Charlie Hebdo é uma merda.
Não serve de escudo contra balas
Como estamos na Idade Mídia, os tempos são de trevas.
O midiota, você sabe, é um mero boneco de ventríloquo.
A publicação francesa, que já a algum tempo definhava,
hoje bateu recorde de vendas.
O midiota, você sabe, é um mero boneco de ventríloquo.
A publicação francesa, que já a algum tempo definhava,
hoje bateu recorde de vendas.
Créditos Lelê Teles
Aguardei pacientemente. Três dias se passaram
e os cabras não ressuscitaram. Seria perfeito. Pela primeira vez o ateísmo rumava para se converter
em religião.
Após a chacina em Paris, fiéis brotaram aos
montes a dizer: “aquele que morreu sou eu”,
um troço metafísico pra cacete. O fervor e
a paixão com que defenderam os cartunistas
mortos - porque era só deles que se falava
- era uma adoração cega, acrítica, como essas
que se vê nas igrejas de esquina.
Nadei contra a corrente, contra o sentimento de manada, quando escrevi a crônica Je Ne
Suis Pas Charlie.
Uns fanáticos logo surgiram para me atacar.
Ora se diziam franceses, ora eram brasileiros
que já tinham tirado foto com a Torre Eiffel ao
fundo. Ambos pretendiam santificar os cartunistas.
Porque, você sabe, não morre um canalha.
É só checar as lápides nos cemitérios e os
necrológios (necro-elogios) nos jornais:
bom filho, bom pai, grande amigo,
esposo amantíssimo.
Fuleiragem.
Eu afirmei, corpos ainda insepultos, que esses
caras haviam se convertido em abjetos
islamofóbicos e cínicos provocadores que se
prestavam a caricaturar – obsessivamente
- os muçulmanos, ridicularizando sua fé e
sua cultura.
Francófilos disseram que não, eles ridicularizavam todos.
Conversa mole. Eles demitiram Sine por sacanear
o filho de Sarkozy e os judeus em uma mesma piada.
Eu falei que Charb fez uma charge racista.
Charbófilos disseram que eu não havia entendido a piada.
Na verdade, diziam eles, Charb desenhou a ministra
como uma macaca para criticar aqueles que a
chamaram de macaca e dizer que era inaceitável que
uma negra fosse representada como uma macaca.
Por isso é que ele a macaqueou.
Entendeu? Nem eu.
Teve um site que detonou o Diddi Mocó. Porque o
cearense havia dito à Playboy que na época dele
fazia-se piada com preto, anão e viado; e ninguém
achava ruim.
Pois não é que o mesmo site estava agora a defender
a charge de Charb, aquela da macaca.
Os mesmos cabras que apontaram o dedo para
o Renato Aragão, agora diziam que era normal que
os muçulmanos da França - espremidos na periferia,
cidadãos de segunda classe, comparados aos nossos
pretos, anões e viados - fossem achincalhados.
Menos pelo Didi.
Vai entender.
Como estamos na Idade Mídia, os tempos são de trevas.
O midiota, você sabe, é um mero boneco de ventríloquo.
A publicação francesa, que já a algum tempo definhava,
hoje bateu recorde de vendas.
Mas não se engane, trata-se de um fenômeno midiático
instantâneo e passageiro. Uma bíblia de fim de semana,
esse entusiasmo acaba assim que a mídia encontrar
outro assunto.
Por falar em mídia, e aquela comissão de frente hein,
todo mundo de sobretudo, solene; uma fantasia.
A carnavalização da morte, um mórbido espetáculo.
Só faltaram os carros alegóricos, as mulatas brancas
e o povo.
Porque os líderes mundiais, como sempre, nem ligaram
para a multidão. Isolaram-se em uma rua e posaram
para uma fotografia, braços dados, e deixaram que os
jornalistas se encarregassem em interpretar o gesto.
Parece que era de paz, mas só parece. Porque na
comissão de frente tinha até um cara que despejou
bombas na cabeça de mulheres e crianças na Palestina.
E não é que foi só terminar a marcha que a polícia francesa
meteu logo as garras no comediante Dieudonné M’bala M’bala.
Embora negro, às vezes dizem que ele faz apologia ao nazismo.
Outras vezes o acusam de antissemitismo.
Charlie Hebdo também não ia com a cara dele, já meteram-lhe
uma quenelle no ânus e o pintaram simiescamente.
Qual é desse negão falando mal de judeus? É aquela coisa,
o macho branco, e somente o macho branco, é que pode tudo!
Tô achando que a igrejinha de Charb está com os dias contados.
Daqui a pouco começa o BBB, a Champions Ligue,
o Tour de France e a moçada vai tomar cerveja de frente pra TV.
Enquanto isso, 5 milhões de muçulmanos estão proibidos
de fazer orações em público na França. Afinal,
o Charlie Hebdo dizia que eles eram idiotas perigosos e que
podiam explodir a qualquer momento.
Pra mim, de longe, a charge mais desprezível do Hebdo é
aquela alusiva ao massacre de muçulmanos no Egito.
Acostumado a desumanizar os muçulmanos, os caras do Hebdo
não tiveram compaixão, tascaram uma charge.
O Corão, crivado de balas, e a frase: O corão é uma merda.
Não serve de escudo contra balas.
Seria justo e honesto com a linha de pensamento da moçada
que defende as barbaridades do C.H. que a nova capa do
semanário viesse com Charb segurando seu jornal, crivado de balas,
e a frase:
O Charlie Hebdo é uma merda. Não serve de escudo contra balas.
Mas aí já é ofender a religião alheia.
Palavra da Salvação.
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