segunda-feira, 15 de agosto de 2011

ADESÃO DO PARÁ

Feriado foi criado há apenas 11 anos; Zeno Veloso é autor da lei

O feriado da adesão do Pará à Independência do Brasil existe somente há onze anos e foi instituído pelo ex-deputado estadual Zeno Veloso, que propôs que todos os outros feriados estaduais fossem extintos a partir da sua vigência. Uma medida "anti-feriadista", segundo o próprio autor. Para propor a matéria, Zeno inspirou-se na Lei Federal nº 9.093, de setembro de 1995, que obrigou os Estados a determinarem um dia para a comemoração da sua data magna.

A estrela solitária no círculo no azul acima da faixa branca com a inscrição positivista "Ordem e progresso" na bandeira Nacional é uma referência à adesão do Estado à Independência do Brasil em 15 de agosto de 1823. Para muitos, a data não tem um significado, mas se trata de um dos eventos históricos mais importantes e com consequências trágicas como o massacre do "Brigue Palhaço" e uma série de revoltas que culminaram com a Cabanagem, em 1835.

No ínicio do século XIX, tanto a província do Pará quanto a do Maranhão tinham suas elites locais mais atreladas à Portugal do que ao resto da colônia. O episódio da "adesão" remete a um pacto pacífico entre os militares mandados por D. Pedro I e os que mandavam no Pará, quase todos de origem europeia. "Mas, não foi bem assim. A ‘adesão’ não foi pacífica e levou a revoltas sangrentas, inclusive à tragédia do ‘Brigue Palhaço’, que poucos comentam, mas teve conquências terríveis, com protestos por várias cidades até outubro de 1823".

O Pará esteve por quase um ano depois do grito às margens do rio Ipiranga sem grandes mudanças em relações à Coroa Portuguesa e só se integrou ao novo modelo depois da chegada do militar John Pascoe Greenfell. De imediato, um conselho com os ilustres da época foi convocado para deliberar sobre o assunto e horas depois ficou acertado que o Pará era parte do Brasil independente.

Ao contrário do que se pode pensar, a adesão do Pará à Independência do Brasil foi muito mais um movimento de manutenção da conjuntura da época: os portugueses que compunham a elite local permaneceram em seus cargos e privilégios. A manutenção do status desagradou grupos de nacionalistas. Dentre eles, o jornalista Felipe Patroni e o cônego e advogado Batista Campos, ambos fundadores de "O Paraense", no qual divulgavam suas posições políticas.

Revoltados com a composição da junta provisória de governo, após a adesão, os paraenses mandaram um documento aos donos do poder exigindo a demissão de todos os portugueses, militares e civis, a fim de inaugurar um novo momento político com maior participação de brasileiros em decisões importantes da província.

Depois do aviso, o grupo partiu para tomar o poder e desbancar os portugueses e uma coluna militar contrária à adesão exigiu a abertura das portas do depósito de armas portuguesas. Temendo consequências piores, os portões foram abertos. Assim foi feita a "limpeza" nos cargos públicos ocupados pelos lusos e Batista Campos foi colocado como novo presidente da junta governativa.

Na mesma noite do dia 16 de agosto, o militar Greenfell ordenou a prisão de todas os suspeitos de participar da revolta, sem distinguir classe social. Na manhã seguinte, para dar exemplo, escolheu cinco prisioneiros e mandou fuzilá-los no Largo do Palácio do Governo. Batista Campos foi capturado e colocado na boca de um canhão, que só não foi disparado por interferência de portugueses ligados ao poder local. Consta também que a ordem dada a um militar para acender o pavio do canhão se recusou dizendo " COMANDANTE ME MANDE MATAR MIL HOMENS MAS NÃO ME MANDE MATAR UM PADRE, TENHO MEDO DE IR PARA O INFERNO".

Os centenas de civis e militares presos na revolta foram trancaficados primeiro na cadeia pública da capital da província e depois encaminhados para o porão de um barco à vela, o brigue "São José Diligente", depois denominado de "Palhaço". Os poucos sobreviventes do episódio contaram que o espaço mínimo jogou no desespero os quase 300 condenados e o calor insuportável os obrigou a pedir água. Quatro dias depois das prisões, os militares jogaram água direto da baía de Guajará dentro de um recipiente do porão, o que provocou mais tumulto. O medo de que a massa compacta de homens fugisse da embarcação transformada em cativeiro resultou em uma atitude drástica dos que tomavam conta do "Palhaço": tiros de fuzil e o lançamento de cal virgem no espaço que já era sufocante pela superlotação. Às 7 horas do dia 22, o porão do navio foi aberto e lá estavam 252 mortos e apenas quatro sobreviventes, sendo que apenas um, citado na história como João Tapuia, resistiu depois de sair do brigue.

Em outubro de 1823, o município de Cametá foi palco de uma rebelião contra o morticínio no brigue "Palhaço" e o episódio continuou ecoando em revoltas como as das vilas de Baião, Oeiras, Portel, Melgaço, Moju, Igarapé-Miri, Marajó, Abaeté, Muaná e muitas outras. As mortes no brigue também compõe a lista de motivos que deram origem a um dos episódios mais violentos da história do Pará: a Cabanagem, revolta popular iniciada em 1835 e abafada de forma sangrenta cinco anos depois.

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