Uma Copa do Mundo não é feita só de histórias de roubalheira e descasos
Luiz Antônio Prósperi - O Estado de S.Paulo
A Fifa nunca se preocupou com o legado de uma Copa do Mundo para o país-sede. Dona do evento, a conta que ela faz é quanto vai investir e quanto vai receber. Na África do Sul em 2010, gastou US$ 1,2 bilhão e arrecadou US$ 3,6 bilhões, segundo balanço financeiro da entidade. No Brasil não será diferente. Evidente que ela espera faturar bem mais do que no último Mundial.
Para ter certeza dos lucros, a Fifa põe país anfitrião nas cordas. Não importa se é uma nação em desenvolvimento ou do primeiro mundo. Exige todas as garantias possíveis e inimagináveis para assegurar o seu lucro. É o que acontece neste momento no Brasil, em ebulição com 2014 que se avizinha. Ela não admite correr o menor risco. Impõe prazos e vai para cima dos responsáveis. Nas suas contas não importa o dinheirão que o país-sede vai ter de investir.
Quem nunca esteve em uma Copa tem todo o direito de achar que isso tudo é um absurdo. Muitos brasileiros entendem que a herança de 2014 será a roubalheira, a mão grande dos políticos e dos dirigentes ligados ao futebol. As histórias deste que é o maior evento esportivo do mundo estão cheias de corrupção e desmandos. Basta pesquisar os arquivos desde 1930 quando se disputou a primeira das 19 Copas.
O outro lado da história mostra que um Mundial é um campo vasto de oportunidades. Não chega a mudar o PIB do país, mas cria uma onda de otimismo e iniciativas sem precedentes na vida de uma nação. Tive o privilégio de cobrir as últimas seis Copas do Mundo, de 1990 a 2010, e colecionei pequenos testemunhos de gente que se deu muito bem com o evento.
Começo com o dono de uma barbearia de Milão que estava feliz da vida com o aumento do movimento de seu pequeno salão durante a Copa da Itália em 90. Passo pelo português, proprietário de um restaurante em San Jose, na Califórnia, que faturou os tufos servindo pratos no Mundial dos Estados Unidos em 94. Emendo com o italiano dono de uma cantina na pequena Ozoir-la-Ferrière, próxima a Paris, que atendia 10 clientes por dia e passou a servir mais de 100 no período da Copa da França, em 98. Avanço até 2002 na Coreia do Sul e Japão para lembrar o crescimento extraordinário da venda de passagens dos reluzentes voadores trens TGV.
Pulamos para 2006, na Alemanha, e vamos até Leverkusen, a "cidade fantasma" da Bayer, que se multiplicou nos dias da Copa. E chegamos até a Mandela Square, centro comercial no coração de Johannesburgo, em 2010, entupida de turistas devorando desde quinquilharias até diamantes das ricas minas africanas.
Aposto minha longa carreira de repórter esportivo que no Brasil em 2014 não será diferente. Vamos ter acesso às histórias de muita roubalheira e também de sucesso extraordinário desde um simples vendedor de bandeiras nas esquinas até o fornecedor de alta tecnologia.
Não podemos esquecer que a Fifa vai chegar aqui e levar o dela. É sempre assim.
domingo, 16 de outubro de 2011
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