segunda-feira, 31 de outubro de 2011

CURDOS

Os curdos (em curdo Kurdên) são um grupo étnico que se considera como sendo nativo de uma região frequentemente referida como Curdistão, que inclui partes adjacentes de Irã, Iraque, Síria , Turquia , Armênia e Georgia. Comunidades curdas também podem ser encontradas no Líbano, Armênia, Azerbaijão (Kalbajar e Lachin, a oeste de Nagorno-Karabakh) e, em décadas recentes, em alguns países europeus e nos Estados Unidos. Etnicamente aparentados com outros povos iranianos, eles falam curdo, uma língua indo-européia do ramo iraniano. Todavia, as origens étnicas curdas são incertas.

De acordo com Vladimir Minorsky[quem?], "não há dúvidas que o termo mar (medos) se refere aos curdos". Além disso, ele escreve que "no raro manuscrito armênio contendo amostras de alfabetos e línguas, escrito em algum momento antes de 1446, uma oração curda aparece como exemplo da língua dos medos".

Origens dos curdos

Embora os curdos habitem as regiões montanhosas de seu atual território por alguns milênios, sua pré-história é vagamente conhecida devido à falta de um estudo extensivo. De acordo com a Encyclopaedia Kurdistanica, os curdos são descendentes de todos aqueles que tenham historicamente se fixado no Curdistão, e não de um grupo em particular. Os hurritas habitaram as regiões do atual Curdistão (na Mesopotâmia e montes Zagros-Taurus) de 4000 a.C. até 600 a.C. Os hurritas falavam uma língua que pertencia possivelmente à família de línguas caucasianas do nordeste (ou à proposta alarodiana), aparentada ao moderno checheno e ao lezguiano. Os hurritas se espalharam e eventualmente dominaram territórios significativos fora de sua base nos montes Zagros-Taurus. No entanto, como os curdos, eles não se expandiram muito além das montanhas. À medida que se estabeleciam, os hurritas se dividiam em vários clãs e subgrupos, fundando cidades-estado, reinos e impérios com epônimos dos nomes dos clãs. Esses clãs incluíam os gutas, kurti, khaldi, mushku, minni, lullubi e os cassitas entre outros. Todas essas tribos eram parte de um grande grupo de hurritas, e juntos ajudaram a formar a fase hurrita da história curda. Estes grupos, exceto os mitanni, não são considerados como tendo sido indo-europeus.

Do segundo ao primeiro milênio antes de Cristo um grande número de povos se juntou aos hurritas. Entre as tribos indo-européias importantes que se estabeleceram nas montanhas curdas estão os medos, os citas e os ságartas cujos nomes ainda estão preservados em alguns nomes de lugares por todo o Curdistão.

Esta amálgama de povos e tribos continuou a ser conhecida sob um único nome pelos habitantes das terras baixas da Mesopotâmia.Uma das primeiras menções nos registros históricos aparece nos escritos cuneiformes dos sumérios datados de cerca de 3000 a.C, referindo-se à "terra de Karda" nos montes Zagros-Taurus do norte e nordeste da Mesopotâmia. A região era conhecida como a terra dos "Karda" ou "Qarduchi" e a terra dos "Guti" ou "Gutium". Eram descritos como sendo o mesmo povo apenas diferindo no nome tribal. Os babilônios chamavam-nos "Gardu" e "Qarda". Na região vizinha da Assíria, eles eram os "Qurti" ou "Guti". Quando os gregos penetraram no território, eles se referiram a esse povo como "Kardukh", "Carduchi", "Gordukh", Kyrti(oi) e os romanos os conheciam como Cyrti. Os armênios os chamavam "Gortukh" ou "Gortai-kh" e os persas os chamavam "Gord" or "Kord". Em siríaco, hebraico e caldeu eles eram, respectivamente, "Qardu", "Kurdaye" e "Qurdaye". Em aramaico e nestoriano, eram chamados "Qadu".

Assume-se que sua língua original foi influenciada e gradualmente substituída pelo iraniano do noroeste, com a chegada dos medos ao Curdistão. Os curdos se consideram indo-europeus e descendentes dos grupos acima mencionados..

História dos curdos

Antiguidade O lar atual dos curdos, a região montanhosa a sul e sudeste do lago Van entre a Pérsia e a Mesopotâmia, estava sob domínio curdo antes da época do historiador da Grécia Antiga Xenofonte, e era conhecida como o país dos Carduchi, Cardyene ou Corduene. Xenofonte se referiu aos curdos no Anabasis como "Kardukhi... um povo bárbaro e defensor de sua residência na montanha" que atacou os exércitos gregos em 400 a.C. Um reino curdo chamado Corduene, situado a leste de Tigranocerta (a leste e a sul da atual Diyarbakır, na Turquia) tornou-se uma província do Império Romano em 66 a.C. e permaneceu sob controle romano por quatro séculos até 384. O historiador romano Plínio considerou os Cordueni (habitantes de Corduene) como descendentes dos Carduchi. Ele afirmou, "vizinhos a Adiabena estão os povos anteriormente chamados Carduchi e agora Cordueni, acima de quem navega o rio Tigre..."

Outros pequenos reinos curdos foram kavosidas e existiram durante o período sassânida.

Idade Média No século VII, os árabes tomaram os castelos e fortificações dos curdos. As cidades de Sharazor e Aradbaz foram conquistadas no ano de 643.

Em 846, um dos líderes dos curdos em Mosul se revoltou contra o califa Al Mo'tasam que enviou o notável comandante Aitack para combatê-lo. Nesta guerra, Aitack saiu-se vitorioso e levou muitos dos curdos à morte. Em 903, durante o período de Almoqtadar, os curdos novamente se rebelaram. Finalmente os árabes conquistaram as regiões curdas e converteram a maioria dos curdos ao Islã.

Na segunda metade do século X, a região curda foi dividida entre quatro grandes principados curdos. No norte ficavam os Shaddadidas (951-1174) em partes da atual Armênia e Arran (Azerbaijão), no Azerbaijão; os Rawadidas (955-1221) ficava em Tabriz e Maragheh; No leste estavm os Hasanwayhidas (959-1015 e os Annazidas (990-1117) em Kermanshah, Dinawar e Khanaqin; no oeste estavam os Marwanidas (990-1096) de Diyarbakır. Depois destes, os Ayyubidas (1171-1250) da Síria e a dinastia Ardalan {do século XIV até 1867) estabeleceram-se onde nos dias atuais estão Khanaqin, Kirkuk e Sanandaj.

A língua curda pertence ao subgrupo noroeste das línguas iranianas, que por sua vez pertence ao ramo indo-iraniano da família de línguas indo-européias. O curdo deve ter evoluído a partir de línguas caucasianas e do aramaico devido a certas peculiarides que a fazem distinta das outras línguas iranianas. A maioria dos ancestrais dos curdos falava várias línguas da família indo-européia.

A língua original dos curdos foi o hurrita, uma língua não indo-européia que pertencia à família caucasiana. A antiga língua foi substituída pelo indo-europeu por volta de 850 a.C. com a chegada dos medos ao Curdistão. Todavia, a influência do hurrita no curdo ainda é evidente na sua estrutura gramatical ergativa e nos topônimos.

A maioria dos curdos são bilíngües ou poliglotas, falando as línguas dos povos da vizinhança tais como o árabe, o turco e o persa como segunda língua. Os judeus curdos e alguns cristãos curdos (não confundir com os assírios étnicos do Curdistão) habitualmente falam aramaico (por exemplo, lishana deni) como sua primeira língua. O aramaico é uma língua semítica muito mais próxima do árabe e do hebraico que do curdo.

De acordo com um estudo de 2001 sobre a população turca, os ancestrais dos "curdos, armênios, iranianos, judeus, e outros grupos mediterrâneos (orientais e ocidentais) parecem dividir um ancestral comum" e pertenciam a um substrato mediterrâneo antigo, ou seja, a grupos hurritas e hititas e que estes povos não tinham conexão com uma invasão ariana que se supõe ter ocorrido por volta de 1200 a.C.

"Conclui-se que esta invasão, se ocorreu, teve relativamente poucos invasores em comparação às populações já estabelecidas, como os grupos hititas anatolianos e hurritas (anteriores a 2000 a.C.). Estes devem ter iniciado as atuais populações curda, turca e armênia."

Em 2001, uma equipe de cientistas israelenses, alemães e indianos descobriu que entre as várias comunidades judaicas, os judeus asquenazi apresentam uma relação mais próxima com os curdos muçulmanos que com a população falante de línguas semíticas mais afastadas do sul da península Arábica, enquanto os judeus curdos e os judeus sefarditas parecem ser muitos próximos entre eles. Mais de 95% dos curdos muçulmanos testados indicam uma procedência no norte do Iraque. Além disso, de acordo com outro estudo, o haplótipo modal Cohen é um marcador genético do norte do Oriente Médio que não é exclusivo dos judeus.

Em outro estudo, os judeus curdos foram identificados como sendo próximos dos muçulmanos curdos, mesmo sendo asquenazi ou sefarditas, sugerindo que muito se não a maioria das similaridades genéticas entre os judeus e muçulmanos curdos descende de épocas antigas.

A comparação da distância genética em outro estudo revelou que os povos falantes de línguas turcas e turcomenas na região do mar Cáspio agrupam-se com os curdos, gregos e ossetas. Neste estudo, os falantes de persa são geneticamente afastados destas populações; eles são, todavia, próximos dos parsis que migraram do Irã para a Índia no final do século VII.

População

Áreas de falantes da língua curda.O número exato de curdos vivendo no Oriente Médio é desconhecido, devido á análise dos recenseamentos recentes e à relutância dos vários governos das regiões habitadas por curdos em fornecer dados precisos.

De acordo com o CIA Factbook, os curdos compreendem 20% da população da Turquia, de 15 a 20% no Iraque, possivelmente 8% na Síria, 7% no Irã e 1,3% na Armênia. Em todos estes países com exceção do Irã, os curdos formam o segundo maior grupo étnico. Aproximadamente 55% dos curdos no mundo vivem na Turquia, 20% no Irã, 20% no Iraque e um pouco menos de 5% na Síria. Estas estimativas estabelecem o número total de curdos entre 27 e 36 milhões.

Há outras fontes que registram uma população maior de curdos que a mencionada acima. Além disso, estima-se que os curdos, especialmente na Turquia, têm um índice de natalidade quase 50% superior que os turcos. Devido a isso, eles são vistos como um desafio demográfico para o estado.

Curdos no Iraque Os curdos liderados por Mustafa Barzani estiveram em luta contra os sucessivos regimes iraquianos de 1960 a 1975. Em março de 1970, o Iraque anunciou um plano de paz contemplando a autonomia curda. O plano seria implementado em quatro anos. No entanto, ao mesmo tempo, o regime iraquiano iniciou um programa de arabização nas regiões ricas em petróleo de Kirkuk e Khanaqin. O acordo de paz não durou, e em 1974, o governo iraquiano iniciou uma nova ofensiva contra os curdos.

Além disso, em março de 1975, Iraque e Irã assinaram o Pacto de Argel, de acordo com o qual o Irã cortava suprimentos para os curdos iraquianos. O Iraque iniciou outra onda de arabização enviando árabes para os campos de petróleo no Curdistão, particulamrnete aos arredores de Kirkuk. Entre 1975 e 1978, duzentos mil curdos foram deportados para outras regiões do Iraque.

Durante a guerra Irã-Iraque na década de 1980, o regime implementou políticas anticurdos e uma guerra civil de facto eclodiu. O Iraque foi amplamente condenado pela comunidade internacional, mas nunca foi seriamente punido pelos meios opressivos que utilizou tais como assassinato em massa de centenas de milhares de civis, a destruição generalizada de milhares de aldeias e a deportação de milhares de curdos para o sul e o centro do Iraque. A campanha do governo iraquiano contra os curdos em 1988 foi chamada Anfal ("Pilhagem de Guerra"). Os ataques Anfal levaram à destruição duas mil aldeias e entre 50 e 100 mil curdos foram mortos.

Após o levante curdo de 1991 (em curdo: Raperîn) liderado pela União Patriótica do Curdistão (UPC) e pelo Partido Democrático do Curdistão (PDC), tropas iraquianas recapturaram as regiões curdas e centenas de milhares de curdos fugiram pelas fronteiras. Para suavizar a situação, uma "zona de exclusão" foi estabelecida pelo Conselho de Segurança da ONU. A região autônoma curda ficou sendo controlada principalmente pelos partidos rivais UPC e PDC. A população curda recebeu com prazer as tropas americanas em 2003. A área controlada pelas forças curdas foi expandida, e os curdos agora têm o controle efetivo em Kirkuk e em partes de Mosul. No início de 2006, as duas regiões curdas foram unidas em uma região unificada. Uma série de consultas populares está agendada para 2007, para determinar as fronteiras definitivas da região curda.

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