ADESÃO DO PARÁ A INDEPENDÊNCIA
Em 15 de agosto de 1823, foi assinada a Adesão do Pará à independência do Brasil. Um fato que determinou a história recente do Estado.A adesão aconteceu quase um ano depois do famoso grito às margens do Ipiranga. Isso porque, naquela época, o país era dividido em duas Capitanias: A província do Grão Pará e Maranhão e a Província do Brasil. Os dois territórios faziam parte da colônia Portuguesa, mas quase não havia comunicação entre eles. O Pará se reportava diretamente a Portugal e pouco contato tinha com o resto do país.
A Substituição de Dom Romualdo Antônio de Seixas na junta, pelo seu tio Dom Romualdo de Sousa Coelho, que regressara de Lisboa sem qualquer compromisso com a independência, mas sem permitir também que se praticassem excessos os nativos, fez com que os ânimos serenassem. Foi a solução diplomática para as controvérsias locais sobre a Adesão do Pará a Independência. Porém, a 11 de agosto de 1823, chega do Maranhão John Pascoe Greenfell, enviado pelo almirante Cochrane, que acabara de integrar, amando do imperador, a província vizinha à comunhão do império. Dom Romualdo, que estava eventualmente no poder, não se deu por rogado: promoveu uma grande reunião de todas as classes no palácio governamental e, sob aplausos gerais, no dia 15 de agosto, deu-se a adesão definitiva do Pará à Independência.
Essa Adesão, entretanto, não aconteceu pacificamente. Além da demora de um ano, ela registra na sua historia muito sacrifício, muito sangue, muitas torturas e muitas mortes, pois a população continuava dividida. Do lado do governo local, famílias portuguesas e brasileiras ainda compactuavam com a exploração dos nativos. E a nova junta governativa passou a ser presidida por um moderado, o coronel Jose Giraldo.
Os moderados queriam que a situação continuasse como estava, isto é, não mesma. Contanto que a administração continuasse nas mãos dos portugueses ou de brasileiros ligados a eles. Continuando, naturalmente, a exploração, a espoliação e a perseguição dos nativos. Contra essa situação, Batista Campos e Félix Antônio Clemente Malcher chefiaram os desesperados, os massacrados, uma população inteira compostas de índios, negros, tapuios, mamelucos, caboclos e mestiços. Toda essa população pobre, quase miserável, continuava a ser explorada, escravizada e espoliada pelas autoridades e pelas ricas famílias.
A situação do conflito foi se agravando até que marinheiros portugueses promoveram um atentado contra Greenfell. Dias depois, ocorreu uma rebelião dos regimentos aquartelados em Belém e em conseqüência a deposição da junta dos moderados. Batista Campos, aclamado presidente da junta pelos insurgentes, sentiu logo que não tinha força para dominar a anarquia reinante. Arrombamentos de casas, assassinatos de portugueses, saques de todas as espécies e desregramentos sociais espelhavam a anarquia geral.
Diante desses caos, cinco pessoas nativas foram julgadas sumariamente pelas autoridades portuguesas e fuziladas em praça pública. Como exemplo, até Batista Campos, que era membro da junta, foi preso e ameaçado de ser colocado na boca de um canhão. Mas por interferência de pessoas influentes, foi apenas deportado de imediato para o Maranhão. Em conseqüência desses distúrbios, 256 pessoas pobres (diga-se de passagem), do meio do povo, foram feitas prisioneiras e recolhidas aos porões do brigue palhaço. Esses prisioneiros, bem representativos da população pobre de Belém, sem nenhum processo de julgamento, foram, na realidade, condenados sumariamente à morte. Amarrados como animais foram jogados no porão do navio, que ficou ancorado ao largo da baia de Guajará, lá ficando até serem mortos por asfixia. Sepultadas como indigentes as vítimas da tragédia do brigue Palhaço, viraram símbolo da luta cabana.
Até hoje não se sabe a razão da mudança do nome desse navio presídio. Entretanto 256 paraenses pobres ficaram lá presos e amontoados nos porões escuros e infectos desse barco, isolados da terra pelas águas da baia. E, sem quaisquer providencias das autoridades, sofrendo um processo terrível de tortura.
Em determinado momento de desespero e dramática aflição, gritaram por água para matar a sede, que já estava se tornando insuportável. O calor que fazia nos porões totalmente fechados era sufocante. Mas a água que lhes deram era retirada da própria baia, a partir daí, os prisioneiros passaram a sofrer a mais angustiante tortura, pelo calor, pela sede, pelo escuro e pela aglomeração promíscua, que os tornavam iguais a animais. A própria água jogada de cima, das escotilhas, era disputada a tapas.
O escuro, o calor, o espaço exíguo, o contato dos corpos suados, sedentos e famintos, foram desesperando aquelas pobres criaturas que nem sabiam por que estavam sofrendo aquela terrivel punição. Começaram então os gritos lancinantes. Eram de angustia e de desespero os pedidos de socorro e as mais terríveis imprecações. A única providencia que ocorreu aos guardas para acalmar os ânimos desesperados foi jogar cal sobre os presos, que já estavam embolados. Essa providencia acabou silenciando os prisioneiros, levando-os à morte. Quatro pessoas apenas escaparam, mas não tiveram forças para relatar tudo sobre os terríveis momentos de desespero antes de morrer. Morreram também, sem nenhuma assistência, em conseqüência desse enterro de pessoas no porão de um navio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário