura no ostracismo político, por conta do golpe militar de 1º de Abril de 1964.
Em sua juventude segundo relato de testemunhas ocasionais dos encontros, era comum Jader passar o final da tarde no escritório de advocacia do ex=governador Aurélio do Carmo no edifício Barão de Belém na travessa 13 de maio invariavelmente lá estavam Newton Miranda e Helio Gueiros além do próprio Aurélio naturalmente .Esse vinculo explica o porque de Jader já governador tem feito de Hélio Gueiros seu sucessor.

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